Tirei as duas fotos aí de cima hoje, em dois pequenos supermercados próximos de onde moro – o Real e o Supermarket, em Niterói.
Parece bobo, não é? Mas para quem passou dos 50 anos não é não, porque somos de uma geração onde a placa que se via em mercados e obras de construção era, ao contrário, a de ”não há vagas”.
Às vezes, até, com um peremptório e duro “não insista” para rematar.
Ok, não são ótimos empregos e certamente não são o sonho profissional de quase ninguém.
Mas certamente é melhor que não ter emprego nenhum.
E não é só para os mais pobres e com menos formação escolar, não.
Há vagas, embora com salários baixos, para todos os níveis.
Aliás, há tanta vaga aberta justamente porque paga-se pouco e muitos param por ali apenas o tempo necessário para sair do sufoco absoluto e buscar algo melhor.
Estas fotos daí de cima são do Brasil que não sai nos jornais.
O Brasil que sai no jornal está desmoronando, com os mercadinhos às moscas e o desemprego, não importa o que diga o IBGE, em alta.
Tudo está um desastre, tal índice é “o pior desde 2 mil e tanto”, tal taxa “é a mais grave desde tantos anos”.
Mas quer dizer que está tudo muito bem, tudo muito bom?
De jeito nenhum.
Que bom que a gente esteja insatisfeito com o Brasil, porque é mesmo para estar.
Este país ainda dá muito pouco a seus filhos, em matéria de educação, de saúde, de habitação, de oportunidades.
Mas cuidado, seu moço, porque moço eu também já fui.
E porque já fui e não sou mais, que este pais, sei que não faz uma geração, era muito, muito, muito mais avaro com seus cidadãos.
Avaro?
Não, a palavra exata é cruel.
Porque só pode ser cruel que quer abaixar a inflação a base de arrocho, de corte nos gastos sociais, com a precarização do trabalho, com políticas recessivas.
Vão dizer que querem isso é apelar para o medo?
Pois eu não tenho problemas em dizer que se deve, sim, ter medo disso, porque sei muito bem como isso é terrível.
Eu sei e tenho obrigação de contar que existia um Brasil sem vagas para seu povo.
Mesmo as mais modestas, os “empreguinhos de dois salários” dos quais a “turma da bufunfa” debocha, mas nem assim quer pagar e diz que os salários “altos demais” são responsáveis pelo desequilíbrio do tal “tripé macro-econômico”.
Talvez você, moço, não acredite em mim.
Ficamos assim: eu também prefiro que você duvide do que eu digo e até faça pouco caso.
É muito melhor você me olhar desconfiado do que acontecer aquilo que faça você me dar razão.
Cuidado, porém, que o pior inimigo do bom é o que aquela turma diz que vai ser ótimo.
Acho que você tem toda a razão em querer mais, muito mais.
Só não esqueça que tivemos, não faz muito tempo, muito menos.
Onze anos atrás, a imagem do Brasil era aquela que divide a ilustração com as de hoje.
Eu não a quero de volta, você quer?