Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Tucanistão: a província de São Paulo e seus longos tempos bicudos

tucanistao
Vladimir Safatle, filósofo e professor da USP, publica hoje na Folha de S. Paulo um texto daqueles do tipo “seria cômico se não fosse trágico”.
Trata da longa dinastia tucana em São Paulo, ao qual chama de “Tucanistão”.
O mais avançado dos Estados brasileiros é, curiosamente, aquele onde há mais tempo nada muda, senão o membro da confraria bicuda.
E muda, aliás, muito pouco.
Montoro, Covas, Serra, Alckmin.
Safatle escreveu ontem, no máximo.
Não pegou a última tucanagem, a de se revelar um e-mail aumentando as medições de obra “para a campanha”, como escreve nm e-mail a diretora da construtora Tejofran.
Empresa que, aliás, nasceu de uma firma de limpeza de escritórios  comprada em 1975 por Antonio Dias Felipe, o Português, amigo de Mario Covas e padrinho de seu filho Mario Covas Neto, o Zuzinha.
Hoje, ela divide  contratos mililionários das obras de reformas de trens do Metrô paulista, ao lado da Siemens, da Alston , da Bombardier…
Dela, este Tijolaço já tratou aqui.
Agora, acompanhe Safatle em sua visita ao Tucanistão.

Tucanistão

“Bem-vindos ao Tucanistão, a terra da plena felicidade. Vocês acabam de desembarcar no aeroporto internacional que leva o nome do fundador de nossa dinastia, governador de nossa terra há 32 anos. Desde então, nossa amada dinastia está presente no coração de nosso povo de maneira praticamente ininterrupta.
Em nossos planos, haveria um Expresso Bandeirante que ligaria o aeroporto ao centro de nossa capital por trens rápidos. Ele não saiu do papel, mas isso não importa. Isso permitirá vocês passarem de carro lentamente pelo mais novo campus de nossa grande universidade, que leva o nome de nosso Segundo grande líder. No momento, ela está falida, com um deficit de 1 bilhão de reais produzido depois da passagem de um interventor nomeado pelo nosso Quarto grande líder. O próprio campus está sem aula por ter sido construído em terreno contaminado, mas tudo isso também não importa.
Depois do campus, vocês conhecerão o caudaloso rio Tietê. Há décadas ele está sendo despoluído. Grandes especialistas internacionais garantem que seu nível de poluição está caindo, mas ainda demorará algumas décadas para que os incautos sejam capazes de enxergar tal maravilha. Por falar em água, estamos passando atualmente por um “estresse hídrico de proporções não negligenciáveis”, mas não se preocupem. Como disse uma rainha francesa: quem não tem água que tome suco.
Se vocês olharem mais à frente verão nosso maravilhoso metrô cruzando velozmente nossa marginal. Não se deixem impressionar pelo fato de ele ser menor do que o de cidades como Santiago, Buenos Aires ou Cidade do México. Nós amamos nosso metrô do jeito que ele é, mesmo que inimigos tenham espalhado a informação de que investigações na Suíça e na França descobriram esquemas milionários de desvio e superfaturamento. Todos sabem que nossa dinastia é incorruptível. Se algo aconteceu, nosso Terceiro-Quinto grande líder não sabia de nada.
Não se espantem também com o tamanho dos muros e aparatos de segurança. Nossa polícia, que mata mais do que toda a polícia norte-americana junta, um dia conseguirá dar conta de todos esses bandidos. Nosso Terceiro-Quinto grande líder está pessoalmente empenhado nisso.
Alguns podem se impressionar com o fato de tanto fracasso não abalar nosso amor por nossa dinastia. É que eles ainda acham que devemos avaliar nosso líderes por aquilo que eles são capazes de fazer, mas nós descobrimos o valor do amor incondicional. Nós os amamos porque… nós os amamos. Por isso, nossa terra é o lugar da pura felicidade. O Tucanistão é a locomotiva do progresso imaginário, alimentada por choques tortos de gestão.”

Vereador: "negros já estão quase brancos, saindo com loira, comendo em restaurantes"

:

Em discussão na Câmara de Rio Grande (RS) acerca da reserva de 20% de vagas para pessoas autodeclaradas negras ou pardas no serviço público municipal, o vereador Wilson B. Duarte da Silva (PMDB) constrangeu boa parte do público ao dizer que "os negros querem se favorecer, isso que é racismo"; segundo ele, "os negros já estão quase brancos, estão saindo com loira, polaca, estão comendo em restaurantes..."

Rio Grande do Sul 247 – Em discussão na Câmara de Rio Grande (RS) acerca da reserva de 20% de vagas para pessoas autodeclaradas negras ou pardas a fim de ingressarem no serviço público municipal, o vereador Wilson B. Duarte da Silva (PMDB) constrangeu boa parte do público presente. De acordo com o parlamentar, "os negros querem se favorecer, isso que é racismo, afinal os negros já estão quase brancos, estão saindo com loira, polaca, estão comendo em restaurantes...". Leia abaixo texto de Jailton de Freitas Neves, coordenador do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe, publicado no Jornal Agora:

Na Sessão Plenária em que a pauta discutida na Câmara de Vereadores do Rio Grande/RS era o Projeto de Lei que dispõe sobre a reserva de 20% de vagas para autodeclarados negros e pardos para o ingresso no serviço público municipal. A Casa Legislativa estava amplamente ocupada por representantes de movimentos negros, coletivos, ONG's, assim como cidadãs de diversos setores da sociedade riograndina, dentre as manifestações dos parlamentares, causou repúdio a todos presentes a fala do vereador Wilson B. Duarte da Silva (Kanelão) – PMDB.

O vereador Kanelão não se constrangeu em desqualificar a luta do Povo Negro entoando um discurso desrespeitoso àqueles que lutam por igualdade de oportunidades e contra toda forma de opressão: "Os negros querem se favorecer, isso que é racismo, afinal os negros já estão quase brancos, estão saindo com loira, polaca, estão comendo em restaurantes..."

Desprezando os índices estatísticos nacionais e a realidade de nossa periferia, assegurou que o povo negro não necessita de políticas públicas para inserção no mercado de trabalho, uma vez que já frequentam restaurantes, galgam posições e até casam-se com brancas (os). Para o Vereador, o alegado embranquecimento dos Negros da cidade do Rio Grande, respalda a posição contrária às ações afirmativas. Não é de espantar a posição do vereador Kanelão - como representante da burguesia - à defesa de seus interesses. Discurso de teor racista, que seguido de vaias, causou indignação a todos.

Dados divulgados pelo próprio governo demonstram que a mestiçagem racial não democratizou, de maneira alguma, as relações entre as "raças". Isso simplesmente porque a riqueza do nosso País não foi "miscigenada". Nos últimos dez anos dos governos do PT, os homicídios praticados contra jovens brancos diminuíram 33%, enquanto entre os jovens negros cresceu 23,4%. Os negros que representam 52% da população brasileira aparecem como 67% dos moradores das favelas. O número de 41.127 negros mortos, em 2012, e 14.928 brancos é um retrato cruel das diferenças raciais no Brasil e apenas apontam o estado emocional subjacente que vive cada pessoa e cada família negra brasileira.

Embora trabalhem tanto quanto os brancos, os negros recebem salários muito menores. Conforme a Síntese de Indicadores Sociais 2012, publicada pelo IBGE, enquanto um branco recebe em média 3,5 salários mínimos mensais, uma simples mudança no tom da pele derruba esse rendimento para 2,2 salários no

Estado, o que representa uma diferença de 59%.

Como a dominação de classe, combinada à opressão racial, se manteve, o mito da democracia racial permanece até hoje como escudo ideológico dessa dominação/opressão. O Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe repudia o discurso e atitude do vereador Kanelão e se coloca como alternativa na luta contra o racismo burguês e capitalista e na defesa dos trabalhadores (as) negros(as) do Rio Grande. Esta luta transcende as questões raciais, pois mostra ser uma luta de classe, que precisa ser combatida com todo vigor.

Itaú lucra por País não ter desemprego que Ilan pediu

:

Balanço do banco das famílias Setúbal e Moreira Salles prova que fórmula recessiva defendida por economista-chefe e sócio Ilan Goldfajn era furada; ex-BC pediu e insistiu por cortes no mercado de trabalho; alegava que só demissões poderiam controlar inflação; na prática, política econômica de preservação de empregos fez Itaú Unibanco bater recorde de lucro no segundo trimestre, aumentar concessão de crédito e ter inadimplência reduzida; houve até margem para ganhos com tarifas cobradas dos clientes; diante do resultado de R$ 4,9 bi no período, presidentes Roberto Setúbal e Pedro Moreira Salles devem estar gratos por medidas amargas defendidas por subordinado não terem sido levadas a sério

247 – Os resultados divulgados na manhã desta terça-feira 5 pelo Itaú Unibanco, das famílias Setúbal e Moreira Salles, referentes ao segundo trimestre, mostraram o quanto foi positivo para a economia a não aceitação dos conselhos dados e repetidos, em diferentes artigos, pelo economista-chefe da instituição, Ilan Goldfajn. Também sócio do banco. O ex-diretor do BC tornou-se, no ano passado, um arauto de desemprego como forma de esfriar a economia e controlar a inflação que, segundo ele, iria corroer a capacidade de compra e de pagamentos da população, Diante dessa projeção, defendeu cortes no mercado de trabalho para que ocorresse uma normalização nas relações comerciais. Goldfajn não se alongou, no entanto, sobre o que deveria ser feito com os milhões de desempregados que seu plano produziria.

Agora, o que se vê diante dos resultados do Itaú Unibanco no segundo semestre, o que se vê é que a fórmula era mesmo inútil. Sem que tivesse sido aplicada, a instituição viu a inadimplência decrescer, aumentou a concessão de crédito, acentuou no reajuste de tarifas bancárias e, em consequência, extraiu um lucro recorde, de R$ 4,9 bilhões no período. Pelo jeito, o economista-chefe tem agora um bom momento para rever suas teorias.

Abaixo, notícia da agência Reuters sobre o lucro recorde do Itaú:

Itaú Unibanco lucra R$4,9 bi no 2º tri; calotes caem, rentabilidade sobe

SÃO PAULO, 5 Ago (Reuters) - O Itaú Unibanco teve lucro recorde no segundo trimestre, apoiado no efeito de maiores taxas de juros nas operações de crédito, no controle da inadimplência e em maiores receitas com serviços.

O maior banco privado do país anunciou nesta terça-feira que teve lucro líquido de 4,899 bilhões de reais no período, alta de 36,7 por cento ante mesma etapa de 2013. Em bases recorrentes, o lucro foi de 4,973 bilhões de reais, avanço de 37,3 por cento. A previsão média de sete analistas consultados pela Reuters para esta linha era de 4,634 bilhões de reais.

A carteira de crédito teve evolução modesta, mas em ritmo superior ao de seus principais concorrentes privados, subindo 9,6 por cento no acumulado de 12 meses, a 487,623 bilhões de reais, no conceito que inclui avais e fianças.

Os destaques foram consignado (+62,1 por cento), imobiliário (+26,1 por cento) e cartão de crédito (+28,6 por cento). O empréstimo para pessoa física evoluiu 12,4 por cento. O crédito corporativo subiu 8,2 por cento, a 278,6 bilhões de reais, liderado pelo segmento grandes empresas (+9,6 por cento).

O avanço dos empréstimos veio acompanhado de queda nos calotes, a oitava consecutiva. O índice de inadimplência da carteira, medido pelo saldo de operações vencidas com mais de 90 dias, chegou a 3,4 por cento, ante 4,2 por cento um ano antes.

Apesar de aumentar o crédito em ritmo superior ao de rivais como Bradesco e Santander Brasil, o Itaú Unibanco viu a inadimplência cair, ao contrário dos outros dois, que divulgaram seus números na semana passada.

E o movimento do Itaú Unibanco foi alavancado pelo fato de o banco conseguir repassar aos clientes o custos maiores de captação devido ao aumento da Selic. A margem financeira com clientes deu um salto de 7,1 por cento na base sequencial, para 12,7 bilhões de reais.

A despesa do Itaú Unibanco com provisão para perda com calote somou 4,465 bilhões de reais no período. Descontados valores com recuperação de crédito, o montante foi de 3,23 bilhões de reais, ante 3,16 bilhões de reais no trimestre anterior e 3,65 bilhões em igual trimestre de 2013.
Em outra frente, as receitas do banco com tarifas e serviços avançou 17,4 por cento, para 6,39 bilhões de reais.

Com isso, a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, que mede como o banco remunera o capital de acionista, ficou em 23,7 por cento no trimestre em bases recorrentes, o maior desde o terceiro trimestre de 2010. O número foi de 22,6 por cento de janeiro a março e 19,3 por cento em igual etapa de 2013.
(Por Aluísio Alves e Guillermo Parra-Bernal)

Afrouxem os cintos que o “Aécioporto” sumiu

 Não chegou a duas semanas inteiras a repercussão na grande mídia da denúncia da Folha de São Paulo contra um ente abstrato, “Minas” – o jornal, ao menos na manchete denunciante, não acusou uma pessoa física, mas um ente da Federação por ter construído um aeroporto nas terras da família do candidato do PSDB a presidente, Aécio Neves.
Na edição de 20 de julho último, o diário paulista manchetou, na primeira página, que “Minas construiu aeroporto em fazenda de tio de Aécio”. A denúncia repercutiu muito pouco na grande mídia, com exceção do jornal que a divulgou, que publicou cerca de 50 textos sobre o tema – a maioria, cartas de leitores.
Contudo, apesar da frieza com que foi tratada pelo resto da imprensa escrita, a denúncia da Folha repercutiu intensamente na internet. Para se ter uma ideia, a reportagem original da denúncia teve 78 mil compartilhamentos no Facebook, sem falar da grande repercussão em outras redes sociais e na blogosfera.
Aliás, a blogosfera fez denúncias complementares sobre outros aeroportos esquisitos construídos pelo tal Proaero, programa da gestão Aécio Neves no governo do Estado que prometia construir ou reformar aeroportos regionais do Estado, mas que, segundo a mesma Folha, só construiu 2 aeroportos novos de 2003 (quando o programa foi criado) até hoje.
Porém, no veículo que transforma em notícia de fato o que sai na grande imprensa escrita, ou seja, no Jornal Nacional, a repercussão foi pífia, para dizer o máximo. Foram duas míseras reportagens, uma de 3 minutos e 17 segundos no dia 21 de julho (o dia seguinte à denúncia da Folha) e outra de 2 minutos e 18 segundos no dia 31 de julho. E mais nada.
Para que se possa mensurar a desproporção entre denúncias na Globo contra tucanos e contra petistas, matéria do Jornal Nacional sobre denúncia da revista Veja do último fim de semana sobre suposto vazamento de perguntas que a CPI da Petrobrás faria a funcionários e ex-funcionários da empresa teve duração de 4 minutos e 8 segundos e deve se estender indefinidamente, com a oposição batendo bumbo.
Uma mera busca no Google dá a dimensão da pouca atenção dada pela grande mídia ao caso. Pode-se contar nos dedos as matérias desses veículos corporativos. E há quatro dias não sai notícia nova – a última foi sobre Aécio ter admitido que usou o aeroporto.
Quando a denúncia eclodiu, este Blog entendeu que se tratava de preparação para ataque a Dilma que ainda virá, e que requereria, antes da divulgação, “prova de isenção” da mídia para esta ser levada a sério, já que existe uma percepção consolidada de que Globos, Folhas, Vejas e Estadões são parciais. E, ao menos aqui, esse entendimento se mantém.
A denúncia sobre o aeroporto, aliás, começa a cair rapidamente no esquecimento, como também foi previsto aqui. Apesar de o Ministério Público de Minas Gerais ter prometido investigar, há motivos de sobra para não acreditar nessa investigação.
Encheriam a pista do “Aécioporto” as denúncias contra Aécio que o MP mineiro arquivou sem sequer investigar. Casos muito mais graves, como o da Copasa, que envolve 3,3 bilhões de reais, foram sumariamente arquivados sem maiores explicações e o mesmo MP de Minas já arquivara denúncia anterior contra o aeroporto nas terras da família do tucano.
O mesmo aconteceu, em meados do ano passado, com o imenso escândalo dos trens do metrô e da CPTM em São Paulo, que envolve bilhões. As denúncias duraram até mais, algumas semanas, e tomaram chá-de-sumiço. Nunca mais foi dito nada. E o que é pior: o governador Geraldo Alckmin e o ex-governador José Serra praticamente nunca foram citados.
Aécio, por sua vez, já deu o caso por “encerrado”, apesar de jamais ter explicado nada. Aliás, ele tem se referido à “importância” do aeroporto que mandou construir e que ele e sua família provavelmente usaram mais do que qualquer outro. E a relevância da obra é a grande questão.
É possível provar que havia interesse público na construção do aeroporto de Cláudio? Se houvesse, não viveria trancado e com as chaves em mãos da família de Aécio. 14 milhões de reais foram usados para fim incerto e dificilmente uma investigação séria mostrará que Minas Gerais precisava da obra. Se for uma investigação séria, claro.
Agora, vale acompanhar a repercussão que a mídia dará à denúncia contra a Petrobrás feita pela Veja no final de semana. Apesar de aparentemente ser fraca – a Petrobrás explica que as perguntas para a qual treinou seus executivos foram extraídas do site do Senado Federal, nos dias 14 de maio e 02 de junho –, a mídia vai espremê-la até a última gota.
Como a denúncia do “Aécioporto” durou um pouco além do normal na mídia (para uma denúncia contra tucanos), alguns se animaram. A este Blog, porém, a estratégia midiática para afetar isenção nunca enganou. E uma coisa você pode escrever aí, leitor: a mídia cobrará muito caro do PT por tê-la divulgado. É só esperar.