Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

domingo, 18 de dezembro de 2011

A VOZ DO POVO E A SURDEZ DE SEUS REPRESENTANTES

*Ditadura militar do Egito desaloja com violência os indignados de Tahir e mata mais 10 pessoas (veja as cenas impressionantes: http://www.youtube.com/watch?v=4iboFV-yeTE&feature=player_embedded&skipcontrinter=1) ** Líbia,o caos pós-guerra: seccionada por bandos armados, dividida por cidades que perfilaram a favor e contra Kadaffi, o país tem mais de 9 mil presos arbitrariamente detidos** Iraque: a violência enlouquecida da 'receita democrática' de Bush -- a memória do  repórter Eduardo Febbro, num relato desconcertante desde os primeiros momentos da invasão (leia nesta pág).
O atendimento público à saúde é a área do governo que sofre as maiores críticas da população: 67% dos entrevistados pela pesquisa da CNI/Ibope, divulgada esta semana, reprovam o atendimento do setor. O número é particularmente destoante comparado ao salto de 51% para 56% no apoio geral ao governo Dilma. Mas sobretudo destoa constatar que, dias antes da divulgação da pesquisa, o Senado brasileiro --com apoio da bancada do governo-- tenha rejeitado, a exemplo do que já fizera a Câmara, a criação de um imposto sobre transações financeiras, de insignificantes 0,01%,  para reforçar o orçamento notoriamente deficitário da saúde pública. Diz algo sobre o esgotamento da democracia representativa que 67% da população aponte uma emergência e seus supostos representantes a ignorem. Em 2007, reecém derrotada nas urnas presidenciais, a coalizão demotucana com intensa vocalização de seu dispositivo midiático, extinguiu a CPMF subtraindo R$ 40 bi à saúde. O Brasil investe no setor uma proporção do PIB tres vezes inferior à da França.

O nível deprimente do debate político no Brasil

Concorde-se com que não é só aqui. Por influência dos Estados Unidos, a América Latina inteira faz política por meio de verdadeiras brigas de rua em que prevalece quem consegue xingar e acusar de forma mais virulenta e insultante, mesmo que isso se deva a ter como propagar melhor suas arengas por ter a mídia ao seu lado.
Não importa se é assim que outros países da região fazem. Vivemos no Brasil. Não é porque os vizinhos fazem política só por meio de lutas encarniçadas que temos que continuar assim.
A que se reduziu o debate político, neste país, se não a acusações mútuas de ladroagem entre os dois grandes grupos que dividem a política nacional? E, ainda por cima, com o concurso de partidos de uma terceira via de extrema-esquerda que enveredam pelo mesmo caminho tortuoso da desqualificação simultânea dos dois grandes adversários.
O processo se inicia com o clima estabelecido pela mídia. Os seguidores desses jornais, revistas e sites corporativos recebem cargas de denúncias contra petistas e aliados, saem repetindo, ipsis-litteris, os bordões criados para esse fim, mas os beneficiados por esse esquema, o PSDB e os aliados dele, recebem o troco na mesma moeda, pois é nesses termos que o debate foi estabelecido.
Se a mídia quisesse, poderia instilar um comportamento menos ensandecido em atores políticos e militância. Se não tivesse optado por escolher um lado, o debate político melhoraria de nível em pouco tempo. Os grupos políticos passariam a debater visões sobre a administração do país, dos Estados e municípios, o que seria uma benção.
Denúncias de corrupção passariam a ser feitas de forma menos leviana, sobre casos consistentes e não sob exageros que visam transformar o outro lado no “mais corrupto da história”. E ambos os lados acabariam por adotar procedimentos comuns diante de casos de corrupção entre os adversários, não se dispondo a culpar a todos pelo que fizessem alguns.
Claro que cada grupo continuaria a ter seus assaltantes, mas uma imprensa isenta e crível poderia fazer a distinção entre joio e trigo e, assim, chamar à razão quem só pensasse em exterminar o adversário valendo-se da descoberta de que entre suas hostes alguém se corrompeu.
Sonho de uma noite de verão? Claro que é. A vida não é bela. O homem tem essa natureza deletéria.
Todavia, há, sim, sociedades nas quais não há uma só forma de fazer política – acusando o adversário de ladrão e outras “gentilezas” análogas. Mas essas sociedades só conseguiram chegar a esse estágio após colocarem a comunicação de massas a seu serviço.
Hoje, no Brasil, o cidadão comum, aquele padrão de brasileiro que pouca importância dá à gritaria de parte a parte entre a classe política e a mídia por não ter como distinguir o que é acusação verdadeira do que é apenas luta política, vai ficando impermeável a denúncias de corrupção.
Inexiste hoje, em nosso país, um ente apartidário ao qual se possa dar crédito para apontar o que está certo e o que está errado entre este ou aquele grupo político. A imprensa deveria exercer esse papel, mas, infelizmente, ela se tornou notícia, uma protagonista da comédia política, ainda que sem intenção.
Todos os partidos têm os que buscam se locupletar e aqueles que apenas têm idéias das quais se pode discordar, mas que não são canalhas. A comunicação de massas poderia separar uns de outros, se fosse séria.
E o pior é que a falta de seriedade da mídia não muda mais nada na percepção que o povo tem da política. Que resultado ela colheu do bombardeio, da sabotagem incessante do governo Dilma? Nenhum, ao menos em termos de prejuízo de sua imagem.
E Lula, então… Não poderia ser mais popular. Nem mercenários contratados para difamá-lo conseguiram sequer arranhar sua popularidade simplesmente porque ninguém mais dá bola a denúncias de corrupção.
Não há luta mais importante para o Brasil neste momento histórico, portanto, que não seja a de democratizar, de civilizar e de tornar séria a comunicação de massas. Sem isso, este país ainda correrá risco de cair nas mãos do que há de pior na política, tanto de um lado quanto do outro.
Se você ficou deprimido, não se pode culpá-lo. É deprimente mesmo esse quadro político vigente em nosso país. Mas, para não deixá-lo terminar o texto assim, uma boa notícia: há gente que está lutando com muita seriedade para dar ao Brasil a mídia de que tanto precisa. Um dia chegaremos lá. Temos que acreditar nisso.

Luis Nassif comenta a ficção de Merval Pereira e seu ghost writer.A ficção do Amaury

Merval Pereira, O Globo
O livro “Privataria tucana”, da Geração Editorial, de autoria de Amaury Ribeiro Jr, é um sucesso de propaganda política do chamado marketing viral, utilizando-se dos novos meios de comunicação e dos blogueiros chapa-branca para criar um clima de mistério em torno de suas denúncias supostamente bombásticas, baseadas em “documentos, muitos documentos”, como definiu um desses blogueiros em uma entrevista com o autor do livro.
Disseminou-se a idéia de que a chamada “imprensa tradicional” não deu destaque ao livro, ao contrário do mundo da internet, para proteger o ex-candidato tucano à presidência José Serra, que é o centro das denúncias.
Estariam os “jornalões” usando dois pesos e duas medidas em relação a Amaury Jr, pois enquanto acatam denúncias de bandidos contra o governo petista, alegam que ele está sendo processado e, portanto, não teria credibilidade?
É justamente o contrário. A chamada “grande imprensa”, por ter mais responsabilidade que os blogueiros ditos independentes, mas que, na maioria, são sustentados pela verba oficial e fazem propaganda política, demorou mais a entrar no assunto, ou simplesmente não entrará, por que precisava analisar com tranqüilidade o livro para verificar se ele realmente acrescenta dados novos às denúncias sobre as privatizações, e se tem provas.
Como assim? Qual a responsabilidade na denúncia de que foram entregues centenas de milhares de dólares em um envelope no Palácio do Planalto? E a do "consultor" Ruben Quícoli, que dizia que com propina seria possível levantar R$ 10 bi no BNDES para uma fabriqueta? E a denúncia de que Dilma encomendaria dossiês para o Ministério da Justiça, ou a ficha falsa de Dilma? Merval deveria ter mais responsabilidade ao escrever, ainda mais criando para si esse papel de jornalista sério em veículo sério. É evidente que ataques, como aos blogueiros, são da lavra do Serra. Não é do estilo do Merval essas manifestações de indignação. Corto um dedo se o ghost writer dessa tertúlia não é o próprio Serra.
Outros livros, como "O Chefe", de Ivo Patarra, com acusações gravíssimas contra o governo de Lula, também não tiveram repercussão na "grande imprensa" e, por motivos óbvios, foram ignorados pela blogosfera chapa-branca.
Desde que Pedro Collor denunciou as falcatruas de seu irmão presidente, há um padrão no comportamento da “grande imprensa”: as denúncias dos que participaram das falcatruas, sejam elas quais forem, têm a credibilidade do relato por dentro do crime.
Quem disse que Pedro Collor participou de alguma coisa no governo do seu irmão? Sua bronca maior era de não estar dentro.
Deputado cassado e presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson desencadeou o escândalo do mensalão com o testemunho pessoal de quem esteve no centro das negociações, e transformou-se em um dos 38 réus do processo.
O ex-secretário de governo Durval Barbosa detonou a maior crise política da história de Brasília, com denúncias e gravações que culminaram com a prisão do então governador José Roberto Arruda e vários políticos.
Fantástico Merval! Seu brilhantismo consagrou uma nova máxima jurídica: criminoso tem credibilidade porque participou do crime; não criminoso não tem porque, por não ser criminoso, não conhece os escaninhos do crime.
E por aí vai. Já Amaury Ribeiro Jr. foi indiciado pela Polícia Federal por quatro crimes: violação de sigilo fiscal, corrupção ativa, uso de documentos falsos e oferta de vantagem a testemunha, tendo participado, como membro da equipe de campanha da candidata do PT, de atos contra o adversário tucano.
O livro, portanto, continua sendo parte da sua atividade como propagandista da campanha petista e, evidentemente, tem pouca credibilidade na origem.
Na sua versão no livro, Amaury jura que não havia intenção de fazer dossiês contra Serra, que foi contratado “apenas” para descobrir vazamentos internos e usou seus contatos policiais para a tarefa que, convenhamos, conforme descrita pelo próprio, não tem nada de jornalística.
Ele alega que a turma paulista de Rui Falcão (presidente do PT) e Palocci queria tirar os mineiros ligados a Fernando Pimentel da campanha, e acabou criando uma versão distorcida dos fatos.
No caso da quebra de sigilo de tucanos, na Receita de Mauá, Amaury diz que o despachante que o acusou de ter encomendado o serviço mentiu por pressão de policiais federais amigos de José Serra.
Enfim, Amaury Ribeiro Jr, tem que se explicar antes de denunciar outros, o que também enfraquece sua posição.
O criminoso não precisa explicar suas intenções: basta ter participado dos crimes. O Amaury tem que explicar. Merval ambiciona a imortalidade tornando-se membro da ABL. Jornalistas ambicionam a imortalidade escrevendo reportagens definitivas. Acho que Merval se esqueceu definitivamente do que é a emoção de construir uma grande reportagem.
Ele e seus apoiadores ressaltam sempre que 1/3 do livro é composto de documentos, para dar apoio às denúncias.
Mas se os documentos, como dizem, são todos oficiais e estão nos cartórios e juntas comerciais, imaginar que revelem crimes contra o patrimônio público é ingenuidade ou má-fé.
Documentos oficiais obtidos nas ilhas Virgens. Se eram tão inocentes assim, qual a razão de terem sido abafados na CPI do Banestado?
Que trapaceiro registra seus trambiques em cartórios?
Aquele que tem medo de ser enganado por testas de ferro e só confia na própria família. Aliás, outro fato que poderia ter sido explicado é a razão do casal Verônica Serra ter mudado o regime de bens do casamento pouco antes de começarem as transferências de recursos.
Há, a começar pela escolha do título – Privataria Tucana – uma tomada de posição política do autor contra as privatizações.
E a maneira como descreve as transações financeiras mostra que Amaury Ribeiro Jr. se alinha aos que consideram que ter uma conta em paraíso fiscal é crime, especialmente se for no Caribe, e que a legislação de remessa de dinheiro para o exterior feita pelo Banco Central à época do governo Fernando Henrique favorece a lavagem de dinheiro e a evasão de divisas.
Utilizam contas em paraísos fiscais empresas para planejamento tributário (como se financiar em leasing). Se quiser uma defesa eficiente, basta Serra/Merval explicar a razão de Verônica Serra precisar de conta em paraíso fiscal. Mais que isso: mostrar a origem dos recursos que enviou para o Brasil e que permitiram ao pai esquentar a casa em que morava desde fins dos anos 80. Se não foi propina, foram resultados de empresas no exterior. Que empresas foram essas, quais os resultados apresentados? Simples assim.
É um ponto de vista como outro qualquer e ele tenta por todas as maneiras mostrar isso, sem, no entanto, conseguir montar um quadro factual que comprove suas certezas.
Vários personagens, a maioria ligada a Serra, abrem e fecham empresas em paraísos fiscais, com o objetivo, segundo ilações do autor, de lavar dinheiro proveniente das privatizações e internalizá-lo legalmente no País.
Para quê é, então?
Acontece que passados 17 anos do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, e estando o PT no poder há 9 anos, não houve um movimento para rever as privatizações.
O que isso tem a ver com suspeitas de pagamento de propina?
E os julgamentos de processos contra os dirigentes da época das privatizações não dão sustentação às críticas e às acusações de “improbidade administrativa” na privatização da Telebrás.
A decisão nº 765/99 do Plenário do Tribunal de Contas da União concluiu que, além de não haver qualquer irregularidade no processo, os responsáveis “não visavam favorecer em particular o consórcio composto pelo Banco Opportunity e pela Itália Telecom, mas favorecer a competitividade do leilão da Tele Norte Leste S/A, objetivando um melhor resultado para o erário na desestatização dessa empresa”.
A escolha do Opportunity, por si, caracteriza um benefício. Na sequência, o Opportunity deposita US$ 5 milhões na conta da Verônica. Verônica transfere para o Brasil e "compra" a casa em que o pai mora. Por acaso o TCU analisou essa sequência de episódios? Claro que não: apenas a montagem do consórcio em si.
Também o Ministério Público de Brasília foi derrotado e, no recurso, o Tribunal Regional Federal do Distrito Federal decidiu, através do juiz Tourinho Neto, não apenas acatar a decisão do TCU mas afirmar que “não restaram provadas as nulidades levantadas no processo licitatório de privatização do Sistema Telebrás. Da mesma forma, não está demonstrada a má-fé, premissa do ato ilegal e ímprobo, para impor-se uma condenação aos réus.
Claro que não restaram. Na época não havia documentos, nem evidências de pagamento de propina. Agora, há.
Também não se vislumbrou ofensa aos princípios constitucionais da Administração Pública para configurar a improbidade administrativa.”.
O livro de Amaury Ribeiro Jr. está em sexto lugar na lista dos mais vendidos de “não-ficção”. Talvez tivesse mais sucesso ainda se estivesse na lista de “ficção”.
Merval está na Academia Brasileira de Letras por apenas um livro que é coletânea de artigos. E o grande feito jornalístico que menciona é o de ter participado de uma reportagem que teve em Amaury um dos autores. Sua participação foi na condição de... diretor da sucursal.
Luis Nassif