Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A escola resolve o nosso apartheid?

A escola pode muito. Mas é questionável que vá salvar a pátria, dizia Antonio Candido ao PT, em 2002. Vale reler em 2014.

por: Saul Leblon 

Arquivo


















Quem vai salvar a pátria?

Um traço constitutivo da agenda conservadora consiste em festejar  as derrotas da sociedade brasileira abstraindo  a dimensão estrutural do problema.

Ou seja, omitindo sua responsabilidade.

Espremido o foco, o resto fica  fácil.

Cria-se uma circularidade; ela confina o debate do futuro no campo da moral.

E a moral, como se sabe, é o  apanágio da classe dominante.

Entre nós esse reducionismo determina que o faminto é culpado pela fome. 

O Estado, carcomido pelo cupim privatista, é o responsável pela indigência pública.

O lado ‘gobineau’ das  elites –em que a genética define a história--  tem na educação um compêndio ilustrativo de sua versatilidade e dos seus limites.

Manchetes desta semana esponjaram-se no desempenho sofrível dos estudantes brasileiros no Pisa, edição 2012.

O  Programa de Avaliação Internacional de Estudantes da OCDE  sabatina alunos de 15 e 16 anos em matemática, leitura e ciências.

A mensagem subliminar do jornalismo conservador era:  esse, o país dirigido pelo populismo!

Das 65 nações  incluídas no teste, o Brasil foi a que apresentou a melhor progressão no aprendizado de matemática nos últimos nove anos.

O fato de persistir no 58º  lugar depois disso (em ciências figura no 59º; em leitura, no 55º, num total de 65)  é sugestivo do ponto de partida pantanoso  sobre o qual a elite ‘esclarecida’ fixou a escola pública brasileira.

 O mais irônico é que a narrativa conservadora  define  a educação como o único canal legítimo de mobilidade  das massas no país.   

Por trás desse simulacro de meritocracia esconde-se o círculo de ferro de uma das piores estruturas de distribuição de renda do planeta, que se avoca o direito à  eternidade.

Endinheirados  que se orgulham de patrocinar  ONGs pela redenção educativa, garantem: será assim, através da escola, não  da reforma agrária, a tributária ou a urbana, tampouco através do salário mínimo ‘inflacionário’, que a miséria material e espiritual perderá seu reinado neste lugar.

A escola pode muito.

Acertou em cheio o governo ao impor uma regulação soberana sobre a riqueza do pré-sal, que  permitirá transferir múltiplos de bilhões de reais à politica educacional nos próximos anos.

Mas é questionável que a escola possa tudo o que lhe atribui  a emancipação a frio apregoada pela agenda conservadora.

Ser uma ilha de excelência, capaz de abrigar e exorcizar o oceano de iniquidades ao seu redor, parece  mais um enredo de aventura nas estrelas do que o horizonte histórico de uma nação.

Os analistas do Pisa  parecem corroborar essa avaliação.

Eles afirmam que a metade do ganho brasileiro em matemática, por exemplo, foi uma decorrência de mudanças no entorno social dos alunos.

Uma parte do noticiário conservador  interpretou esse dado de forma desairosa, como se fora um atestado de fracasso do MEC. Outra,  omitiu-o.

Compreende-se.

Investigá-lo talvez levasse à conclusão de que as políticas demonizadas pela mídia – como o Bolsa Família, a valorização do salário mínimo, crédito barato, subsídio à habitação popular etc--  ajudaram o estudante brasileiro a ter maior poder de aprendizado.

Um exemplo:  estudantes do ensino médio beneficiados pelo Bolsa Família nas regiões Norte e Nordeste têm rendimento melhor do que a média nacional  (82,3% e 82,7%, contra  taxa brasileira de 75,2%).

Outro:  pesquisa feita na Universidade de Sussex, na Inglaterra, em 2012, revela que quanto maior é o tempo de  participação das famílias no Bolsa Família, maior é o aproveitamento escolar das crianças.  Segundo a pesquisa, a taxa de aprovação dos alunos do 5º ano aumenta 0,6 ponto percentual para cada R$ 1 de aumento no valor médio do benefício per capita pago às famílias.

A influência da entorno social na escolarização não é privilégio de sociedade pobre.

Tome-se o caso dos EUA.

O país  retrocedeu cerca de 20 pontos  na classificação global do Pisa- 2012.

Em 2009  ocupava a 17ª posição; caiu agora para a 36ª, abaixo da média geral em ciências e matemática.

O que mudou nos EUA entre 2009 e 2012? 

A sociedade norte-americana mergulhou na sua maior crise desde a Depressão de 1929.

Uma em cada cinco crianças norte-americanas vive atualmente em ambiente de pobreza. A renda  média das famílias  com filhos recuou cerca de US$ 6.300 (tomando-se 2001 como base de comparação). Com a implosão da bolha imobiliária, um milhão de estudantes de escolas públicas viram suas famílias serem despejadas .  As taxas de desemprego aberto e oculto hoje superam a faixa dos 13%. O grau de recuperação do mercado de trabalho na presente crise é o mais lento de todas as recessões anteriores.

A sobrevalorização do papel da escola na agenda conservadora brasileira padece de outros flancos de coerência.

Há uma distancia robusta entre o que se fala e o que se pratica quando se mede o hiato em moeda sonante.

O piso salarial do magistério brasileiro hoje, R$ 1560,00,  é um dos mais baixos do mundo. A perspectiva de corrigi-lo para modestos R$ 1.860 reais  em 2014  dispara as sirenes de alerta do jornalismo que promete mostrar o abismo fiscal na próxima edição.

Segundo o Pisa, o Brasil investe três vezes menos  que a média da OCDE para educar uma criança dos 6 aos 15 anos (R$ 64 mil e R$ 200 mil, respectivamente).

Em termos de PIB, fica com uma fatia equivalente a 5%.

O pedaço destinado aos rentistas da dívida pública é maior: 5,7% do PIB.

O mesmo jogral que atribui à educação poderes sobrenaturais,  martela a necessidade de submeter a economia a uma ação purgativa contundente feita de juros mais altos e cortes no poder de compra da população (em especial, a depreciação real do salário mínimo).

O conjunto visa, no fundo,  preservar  a regressividade fiscal brasileira, que privilegia ricos e penaliza pobres e remediados, contra eventuais reformas progressistas.

Nos salões elegantes, os candidatos a candidato do dinheiro grosso em 2014    acenam com a miragem desse país impossível: um Brasil com produtividade chinesa, civilidade suíça, superávit ‘cheio’ e carga fiscal equiparável a de Burkina Faso, onde o índice de alfabetização não ameaça a barreira dos 25%.

Não é apenas o entorno social do aluno pobre que está ameaçado por esse coquetel ; na verdade, ele rasga a própria  fantasia da prioridade educacional,  reduzindo-a a sua verdadeira essência histórica: uma agenda protelatória.

Ou seja, um deslocamento espacial e temporal do conflito distributivo, confinado em uma escola e em um aluno, aos quais caberá a exclusiva responsabilidade de erguer a sociedade  pelos próprios cabelos.

Ou não será assim também com a saúde pública, desafiada a ‘fazer mais com menos’, --com menos ainda  depois  que a coalizão demotucana  subtraiu R$ 40 bilhões por ano do SUS em 2007?

Um comparativo da OMS mostra o quanto há de perversidade na fotografia que imortalizou esse ato cometido na madrugada de 13 de dezembro de 2007. A imagem mostra a nata do retrocesso político comemorando a extinção da CPMF em alegria obscena. A indecência se  panfletada nas filas do SUS  ainda guarda nitroglicerina para sublevar o país.

Segundo a OMS, o gasto público mundial per capita com a saúde  chegou a US$ 571 por ano em 2010. Inclua-se nessa média os US$ 6 mil per capita da Noruega e os US$ 4 per capita do Congo; o valor brasileiro é de US$ 466/ano; em 2000, no governo FHC, somava US$ 107 per capita.

Os mesmos que gargalhavam na madrugada de 13 de dezembro de 2007 fuzilariam o ‘Mais Médicos’ seis anos depois. E não por acaso são as mesmas bocas de onde ecoa a cínica profissão de fé em uma escola  capaz de corrigir aquilo que suas madrugadas políticas cuidam de perpetuar.

 Os resultados do Pisa deveriam servir de combustível para um aggiornamento do debate brasileiro  que de forma preguiçosa adotou o cacoete de terceirizar à educação tarefas que só uma repactuação do desenvolvimento pode honrar.

Na ante-sala do debate eleitoral de 2014  seria oportuno, por vezes,  inverter os termos da equação. E arguir o que o projeto mercadista pretende fazer em benefício da pobreza e da desigualdade hoje para que elas possam mudar a escola pública  amanhã.

Vale retornar às origens e reler um trecho inspirador de uma entrevista concedida pelo professor, crítico literário e cientista social Antonio Candido de Mello e Souza, à campanha de Lula, em 2002, sobre o assunto.

Como ele, as palavras aqui emitem uma luminosidade clássica:

"Temos  uma crise de civilização (...) Talvez seja um mal que deriva de um bem. 
 
O esforço para tornar os níveis de ensino acessíveis a todos força diminuir o nível. Então, você fica num dilema perverso: elitizo ou democratizo e abdico de qualidade?  A saída está numa sociedade igualitária, onde todos tenham acesso à cultura e à educação de qualidade. Foi o que eu vi em Cuba. Instrução pública e gratuita em todos os níveis. E de muito boa qualidade. A chave é a transformação da sociedade, na qual as pessoas se apresentam para a educação em pé de igualdade. 
 
Quem acha que um bom sistema educacional salva a pátria está redondamente enganado. A participação nesse sistema será sempre restrita. Por isso você tem que, primeiro, fazer mudanças estruturais; depois, terá um boa educação. Os liberais pensam: eu tendo uma população instruída, terei uma sociedade melhor. 
 
Errado. Tendo a sociedade melhor, terei uma população instruída. Só assim você supera essa contradição aparente entre elitização e democratização. Continuo achando que a forma republicana do ensino público e gratuito é o grande modelo 
 
(...)  Numa sociedade em que as diferenças de classes ficam muito reduzidas, haverá um desaparecimento da cultura erudita e da popular. E surgirá uma nova cultura. Isso é possível. A função do Estado é fazer um grande esforço econômico e social para que no plano cultural o hiato diminua. De tal maneira que, no fim de certo tempo, o popular se torna erudito e o erudito se torna popular.  
 
(...) Sempre tivemos uma República de elite. Um presidente da República era eleito com 200 mil votos - e votos descobertos. Em 1930, eu assisti na minha cidade, em Cássia, Minas Gerais, à última eleição a descoberto. O eleitor chegava e o coronel, ao lado, fiscalizando. Depois de Getúlio, com a emergência das massas operárias, das massas urbanas, não foi mais possível manter esse estreitamento. O Getúlio era um caudilho esperto. Para manter as elites sob controle, abriu as porteiras e deixou o povo entrar, mas patrocinado por ele. Todavia, abriu a porteira.  E ela está aberta até hoje” (Antonio Candido; site da Campanha Lula Presidente; 2002)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Sorria, você está sendo curado

É de estarrecer a nota  da Agência Estado, dizendo – é literal – que a prefeitura e o Governo de S. Paulo estão buscando usar “dor e sofrimento” como estratégia de combate ao uso de crack.
Seria, em resumo, ir enxotando os usuários e traficantes dos pontos onde se fixam, para forçar os primeiros a buscarem ajuda e os segundos a desistirem do negócio.
Diz o o coordenador anti-drogas da Governo do Estado, Luiz Alberto Chaves de Oliveira, conhecido como Dr. Laco (sem cedilha, por favor):
- A falta da droga e a dificuldade de fixação vão fazer com que as pessoas busquem o tratamento. Como é que você consegue levar o usuário a se tratar? Não é pela razão, é pelo sofrimento. Quem busca ajuda não suporta mais aquela situação. Dor e o sofrimento fazem a pessoa pedir ajuda.
E a secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Alda Marco Antonio, promete até março – até março – que haverá 1.200 vagas para tratamento de dependentes.
O resultado deste genual terapêutica está retratado no portal R7: expulsos da Cracolândia original, proximo à Praça Julio Prestes, na capital paulista, viciados já montaram outra na Zona Sul Paulista e se espalham em pequenos núcleos próximos á região da Luz.
Ora, ninguém pode ser contra ações repressivas que impeçam a formação de “bairros do crack”, nem desconsiderar o direito dos cidadão que moram e trabalham nestas áreas. Nem compreender que, em alguns casos, tenha de ser contida com mais que um “por favor” a agressividade de pessoas fortemente drogadas e nas condições deploráveis que o crack produz.
Mas um profissional e um chefe de um serviço de saúde pública dizer que causar “dor e sofrimento” seja uma ação terapêutica, pelo amor de Deus! Seria voltar aos primórdios da ciência médica, ou dar razão aos inquisidores da Idade Média que pensavam ser a masmorra e a tortura instrumentos de conversão à fé.
Mas aqueles pobres sujeitos, degradados e abandonados, merecem, não é?Certamente o Dr. Laco (sem cedilha, por favor), acompanha a polícia às festas chiques dos Jardins para provocar “dor e sofrimento” para fazer os consumidores de drogas “pedirem ajuda” para se tratar, segundo o mesmo critério terapêutico.

domingo, 18 de dezembro de 2011

A VOZ DO POVO E A SURDEZ DE SEUS REPRESENTANTES

*Ditadura militar do Egito desaloja com violência os indignados de Tahir e mata mais 10 pessoas (veja as cenas impressionantes: http://www.youtube.com/watch?v=4iboFV-yeTE&feature=player_embedded&skipcontrinter=1) ** Líbia,o caos pós-guerra: seccionada por bandos armados, dividida por cidades que perfilaram a favor e contra Kadaffi, o país tem mais de 9 mil presos arbitrariamente detidos** Iraque: a violência enlouquecida da 'receita democrática' de Bush -- a memória do  repórter Eduardo Febbro, num relato desconcertante desde os primeiros momentos da invasão (leia nesta pág).
O atendimento público à saúde é a área do governo que sofre as maiores críticas da população: 67% dos entrevistados pela pesquisa da CNI/Ibope, divulgada esta semana, reprovam o atendimento do setor. O número é particularmente destoante comparado ao salto de 51% para 56% no apoio geral ao governo Dilma. Mas sobretudo destoa constatar que, dias antes da divulgação da pesquisa, o Senado brasileiro --com apoio da bancada do governo-- tenha rejeitado, a exemplo do que já fizera a Câmara, a criação de um imposto sobre transações financeiras, de insignificantes 0,01%,  para reforçar o orçamento notoriamente deficitário da saúde pública. Diz algo sobre o esgotamento da democracia representativa que 67% da população aponte uma emergência e seus supostos representantes a ignorem. Em 2007, reecém derrotada nas urnas presidenciais, a coalizão demotucana com intensa vocalização de seu dispositivo midiático, extinguiu a CPMF subtraindo R$ 40 bi à saúde. O Brasil investe no setor uma proporção do PIB tres vezes inferior à da França.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Jandira Feghali: Taxar 997 milionários levantaria R$ 10 bi para a saúde pública

por Luiz Carlos Azenha
A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados deve apreciar nesta quarta-feira, 7 de dezembro, o parecer da relatora Jandira Feghali (PCdoB-RJ) sobre o Projeto de Lei Complementar 48/11, de autoria do deputado Dr. Aluizio (PV-RJ), que trata da Contribuição Social das Grandes Fortunas.
Um imposto sobre as fortunas está previsto no inciso VII do artigo 153 da Constituição de 1988, nunca regulamentado.
A relatora pretende transformar o imposto em contribuição, permitindo assim que o dinheiro arrecadado seja vinculado a um tipo específico de gasto: o financiamento da saúde pública.
O imposto incidiria sobre 38.095 contribuintes, aqueles que têm patrimônio superior a 4 milhões de reais. As alíquotas teriam variação de 0,40% a 2,1%.
A relatora Jandira Feghali disse que, ao analisar os dados obtidos junto ao Fisco, constatou o tremendo grau de concentração de riqueza no Brasil: pelos cálculos da deputada, a contribuição arrecadaria 10 bilhões de reais taxando apenas os brasileiros com patrimônio superior a 100 milhões de reais, ou seja, 997 pessoas.
Considerando os dados de 2009, a contribuição levantaria 14 bilhões de reais.
“Vamos servir a 200 milhões de brasileiros com uma contribuição de fato em quem concentra patrimônio no Brasil”, diz Jandira.
Ela argumenta que taxar fortunas não é nenhuma novidade. O imposto existe na França para quem tem patrimônio superior a 600 mil euros, segundo ela.
Jandira também lembrou do milionário estadunidense que pediu para ser taxado. Ela se refere ao investidor Warren Buffett. De fato, nos Estados Unidos, existe até mesmo um grupo, chamado Patriotic Millionaires, que lidera uma campanha pela taxação de no mínimo 39,6% para quem tem renda superior a 1 milhão de dólares anuais. Uma pesquisa do Spectrum Group, publicada pelo Wall Street Journal, descobriu que 68% dos milionários entrevistados defendem aumento de imposto para os mais ricos.
A CSGF brasileira não trata de renda, mas de patrimônio acumulado.
Se você tem um Fusca paga 4% do valor em IPVA, mas a posse de um avião particular, de um helicóptero ou iate não é taxada, argumenta a deputada comunista.
Jandira diz que, pelos cálculos do ministro da Saúde Alexandre Padilha, a pasta precisa de um reforço de orçamento de 45 bilhões de reais por ano para dar conta das necessidades do setor. A contribuição dos milionários cobriria uma parte razoável disso.
Fiz duas provocações à deputada: 1)  Os milionários brasileiros têm um poder político considerável e, como disse Garrincha sobre a tática infalível  do técnico Vicente Feola para derrotar os russos, só falta combinar com o adversário; 2)  O argumento clássico dos conservadores é de que, ao taxar os mais ricos, eles perdem o incentivo para produzir as riquezas que, eventualmente, se espalham por toda a sociedade (a famosa economia do trickle-down, do ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, segundo a qual as migalhas que caem lá de cima acabam nos alimentando).
Para ouvir as respostas, clique abaixo:


Leia também:
Igor Felippe e o humor negro: Dinheiro é para queimar e rasgar
Folha “esquece” que Faustino amava José
Lúcio Flávio Pinto: E você com o plebiscito?

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Rodrigo Vianna: Pelas costas, Estadão “crava” espada em Dilma


por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador
A foto está na página A-7, na edição impressa do Estadão. Dilma surge levemente arqueada, e a espada de um cadete parece trespassar o corpo da presidenta. Abaixo da foto, o título “Honras Militares” – e um texto anódino, sobre a participação de Dilma numa cerimônia militar.
Faço a descrição minuciosa da foto porque a reprodução acima é de má qualidade, tive que fotografar a página do jornal. Até porque, estranhamente, a foto sumiu da edição digital. Se alguém encontrar, por favor, me avise.
O editor do Estadão deve ter achado genial mostrar a presidenta como se estivese sendo golpeada pelas costas. É a chamada metáfora de imagem. Mas, expliquem-me: qual a metáfora nesse caso? O que a foto tinha a ver com a solenidade de que fala o jornal? Há, no meio militar, quem queira golpear Dilma pelas costas? O jornal sabe e não vai contar?
Ou, quem sabe, a turma do “Estadão” tenha achado graça em “brincar” com a imagem. No mínimo, um tremendo mau gosto com uma mulher que já passou por tortura na mão de militares, e hoje é a presidenta de todos os brasileiros.
Sintomático que a foto não apareça ao lado da mesma notícia na edição digital. Alguém deve ter pensado melhor e concluído: isso não vai pegar bem.
Por isso tudo, sou levado a pensar que Freud talvez explique a escolha da foto: a mão militar, na foto, cumpre a função de eliminar a presidenta. E, com isso, talvez agrade a parcela dos leitores do jornal. Passeando pelo site do Estadão, é comum ver a presidenta chamada de “terrorista”.
Para continuar lendo o artigo do Rodrigo Vianna, clique aqui
PS do Viomundo: Aparentemente a mídia corporativa acalenta um mesmo sonho: ver a presidenta Dilma fora de combate. Quem não se lembra daquela capa da revista Época em que Dilma, de olhos fechados, num fundo negro, parece que está morta num caixão? Naquela ocasião, ela seria vítima de sua saúde, que, como se soube depois, pelo relatório médico, estava muito bem, obrigada. Agora, o Estadão escolhe “eliminá-la” com uma espada. Só Freud talvez explique essa obsessão da mídia corporativa, já que pelo voto o seu candidato, o ex-governador José Serra (PSDB), não conseguiu tirar Dilma do caminho (Conceição Lemes).
Prontuário médico de Dilma foi vazado no Hospital Sírio-Libanês
Brizola Neto: A saúde de Dilma Rousseff na capa de revista

domingo, 29 de maio de 2011

Época não merece desmentido. Merece processo


Os médicos Antônio Carlos Onofre de Lira, diretor técnico, e Paulo Ayroza Galvão, diretor clínico do Hospital Sírio-Libanês, por solicitação da Presidenta Dilma Roussef, emitiram agora à tarde um longo e detalhado relatório sobre os atendimentos prestados a ela.
Tratam em detalhes e com absoluta transparência todo os diagnósticos e terapêuticas relativos a eles.
O assunto de interesse público – a saúde da Presidenta – foi tratado com uma transparência ímpar. Aliás, sempre foi, mesmo quando ainda candidata.
Mas não foi transparência o que fez a Época. Foi violação de documentos médicos  privados  -  e cuja divulgação só pode ser feita por autorização do paciente, segundo resolução nº1605/2000, do Conselho Federal de Medicina.
A revista teria todo o direito de formular perguntas sobre a saúde da presidente a ele ou a seus médicos. Mas está confesso nas próprias páginas da revista que “Época teve acesso a exames, a relatos médicos e à lista de medicamentos usados pela presidente da República”. Não foi, repito, informação sobre assuntos ou políticas públicas. Nem mesmo um diagnóstico ou prognóstico que, por sério, pudesse ter interesse para a sociedade. Foram detalhes personalíssimos, que a ninguém dizem respeito.
Isso é crime, previsto no Art. 154 do Código Penal. Tanto quanto é crime a violação de um extrato bancário, de qualquer pessoa. Crime para quem viola o que está sob sua guarda, seja um profissional hospitalar ou um gerente de banco, quanto para quem o divulga, sabendo que foi obtido de forma ilícita.
Não havia um crime a denunciar, um perigo a prevenir, algum direito de pessoa ou da sociedade a proteger, com a divulgação.
A intenção, prevista na lei de “produzir dano a outrem” está marcada pela fotografia “fúnebre” da capa e pela reunião maliciosa entre o uso de remédios para uma infecção – a pneumonia – com outras situações que nada têm a ver com ela – o hipotireoidismo, por exemplo – e até substâncias de uso tópico para aftas, como o bicarbonato de sódio e o Oncilon.
Isso nada tem a ver com o dever de dar informações sobre a saúde de uma pessoa pública.  Tanto que elas são e foram dadas sempre, nos boletins médicos.
A motivação foi política: gerar medo, intranquilidade e dúvida sobre sua capacidade de governar. O que se praticou foi um crime – e não apenas um violação ética, o que já é grave – e crimes devem merecer responsabilização.
Mas, aqui, no país onde o inimigo político é culpado até que prove sua inocência (e olhe lá), pretender que a imprensa aja dentro da lei é “perseguição”.
PS. Senti falta da nossa blogosfera progressista para falar deste absurdo e do assanhamento tucano em demolir o governo que o povo elegeu. Será o frio que está fazendo hoje? (Em tempo, o Azenha deu divulgação a esta maracutaia farmacêutica da Época)

Época supera Veja em imundície e quer matar Dilma


Alertado por um leitor, fui ver a capa da Época, na qual uma foto da presidenta, de olhos fechados, é usada para ilustrar uma matéria sobre uma suposta gravidade de seus problemas de saúde.
É sordidamente mórbida.
Registra que os seus médicos dizem que ela “apresenta ótimo estado de saude”, mas a partir daí tece uma teia mal-intencionada e imunda sobre os problemas que ela apresentou e os outros que tem, normais para uma mulher da sua idade.
O hipotireoidismo, por exemplo, é problema comuníssimo entre as mulheres de mais idade. É por isso que todo médico pede a eles, sempre, o exame de TSH. E o hormônio T4 – Synthroid, Puran, Levoid, Euthyrox e outros – tomado em jejum, é a mais básica terapêutica, usada por anos e anos por milhões de mulheres do mundo inteiro.
A revista publica uma lista imbecil de “medicamentos” que a presidente tomava, em sua recuperação de uma pneumonia, listando tudo, até Novalgina, Fluimicil e Atrovent (usado em inalação até por crianças), e chegando ao cúmulo de citar “bicarbonato de sódio – contra aftas”.
Diz que o toldo que abrigou Dilma de uma chuva, em Salvador, ” lembrava uma bolha de plástico”.
Meu Deus, o que esperavam que fizessem com uma mulher que se recuperava de um pricípio de pneumonia? Que lhe jogassem um balde de água gelada por cima?
Essa é a “ética” dos nossos grandes meios de comunicação. Não precisam de fatos, basta construírem versões, erguendo grandes mentiras sobre minúsculas verdades.
Esses é que pretendem ser os “fiscais do poder”.
Que imundície!

quinta-feira, 17 de março de 2011

O Caso Bianca Abinader


Enviado por luisnassif

Do blog O Caso Bianca Abinader
A CBN Manaus ataca novamente 


Na última terça-feira (15), precisamente às 12h15 da tarde, o radialista Ronaldo Tiradentes, dono da rádio CBN em Manaus, invadiu a unidade de saúde Amazonas Palhano, no São José, Zona Leste da cidade.
Visivelmente descontrolado, o radialista perguntava pela médica Bianca Abinader, contra quem iniciou uma campanha pessoal em janeiro de 2010. Desde o dia 7 de fevereiro de 2011, Bianca atende os pacientes da manhã, entre 8h e meio-dia.
Quinze minutos após saída da médica, munido de uma filmadora, Ronaldo iniciou “reportagem” questionando pacientes que aguardavam consulta para outros médicos, do horário da tarde. Ronaldo queria saber se eles conheciam a médica “que não trabalhava”. Chegou a confundir um dos pacientes, que achava que se tratava de uma médica de outra Unidade, na qual Bianca nunca trabalhou.

O dono da CBN gritava com os funcionários, insistindo que a médica era “gazeteira” e que não atendia seus pacientes. A equipe de saúde, colegas da médica que convivem com Bianca há pouco mais de um mês, saiu em defesa da médica. Ronaldo não aceitou. Diante de pacientes diabéticos e hipertensos, chegou a dizer para um dos funcionários, Fernando Cabral, assistente de saúde,  que ele não precisava “encobrir” ninguém. O rapaz afirmou que não precisava encobrir ninguém, pois ele estava falando apenas a verdade.
Outros funcionários se manifestaram. Uma auxiliar do posto, Izabel Rosas,  se aproximou e questionou se ele sabia quem era o jornalista que perseguia a médica, porque ela já tinha ouvido falar que Bianca estava sendo perseguida há mais de um ano. Ronaldo afirmou que era ele mesmo, Ronaldo Tiradentes, e que ela podia avisar para a Dra. Bianca Abinader que ele tinha vindo ali procurá-la.
Ronaldo continuava alterado, invadindo as dependências internas do posto de saúde. Exigia a presença da diretora do posto, a Sra. Eurinete Santana. Eurinete foi encontrada pelo próprio Ronaldo, enquanto almoçava na copa da unidade. Filmada pelo radialista enfurecido durante sua refeição, a diretora foi cobrada sobre a presença de sua médica.
Ao contestar as acusações de Ronaldo, que persistia acusando a médica de não estar trabalhando, Eurinete desmentiu a informação, alegando que ela trabalha todos os dias, afirmando inclusive que ela era uma das poucas profissionais do posto que realmente cumpria o horário todo, além de atender todos os seus pacientes agendados.
Ronaldo então alegou que a médica deveria cumprir 6 horas/dia, quando Eurinete o desmentiu novamente, afirmando que todos os médicos de sua unidade deveriam cumprir, por contrato, apenas 20 horas semanais (4 horas/dia).
Ao menos uma dúzia de testemunhas presenciou o ataque do radialista, à medida que não encontrava sequer UM depoimento que sustentasse as acusações contra a médica.
A situação constrangeu servidores e pacientes, que aguardavam consultas com outros profissionais. Provando, mais uma vez, que sua perseguição obsessiva já está prejudicando o trabalho da profissional e dos outros funcionários que trabalham com ela.
Ronaldo gravou toda a sua humilhação pública em vídeo. Levou para casa, de onde, a partir das 13h20, passou a relatar o ocorrido no microblog Twitter. “@biabinader FALEI PARA VOCÊ NÃO ENCHER O SACO DO CAIO NUNES, VC NÃO OUVIU. MAIS TARDE VC ESTARÁ NO YOUTUBE.“, avisava o perfil do radialista, seguido por 42 pessoas na internet.
Quando começou sua campanha pessoal contra a médica, Ronaldo alegou que fazia uma série de reportagens sobre o atendimento das casinhas de saúde. Desde lá, a única profissional denunciada pela rádio CBN foi Bianca, que respondeu a uma sindicância em fevereiro de 2010, a pedido da rádio. O resultado dessa sindicância foi assinado em 23 de fevereiro, e atestava: Bianca Abinader era aprovada por 99% dos pacientes da casinha do Campo Dourado.
O resultado dessa sindicância nunca veio a público (leia mais em “A sindicância que a CBN cobrou, e o relatório que nunca divulgou). Em janeiro passado, Ronaldo Tiradentes teve acesso ao termo de posse da médica e ao seu histórico financeiro, documento cuja liberação só ocorre pela direção da SEMSA. Mas a sindicância, exigida, alardeada e comemorada por Ronaldo quando instaurada, nunca teve seu resultado publicado pela rádio.
Reincidência
Não é a primeira vez que Ronaldo é filmado em vídeo agredindo um servidor público. Em agosto de 2008, o radialista agrediu verbal e fisicamente a então secretária municipal de Meio Ambiente e um de seus assessores. O motivo era a retirada de uma árvore morta, nas imediações da rádio CBN, que corria o risco de cair e oferecia perigo a carros e pedestres.
O vídeo da agressão (assista aqui) ganhou o país quando o jornalista Luis Nassif repercutiu em seu site os ataques a Bianca, num artigo intitulado “A barra pesada da CBN Manaus”. O post de Nassif chocou leitores do país inteiro, e provocou uma avalanche de comentários indignados.
O vídeo gravado pelo radialista na tarde de terça, no qual absolutamente todos os funcionários rechaçam seus ataques, não foi publicado.
O Sindicato dos Médicos do amazonas – SIMEAM – já foi informado sobre o novo ataque de Ronaldo Tiradentes às equipes de saúde da Prefeitura Municipal de Manaus. Providências serão cobradas da SEMSA e da Justiça para que os funcionários das unidades de saúde e seus pacientes, abordados e constrangidos pelo radialista, sejam preservados.
A campanha da CBN contra Bianca Abinader chega ao seu 15º mês. A Prefeitura de Manaus, assim, contabiliza pacientes deixados sem médico no Campo Dourado (Zona Norte), no Morro da Liberdade (Zona Sul) e outros assustados no São José (Zona Leste).
Ronaldo e a CBN também moveram o aparato público, servidores e trâmites burocráticos (e isso custa dinheiro público) para conseguir sua sindicância em 2010. Com o relatório favorável a Bianca, a CBN conseguiu a instauração, em fevereiro deste ano, de nova sindicância.
Bianca, que atende seus pacientes entre 8h e meio-dia de segunda a sexta, precisou se ausentar do trabalho para depor à comissão de sindicância na última segunda. Novamente, pacientes deixaram de ser atendidos.
Sobre a nova sindicância instaurada pela SEMSA e as novas contradições do secretário municipal de Saúde, Francisco Deodato, o site O Caso Bianca Abinader trará detalhes em breve.
Ao final do escândalo da tarde de terça, Ronaldo Tiradentes desligou sua câmera, deixou a unidade de saúde Amazonas Palhano e anunciou: vai voltar atrás de Bianca novamente.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Jatene e a promessa que não foi cumprida



Tenho um profundo respeito pelo Dr. Adib Jatene, um profissional e um homem público que dispensa qualquer elogio, por sua dedicação e competência como médico e como Secretário e Ministro da Saúde.  Sua referência foi um dos fatores que me faz dar um dos votos mais custoso politicamente , na Câmara dos Deputados: o a favor da CSS, uma versão da CPMF vinculada de fato à saúde pública. E com isenção para todas as pessoas que tivessem movimentação bancária abaixo de R$ 3 mil mensais.
Mas tenho também em relação a ele, que sequer me conhece,  uma dívida de gratidão, que revelo a vocês. No dia da morte de meu avô, quando ele foi levado às pressas para o CTI do Hospital São Lucas, um colaborador de Brizola, naquele momento de desespero, lembrou de pedir uma ligação para o Dr. Jatene. Ele atendeu – vejam o que faz o desespero nas horas críticas – e o colaborador entrou, porta adentro, do centro cirúrgico, para levar o celular aos médicos que tentavam salvar-lhe a vida.
Telefone devolvido, o Dr. Jatene disse a este amigo de meu avô: olhe, se houvesse alguma perspectiva, eu nem estaria falando aqui, estaria indo para o aeroporto, tomar um avião  paqra ajudar. mas, infelizmente, o quadro que me foi descrito é irreversível”.
Pois é com essa sinceridade, com esta honestidade que ele fala, no vídeo aí em cima – vi a menção no Conversa Afiada e fui buscar o trecho – como foi a instituição da CPMF, o seu desvirtuamento, levando os recursos para outros setores, e a posição do senhor José Serra.
Não sei a quem o Dr. Jatene apóia ou deixa de apoiar. Sei, porém, que ele fala a verdade sobre os fatos que observa. E a verdade é sempre a melhor conselheira.
Brizola Neto

terça-feira, 22 de junho de 2010

Serra, o pior Ministro da Saúde do mundo



UOL revela pesquisa secreta:
Serra, o pior Ministro da Saúde do mundo

Publicado em 21/06/2010 Compartilhe | Imprima | Vote (+23)
Não fosse o PiG, ele não passava de Resende

O Conversa Afiada republica e-mail do amigo navegante Pedro Bicalho.

Ele ajuda a desmontar um dos blefes do Serra: de que ele foi “o melhor Ministro da Saúde”, na opinião do ministro serrista Nelson Jobim.

Será que a rapaziada da Folha (*) e do UOL vai perguntar ao Serra sobre essa pesquisa “secreta”, na sabatina ?

Clique aqui para ler “Serra, quem é o “blog alugado” ?

Diz o Pedro:

Para aqueles que pensam em votar no Serra por conta da “marketagem” a respeito de sua pretensa eficiência de “jestão” na área da saúde, segue uma pesquisa, mantida em sigilo, sobre a satisfação dos usuários do SUS-SP.

É só uma pitada do jeito Serra de governar.

No Código de Defesa do Consumidor isso tem nome: propaganda enganosa…

Percebam, no final da reportagem, que a conduta de manter em sigilo dados colhidos em pesquisas de satisfação dos cidadãos é típica de São Paulo (leia-se: dos governos tucanos)

Só pra lembrar àqueles que se queixam do Governo Federal por conta do malsinado SUS, o Sistema Único de Saúde é, por lei, regionalizado.

Cada ente da Federação administra e aplica os recursos da maneira que lhe aprouver no âmbito de sua competência.

A União nos hospitais federais, os Estados nos hospitais da rede estadual e os Municípios nos municipais, ou seja, a União manda (e manda mesmo) os recursos e os Estados e Municípios aplicam como entendem melhor, segundo as especificidades de cada região.

Assim, se estão insatisfeitos com o atendimento ou condições de trabalho do Sistema Único de Saúde, não coloquem na conta do Lula, cobrem dos governadores e prefeitos.

Documento “secreto” mostra falhas graves no atendimento do SUS no Estado de SP

Arthur Guimarães
Do UOL Notícias
Em São Paulo

Mantida em sigilo da opinião pública há três meses, uma pesquisa realizada pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo com os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) aponta problemas crônicos no atendimento aos pacientes nos hospitais paulistas, carências que fazem a espera por exames chegar a seis meses e obriga as grávidas a enfrentarem o trabalho de parto sem a anestesia normalmente indicada.
Chamado “Pesquisa de Satisfação dos Usuários do SUS-SP”, o relatório obtido com exclusividade pelo UOL Notícias foi produzido com base em 350 mil respostas obtidas após o envio de cartas (veja abaixo) ou em telefonemas aos cidadãos atendidos em 2009 nas mais de 630 unidades que funcionam com recursos do SUS.



Espera por procedimentos chega a seis meses; gestantes não recebem anestesia
Entre os dados tabulados, destacam-se estatísticas alarmantes, como indicam especialistas ouvidos pelo UOL Notícias. Cerca de 30% dos entrevistados afirmaram, por exemplo, que demoraram até seis meses para fazer um procedimento de alta complexidade, como quimioterapia, hemodiálise ou cateterismo. Tais procedimentos, no caso de um paciente com razoável situação financeira, são feitos em instituições particulares imediatamente ou em poucos dias, com possibilidade de agendamento.

Outro escândalo médico registrado pelo levantamento “secreto” aponta que apenas 24% das grávidas que enfrentaram o trabalho de parto pelo SUS receberam anestesia raquidiana ou peridural, procedimentos que aliviam o sofrimento e que são considerados padrão às pacientes. E pior: 14% tiveram seus filhos tomando apenas um “banho morno” para aliviar a dor (o levantamento não especifica o tipo de parto, natural ou cesárea). Veja a seguir a conclusão do relatório, de que há falhas nesse quesito:


Falta de vacina contradiz registros oficiais
A vacinação foi outro destaque negativo marcante na pesquisa. Cerca de 30% dos pais relataram falta de vacinas na unidade, “sempre”. Como alerta o próprio diagnóstico oficial, “esta resposta foi surpreendente, uma vez que no período da pesquisa não há registro de falta ou redução no estoque de vacinas do sistema público”. Ou seja, tudo indica que os funcionários dos hospitais mentiram para o público.

Além disso, como mostram os dados tabulados pelo governo, 18,9% dos pais disseram que seus filhos não tomaram nenhuma vacina ao nascer, indo contra as normas do Programa de Imunização do Estado de São Paulo, que prevê pelo menos a oferta de vacinas contra a tuberculose. Como indica o levantamento, “trata-se de perda de oportunidade e falha no programa, demonstrando necessidade de reorientar e avaliar as maternidades”.



“Quadro é grave”
O UOL Notícias ouviu seis especialistas com experiência em atendimento médico e na análise da gestão pública da saúde para comentar os dados, a que somente tiveram acesso por meio desta reportagem. Todos foram unânimes em afirmar que o quadro é “grave”, apesar de alguns terem pedido para não serem identificados.

Paulo Eduardo Elias, professor de medicina preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), afirma que os dados apenas confirmam que o sistema de saúde em São Paulo não dá a atenção devida aos pacientes. “Como mostram as informações sobre os procedimentos de parto, fica claro que o governo deixa as pessoas terem dor. É um problema grave. Não se importa muito com isso”, argumenta.


Para Álvaro Escrivão Júnior, professor e especialista em gestão hospitalar da Fundação Getúlio Vargas, a pesquisa revela a falta de recursos para o setor. “Quando se tem um sistema universal, que atende a todos, precisa ter dinheiro para manter o funcionamento do sistema. A pessoa precisa fazer exames imediatamente, não depois de seis meses”, diz.

Caixa-preta
Todas as graves falhas no sistema de saúde de São Paulo, no entanto, não assustam tanto os acadêmicos quanto a tentativa de esconder o levantamento da opinião pública.

A reportagem do UOL Notícias, em ligações telefônicas praticamente semanais, cobra a divulgação do relatório desde o começo de março. Na ocasião, o governo promoveu um evento em que premiou os melhores hospitais do Estado, segundo conclusões tiradas desta mesma pesquisa. No entanto, não divulgou quais seriam os piores estabelecimentos.

No primeiro contato com a Secretaria da Saúde de São Paulo, no dia 4 de março, a reportagem solicitou a íntegra do levantamento. O pedido foi ignorado. Pelo menos cinco recados em nome do UOL Notícias foram deixados a um dos chefes da assessoria de imprensa da secretaria, Vanderlei França. Nunca houve retorno. Além disso, a reportagem tentou conseguir o relatório com pelo menos cinco membros do Conselho Estadual de Saúde, órgão consultivo da secretaria que, em tese, deveria ser informado de tudo o que acontece no sistema de Saúde estadual.
Até a sexta-feira (18), todos os conselheiros relataram não ter conseguido acesso aos dados. Tomás Patrício Smith-Howard, representante da Associação Paulista de Medicina, chegou inclusive a protocolar um pedido formal tentando obter as informações. Já esperava havia mais de dois meses. “Temos total interesse em saber o conteúdo da pesquisa, inclusive para conseguirmos analisar o sistema de saúde. Essa é a nossa função”, diz ele, que ficou sabendo do resultado do levantamento via UOL Notícias.

Pouco antes do fechamento desta reportagem, a secretaria incluiu os dados no site oficial do governo, apenas às 20h, sem aviso. Em resposta oficial enviada dias antes ao UOL Notícias e assinada pelo secretário Luiz Roberto Barradas Barata, a própria secretaria afirmava:


Falta de transparência
Claudio Weber Abramo, presidente da Transparência Brasil, classificou a situação como “trágica”. Segundo ele, é um “absurdo” uma pesquisa financiada com dinheiro público não ser divulgada. “É típico de São Paulo. Os recursos neste Estado são incompatíveis com a obscuridade do governo.”