Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A turma do Dr. Dallagnol… Os “superiores”…

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Lembra daquela tirada do chefe da Lava Jato, o Dr. Deltan Dallagnol, dizendo que “ “quem veio de Portugal para o Brasil foram degredados, criminosos. Quem foi para os Estados Unidos foram pessoas religiosas, cristãs, que buscavam realizar seus sonhos, era um outro perfil de colono”.

Pois é, a pessoas que acham que a origem de seus ancestrais é o determinante de seu caráter, infelizmente, não são tão raras.

O pessoal que quer “serrar” o Brasil e separar o Sul  (sentimento também de alguns paulistas) tem as mesmas inspirações.

Olha só o que eles dizem no UOL: ” o movimento salienta que a população do Sul, de origem europeia, sofreu uma miscigenação que, associada a fatores climáticos e geográficos próprios, “moldou o perfil que é peculiar do sulino, diferenciando-o das demais regiões brasileiras”.

Só não têm a coragem de dizer “raça superior”.

Vão fazer uma palhaçada amanhã, colocando “urnas” (será que “emprenhadas”?) para as pessoas dizerem o que acham da separação do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul do nosso país.
Será que também não querem a volta da escravatura?

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

OS PILARES DA ESTUPIDEZ

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10/11/2014
OS PILARES DA ESTUPIDEZ


Está em curso, há anos, nas “redes sociais” insidiosa campanha de agressão à democracia e crescentes ataques às instituições.

Quem cala, consente. Os governos do PT têm feito, em todo esse período, cara de paisagem. Nem mesmo quando diretamente insultados, ou caluniados, os dirigentes do partido tomaram qualquer providência contra quem os atacava, ou atacava as instituições, esquecendo-se de que, ao se omitirem, a primeira vítima foi a democracia. Nisso, sejamos francos, foram precedidos por todos os governos anteriores, que chegaram ao poder depois da redemocratização do país.

Mergulhados na luta política e na administração cotidiana dos problemas nacionais, nenhum deles percebeu que o primeiro dever que tínhamos, nesta nação, depois do fim do período autoritário, era regar e proteger a frágil flor da Liberdade, ensinando sua importância e virtudes às novas gerações, para que sua chama não se apagasse no coração dos brasileiros.

Se, naquele momento, o da batalha pela reconquista do Estado de Direito, cantávamos em letras de rock que queríamos votar para presidente, hoje parece que os polos da razão foram trocados, e que vivemos sob a égide da insânia e da vilania.

Em absoluta inversão de valores, da ética, da informação, da própria história, retorna a velha balela anticomunista de que Jango — um latifundiário liberal ligado ao trabalhismo — ia implantar uma ditadura cubano-soviética no Brasil, ou que algumas dezenas de estudantes poderiam derrubar, quatro anos depois, um regime autoritário fortemente armado, quando não havia nenhuma condição interna ou externa para isso.

Agora, para muitos que se manifestam pela internet, quem combatia pela democracia virou terrorista, os torturadores são incensados e defendidos, e prega-se abertamente o fim do Estado de Direito, como se o fascismo e o autoritarismo fossem solução para alguma coisa, ou o Brasil não fosse ficar, política e economicamente, imediata e absolutamente, isolado do resto do mundo, caso fosse rompida a normalidade constitucional.

Ora, os mesmos internautas que insultam, hoje, o Judiciário, sem serem incomodados — afirmando que o ministro Toffoli fraudou as eleições — já atacaram pesadamente Aécio Neves e sua família, quando ele disputava a indicação como candidato à Presidência pelo PSDB em 2010.

São eles os mesmos que agridem os comandantes militares, acusando-os de serem “frouxos” e estarem controlados pelos comunistas, e deixam claro seu desprezo pelas instituições brasileiras, incluindo as Forças Armadas, pedindo em petição pública à Casa Branca uma intervenção dos Estados Unidos no Brasil, como se fôssemos reles quintal dos EUA, quando são eles os que se comportam como abjetos vira-latas, em sua patética submissão ao estrangeiro.

São eles os que defendem o extermínio dos nordestinos e a divisão do país, como se apenas naquela região a candidata da situação tivesse obtido maioria, e não estivéssemos todos misturados, ou nos fosse proibida a travessia das fronteiras dos estados.

São eles que inventam generais de araque, supostos autores de manifestos igualmente falsos, e usam, sem autorização, o nome de oficiais da reserva, em documentos delirantes, tentando manipular, a todo momento, a base das Forças Armadas e as forças de segurança, dando a impressão de que existem sediciosos no Exército, na Marinha, na Aeronáutica, quando as três forças se encontram unidas, na execução de projetos como o comando das Operações de Paz da ONU no Haiti e no Líbano; as Operações Ágata, em nossas fronteiras; o novo Jato Cargueiro Militar KC-390 da Embraer; o novo Sistema de Mísseis Astros 2020 da Avibras; ou o novo submarino nuclear brasileiro, no cumprimento, com louvor, de sua missão constitucional.

O site SRZD, do jornalista Sérgio Rezende, entrou em contato com oficiais militares da reserva, que supostamente teriam “assinado” um manifesto, que circula, há algum tempo, na internet. O texto se refere a “overdose de covardia, cumplicidade e omissão dos comandantes militares” e afirma que, como não há possibilidade de tirar o PT do poder pelas urnas, é preciso dar um golpe militar, antes que o Brasil se transforme em uma “Cuba Continental”.

Segundo o SRZD, todos os oficiais entrevistados, incluindo alguns generais, negaram peremptoriamente terem assinado esse “manifesto” e afirmaram já ter entrado em contato com o Ministério do Exército, denunciando tratar-se o e-mail que divulgava a mensagem de uma farsa e desmentindo sua participação no suposto movimento.

Por mais que queiram os novos hitlernautas, os militares brasileiros sabem que o governo atual não é comunista e que o Brasil não está, como apregoam os “aloprados” de extrema direita que tomaram conta da internet, ameaçado pelo comunismo internacional.

Como dizer que é comunista, um país em que os bancos lucram bilhões, todos os trimestres; em que qualquer um — prerrogativa maior da livre iniciativa — pode montar uma empresa a qualquer hora, até mesmo com apoio do governo e de instituições como o Sebrae; no qual investidores de todo o mundo aplicam mais de 60 bilhões de dólares, a cada 12 meses, em Investimento Estrangeiro Direto; onde dezenas de empresas multinacionais se instalam, todos os anos, junto às milhares já existentes, e mandam, sem nenhuma restrição, a cada fim de exercício, bilhões e bilhões de dólares e euros em remessa de lucro para e exterior?

Como taxar de comunista um país que importa tecnologia ocidental para seus armamentos, tanques, belonaves e aeronaves, cooperando, nesse sentido, com nações como a França, a Suécia, a Inglaterra e os Estados Unidos? Que participa de manobras militares com os próprios EUA, com países democráticos da América do Sul e com democracias emergentes, como a Índia e a África do Sul?

Baboso, atrasado, furibundo, ignorante, permanentemente alimentado e realimentado por mitos e mentiras espatafúrdias, que medram como fungos nos esgotos mais sombrios da Rede Mundial, o anticomunista de teclado brasileiro é sobretudo hipócrita e mendaz.

Ele acredita “piamente” que Dilma Rousseff assaltou bancos e matou pessoas e que José Genoíno esquartejou pessoalmente um jovem, começando sadicamente pelas orelhas, quando não existe nesse sentido nenhum documento da ditadura militar.

Ele vê em um site uma foto da Escola Superior de Agricultura da USP, a Esalq, situada em Piracicaba, e acredita, também, “piamente”, que é uma foto da mansão do “Lulinha”, que teria virado o maior fazendeiro do país, junto com seu pai, sem que exista uma única escritura, ou o depoimento — até mesmo eventualmente comprado — de um simples peão de fazenda ou de um funcionário de cartório, que aponte para alguma prova ou indício disso, como de outras “lendas urbanas”, como a participação da família do ex-presidente da República na propriedade de um grande frigorífico nacional.

Ele crê, piamente, e divulga isso, todo o tempo, que todos os 600 mil presos brasileiros têm direito a auxílio-reclusão quando quase 50% deles sequer foram julgados, e menos de 7% recebem esse benefício, e mesmo assim porque contribuíram normalmente, antes de serem presos, para a Previdência, durante anos, como qualquer trabalhador comum.

Nada contra alguém ser de direita, desde que se obedeçam as regras estabelecidas na Constituição. Nesse sentido, o senhor Jair Bolsonaro presta um serviço à democracia quando diz que falta, no Brasil, um partido com essa orientação ideológica, e já se declara candidato à Presidência, por essa provável agremiação, ou por essa parcela do eleitorado, no pleito de 2018.

Os mesmos internautas que pensam que Cuba é uma ditadura contagiosa e sanguinária, da qual o Brasil não pode se aproximar, ligam para os amigos para se gabar de seu novo smartphone ou do último gadget da moda, Made in República Popular da China, que acabaram de comprar.

Eles são os mesmos que leem os textos escritos, com toda a liberdade, pela opositora cubana Yoami Sanchez — já convenientemente traduzidos por “voluntários” para 18 diferentes idiomas — e não se perguntam, por que, sendo Cuba uma ditadura, ela está escrevendo de seu confortabilíssimo, para os padrões locais, apartamento de Havana, e não pendurada em um pau de arara, ou tomando choques e sendo espancada na prisão.

Mas fingem ignorar que 188 países condenaram, há alguns dias, em votação de Resolução da ONU, o embargo dos Estados Unidos contra Cuba, exigindo o fim do bloqueio.

Ou que os EUA elogiaram e agradeceram a dedicação, qualidade e profissionalismo de centenas de médicos cubanos enviados pelo governo de Havana para colaborar, na África, com os Estados Unidos, no combate à pandemia e tratamento das milhares de vítimas do ebola.

Ou que a Espanha direitista de Mariano Rajoy, e não a Coreia do Norte, por exemplo, é o maior sócio comercial de Cuba.

Ou que há poucos dias acabou em Havana a XXXIII FIHAV, uma feira internacional de negócios com 4.500 expositores de mais de 60 países — aproximadamente 90% deles ocidentais — com a apresentação, pelo governo cubano, a ávidos investidores estrangeiros, como os italianos, canadenses e chineses, de 271 diferentes projetos de infraestrutura, com investimento previsto de mais de 8 bilhões de dólares.

Radical, anacrônica, desinformada e mais realista que o rei, a minoria antidemocrática que vai, eventualmente, para as ruas e se manifesta raivosamente na internet querendo falar em nome do país e do PSDB, pedindo o impeachment da presidente da República e uma intervenção militar, ou dizendo que é preciso se armar para uma guerra civil, baseia-se na fantasia de que a nação está dividida em duas e que houve fraude nas urnas, mas se esquece, no entanto, de um “pequeno” detalhe: quase um terço dos eleitores, ou mais de 31 milhões de brasileiros, ausentes ou donos de votos brancos e nulos, não votaram nem em Dilma nem em Aécio, e não podem ser ignorados, como se não existissem, quando se fala do futuro do país.

Cautelosa e consciente da existência de certos limites intransponíveis, impostos pelo pudor e pela razão, a oposição tem se recusado a meter a mão nessa cumbuca, fazendo questão de manter razoável distância desse pessoal.

Guindado, pelo voto, à posição de líder inconteste da oposição, o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, por ocasião de seu primeiro discurso depois do pleito, no Congresso, disse que respeita a democracia permanentemente e que “qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de retrocesso terá a nossa mais veemente oposição. Eu fui o candidato das liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem de forma autoritária e truculenta estão no outro campo político, não estão no nosso campo político”.
Antes dele, atacado por internautas, por ter classificado de “antidemocráticas” as manifestações pedindo o impeachment da presidente Dilma e a volta do autoritarismo, o agrônomo e assessor de marketing Xico Graziano, também do PSDB, já tinha afirmado que “a truculência dessa cambada fascista que me atacou passa de qualquer limite civilizado. No fundo, eles provaram que eu estava certo: não são democratas. Pelo contrário, disfarçam-se na liberdade para esconder seu autoritarismo”.

E o vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman, também negou, no dia primeiro, em São Paulo, que o partido ou a campanha de Aécio Neves estivessem por trás ou apoiassem — classificando-as de “irresponsáveis” — as manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.

É extremamente louvável a iniciativa do presidente da OAB, Marcus Vinícius Furtado Côelho, de pedir a investigação e o indiciamento, que já estão em curso, pela Polícia Federal, com base na Lei do Racismo por procedência, dos internautas responsáveis pela campanha contra os nordestinos, lançada logo após a divulgação do resultado da eleição.

Mas, se essa campanha é grave, mais grave ainda, para toda a sociedade brasileira, tem sido a pregação constante, que já ocorre há anos, pelos mesmos internautas, da realização de um Golpe de Estado, do assassinato e da tortura de políticos e intelectuais de esquerda, e de “políticos” de modo geral, além do apelo à mobilização para uma guerra civil, incluindo até mesmo a sugestão da compra de armas para a derrubada das instituições.

Cabe ao STF, ao Ministério Público, ao TSE, e aos tribunais eleitorais dos estados, que estão diretamente afeitos ao assunto, e à OAB, por meio de seus dirigentes, pedir, como está ocorrendo nos casos de racismo, a imediata investigação, e responsabilização, criminal, dos autores desses comentários, cada vez mais rançosos e afoitos, devido à impunidade, e o estabelecimento de multas para os veículos de comunicação, que os reproduzem, já que na maioria deles existem mecanismos de “moderação” que não têm sido corretamente aplicados nesses casos.

A Lei 7.170 é clara, e define como “crimes contra a Segurança Nacional e a Ordem Política e Social, manifestações contra o atual regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito”.

Há mais de 30 anos, pelas mãos de Tancredo Neves e de Ulisses Guimarães — em uma luta da qual Aécio também participou — e de milhões de cidadãos brasileiros, que foram às ruas, para exigir o fim do arbítrio e a volta do Estado de Direito, o Brasil reconquistou a democracia, pela qual havia lutado, antes, a geração de Dilma Rousseff, José Dirceu, José Serra e Aluísio Nunes, entre outros.

Por mais que se enfrentem, agora, essas lideranças, não dá para apagar, de suas biografias, que todos tiveram seu batismo político nas mesmas trincheiras, enfrentando o autoritarismo.

Cabe a eles, principalmente os que ocupam, neste momento, alguns dos mais altos cargos da República, assumir de uma vez por todas sua responsabilidade na defesa e proteção da democracia, para que a Liberdade e o bom-senso não esmoreçam, nem desapareçam, imolados no altar da imbecilidade.

Jornalistas, meios de comunicação, Judiciário, militares, Ministério Público, Congresso, Governo e Oposição, precisamos, todos, derrubar os pilares da estupidez, erguidos com o barro pisado, diuturnamente, pelas patas do ódio e da ignorância, antes que eles ameacem a estabilidade e a sobrevivência da nação, e da democracia.

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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

COLUNISTA PRÓ-AÉCIO PROPÕE SEPARATISMO

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Rio não merece o Copa. A fúria da Quatrocentona

O Copa ficaraia melhor na Barão de Limeira, atrás do Minhocão


Este Conversa Afiada sempre disse que a elite de São Paulo é separatista.

Remember 1932, quando Frias e Mesquitas pegaram em bazucas para derrubar Vargas.

Especialmente separatista é o ” new money”, que a Folha (*) encarna.

O “new money” costuma ter mais raiva que o “old money”, de fúrias mais cristalizadas.

O Mino diz que a elite de São Paulo é a pior do Brasil.

Ou, pelo menos, pensa o ansioso blogueiro, a mais despudorada.

A Folha desta sexta-feira abre o jogo.

E publica uma elegia ao separatismo.

No exato momento em que cai a participação de São Paulo no PIB.

E os salários pagos no Rio são maiores que os de São Paulo.

A autora da elegia separatista é uma notável Quatrocentona paulistana, de sólidas raízes na Aristocracia cafeeira:

Leia na pág. C2, de Barbara Vidigal Bueno Gancia: “O Rio não merece o Copacabana Palace”.

Os turistas que o Rio recebe são de duas estrelas.

De cima é esplendoroso, de baixo, aterrorizante.

A única coisa que presta no Rio é o Fasano (porque é paulista, também quatrocentão…).

No Rio, os prédios desabam.

O único que fica de pé é o Copa (por enquanto).


Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O dia em que SP quis ir à guerra

Os desdobramentos da operação de reintegração de posse de terreno no bairro Pinheirinho, em São José dos Campos, em 22 de janeiro último, insinuam que o Executivo e o Judiciário do Estado de São Paulo atuam, em sintonia, em prol de interesses privados. Atuam de forma escandalosa, ao arrepio da lei e sem qualquer preocupação com as consequências.
Testemunhos de membros do Ministério Público de São Paulo, da Defensoria Pública de São José dos Campos e de juristas renomados afirmam que o Estado de Direito, as leis e o interesse público foram solenemente ignorados pelo governador do Estado e pelo Tribunal de Justiça de São Paulo ao promoverem verdadeiro massacre da população do bairro “higienizado”.
Contudo, o fato que mais impressiona nesse processo parece estar passando despercebido. Apesar de a informação que vem a seguir ter sido razoavelmente difundida, está sendo pouco debatida.
Ocorre que o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que a Polícia Militar “repelisse” a Polícia Federal caso esta tentasse impedir o cumprimento da reintegração de posse. Trocando em miúdos, a Justiça paulista pareceu achar que o governo federal enviaria efetivos da PF para impedir a expulsão das famílias do Pinheirinho e, assim, determinou o que poderia ter ocasionado o ensaio de uma guerra civil no país.
Vale rever trecho da decisão do TJ-SP que permitiu a desocupação do terreno em São José dos Campos:
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Autorizo (…) requisição ao Comando da Polícia Militar do Estado, para o imediato cumprimento da ordem da 6ª Vara Cível de São José dos Campos, repelindo-se qualquer óbice que venha a surgir no curso da execução, inclusive a oposição de corporação policial federal, somente passível de utilização quando de intervenção federal decretada nos termos do art. 36 da Constituição Federal e mediante requisição do Supremo Tribunal Federal, o que inexiste.
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Essa decisão foi tomada pelo presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Ivan Sartori, que assumiu integral responsabilidade por tudo que viesse a ocorrer em São José dos Campos naquele 22 de janeiro. Ele achava que o governo federal poderia tentar impedir à força a invasão do Pinheirinho.
Se isso tivesse ocorrido, haveria uma reedição da Revolução Constitucionalista de 1932, movimento armado desencadeado por São Paulo que tinha por objetivo a derrubada de Getúlio Vargas e a independência desse Estado.
A Revolução de 1932 desejava a independência de São Paulo e sua conversão em uma República autônoma. E o que impressiona, em termos de semelhança com o caso em tela, é que, entre os principais defensores do separatismo no século passado, destacava-se o então presidente do mesmo Tribunal de Justiça de São Paulo, Costa Manso.
As intenções belicistas do governo e da Justiça de São Paulo transparecem na ordem de reintegração de posse expedida pelo TJ-SP. E ficam ainda mais claras devido ao tamanho do efetivo policial usado na operação (2 mil homens).
Imaginem o que aconteceria se o governo federal tivesse destacado a sua polícia ou até o Exército para impedir uma medida que, para muitos juristas, procuradores da República e parlamentares foi flagrantemente ilegal e inconstitucional. Teria havido uma mini guerra civil.
E as ilegalidades não se resumiram ao 22 de janeiro. Nos dias seguintes, foi rápida a demolição das casas do Pinheirinho, o que foi feito de forma absolutamente ilegal porque havia determinação da Justiça suspendendo qualquer ato demolitório. E o pior: não havia nem recurso judicial contra tal determinação. Assim mesmo, as casas foram demolidas.
A história paulista, pois, é marcada pelo golpismo.  O episódio do Pinheirinho deixou claro que as autoridades do Estado de São Paulo consideram-no quase um país à parte e que estão dispostas a ir até as últimas conseqüências para mantê-lo assim.
A imprensa paulista, que teve protagonismo em todos os movimentos golpistas que este país já viu – como em 1932 ou em 1964 –, continua igualzinha. O governo e a Justiça de São Paulo, idem. E depois há quem não acredite na possibilidade de uma nova ruptura institucional no Brasil. A declaração de guerra ao país feita pelo TJ-SP em 22 de janeiro, porém, diz outra coisa.
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Veja depoimento do defensor público Jairo Salvador durante Audiência em defesa dos moradores do Pinheirinho, realizada na Assembléia Legislativa de São Paulo no último dia 1º de fevereiro de 2012


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Veja, também, depoimento do secretário da Presidência da República Paulo Maldos


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Situação na Cracolândia saiu de controle a partir de 2005

Pesquisa efetuada pelo blog nos arquivos do jornal Folha de São Paulo revela que a atual estratégia da polícia de São Paulo para a região da cidade conhecida como Cracolândia foi usada em 2000. Já naquela época, a tática de dispersão dos usuários de crack provocou o mesmo problema de sua “pulverização” pela cidade.
O arquivo que o jornal mantém sobre o assunto – e que pode ser acessado pela internet – também mostra que a situação fugiu ao controle do Estado a partir de 2005, primeiro ano da gestão de José Serra na prefeitura  da capital paulista.
O número de matérias que o jornal publicou sobre a Cracolândia desde 2000 mostra quando o problema começou a adquirir a proporção que se vê hoje. Busca da palavra “Cracolândia” no arquivo apresenta 559 resultados, sendo 143 matérias no período que vai de 2000 a 2005 (quase seis anos) e 416 matérias entre 2005 e hoje (quase sete anos).
O número de matérias sobre a Cracolândia aumentou quase 300% a partir de 2005 porque foi a partir de então que o problema se agravou até chegar ao ponto em que está hoje. E o teor dessas matérias, como se verá a seguir, permite inferir que a polícia paulista – e, obviamente, quem manda nela, ou seja, o governo do Estado – e a prefeitura são os grandes responsáveis pelo problema.
O noticiário sobre a Cracolândia acessível nos arquivos da Folha começa em 2000, em plena campanha eleitoral à prefeitura de São Paulo, quando Paulo Maluf e Marta Suplicy disputavam a sucessão de Celso Pitta.
Em 1º de agosto daquele ano, Maluf anunciou que levaria à Cracolândia o ex-comissário de polícia de Nova York Willian Bratton, que, segundo a assessoria do candidato, trabalhara no programa Tolerância Zero, que reduzira a criminalidade na cidade norte-americana, e de quem o candidato pretendia buscar “consultoria” para combater o problema.
Ocorreu, então, um fato um tanto quanto cômico. O medo da violência levou o candidato Maluf a desistir de apresentar a Cracolândia ao ex-comissário de Segurança de Nova York, que viera ao Brasil para isso, e a restringir a programação com ele a “eventos mais seguros”.
Um mês depois, ainda durante a campanha eleitoral em que Marta derrotaria Maluf e se tornaria prefeita de São Paulo, o governador Mario Covas desencadearia uma operação policial na Cracolândia que pretendia ser uma resposta às críticas do adversário de seu candidato, o então vice-governador Geraldo Alckmin, que substituiria Covas no ano seguinte, quando seu câncer se agravaria.
A matéria sobre a primeira “operação sufoco”, levada a cabo há quase 12 anos causa um déjà vu. Se tirarmos datas, nomes das autoridades e dos órgãos, parecerá que foi escrita hoje e que se refere à atual operação do governo do Estado que está sendo levada a cabo na Cracolândia.
Leia e julgue por si mesmo.
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FOLHA DE SÃO PAULO
03/09/2000
Repressão policial pulveriza a cracolândia
KARLA MONTEIRO
Na esquina escura da rua dos Protestantes com a rua dos Gusmões, centro de São Paulo, dois garotos conversam apressadamente, olhando para os lados. Um deles tira do bolso um pequeno embrulho em papel laminado e entrega ao outro. Feita a transação, o mais velho da dupla nem pestaneja: corre.
“A gente não pode mais dar bobeira. Os pauladas (policiais à paisana) estão por aí. Na semana passada, quebraram meus dentes”, diz o mais novo, mostrando o sorriso desfalcado enquanto caminha rapidamente na direção contrária à do companheiro.
A cena aconteceu na cracolândia, região onde comércio e consumo de crack eram práticas livres desde o início dos anos 90, quando a droga invadiu São Paulo. Ou, pelo menos, práticas toleradas pelas autoridades.
Nos últimos meses, o cenário mudou. Desde setembro do ano passado, o Denarc (Departamento de Narcóticos) vem promovendo repressão ostensiva no local a fim de “erradicar” a cracolândia, o que forçou a dispersão dos viciados e traficantes para outras regiões da cidade.
O resultado da investida do Denarc já pode ser medido em números: 38 hotéis e pensões usados como pontos de tráfico e de uso de crack foram fechados (e depois reabertos por decisões judiciais), 19 foragidos da Justiça voltaram para a cadeia e 176 suspeitos de tráfico, entre eles 12 menores, foram pegos em flagrante. A polícia ainda apreendeu 15 quilos de cocaína, 1.116 pedras de crack e 191 gramas de maconha.
“A ordem do secretário (estadual da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi) foi erradicar a cracolândia. Era uma vergonha ter uma Amsterdã ao lado do prédio do Denarc”, explica o delegado Ubiracy Pires da Silva, diretor da Divisão de Investigação.
O prédio está incrustado no ex-território dos usuários de crack. Segundo ele, policiais à paisana mantêm vigília 24 horas na área limitada pelas avenidas Rio Branco, Duque de Caxias, Cásper Líbero, Ipiranga e rua Mauá.
O departamento de repressão ao uso de drogas está mantendo também a rotina de uma batida policial a cada 15 dias, e rondas policiais permanentes. Quando a repressão era mais leve, viciados sentavam-se nas calçadas para partilhar cachimbos com a pedra de crack -droga barata que, segundo especialistas, vicia quase imediatamente.
“A barra pesou. Agora a gente vem aqui, compra a pedra e vai fumar escondido em outro lugar”, afirmou um usuário, que disse ter 16 anos. A reportagem da Folha acompanhou uma ronda na noite de segunda-feira (29). As ruas imundas, malcheirosas e mal iluminadas, antes entulhadas de viciados, estavam limpas. É cada vez mais difícil encontrar um dependente com cachimbo em punho perambulando pela região.
Não existem pesquisas que quantifiquem o número de dependentes que circulavam pela cracolândia. De acordo com o Denarc, 20% dos usuários seriam menores. O SOS Criança estima que cerca de 2.000 crianças e adolescentes morem ou passem o dia no centro da cidade. Deste total, 70% usam ou já usaram crack. Isso corresponde a aproximadamente 1.400 crianças e adolescentes viciados só na região central.
Com a ação do Denarc, 15 menores em média são encaminhados diariamente ao SOS, que tem capacidade de abrigar apenas 400. “Mais de 50% desses adolescentes voltam para a rua”, diz Alda Pizzini Sanchez, coordenadora do projeto Farol Não É Casa, mantido pela entidade.
O delegado reconhece que a repressão na cracolândia tem efeito pulverizador e não soluciona o problema dos viciados. Os dependentes só estão migrando para áreas periféricas do centro e bairros de classe média. Não formam mais grandes aglomerações, mas continuam consumindo crack.
Em pequenos grupos, eles espalham-se pelo Brás, Baixada do Glicério, vale do Anhangabaú, praça da República, praça da Sé, alameda Nothmann e ruas adjacentes. “Vamos começar uma investigação para saber se os usuários estão se concentrando em outro lugar”, informa.
Nas imediações do Ceagesp, região conhecida como “nova cracolândia”, os viciados também desapareceram. Segundo um feirante que preferiu não se identificar, os viciados sumiram desde a retirada, de lá, da favela conhecida como Portão Seis. “A polícia andou dando umas batidas por aqui e a meninada caiu fora. Fica um ou outro por aí ainda.”
Em São Miguel Paulista, na zona leste, outro ponto de concentração de usuários, uma obra na linha do trem expulsou os que ficavam no muro que cerca o local. “Está todo mundo por aí, pulando de mocó em mocó. Quando a polícia for embora, todo mundo volta”, comenta R.S.S., 22, usuária de crack há seis anos.
Segundo ela, está mais difícil conseguir a pedra, mas os “nóias”, como se autodenominam os dependentes, sabem onde encontrar a droga. “A boca do lixo não acabou. Só está mais sossegada. Eu não saio daqui. É a minha casa. Vim para cá com 8 anos”, diz, escondendo entre as mãos um cachimbo e um isqueiro.
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Como o problema, à época, era infinitamente menor do que hoje, quatro meses após Marta assumir a prefeitura parecia que a região do Parque da Luz e entorno passariam a viver novos tempos.
Em 29 de abril de 2001, matéria do mesmo jornal dava conta de ações da prefeitura que vinham revitalizando o centro de São Paulo após uma ação do governo do Estado que, se não funcionara completamente, devido a um problema menos grave e à ação integrada entre a administração municipal e Estadual estavam devolvendo o bairro à população.
Este trecho da matéria ilustra bem isso:
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“(…) Depois dos viciados da Cracolândia, chegou a vez das “meninas” do quase bicentenário parque da Luz, o ponto de prostituição mais antigo da cidade. O parque vem passando por sucessivas mudanças desde o ano passado. As touceiras (moitas) que davam aspecto de mata fechada foram remanejadas, tornando-o mais limpo. Para completar, foi implantado no local um circuito fechado de TV.
A segurança atraiu outras iniciativas, como a da vizinha Pinacoteca do Estado, que abriu as portas dos fundos ao parque e distribuiu diversas esculturas importantes em seus canteiros. Ao mesmo tempo, a população começou a redescobrir o espaço, repleto de peças históricas, como o ponto do bonde, a casa de chá, o coreto, e o casarão da administração, construído em 1901 (…)”
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No fim de 2001, começou a ficar clara a razão de a região da Cracolândia ter chegado ao ponto que chegara no ano anterior, o que obrigara o governo do Estado a realizar operação análoga à que está em curso hoje. Matéria da mesma Folha mostrou que policiais integravam a rede que explorava o tráfico de drogas na região.
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FOLHA DE SÃO PAULO
13/12/2001
Policiais são flagrados com traficantes
O Ministério Público flagrou cinco policiais do Denarc em situações suspeitas na cracolândia, região no centro de São Paulo conhecida por concentrar dependentes e traficantes de crack.
Durante 20 dias, os promotores gravaram imagens de integrantes do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) na região. O material foi veiculado ontem à noite no “Jornal Nacional”, da Rede Globo.
O tráfico na cracolândia, segundo o Ministério Público, é dominado atualmente por dois grupos do Denarc, um liderado por Hélio Carlo Barba e outro pelo investigador José Carlos de Castilho.
Nas imagens, aparece Barba com outro policial, identificado apenas como Henrique, abordando um casal. O investigador Alessandro Ramos da Silva seria o terceiro integrante do grupo.
Em outra imagem, um homem algemado sai do carro da polícia, parado na cracolândia, é solto por Castilho, de quem recebe ainda um aperto de mãos.
Cena parecida se repete com outros dois criminosos. Castilho e o investigador Mauro César Bartolomeu soltam os homens e, depois, os cumprimentam. Um deles foi identificado na reportagem como Adilson Francisco Rocha, indiciado por tentativa de homicídio, tráfico de droga, formação de quadrilha e roubo.
Segundo depoimento de um ex-integrante do grupo de Castilho, para atuar na cracolândia é necessário pagar taxa de R$ 200, por semana, aos policiais, que cobram ainda entre R$ 1.200 e R$ 5.000 para libertar criminosos.
Segundo esse ex-integrante, o grupo de Barba vende crack embalado em plástico verde. O grupo de Castilho, em plástico branco.
Ontem à tarde, os promotores que fizeram as gravações -membros do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado)- pediram a prisão temporária dos policiais identificados a partir das imagens.
À noite, após a veiculação da reportagem do “Jornal Nacional”, eles não deram entrevistas aos outros órgãos de imprensa.
Corregedoria
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, as gravações foram mostradas ontem ao corregedor da Polícia Civil, Rui Estanislau Silveira Mello, pouco antes do pedido de prisão. O corregedor, que já investigava os policiais, segundo a secretaria, determinou que fossem imediatamente afastados.
O delegado Marco Antonio Ribeiro de Campos, que dirige o Denarc, disse ao “Jornal Nacional” que está “envergonhado”.
Os cinco policiais -todos investigadores, segundo a secretaria- devem ser acusados por tráfico de drogas, abuso de poder, extorsão e formação de quadrilha.
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Parece piada, um déjà vu macabro. O mesmo Geraldo Alckmin que anda elogiando a desastrada operação na região que seu governo destruiu, há mais de uma década já usava do seu bom e velho “embromation” ao negar a responsabilidade das desastrosas administrações tucanas que degradaram São Paulo ao ponto que se vê atualmente.
Matéria da Folha do dia seguinte à que mostrava o escândalo na polícia paulista informava que o governador “negava” a corrupção na polícia que comandava e que, tragicamente, continua comandando até hoje graças à mesma Folha e a outros veículos da imprensa paulista.
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FOLHA DE SÃO PAULO
14/12/2001
Alckmin nega existência de “banda podre” na polícia de SP
Mesmo dizendo sentir-se envergonhado por conta das denúncias envolvendo cinco investigadores do Denarc, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) negou ontem a existência de uma “banda podre” na polícia de São Paulo.
“Não tem “banda podre” em São Paulo. Essa expressão foi lá no Rio de Janeiro. Se tiver policial corrupto aqui, vai para a rua e para a cadeia”, afirmou.
Para ele, trata-se de um caso isolado. “Infelizmente, alguém erra, e não há nenhuma conivência com isso. Ao ser comprovado, é cadeia”, disse. Ele afirmou ainda que existe “gente séria” na polícia.
O secretário estadual da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi, também disse que estava decepcionado. Segundo ele, a secretaria está tomando medidas para identificar policiais envolvidos com o crime. “Essa é uma luta permanente. Eu acabo de dizer aqui que não é um sistema perfeito, não há nada que não possa ser melhorado ou aprimorado.”
O secretário afirmou ainda que, neste ano, quase 300 policiais “que praticaram atos mais ou menos graves” do que os da cracolândia foram afastados.
Segundo Petrelluzzi, a divulgação do caso mostra que o controle da polícia é eficaz. “A polícia é a instituição mais vigiada deste país, pelo menos a de São Paulo.”
Pela manhã, Alckmin disse que esperava que os cinco policiais fossem presos ainda ontem. “Se a Justiça conceder, serão imediatamente presos.”
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O escândalo de corrupção na polícia paulista não deu em nada. A oposição petista ao governo do Estado pediu uma CPI, mas, como vêm fazendo desde 1994, o governo tucano do Estado, com a maioria parlamentar que a desorientada população paulista lhe deu, engavetaria mais uma investigação.
Em 2002, mais escândalos abalariam a cúpula do Denarc, que deveria combater a Cracolândia. Era o terceiro escândalo em menos de seis meses. A prisão em flagrante do policial Francisco Marcondes Romeiro Neto por tráfico internacional de drogas provocou a queda do delegado divisionário Ubiracyr Pires da Silva, segundo homem na hierarquia do Denarc na área de repressão ao tráfico.
Nada abalava a corrupção policial que ia erigindo, em São Paulo, a situação que se vê hoje. O governo do Estado não permitia maiores investigações e a imprensa dava uma ou outra notinha, mas não pressionava. Dessa maneira, a cidade foi sendo tomada pelo tráfico.
Todavia, ao passo que o governo do Estado se ocupava de esconder o que acontecia na polícia, a prefeitura, com Marta à frente, fazia a sua parte e o centro de São Paulo começava a mudar. As ações sociais estavam funcionando, pouco se ouvia falar na Cracolândia, o arquivo da Folha mostra que o noticiário sobre o assunto era escasso.
Matéria do insuspeito colunista Gilberto Dimenstein publicada pela Folha ao fim do segundo ano da gestão Marta Suplicy comprova que se a prefeitura não tivesse sido entregue pela população zumbi de São Paulo a José Serra e depois a Gilberto Kassab, a situação não teria se agravado e talvez hoje a Cracolândia nem existisse.
Veja:
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FOLHA DE SÃO PAULO
01/12/2002
São Paulo vai ser refundada
GILBERTO DIMENSTEIN
Quase ninguém acredita -e, por muito tempo, não vai acreditar-, mas um dos principais laboratórios de recuperação social no Brasil está num dos mais visíveis focos de decadência do país: o centro da cidade de São Paulo.
Não se acredita porque, em primeiro lugar, uma das modas nacionais é afirmar que o país está metido em uma pasmaceira social e que nada acontece. Pouco se conhece das articulações comunitárias e das políticas públicas inovadoras.
Em segundo lugar, os moradores de São Paulo acham, no geral, que a cidade não tem mais jeito e está condenada à degradação.
Pela primeira vez, São Paulo está alterando a forma como se expandiu desde seu nascimento, em 1554, quando se limitava a uma escola de jesuítas que ensinava indígenas no topo de uma colina.
(…)
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As ações sociais e urbanísticas da prefeitura estavam revolucionando a cidade, mas a imprensa tucana dava duro combate a Marta ao criticar tudo e reconhecer nada. A matéria de Dimenstein foi uma das raras exceções.
As matérias sobre a Cracolândia iam escasseando, o problema estava sob controle, ainda que existisse. Havia, sim, um ou outro usuário na rua, mas não havia o consumo e tráfico ostensivo da droga que se fez hoje. A partir de meados de 2005, porém, o noticiário sobre a Cracolândia foi aumentando em progressão geométrica.
Ao fim da gestão Serra, em 2006, quando o tucano rompeu o compromisso que assumira com a população (por escrito) de permanecer à frente da prefeitura até o fim de seu mandato por pretender se candidatar ao governo do Estado, já não era possível ao cidadão atravessar a Cracolândia sem correr risco de vida.
Os arquivos dos jornais, com a história cotidiana que contam, são verdadeiras minas de ouro em termos de conteúdo capaz de mostrar como o povo de São Paulo cavou com as próprias mãos a situação de penúria em que mergulhou seu Estado e, sobretudo, a capital paulista. E o pior é que esse povo não melhorou nada, desde então.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Traíra: Cerra negociou com EUA


Trata-se de um ato de traição.

Um governador de Estado negociar com um embaixador estrangeiro à revelia do Governo Federal.
Um ato de traição que demonstra, na essência, o caráter separatista da elite de São Paulo.
Desde a fundação do Partido Republicano Paulista, no fim do século XIX, à “revolução constitucionalista de 32” é assim: primeiro, São Paulo; o resto é o resto.
Não é a primeira vez que o WikiLeaks flagra Cerra de joelhos diante dos americanos: foi assim quando ele prometeu à Chevron entregar o pré-sal.
Observe-se, também, que, em lugar de informar o Itamaraty, Cerra ia usar o PiG (*).
“Vender”, terceirizar a segurança de São Paulo através do PiG (*).
Alguma novidade ?
Clique aqui para ler sobre “FHC, Cerra e o bispo de Guarulhos e a Ética dos Tucanos, segundo Max Weber”.
Como diria o Mauro Santayana, a propósito de um diretor da Vale que foi à encarregada de negócios da embaixada americana entregar os planos estratégicos da empresa, só tem um jeito: tratar esse pessoal a bala, diria Floriano Peixoto.




Paulo Henrique Amorim



(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.


Floriano diria: só a bala

Publicado originalmente na Pública:

Serra, governador, pediu ajuda aos EUA contra ataques de PCC


Nova leva de documentos do Wikileaks revelam que Serra queria treinamento para lidar com bombas e ameaças no transporte público, que seriam de autoria da facção


Por Daniel Santini, especial para a Pública


Publicado originalmente pela Pública – livre reprodução desde que citada a fonte (CC)


Assim que assumiu o poder como governador de São Paulo, em janeiro de 2007, José Serra (PSDB) foi procurar o embaixador dos Estados Unidos no Brasil Clifford M. Sobel para pedir orientações sobre como lidar com ataques terroristas nas redes de metrô e trens, atribuídos por membros do governo paulista ao PCC.


O encontro foi o primeiro de uma série em que, como governador, Serra buscou parcerias na área de segurança pública, negociando diretamente com o Consulado Geral dos Estados Unidos, em São Paulo, sem comunicar ao governo federal. É o que revelam relatórios enviados à época pela representação diplomática a Washington e divulgados agora pela agência de jornalismo investigativo Pública, em parceria com o grupo Wikileaks.


Os documentos, classificados como “sensíveis” pelo consulado, são parte de um conjunto de 2.500 relatórios ainda inéditos sobre temas variados, que foram analisados em junho por uma equipe de 15 jornalistas independentes e serão apresentados em reportagens ao longo desta semana. Os telegramas que falam dos encontros de Serra com representantes dos Estados Unidos também revelam a preocupação do então governador com o poder do Primeiro Comando da Capital (PCC) nas prisões.


Após tomar posse como governador, a primeira reunião de Serra com representantes dos Estados Unidos, realizada em 10 de janeiro de 2007, é descrita em detalhes em um relatório no dia 17.


Na conversa, que durou mais de uma hora, Serra apontou a segurança pública como prioridade de seu governo, em especial na malha de transporte público, disse o Estado “precisava mais de tecnologia do que de dinheiro” para combater o crime e indagou sobre a possibilidade de o DHS (Departament of Homeland Security) treinar o pessoal da rede de metrô e trens metropolitanos para enfrentar ataques e ameaças de bombas.


Semanas antes, três bombas haviam explodido, afetando o sistema de trens, conforme noticiado à época.


Em 23 de dezembro de 2006, um artefato explodiu próximo da estação Ana Rosa do Metrô. No dia 25, outra bomba explodiu dentro de um trem da CPTM na estação Itapevi, matando uma pessoa, e uma segunda bomba foi encontrada e levada para um quartel. Em   2 de janeiro de 2007, um sargento da Polícia Militar morreu tentando desarmar o dispositivo.


Segundo o documento diplomático, “membros do governo acreditam que o Primeiro Comando da Capital (PCC) pode ser o responsável pelos episódios recentes”.


O secretário de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, chegou a entregar uma lista com questões sobre procedimentos adotados nos Estados Unidos e manifestou interesse em conhecer a rotina de segurança do transporte público de Nova York e Washington.


Também participaram desse primeiro encontro o chefe da Casa Civil Aloysio Nunes Ferreira, o secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, o secretário de Transportes, Mauro Arce, o coordenador de segurança do Sistema de Transportes Metropolitanos, coronel Marco Antonio Moisés, o diretor de operações do Metrô Conrado Garcia, os assessores Helena Gasparian e José Roberto de Andrade.


Parceria estabelecida


As conversas sobre as possíveis parcerias entre o governo de São Paulo e os Estados Unidos na segurança da rede de metrô e trens metropolitanos continuaram na semana seguinte, quando Portella  se reuniu com o cônsul-geral em São Paulo, o adido do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (Departament of Homeland Security – DHS) no Brasil e o responsável por assuntos políticos do consulado.


O encontro aconteceu em 17 de janeiro de 2007 e foi relatado em relatório no dia 24.


Acompanhado do secretário adjunto de segurança pública, Lauro Malheiros, e de outras autoridades da área, Portella falou sobre as dificuldades encontradas pelo Metrô em garantir a segurança da rede e informou sobre a tragédia ocorida nas obras da estação Pinheiros, dias antes (12 de janeiro de 2007), quando um desabamento provocou a morte de sete pessoas. No relatório, os representantes dos Estados Unidos destacam que a linha amarela é a primeira Parceria Público-Privada do Brasil e que o projeto foi lançado em meio à “grande fanfarra”.


Portella falou sobre os episódios anteriores de bombas e ameaças no metrô e “respondeu a uma série de questões preparadas pelo adido do DHS sobre a estrutura da rede” e disse que depois que as inspeções foram reforçadas, por causa das ameaças de bomba, mais pacotes suspeitos foram encontrados, e que mesmo “um saco de bananas ou de roupa suja” têm de ser examinados, o que provocava atrasos e paralisações no metrô. Novamente o PCC é mencionado: “Autoridades acreditam que a organização de crime organizado Primeiro Comando da Capital (PCC) pode ser responsável pelos ataques e relatam a prisão de um membro do PCC responsável pelo assassinato de um juiz em 2002”.


No final, Portella designou, então, o coronel da Polícia Militar José Roberto Martins e o diretor de Segurança do Metrô Conrado Grava de Souza para dar continuidade à parceria proposta.


Itamaraty


Nos meses seguintes, Serra voltou a se encontrar com representantes dos Estados Unidos e insistir em parcerias para lidar com o PCC.


Em 6 e 7 de fevereiro, conversou com o subsecretário de Estado dos EUA para Negócios Políticos, Nicholas Burns. De acordo com relatório de 1º de março de 2007, falou no encontro sobre a “enorme influência” que a organização tem no sistema prisional no Estado e pediu ajuda, incluindo tecnologia para “grampear telefones”.


Sua assessora para assuntos internacionais Helena Gasparian agradeceu a assistência na questão da segurança nos transportes públicose afirmou que a participação dos Estados Unidos foi “imensamente útil”.


Diante da sugestão de novas parcerias, o subsecretário Burns e o embaixador Sobel ressaltaram que seria importante obter aprovação do governo federal e destacaram que o Ministério de Relações Exteriores, o Itamaraty, “é às vezes sensível quanto a esses assuntos”.


O relatório afirma que “o governo estadual talvez precise de ajuda para convencer o governo federal sobre o valor de ter os Estados Unidos trabalhando diretamente com o Estado”. Serra disse que ele gostaria de falar com a mídia sobre a necessidade dessa ajuda.


Questionado pela agência Pública sobre esses relatórios, o professor Reginaldo Nasser, especialista no estudo de relações internacionais, de segurança internacional e de terrorismo da PUC de São Paulo, criticou a postura dos governador Serra e disse que acordos deste tipo devem ser intermediados pelo Itamaraty.


“Os Estados Unidos têm pressionado o Brasil para colocar terrorismo no Código Penal e o país até agora resistiu. Este tipo de acordo é uma relação de Estado para Estado e precisaria passar pelo governo federal”, explicou, destacando que, desde os ataques de 11 de Setembro, os Estados Unidos assumiram uma postura de polícia internacional. “Agentes agem com ou sem autorização em outros países, prendem, torturam e assassinam”, diz.


A assessoria de imprensa do Itamaraty disse que ninguém se posicionaria sobre as revelações dos documentos. Procurado por meio de sua assessoria, o ex-governador José Serra não retornou o contato da reportagem.