Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista
Mostrando postagens com marcador crack. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crack. Mostrar todas as postagens

sábado, 4 de maio de 2013

Como uma criança vira monstro


Ao longo dos últimos dias, o país mergulhou em um debate doloroso. Em vez de estarmos nos debruçando sobre como estimular a nossa juventude a crescer do ponto de vista moral e intelectual, estivemos discutindo acaloradamente sobre como mudar as leis para punir com maior rigor os jovens infratores da lei.
Esse debate, em si, representa o fracasso da geração que comanda os destinos da nação – e esta premissa não se reduz a partidos políticos, mas a cada um de nós, pais, empresários, trabalhadores, políticos, legisladores, magistrados, educadores, religiosos etc.
O Estado brasileiro, no âmbito dos governos federal, estadual e municipal, de suas Casas Legislativas e do Poder Judiciário, não pode ser responsabilizado unicamente pelo fracasso diante do qual estamos, representado por seres que, até ontem, eram crianças, mas que, hoje, transformaram-se em verdadeiros monstros.
Os casos da dentista de São Bernardo do Campo (SP) que foi queimada viva por quatro rapazes, sendo um deles menor de idade, ou do rapaz que foi assassinado com um tiro na cabeça por um outro menor ao ter seu celular roubado por ele, chocaram o país e desencadearam, de novo, o debate sobre maioridade penal.
Não foram só esses casos, por óbvio, que ressuscitaram o debate sobre redução da maioridade penal. Os crimes violentos aterradores que se vê a toda hora neste país, sobretudo os cometidos por menores, fizeram o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, propor mudança no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) a fim de que pessoas de 16 anos sejam tratadas pelas leis penais como adultos.
Essa é uma discussão dolorosa porque, dado o nível de horror que crimes como o da dentista de São Paulo encerram, pessoas se mostram assustadas a um ponto em que começam a acreditar em “soluções” como a proposta pelo governador de São Paulo.
O grupo social minoritário que se opõe a esse caminho e o amplamente majoritário que se inclina por ele produziram muitos argumentos. Vale a pena dissecá-los.
A discussão menos ilógica da redução da maioridade penal nos empurra para a pura e simples extinção de qualquer idade-limite, pois de nada adiantaria reduzi-la para 16 anos já que jovens de idades mais tenras também cometem crimes horrorosos e, assim, não subsiste uma só justificativa que sustente os 16 anos como ponto de inflexão entre adolescência e maturidade.
Houve propostas dos adeptos da redução da maioridade penal no sentido de esta ser usada apenas para crianças e adolescentes que cometam crimes hediondos como o da dentista, ou mesmo para os que cometam qualquer tipo de assassinato.
Ainda assim, ficariam de fora os atos de violência que não resultem em perda de vida da vítima. Desse modo, haveria que apenar criminalmente como adultos os menores de qualquer faixa etária que pratiquem crimes violentos.
Até aí, pulamos da redução da maioridade penal aos 16 anos para a punição como adulto de qualquer adolescente e até de crianças, pois uma criança de 8 ou 10 anos que aborde alguém num semáforo com uma faca nas mãos e, como já ocorreu várias vezes, enfie o instrumento perfurante no pescoço do assaltado, seria vista como “irrecuperável”.
Neste ponto, vale analisar o quadro da violência e da criminalidade no Brasil para que se possa mensurar se essa discussão sobre maioridade penal faz sentido.
Segundo o RELATÓRIO NACIONAL DO ESTADO BRASILEIRO apresentado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República ao MECANISMO DE REVISÃO PERIÓDICA UNIVERSAL DO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS em 2012, o Brasil possui cerca de 513.802 pessoas mantidas em unidades do sistema carcerário e da polícia.
Esse relatório mostra um dado que todos intuem, mas que é pouco difundido: a população carcerária brasileira tem perfil preponderantemente jovem, masculino, negro e de baixa escolaridade.
Sempre segundo dados oficiais do Brasil, em 2011 53,6% da população no sistema penitenciário tinha entre 18 e 29 anos, 93,6% eram homens, 57,6% eram negros e pardos e 34,8% eram brancos. Além disso, 45,7% da população do sistema penitenciário possuía ensino fundamental incompleto, enquanto apenas 0,4% possuía ensino superior completo.
Um outro dado importante é o de que, segundo dados da Secretaria Nacional de Direitos Humanos levantados pelo Globo, há só 60 mil adolescentes cumprindo medidas socioeducativas no Brasil, sendo 14 mil em regime de internação e os demais em regime aberto.
Ou seja: apenas 14 mil adolescentes cumprem penas de privação de liberdade, contra 513.802 adultos. Toda essa discussão sobre maioridade penal, portanto, está focada em 2,72% do problema da violência e da criminalidade no país.
Vê-se, assim, que o problema está longe de ser o infrator de 16 anos. E que a redução de idade penal proposta pelo governador de São Paulo é uma quimera, um engodo, uma conversa fiada destinada a dar alguma resposta a uma sociedade acuada por uma situação inacreditavelmente explosiva que está se formando.
Não há nada demais em discutir o que fazer com uma criança ou um pré-adolescente ou mesmo um adolescente que cometam barbaridades. O problema é que a discussão da maioridade penal aos 16 anos nos levará a outras envolvendo crimes infanto-juvenis e, assim, ficaremos discutindo o problema pelo ângulo errado.
Até este momento, não discutimos o xis da questão: o que está acontecendo com um país em que crianças e adolescentes se transformam em feras enlouquecidas capazes de uma barbaridade como queimar viva uma mulher que não tinha dinheiro para dar a assaltantes?
A discussão da maioridade penal nunca vai tão fundo. Fica na superfície da “solução” rápida, mas sem refletir, por um segundo, que depois da redução para 16 anos virá a redução para faixas etárias inferiores e, depois desta, a extinção de idade mínima para ser responsabilizado criminalmente por qualquer tipo de ação infringente da lei.
Isso mudará o fato de que crianças estão sendo transformadas em monstros por mecanismos sobre os quais quase ninguém quer refletir? É de duvidar que alguém, em sã consciência, acredite que a mudança da lei fará esse processo de criação de aberrações infanto-juvenis ser interrompido por extinção restrita ou irrestrita da maioridade penal.
Como crianças viram monstros como o garoto que supostamente ateou fogo ao corpo embebido em álcool da dentista de São Bernardo do Campo? Já nasceram assim?
Não se pode acreditar que no código genético dos brasileiros esteja inscrita uma anomalia que não há em outros países que não têm problemas de menores violentos como os que temos aqui. Afinal, mesmo aqueles que pensam ser de uma “raça” diferente da maioria deveriam saber que todos os brasileiros temos características genéticas em comum, seja o cidadão branco, negro, nordestino ou sulista.
O fato de alguns poucos terem características físicas diferentes não muda o fato de que somos um país só.
O perfil do presidiário brasileiro, portanto, explica como uma parte ínfima de nossas crianças pobres é empurrada para o crime e, usando drogas e convivendo com adultos violentos, acaba se convertendo em monstros como os que temos visto.
Nas comunidades mais pobres, principalmente em favelas dominadas pelo tráfico, gerações de brasileiros cresceram e continuam crescendo tendo como “exemplo” traficantes e bandidos perigosos, que recrutam entre a juventude, inclusive na idade mais tenra, os futuros “soldados do crime”.
O critério de recrutamento não visa o uso de jovens inimputáveis penalmente. Essa é uma empulhação. Por isso é que só 2,7% dos criminosos encarcerados no Brasil são menores. Afinal, não se pode acreditar que alguém cometa crimes pensando em ser preso.
O processo de deformação que cria jovens monstros está na desestruturação familiar, na ignorância, na pobreza, nas drogas e, acima de tudo, nos exemplos que crianças recebem enquanto crescem, vendo bandidos nas comunidades pobres saírem da pobreza com essa fórmula “mágica” de tomar dos outros o que não pode conseguir honestamente.
Afinal, o jovem brasileiro pobre sabe que a escola não irá ensiná-lo, que se for negro ou mestiço não será “bem visto” por um mercado de trabalho que, segundo incontáveis estudos, ainda discrimina os brasileiros de origem africana e com traços africanos mais marcantes. Assim, é tentado pelo crime como forma de ascensão financeira.
Os adeptos da redução da maioridade penal costumam usar o exemplo dos países ricos. Em países como a Inglaterra, por exemplo, já houve casos de crianças de 8, 10 anos presas por terem cometido crimes violentos. Em muitos desses países a idade de responsabilização penal é menor ou não existe.
Falta refletirmos sobre as condições das crianças inglesas, por exemplo, e das brasileiras. São as mesmas? Alguém vê hordas de crianças miudinhas espalhadas pelas ruas de Londres fumando crack, dormindo nas ruas, prostituindo-se etc.?
O que você espera que essas crianças pelas quais passa todo dia nas ruas e vê chafurdando em todos esses dramas se tornem? Cidadãos exemplares? Você já refletiu que essas crianças não nasceram criminosas em potencial, mas que a continuarem nessa situação se tornarão monstros como o que queimou a dentista viva?

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Situação na Cracolândia saiu de controle a partir de 2005

Pesquisa efetuada pelo blog nos arquivos do jornal Folha de São Paulo revela que a atual estratégia da polícia de São Paulo para a região da cidade conhecida como Cracolândia foi usada em 2000. Já naquela época, a tática de dispersão dos usuários de crack provocou o mesmo problema de sua “pulverização” pela cidade.
O arquivo que o jornal mantém sobre o assunto – e que pode ser acessado pela internet – também mostra que a situação fugiu ao controle do Estado a partir de 2005, primeiro ano da gestão de José Serra na prefeitura  da capital paulista.
O número de matérias que o jornal publicou sobre a Cracolândia desde 2000 mostra quando o problema começou a adquirir a proporção que se vê hoje. Busca da palavra “Cracolândia” no arquivo apresenta 559 resultados, sendo 143 matérias no período que vai de 2000 a 2005 (quase seis anos) e 416 matérias entre 2005 e hoje (quase sete anos).
O número de matérias sobre a Cracolândia aumentou quase 300% a partir de 2005 porque foi a partir de então que o problema se agravou até chegar ao ponto em que está hoje. E o teor dessas matérias, como se verá a seguir, permite inferir que a polícia paulista – e, obviamente, quem manda nela, ou seja, o governo do Estado – e a prefeitura são os grandes responsáveis pelo problema.
O noticiário sobre a Cracolândia acessível nos arquivos da Folha começa em 2000, em plena campanha eleitoral à prefeitura de São Paulo, quando Paulo Maluf e Marta Suplicy disputavam a sucessão de Celso Pitta.
Em 1º de agosto daquele ano, Maluf anunciou que levaria à Cracolândia o ex-comissário de polícia de Nova York Willian Bratton, que, segundo a assessoria do candidato, trabalhara no programa Tolerância Zero, que reduzira a criminalidade na cidade norte-americana, e de quem o candidato pretendia buscar “consultoria” para combater o problema.
Ocorreu, então, um fato um tanto quanto cômico. O medo da violência levou o candidato Maluf a desistir de apresentar a Cracolândia ao ex-comissário de Segurança de Nova York, que viera ao Brasil para isso, e a restringir a programação com ele a “eventos mais seguros”.
Um mês depois, ainda durante a campanha eleitoral em que Marta derrotaria Maluf e se tornaria prefeita de São Paulo, o governador Mario Covas desencadearia uma operação policial na Cracolândia que pretendia ser uma resposta às críticas do adversário de seu candidato, o então vice-governador Geraldo Alckmin, que substituiria Covas no ano seguinte, quando seu câncer se agravaria.
A matéria sobre a primeira “operação sufoco”, levada a cabo há quase 12 anos causa um déjà vu. Se tirarmos datas, nomes das autoridades e dos órgãos, parecerá que foi escrita hoje e que se refere à atual operação do governo do Estado que está sendo levada a cabo na Cracolândia.
Leia e julgue por si mesmo.
—–
FOLHA DE SÃO PAULO
03/09/2000
Repressão policial pulveriza a cracolândia
KARLA MONTEIRO
Na esquina escura da rua dos Protestantes com a rua dos Gusmões, centro de São Paulo, dois garotos conversam apressadamente, olhando para os lados. Um deles tira do bolso um pequeno embrulho em papel laminado e entrega ao outro. Feita a transação, o mais velho da dupla nem pestaneja: corre.
“A gente não pode mais dar bobeira. Os pauladas (policiais à paisana) estão por aí. Na semana passada, quebraram meus dentes”, diz o mais novo, mostrando o sorriso desfalcado enquanto caminha rapidamente na direção contrária à do companheiro.
A cena aconteceu na cracolândia, região onde comércio e consumo de crack eram práticas livres desde o início dos anos 90, quando a droga invadiu São Paulo. Ou, pelo menos, práticas toleradas pelas autoridades.
Nos últimos meses, o cenário mudou. Desde setembro do ano passado, o Denarc (Departamento de Narcóticos) vem promovendo repressão ostensiva no local a fim de “erradicar” a cracolândia, o que forçou a dispersão dos viciados e traficantes para outras regiões da cidade.
O resultado da investida do Denarc já pode ser medido em números: 38 hotéis e pensões usados como pontos de tráfico e de uso de crack foram fechados (e depois reabertos por decisões judiciais), 19 foragidos da Justiça voltaram para a cadeia e 176 suspeitos de tráfico, entre eles 12 menores, foram pegos em flagrante. A polícia ainda apreendeu 15 quilos de cocaína, 1.116 pedras de crack e 191 gramas de maconha.
“A ordem do secretário (estadual da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi) foi erradicar a cracolândia. Era uma vergonha ter uma Amsterdã ao lado do prédio do Denarc”, explica o delegado Ubiracy Pires da Silva, diretor da Divisão de Investigação.
O prédio está incrustado no ex-território dos usuários de crack. Segundo ele, policiais à paisana mantêm vigília 24 horas na área limitada pelas avenidas Rio Branco, Duque de Caxias, Cásper Líbero, Ipiranga e rua Mauá.
O departamento de repressão ao uso de drogas está mantendo também a rotina de uma batida policial a cada 15 dias, e rondas policiais permanentes. Quando a repressão era mais leve, viciados sentavam-se nas calçadas para partilhar cachimbos com a pedra de crack -droga barata que, segundo especialistas, vicia quase imediatamente.
“A barra pesou. Agora a gente vem aqui, compra a pedra e vai fumar escondido em outro lugar”, afirmou um usuário, que disse ter 16 anos. A reportagem da Folha acompanhou uma ronda na noite de segunda-feira (29). As ruas imundas, malcheirosas e mal iluminadas, antes entulhadas de viciados, estavam limpas. É cada vez mais difícil encontrar um dependente com cachimbo em punho perambulando pela região.
Não existem pesquisas que quantifiquem o número de dependentes que circulavam pela cracolândia. De acordo com o Denarc, 20% dos usuários seriam menores. O SOS Criança estima que cerca de 2.000 crianças e adolescentes morem ou passem o dia no centro da cidade. Deste total, 70% usam ou já usaram crack. Isso corresponde a aproximadamente 1.400 crianças e adolescentes viciados só na região central.
Com a ação do Denarc, 15 menores em média são encaminhados diariamente ao SOS, que tem capacidade de abrigar apenas 400. “Mais de 50% desses adolescentes voltam para a rua”, diz Alda Pizzini Sanchez, coordenadora do projeto Farol Não É Casa, mantido pela entidade.
O delegado reconhece que a repressão na cracolândia tem efeito pulverizador e não soluciona o problema dos viciados. Os dependentes só estão migrando para áreas periféricas do centro e bairros de classe média. Não formam mais grandes aglomerações, mas continuam consumindo crack.
Em pequenos grupos, eles espalham-se pelo Brás, Baixada do Glicério, vale do Anhangabaú, praça da República, praça da Sé, alameda Nothmann e ruas adjacentes. “Vamos começar uma investigação para saber se os usuários estão se concentrando em outro lugar”, informa.
Nas imediações do Ceagesp, região conhecida como “nova cracolândia”, os viciados também desapareceram. Segundo um feirante que preferiu não se identificar, os viciados sumiram desde a retirada, de lá, da favela conhecida como Portão Seis. “A polícia andou dando umas batidas por aqui e a meninada caiu fora. Fica um ou outro por aí ainda.”
Em São Miguel Paulista, na zona leste, outro ponto de concentração de usuários, uma obra na linha do trem expulsou os que ficavam no muro que cerca o local. “Está todo mundo por aí, pulando de mocó em mocó. Quando a polícia for embora, todo mundo volta”, comenta R.S.S., 22, usuária de crack há seis anos.
Segundo ela, está mais difícil conseguir a pedra, mas os “nóias”, como se autodenominam os dependentes, sabem onde encontrar a droga. “A boca do lixo não acabou. Só está mais sossegada. Eu não saio daqui. É a minha casa. Vim para cá com 8 anos”, diz, escondendo entre as mãos um cachimbo e um isqueiro.
—–
Como o problema, à época, era infinitamente menor do que hoje, quatro meses após Marta assumir a prefeitura parecia que a região do Parque da Luz e entorno passariam a viver novos tempos.
Em 29 de abril de 2001, matéria do mesmo jornal dava conta de ações da prefeitura que vinham revitalizando o centro de São Paulo após uma ação do governo do Estado que, se não funcionara completamente, devido a um problema menos grave e à ação integrada entre a administração municipal e Estadual estavam devolvendo o bairro à população.
Este trecho da matéria ilustra bem isso:
—–
“(…) Depois dos viciados da Cracolândia, chegou a vez das “meninas” do quase bicentenário parque da Luz, o ponto de prostituição mais antigo da cidade. O parque vem passando por sucessivas mudanças desde o ano passado. As touceiras (moitas) que davam aspecto de mata fechada foram remanejadas, tornando-o mais limpo. Para completar, foi implantado no local um circuito fechado de TV.
A segurança atraiu outras iniciativas, como a da vizinha Pinacoteca do Estado, que abriu as portas dos fundos ao parque e distribuiu diversas esculturas importantes em seus canteiros. Ao mesmo tempo, a população começou a redescobrir o espaço, repleto de peças históricas, como o ponto do bonde, a casa de chá, o coreto, e o casarão da administração, construído em 1901 (…)”
—–
No fim de 2001, começou a ficar clara a razão de a região da Cracolândia ter chegado ao ponto que chegara no ano anterior, o que obrigara o governo do Estado a realizar operação análoga à que está em curso hoje. Matéria da mesma Folha mostrou que policiais integravam a rede que explorava o tráfico de drogas na região.
—–
FOLHA DE SÃO PAULO
13/12/2001
Policiais são flagrados com traficantes
O Ministério Público flagrou cinco policiais do Denarc em situações suspeitas na cracolândia, região no centro de São Paulo conhecida por concentrar dependentes e traficantes de crack.
Durante 20 dias, os promotores gravaram imagens de integrantes do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) na região. O material foi veiculado ontem à noite no “Jornal Nacional”, da Rede Globo.
O tráfico na cracolândia, segundo o Ministério Público, é dominado atualmente por dois grupos do Denarc, um liderado por Hélio Carlo Barba e outro pelo investigador José Carlos de Castilho.
Nas imagens, aparece Barba com outro policial, identificado apenas como Henrique, abordando um casal. O investigador Alessandro Ramos da Silva seria o terceiro integrante do grupo.
Em outra imagem, um homem algemado sai do carro da polícia, parado na cracolândia, é solto por Castilho, de quem recebe ainda um aperto de mãos.
Cena parecida se repete com outros dois criminosos. Castilho e o investigador Mauro César Bartolomeu soltam os homens e, depois, os cumprimentam. Um deles foi identificado na reportagem como Adilson Francisco Rocha, indiciado por tentativa de homicídio, tráfico de droga, formação de quadrilha e roubo.
Segundo depoimento de um ex-integrante do grupo de Castilho, para atuar na cracolândia é necessário pagar taxa de R$ 200, por semana, aos policiais, que cobram ainda entre R$ 1.200 e R$ 5.000 para libertar criminosos.
Segundo esse ex-integrante, o grupo de Barba vende crack embalado em plástico verde. O grupo de Castilho, em plástico branco.
Ontem à tarde, os promotores que fizeram as gravações -membros do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado)- pediram a prisão temporária dos policiais identificados a partir das imagens.
À noite, após a veiculação da reportagem do “Jornal Nacional”, eles não deram entrevistas aos outros órgãos de imprensa.
Corregedoria
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, as gravações foram mostradas ontem ao corregedor da Polícia Civil, Rui Estanislau Silveira Mello, pouco antes do pedido de prisão. O corregedor, que já investigava os policiais, segundo a secretaria, determinou que fossem imediatamente afastados.
O delegado Marco Antonio Ribeiro de Campos, que dirige o Denarc, disse ao “Jornal Nacional” que está “envergonhado”.
Os cinco policiais -todos investigadores, segundo a secretaria- devem ser acusados por tráfico de drogas, abuso de poder, extorsão e formação de quadrilha.
—–
Parece piada, um déjà vu macabro. O mesmo Geraldo Alckmin que anda elogiando a desastrada operação na região que seu governo destruiu, há mais de uma década já usava do seu bom e velho “embromation” ao negar a responsabilidade das desastrosas administrações tucanas que degradaram São Paulo ao ponto que se vê atualmente.
Matéria da Folha do dia seguinte à que mostrava o escândalo na polícia paulista informava que o governador “negava” a corrupção na polícia que comandava e que, tragicamente, continua comandando até hoje graças à mesma Folha e a outros veículos da imprensa paulista.
—–
FOLHA DE SÃO PAULO
14/12/2001
Alckmin nega existência de “banda podre” na polícia de SP
Mesmo dizendo sentir-se envergonhado por conta das denúncias envolvendo cinco investigadores do Denarc, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) negou ontem a existência de uma “banda podre” na polícia de São Paulo.
“Não tem “banda podre” em São Paulo. Essa expressão foi lá no Rio de Janeiro. Se tiver policial corrupto aqui, vai para a rua e para a cadeia”, afirmou.
Para ele, trata-se de um caso isolado. “Infelizmente, alguém erra, e não há nenhuma conivência com isso. Ao ser comprovado, é cadeia”, disse. Ele afirmou ainda que existe “gente séria” na polícia.
O secretário estadual da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi, também disse que estava decepcionado. Segundo ele, a secretaria está tomando medidas para identificar policiais envolvidos com o crime. “Essa é uma luta permanente. Eu acabo de dizer aqui que não é um sistema perfeito, não há nada que não possa ser melhorado ou aprimorado.”
O secretário afirmou ainda que, neste ano, quase 300 policiais “que praticaram atos mais ou menos graves” do que os da cracolândia foram afastados.
Segundo Petrelluzzi, a divulgação do caso mostra que o controle da polícia é eficaz. “A polícia é a instituição mais vigiada deste país, pelo menos a de São Paulo.”
Pela manhã, Alckmin disse que esperava que os cinco policiais fossem presos ainda ontem. “Se a Justiça conceder, serão imediatamente presos.”
—–
O escândalo de corrupção na polícia paulista não deu em nada. A oposição petista ao governo do Estado pediu uma CPI, mas, como vêm fazendo desde 1994, o governo tucano do Estado, com a maioria parlamentar que a desorientada população paulista lhe deu, engavetaria mais uma investigação.
Em 2002, mais escândalos abalariam a cúpula do Denarc, que deveria combater a Cracolândia. Era o terceiro escândalo em menos de seis meses. A prisão em flagrante do policial Francisco Marcondes Romeiro Neto por tráfico internacional de drogas provocou a queda do delegado divisionário Ubiracyr Pires da Silva, segundo homem na hierarquia do Denarc na área de repressão ao tráfico.
Nada abalava a corrupção policial que ia erigindo, em São Paulo, a situação que se vê hoje. O governo do Estado não permitia maiores investigações e a imprensa dava uma ou outra notinha, mas não pressionava. Dessa maneira, a cidade foi sendo tomada pelo tráfico.
Todavia, ao passo que o governo do Estado se ocupava de esconder o que acontecia na polícia, a prefeitura, com Marta à frente, fazia a sua parte e o centro de São Paulo começava a mudar. As ações sociais estavam funcionando, pouco se ouvia falar na Cracolândia, o arquivo da Folha mostra que o noticiário sobre o assunto era escasso.
Matéria do insuspeito colunista Gilberto Dimenstein publicada pela Folha ao fim do segundo ano da gestão Marta Suplicy comprova que se a prefeitura não tivesse sido entregue pela população zumbi de São Paulo a José Serra e depois a Gilberto Kassab, a situação não teria se agravado e talvez hoje a Cracolândia nem existisse.
Veja:
—–
FOLHA DE SÃO PAULO
01/12/2002
São Paulo vai ser refundada
GILBERTO DIMENSTEIN
Quase ninguém acredita -e, por muito tempo, não vai acreditar-, mas um dos principais laboratórios de recuperação social no Brasil está num dos mais visíveis focos de decadência do país: o centro da cidade de São Paulo.
Não se acredita porque, em primeiro lugar, uma das modas nacionais é afirmar que o país está metido em uma pasmaceira social e que nada acontece. Pouco se conhece das articulações comunitárias e das políticas públicas inovadoras.
Em segundo lugar, os moradores de São Paulo acham, no geral, que a cidade não tem mais jeito e está condenada à degradação.
Pela primeira vez, São Paulo está alterando a forma como se expandiu desde seu nascimento, em 1554, quando se limitava a uma escola de jesuítas que ensinava indígenas no topo de uma colina.
(…)
—–
As ações sociais e urbanísticas da prefeitura estavam revolucionando a cidade, mas a imprensa tucana dava duro combate a Marta ao criticar tudo e reconhecer nada. A matéria de Dimenstein foi uma das raras exceções.
As matérias sobre a Cracolândia iam escasseando, o problema estava sob controle, ainda que existisse. Havia, sim, um ou outro usuário na rua, mas não havia o consumo e tráfico ostensivo da droga que se fez hoje. A partir de meados de 2005, porém, o noticiário sobre a Cracolândia foi aumentando em progressão geométrica.
Ao fim da gestão Serra, em 2006, quando o tucano rompeu o compromisso que assumira com a população (por escrito) de permanecer à frente da prefeitura até o fim de seu mandato por pretender se candidatar ao governo do Estado, já não era possível ao cidadão atravessar a Cracolândia sem correr risco de vida.
Os arquivos dos jornais, com a história cotidiana que contam, são verdadeiras minas de ouro em termos de conteúdo capaz de mostrar como o povo de São Paulo cavou com as próprias mãos a situação de penúria em que mergulhou seu Estado e, sobretudo, a capital paulista. E o pior é que esse povo não melhorou nada, desde então.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Churrascão no Vestíbulo do Inferno

 



O “Vestíbulo do Inferno” aparece na primeira parte da Divina Comédia, obra monumental do escritor, poeta e político italiano Dante Aligheri (Florença, 1265 — Ravenna, 1321). As outras duas partes são “Purgatório” e “Paraíso”.
Divina Comédia versa sobre odisséia do Poeta no inferno conceitual da Idade Média. O périplo de Dante Aligheri pelos nove círculos infernais é guiado pelo poeta romano Virgílio, que vivera quase dois mil anos antes.
Tive uma edição italiana do Inferno de Dante de capa dura (revestida de couro entalhado a mão), primorosamente ilustrada por Gustave Doré. Presente da mãe. Durante anos, vez após outra, degustava cada sílaba do verso do Poeta e cada traço da imaginação do artista.
Lembrei-me da obra medieval ao participar do “churrascão” que ONGs e movimentos sociais promoveram ontem na esquina da rua Helvétia com a alameda Dino Bueno, no olho do furacão, na Cracolândia de São Paulo.
O “Vestíbulo” é para onde vão as almas dos que não são aceitos no céu, mas que não merecem ir para o inferno. Exatamente como aqueles farrapos humanos prisioneiros de seus infernos particulares aos quais se pretendeu mostrar que nem todos os esqueceram.

Mas não foi só aos condenados que a iniciativa se deveu. Pretendeu-se mostrar ao governo do Estado (policial) de São Paulo e às suas forças de repressão que há quem não aceite os métodos que estão empregando contra aqueles que continuam sendo seres humanos.
Quem esteve lá sabe o que viu e ouviu. E eu sei. Os raros relatos de prisioneiros do crack desconfiados de que aquilo que ali acontecia não poderia ser em seu benefício – pois nada jamais é – tratam de supostos crimes cometidos por seus algozes.
Relatam que apanham até quando estão dormindo. Um deles disse que a polícia espancou alguém de seu grupo, jogou a pessoa no meio da rua e atropelou. E quando perguntados sobre o que gostariam de dizer à sociedade, dizem que apenas gostariam de parar de apanhar.
A presença da polícia, pois, era ameaçadoramente ostensiva. Entendo que até deveria estar lá para proteger os manifestantes, pessoas de classe média, a grande maioria jovem. Mas se o objetivo fosse proteger não deveria ter ficado tão longe – a uns cem metros de distância.
Então percebo que do teto de uma das bases móveis da polícia estão filmando tudo. Decido ir até lá perguntar a razão.
– Boa tarde, policial.
– O que você quer?
– O senhor poderia me informar a razão da filmagem?
– Não posso. Só o capitão (…).
– Onde ele está?
– Atrás do furgão.
Contorno a base móvel da PM.
– O sr. é o Capitão (…)?
– Eu mesmo.
– Gostaria de saber por que os senhores estão filmando o ato público.
– Em primeiro lugar, quem é você?
– Sou do Blog da Cidadania. Vim cobrir a manifestação.
– Não podemos falar.
– Por que não?
– Ordens.
– De quem?
– Não posso dar informações.

Distancio-me alguns metros do furgão e, naquele momento, sucede uma cena no mínimo curiosa: enquanto fotografo o equipamento de filmagem e o aparato policial em seu entorno, sou fotografado. Travei uma guerra de câmeras com a PM.
A atitude pouco amistosa dos policiais, o interesse inexistente ou proibido de dar satisfações à sociedade sobre seus métodos de atuação, tudo isso deixa ver uma paranóia contra não se sabe o que. Era como se temessem um atentado terrorista.
A quem filmavam? Será que alguém iria traficar drogas em um local que tinha tantas câmeras e tanta polícia? Para que filmariam aqueles farrapos humanos que tão bem conhecem, pois de lá não saem?
Quem foi filmado, portanto, foram aqueles que levaram alento e comida a esfaimados. Mas por que? Que crime poderíamos cometer ao levar um sopro de humanidade ao inferno?


Refleti, naquele momento, que o Estado está completamente divorciado da sociedade, em São Paulo. O cidadão que diverge das autoridades locais é visto como inimigo. Por isso a polícia paulista é tão grosseira, autoritária e violenta.
As constatações deprimentes que aquela descida ao inferno causou, porém, não parariam por ali. Os zumbis do crack e os visitantes solidários pouco se misturavam. Os receptivos eram moradores de rua, mas não necessariamente usuários daquele veneno.
Alguns usuários de fato atravessavam a multidão dando encontrões de raspão, aparentemente contrariados. Fiquei imaginando se não temiam que tudo aquilo lhes fosse cobrado pelos opressores quando fôssemos embora.
Aqueles filhos de Deus rescendendo a morte, a excrementos, a álcool, com bocas desdentadas, feridas espalhadas e olhares mortiços… Como ir embora e deixá-los lá? Como sair dali sem ter feito nada? E o que é mais: como purgar a culpa por fazê-lo?
Moças e rapazes tentavam puxar canções, instilar alguma alegria no entorno – como se fosse possível –, mas não repercutia. Não havia espaço para outro sentimento além da perplexidade. E a separação tácita entre visitantes e anfitriões, mesmo estando misturados, tornava tudo pior.
Após resistir por cerca de uma hora, não suportei mais. Despedi-me de amigos que lá encontrei e saí em fuga daquele inferno. E sem olhar para trás.
Perdi a noção de tempo e espaço. Caminhei debaixo de chuva por quilômetros. Só então parei um táxi. Chegando em casa, tomei uma dose de cachaça. E mais outra. Lá pela terceira percebi o que estivera fazendo: tentara, sem sucesso, redimir-me da culpa.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Chuíça (*) aprova neonazismo na Cracolândia


Saiu na colona (**) “Painel”, na Folha (***), informação sobre a ascensão de Hitler ao poder, em 1933:

“A despeito das queixas de violação dos direitos humanos e dos questionamentos (sic) do governo federal, Geraldo Alckmin se ampara (sic) em pesquisas que circulam no Bandeirantes para respaldar (sic) a intervenção policial na cracolândia. Um dos levantamentos submetidos ao governador mostra 87% de aprovação à ação da PM no centro de São Paulo …”



Será o Datafalha ou o Globope a fonte de preciosa informação?
(E a Folha (***) ainda tem ombudsman …)
Ou seja, breve, São Paulo adotará a pena de morte, invariavelmente aprovada em pesquisas de opinião pública.
Breve, mandará os nordestinos de volta, à força, porque, pelos próprios pés, muitos preferem, hoje, Pernambuco a São Paulo.
Breve, todas as favelas pegarão fogo, para a entrada triunfal da indústria que financia a eleição de Gilberto Kassab, o vice do Cerra.
Tudo muito natural.
Como se sabe, São Paulo ganhou a Guerra da Secessão de 1932.



Clique aqui para ler “Maierovitch: muralha protege FHC do crack”.


Paulo Henrique Amorim


(*) Chuíça é o que o PiG de São Paulo quer que o resto do Brasil ache que São Paulo é: dinâmico  como a economia Chinesa e com um IDH da Suíça.

(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta  costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse  pessoal aí.

(***) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a  Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Sorria, você está sendo curado

É de estarrecer a nota  da Agência Estado, dizendo – é literal – que a prefeitura e o Governo de S. Paulo estão buscando usar “dor e sofrimento” como estratégia de combate ao uso de crack.
Seria, em resumo, ir enxotando os usuários e traficantes dos pontos onde se fixam, para forçar os primeiros a buscarem ajuda e os segundos a desistirem do negócio.
Diz o o coordenador anti-drogas da Governo do Estado, Luiz Alberto Chaves de Oliveira, conhecido como Dr. Laco (sem cedilha, por favor):
- A falta da droga e a dificuldade de fixação vão fazer com que as pessoas busquem o tratamento. Como é que você consegue levar o usuário a se tratar? Não é pela razão, é pelo sofrimento. Quem busca ajuda não suporta mais aquela situação. Dor e o sofrimento fazem a pessoa pedir ajuda.
E a secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Alda Marco Antonio, promete até março – até março – que haverá 1.200 vagas para tratamento de dependentes.
O resultado deste genual terapêutica está retratado no portal R7: expulsos da Cracolândia original, proximo à Praça Julio Prestes, na capital paulista, viciados já montaram outra na Zona Sul Paulista e se espalham em pequenos núcleos próximos á região da Luz.
Ora, ninguém pode ser contra ações repressivas que impeçam a formação de “bairros do crack”, nem desconsiderar o direito dos cidadão que moram e trabalham nestas áreas. Nem compreender que, em alguns casos, tenha de ser contida com mais que um “por favor” a agressividade de pessoas fortemente drogadas e nas condições deploráveis que o crack produz.
Mas um profissional e um chefe de um serviço de saúde pública dizer que causar “dor e sofrimento” seja uma ação terapêutica, pelo amor de Deus! Seria voltar aos primórdios da ciência médica, ou dar razão aos inquisidores da Idade Média que pensavam ser a masmorra e a tortura instrumentos de conversão à fé.
Mas aqueles pobres sujeitos, degradados e abandonados, merecem, não é?Certamente o Dr. Laco (sem cedilha, por favor), acompanha a polícia às festas chiques dos Jardins para provocar “dor e sofrimento” para fazer os consumidores de drogas “pedirem ajuda” para se tratar, segundo o mesmo critério terapêutico.