Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 17 de junho de 2013

CHEFE DA PM TUCANA TENTA POLITIZAR PROTESTOS

ANONYMOUS INVADE PERFIL DA VEJA E CHAMA MANIFESTAÇÃO

Partidos perderam o controle dos protestos; hora de ir à rua

Vai se confirmando a percepção inicial de muitos no sentido de que houve um início de aparelhamento político dos protestos que, a partir de São Paulo, espalharam-se pelo Brasil. Conversas com simpatizantes e militantes de partidos envolvidos nesse processo e com outros tantos sem vinculações partidárias confirmam essa premissa e estimulam a imaginação.
Todavia, cumpre reconhecer que os interesses políticos que tentavam se assenhorar desse movimento encabeçado pela organização “Passe Livre” nunca representaram a sua totalidade, assim como a tese de que se tratava de um movimento espontâneo tampouco reproduz a sua gênese.
Acima de outros partidos, o PSOL teve um papel importante na tal “gênese” do crescimento de um movimento que vem atuando há anos, porém sem maior expressão. Nesse aspecto, nos primeiros atos desse drama houve, sim, tentativa de constranger adversários políticos ocupantes do governo do Estado e da prefeitura paulistana.
O que ocorreu, do primeiro grande ato ao último – com seus resultados trágicos –, foi o entendimento, inclusive pelo Movimento Passe Livre, de que a politização terminaria por sepultar intenções sinceras e um clamor da sociedade diante de um Estado que vem se mostrando incapaz de atuar com a velocidade que se espera no sentido de estender aos brasileiros os benefícios de um soerguimento econômico da nação que ocorreu ao longo da última década.
Além do que, nos Estados e municípios não houve uma melhora da qualidade de vida nas metrópoles. Apesar de o brasileiro estar com mais dinheiro no bolso, a vida nas grandes cidades vai se tornando insuportável.
Viver em uma urbe como São Paulo é hoje um martírio. A situação é tão insustentável que uma cidade que rejeitava com tanta força o PT elegeu até com votação confortável um representante desse partido. Aconteceu, na minha cidade, o que ocorrera no Brasil em 2002: o povo resolveu dar uma nova chance ao PT como última tentativa.
Fernando Haddad, nesse aspecto, cometeu um erro político muito grande. O grande problema do PT vem sendo a falta de comunicação. Por conta disso, desde a posse o novo prefeito se manteve praticamente mudo. Após uma campanha em que a melhora no transporte urbano foi o mote, antes de qualquer melhora a nova administração tasca um aumento no lombo dos munícipes.
Ao longo deste ano, pessoas que vêm dos bairros mais humildes para os mais abastados todos os dias, e que votaram em Haddad esperando uma tarifa de transporte que pesasse menos no bolso, revoltaram-se com a ocorrência do inverso.
Apesar de o transporte ferroviário e metroviário também continuar piorando e subindo de preço, a recente eleição colocou a administração municipal em maior visibilidade.
Se Haddad tivesse se dirigido à sociedade e explicado antes do aumento que ele era inevitável e que no segundo semestre os planos de sua administração para o transporte urbano começariam a se fazer sentir, talvez esse movimento não tivesse eclodido. Mas a falta de capacidade de comunicação que vem caracterizando o PT, deu nisso.
Exposta a visão do Blog sobre a causa da eclosão desse movimento, passamos ao que ocorreu em seus intestinos ao longo das últimas semanas.
A dita horizontalidade dos protestos era mais real do que acreditavam os partidos que tentaram direcioná-los aos seus objetivos políticos. Ou seja: a rua é de todos, e muitos levaram a sério o que era um mote pra inglês ver. E foram à rua reclamar.
Aos mauricinhos e patricinhas que planejaram tudo, somou-se uma juventude pobre, das periferias desassistidas, com demandas reais e pouco preocupada em desgastar este ou aquele governo ou partido. E veio à rua, também, o sentimento de revolta com “tudo isso que está aí”, ou seja, com a desigualdade excruciante que esmaga este país.
Daí o quebra-quebra, gerado pela raiva incontida dos massacrados pela desigualdade.
Os partidos políticos que tentavam manipular um movimento que já vai deixando de ter dono ou lideranças e que, aos poucos, vai se tornando anárquico e incontrolável, perderam espaço. A massa que irá às ruas nesta segunda-feira está muito bem precavida quanto à politização, ainda que esses grupos político-ideológicos continuem teimando em lhe dar uma sobrevida.
Nessa situação, o processo está se abrindo a todo tipo de demanda da sociedade. Ao protestar contra o status quo, os cálculos políticos dos partidos de esquerda e de oposição aos governos do PSDB e do PT de São Paulo e do governo petista federal deixaram de fora, por exemplo, a democratização da mídia, a eterna demanda esquerdista.
No momento em que naufragam os planos dos que pretendiam manipular politicamente esse sentimento de “basta” que permeia um processo que beira a convulsão social, portanto, surge a possibilidade de que todo tipo de anseio por mudança seja posto à mesa.
Ironicamente, a partir desse processo surge, talvez, uma das melhores chances em décadas para que seja encaminhada a questão da democratização da comunicação oligopolizada que infecta o Brasil – e que parecia não ter solução.
Eis que ganha sentido adequado uma máxima que, até onde me lembro, é de autoria do historiador, poeta, diplomata e músico italiano do Renascimento Nicolau Maquiavel: “Se não pode vencê-los, junte-se a eles”.
Durante anos, a ONG criada a partir deste Blog, o Movimento dos Sem Mídia, tentou levar às ruas um sentimento de inconformismo com a comunicação de quinto mundo que tem o Brasil, onde meia dúzia de famílias conservadoras detêm o controle de praticamente toda a comunicação de massa e das principais concessões públicas de rádio e televisão.
Todavia, nunca logramos reunir mais do que algumas centenas de pessoas. Não havia clima para as pessoas irem às ruas. Isso  porque os movimentos sociais e sindicais tradicionais nunca encamparam com decisão a necessidade de se levar uma demanda dessa importância à rua por conta de cálculos políticos, pois os governos do PT, que poderiam encampar tais demandas, colocaram-nas em segundo plano ou as sepultaram.
Ora, os protestos que estão surgindo encampam demandas genéricas “contra a corrupção” e tantas outras que não têm significação prática, pois ser contra a corrupção do Poder todo mundo é, mas esse discurso vem sendo usado pela mídia e por partidos de oposição de direita e de esquerda contra um único grupo político, como se corrupção existisse só em governos petistas, enquanto se sabe que não há governo de partido algum que possa se dizer imune a ela.
Uma demanda como a democratização da comunicação, considerada maldita pela direita e inconveniente pela esquerda mais radical porque serviria ao PT, ganha, no âmbito desses protestos (agora) sem dono a melhor chance que já teve. Um debate interditado desde sempre pelos donos da mídia e pela direita pode, sim, ganhar as ruas.
Convencer os manifestantes das mais diversas orientações de que a comunicação oligopolizada que há no Brasil é o que os obriga a irem às ruas para dizer o que poderiam dizer na televisão e no rádio será moleza, se alguém levar essa premissa a eles.
Eis que chega o momento, pois, de se começar a pensar em como fazer do limão uma limonada.
Se, por um lado, não é bom que tendo tantos eventos esportivos de importância internacional imensa acontecendo no país vigore nele um clima de convulsão social, já que não se pode mudar um sentimento que já se consolidou para muito além dos partidos que engendraram esse processo cumpre aos que querem mudar o Brasil de verdade que participem dele.
Com base nas premissas aqui elencadas é que este Blog e o Movimento dos Sem Mídia passam a se guiar pela filosofia de que “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Se os protestos são, de fato, contra “Tudo isso que está aí”, o que está “aí” e prejudica muito os que querem se manifestar e não podem é a concentração da propriedade de meios de comunicação.
Chegou a hora, pois, de ir à rua. Então, só se for agora.

O FUNDAMENTAL NESTA HORA: REFORÇAR OS ESPAÇOS DEMOCRÁTICOS DE DIÁLOGO


 *A resposta é mais democracia  (leia mais aqui) 

A denominada "crise da representação" não é um conceito acadêmico abstrato. O déficit de democracia e de legitimidade das Instituições políticas colocam em xeque a capacidade dos atuais representantes em absorver e compreender as novas dinâmicas sociais e políticas que se expressam nas ruas do país. Nossa jovem democracia corre o risco de caducar precocemente, caso não tenhamos êxito em ressignificá-la e reaproximá-la dos setores sociais mais dinâmicos. Por fim, cumpre registrar que seria recomendável aos dirigentes políticos do campo progressista afastar o risco de reproduzir aqui os erros da esquerda espanhola que, inicialmente, criminalizou o 15-M e terminou falando sozinha nas últimas eleições. Também seria recomendável não outorgar, de forma alguma, às elites brasileiros uma capacidade de mobilização que ela não possui e jamais possuirá. Refutar a ideia
de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das "elites" é o primeiro passo para não cair em um erro elementar que seria bloquear qualquer possibilidade de dialogo com esses novos movimentos. Melhor acreditar que é possível extrair do atual momento elementos para a renovação da agenda da esquerda brasileira e reforçar os laços que unem os governos progressistas da AL a todas as lutas contra as diversas formas de privatização da vida. É hora de reforçarmos a nossa capacidade de  diálogo, de escuta, e ouvir a voz nada rouca das ruas - a mesma que nossos adversários sempre buscaram silenciar. Estamos diante de uma oportunidade singular para renovarmos nossos discursos e nossas práticas, projetando o próximo passo da Revolução Democrática no Brasil com base na força sempre renovadora das mobilizações da juventude. (Vinicius Wu, Secretário-geral do governo do RS; leia a íntegra nesta pág)



Sobre o que dizem as ruas



Seria recomendável aos dirigentes políticos do campo progressista afastar o risco de reproduzir aqui os erros da esquerda espanhola que, inicialmente, criminalizou o 15-M e terminou falando sozinha nas últimas eleições. Também seria recomendável não outorgar, de forma alguma, às elites brasileiras uma capacidade de mobilização que ela não possui. Refutar a ideia de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das "elites" é o primeiro passo para não cair em um erro elementar. Por Vinicius Wu.

  • A forma menos adequada de buscarmos a compreensão de um fenômeno social complexo é a simplificação. Não encontraremos uma única motivação para os recentes protestos que se espalharam pelas principais cidades do país, se o procurarmos. Temos questões mais gerais e universais ao lado de outros muitos temas locais e setoriais. Há aspectos que aproximam os manifestantes de São Paulo aos do Rio e de Porto alegre e, outros tantos, que os distanciam. 

O papel da internet e das redes sociais é central e, em geral, os políticos e formadores de opinião não o tem compreendido minimamente. Buscar algum grau de compreensão do atual fenômeno, a partir do ponto de vista de uma esquerda que se coloca diante do dificílimo desafio de governar transformando, é o objetivo desse breve artigo. 

O que se pode dizer preliminarmente é que estamos diante de uma expressão política do novo Brasil. A revolução democrática, levada a termo pelos governos Lula, redefiniu a estrutura de classes da sociedade brasileira, incluiu milhões de brasileiros à sociedade de consumo e possibilitou a emergência de novas expressões culturais e políticas. Mas o inédito processo de inclusão social e econômica ainda é imperfeito, inconcluso e contraditório. As dinâmicas políticas decorrentes do processo massivo de inclusão social em curso ainda são imprevisíveis, mas algumas pistas são visíveis e exigem da esquerda brasileira uma reflexão mais adensada.

As conquistas sociais dos últimos anos vieram acompanhadas da despolitização da política, de uma onda conservadora que constrange o Congresso Nacional e paralisa os partidos de esquerda, distanciando, ainda mais, a juventude da política tradicional. Lembremos que, recentemente, tivemos manifestações espontâneas, em todo o país, contra a indicação de Marcos Feliciano à Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional. Na oportunidade, nenhum manifestante propunha o fechamento do Congresso ou a criminalização dos políticos. E o que fez nosso Parlamento enquanto Instituição? Nada. Esperou solenemente o movimento se dispersar. Frente à onda conservadora que estimula a homofobia, o racismo e a violência sexista, o que têm feito os partidos políticos? Os ruralistas de sempre se organizam no Congresso Nacional para anular os direitos dos indígenas e o que dizem nossos parlamentares progressistas?

Os dez anos de governo de esquerda no país nos deixam um legado de grandes conquistas, entretanto, há incerteza e imprecisão quanto aos próximos passos. Demandas históricas não atendidas carecem de respostas mais amplas. Além disso, novas questões sempre se impõem num cenário de conquistas sociais e políticas. Pois, se é verdade que os governos do PT incluíram milhões e possibilitaram acesso a inúmeros serviços antes inacessíveis, também é verdade que temos, em diversas áreas, serviços de baixa qualidade e, fundamentalmente, caros. 

O transporte nas grandes cidades é um drama cotidiano para milhões de brasileiros. Temos pleno emprego em diversas regiões metropolitanas do país e, no entanto, ainda temos um oceano de precariedade e informalidade. E aqueles que ingressaram na sociedade de consumo nos últimos anos, legitimamente, querem mais: anseiam por cultura, lazer, mais e melhores serviços, educação de qualidade, saúde, segurança e transportes. São os efeitos colaterais de toda experiência exitosa de redução das desigualdades sociais e econômicas.

Evidentemente, há ainda o afastamento e o desencantamento com a política e os políticos. A denominada "crise da representação" não é um conceito acadêmico abstrato. O déficit de democracia e de legitimidade das Instituições políticas colocam em xeque a capacidade dos atuais representantes em absorver e compreender as novas dinâmicas sociais e políticas que se expressam nas ruas do país. Nossa jovem democracia corre o risco de caducar precocemente, caso não tenhamos êxito em ressignificá-la e reaproximá-la dos setores sociais mais dinâmicos.

Essas seriam algumas das questões mais gerais que aproximam os movimentos do Sul, sudeste e nordeste. Mas há ainda temas locais que incidem sobre dinâmicas especificas e mobilizam pessoas a partir de questões mais sensíveis a partir de sua vivência concreta nos territórios.

O Rio de Janeiro, por exemplo, se tornou uma das cidades mais caras do mundo. Há uma reorganização em grande escala do espaço urbano e há setores sociais que se sentem completamente alheios (e marginalizados) ao processo de "modernização" da cidade. Em São Paulo, temos uma polícia orientada para o uso desmedido e desproporcional da força e da violência – e isso não diz respeito somente aos dias de protestos. Também há ali um tipo de violência estrutural contra homossexuais e mulheres sem que o Poder Público organize qualquer resposta mais contundente. Poderíamos estender a lista. 

Por fim, cumpre registrar que seria recomendável aos dirigentes políticos do campo progressista afastar o risco de reproduzir aqui os erros da esquerda espanhola que, inicialmente, criminalizou o 15-M e terminou falando sozinha nas últimas eleições. Também seria recomendável não outorgar, de forma alguma, às elites brasileiras uma capacidade de mobilização que ela não possui e jamais possuirá. Refutar a ideia de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das "elites" é o primeiro passo para não cair em um erro elementar que seria bloquear qualquer possibilidade de dialogo com esses novos movimentos. 

Melhor acreditar que é possível extrair do atual momento elementos para a renovação da agenda da esquerda brasileira e reforçar os laços que unem os governos progressistas da América Latina a todas as lutas contra as diversas formas de privatização da vida. É hora de reforçarmos nossa capacidade de dialogo, de escuta, e ouvir a voz nada rouca das ruas – a mesma que nossos adversários sempre buscaram silenciar. Estamos diante de uma oportunidade singular para renovarmos nossos discursos e nossas práticas, projetando o próximo passo da Revolução Democrática no Brasil com base na força sempre renovadora das mobilizações da juventude.

(*) Secretário-geral do governo do Estado do Rio Grande do Sul