Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

'Não é a velha Europa que dá o exemplo, é a América Latina"

São poucos os franceses que conhecem o nome da máxima autoridade da Igreja Católica no país, mas a imensa maioria sabe quem é o Monsenhor Jacques Gaillot. Homem, de olhar sereno e voz pausada, que fez de sua vocação religiosa uma opção pelos direitos humanos, especialmente os direitos dos pobres e priosineiros da injustiça. Em entrevista ao jornalista colombiano Hernando Calvo Ospina, Gaillot denuncia o clima de injustiça reinante na França hoje, diz que a Igreja Católica virou às costas para o povo pobre e caminha para virar uma seita, e aponta a América Latina como a região que deve servir de exemplo para os que lutam contra a injustiça.



Hernando Calvo Ospina



São poucos os franceses que conhecem o nome da máxima autoridade da Igreja Católica no país, mas a imensa maioria sabe quem é o Monsenhor Jacques Gaillot. Homem extremamente humilde, de olhar sereno e voz pausada, que sem usar frases grandiloquentes diz o que gostaríamos de escutar de muitos políticos.



Nasceu em 11 de setembro de 1935 em Saint-Dizier, uma pequena cidade da França. Aos 20 anos, deixou o seminário para realizar o serviço militar. Foi para a Argélia, onde havia uma guerra de libertação contra o colonialismo francês. Conta que foi uma sorte não ter sido obrigado a usar armas, pois foi destacado para trabalhos sociais, a viver com a comunidade.



- O que significou para você ter vivido essa guerra?



- Esta experiência começou a mudar a minha vida. Ali me encontrei com o Islã, uma religião muito diferente da católica e sobre a qual nada conhecia. Fiquei sabendo que os muçulmanos tinham fé em um Deus, que oravam e que eram hospitaleiros. Eles foram como meus irmãos. Esta interreligiosidade influiu em minha fé. Também vivi a violência da guerra, razão pela qual fui me convertendo em um militante da não violência. Realmente, a Argélia foi um seminário para mim.



- Após 22 meses na Argélia, você foi enviado a Roma e, em 1961, foi ordenado sacerdote. Até que, em 1982, foi nomeado bispo da cidade de Evreux, na França. Mas em 13 de janeiro de 1995, o Vaticano decidiu retirar-lhe essa missão pastoral. O que aconteceu?



Alguns dias antes dessa data fui chamado a comparecer diante das autoridades do Vaticano sem saber por quê. Ante minha incredulidade, em algumas horas fui declarado culpado e, em menos de um dia, foi decretada minha expulsão da diocese. O cardeal Bernardin Gantin, prefeito da Congregação dos Bispos, me propôs que eu assinasse minha demissão e assim poderia manter o título honorífico de bispo emérito de Evreux. Não assinei nada. Então me nomearam bispo de Partenia, uma diocese que não existe desde o século V, situada na atual Argélia.



Com minhas poucas roupas deixei a diocese de Evreux. Como não tinha onde ficar, me instalei durante um ano em um prédio recuperado por famílias sem teto e estrangeiros sem documentos, em Paris. Depois fui acolhido por uma comunidade de missionários.



- O que levou o Vaticano a tomar uma decisão tão drástica? Talvez suas posições políticas e compromissos sociais? Porque, vejamos: em 1983, foi um dos bispos que não votou a favor de um texto episcopal sobre a dissuasão nuclear. Em 1985, apoiou o levante palestino nos territórios ocupados por Israel, além de se encontrar com Yasser Arafat em Tunís. Em 1987, preferiu viajar até a África do Sul para visitar um preso, militante contra a segregação racial, ao invés de ir à peregrinação pela Virgem de Lourdes. Em 1988, defendeu na revista “Ele” a ordenação de homens casados. No mesmo ano se declarou a favor de dar a benção a homossexuais. No dia 2 de fevereiro de 1989, publicou na revista “Gai Pied” um artigo intitulado “Ser homossexual e católico”. Desde 1994, você se envolveu diretamente na fundação de associações de apoio a marginalizados, passando a ser conhecido como “O bispo dos sem”: sem documentos, sem teto...Não acredita que isso já seja o suficiente para conseguir inimigos entre os círculos de poder eclesiástico e civil?



Ainda que siga sem provas concretas até hoje, fontes confiáveis me disseram que o governo francês, em particular o ministro do Interior da época, Charles Pascua, tem a ver com a decisão do Vaticano. Não esqueçamos que, na França, este ministério está encarregado dos Cultos. Tenho certeza que um livro meu contra a lei de imigração foi a gota d’água que entornou o copo.



O Vaticano e o governo francês quiseram me isolar. Mas em 1996, no primeiro aniversário de minha partida de Evreux, alguns amigos criaram na internet a Associação Partenia (1), fazendo de mim um “bispo virtual”. Não imaginaram que eu iria acabar animando a única diocese em expansão, com mais fiéis no mundo e em diferentes idiomas.



Imediatamente agradeci ao Vaticano e a Pascua, porque eles me fizeram dar mais passos na direção da outra margem, onde encontrei outra vida. Agora tenho toda a liberdade, vivo na ação com os excluídos da sociedade. Posso viver com as pessoas, compartilhar suas alegrias e suas angústias. Tem sido maravilhoso conhecer todas as pessoas que conheci. Enquanto isso, Pascua está sendo processado por vários delitos e a Igreja a cada dia perde mais cristãos.



Como, você avalia atualmente a Igreja Católica?



- A Igreja nos ensinou que Deus quis trazer-nos as desgraças e assim nos leva à resignação. Isso não é cristão. A Igreja procura fazer Deus intervir para nos forçar a obedecer e a não pensar. Muitos discursos sobre Deus falam dele, mas quando alguém fala bem do ser humano, isso me diz muito de Deus. A Instituição segue impávida em seu pedestal, longe do povo e de Deus. A seguir assim, se converterá em uma seita, porque muitas pessoas estão partindo para outras religiões. A Igreja vive uma hemorragia.



A Igreja deve mudar, modernizar-se, reconhecer que os casais têm direito a se divorciar e a usar a camisinha, que as mulheres podem abortar, que homens e mulheres podem ser homossexuais e se casar, que as mulheres podem chegar ao sacerdócio e ter acesso às esferas de decisão. Deve-se revisar a disciplina do celibato para que os sacerdotes possam amar como qualquer outro ser humano, sem ter que viver relações clandestinas, como delinquentes.



A situação atual é perversa e destruidora tanto para os indivíduos como para a Igreja. O Vaticano é a última monarquia absoluta da Europa. A Igreja deve aceitar a democracia em todos os níveis. E deve mudar de modelo porque o atual não é evangélico.



- O que você pensa da Teologia da Libertação, que teve um desenvolvimento importante na América Latina?



Eu me interessei por ela porque é uma teologia que fala dos pobres. Não se fala da liturgia, nem do catecismo, nem da Igreja; fala-se do povo pobre. Ensina que são os próprios pobres que devem tomar consciência da necessidade de sua libertação.



Alguns de nós fomos muito tocados pelos ensinamentos de Dom Helder Câmara, no Brasil, um grande teólogo (2); do Monsenhor Leónidas Proaño, no Equador (3); de Oscar Romero, em El Salvador, e outros sacerdotes latino-americanos, principalmente. Para mim foi um choque brutal quando Romero foi assassinado celebrando a missa, em 24 de março de 1980. Ele havia deixado a Igreja dos poderosos para estar com os pobres. Achei admirável essa conversão.



Na América Latina, existiram alguns padres e freiras que pegaram em armas (4). Eu respeito sua decisão, não os julgo, ainda que não esteja de acordo com ela por ser um adepto da não-violência.



Evidentemente, a Teologia da Libertação é perigosa para os poderosos. Quando os pobres são submissos aceitam seu triste destino, então não há nada que temer, são pão abençoado para os poderosos. Os detentores do poder podem dormir tranquilos. Mas se os pobres despertam e adquirem consciência de sua condição, convertendo-se em atores da mudança, então isso produz medo no poder.



Parece que é terrível quando os pobres tomam a palavra e questionam a instituição eclesiástica. No mesmo instante, ela diz: “Atenção, cuidado com esses comunistas”. Porque sempre prevaleceu a obsessão da infiltração comunista. Por isso, regularmente, as ditaduras, os governos repressivos e o Vaticano se unem em um combate comum. Infelizmente não existem muitos rebeldes na Igreja, porque a instituição sempre formou para a obediência e para a submissão.



- Como você vê a situação social e econômica na França hoje?



Eu julgo uma sociedade em função do que ela faz pelos mais

desfavorecidos. E é claro que eu só posso fazer um juízo severo, porque na França não se respeita a todos os seres humanos. Para mim o problema número um é a injustiça que reina por toda parte. Os que estão no poder não investem nos pobres. Temos um governo que só favorece os ricos. Por isso temos três milhões de pobres.



Muitos de nossos cidadãos acreditam que os trabalhadores ilegais se aproveitam do sistema, sem saber que eles recebem o formulário de impostos em suas casas. Ou seja, eles são conhecidos pelo governo, mas como não estão com os papéis em dia não podem se beneficiar de nenhuma ajuda social. Isso é uma extorsão por parte do Estado!



E a Igreja o que faz? Tomemos como exemplo o que ocorreu em 23 de agosto de 1996, quando quase mil policiais das forças especiais forçaram a ponta de machado as portas da Igreja Saint-Bernard-de-la-Chapelle em Paris, tirando a força 300 estrangeiros em situação irregular. Eu estava escandalizado e desgostoso porque o próprio bispo havia pedido sua expulsão. E quando alguém expulsa humanos que se protegem em uma igreja, está dessacralizando essa igreja. Desgraçadamente, isso continua acontecendo.



E o que se faz com os estrangeiros ilegais? São jogados em centros de detenção, e recebem um tratamento próprio de campos de concentração. Isso é o que ocorre hoje na França. Nas prisões, ocorre um suicídio a cada três dias. É um número enorme. O único horizonte para muitos desses presos é o suicídio, Nunca se viu algo igual. Na Europa, a França tem o recorde de suicídios por enforcamento na prisão.



E o discurso sobre a crise econômica, onde se situa?



Nesta crise, não são os ricos que estão em crise, são os mais pobres. Protestamos o ano passado contra as leis propostas pelo governo porque elas penalizavam os pobres. Hoje, muitos franceses só vão ao médico, ao dentista, ao oftalmologista quando é algo verdadeiramente de urgência. E às vezes já é tarde. Os direitos sociais estão sendo eliminados. E a crise atinge as famílias. Se alguém comprou uma casa, perde o trabalho e não arruma outro, deve revendê-la. Isso traz muitos problemas de droga e delinquência.



A moradia social não é uma prioridade política, porque aqueles que estão no poder possuem boas mansões. Constrói-se pouco e as pessoas não sabem aonde ir, restando-lhes as ruas ou algum sótão insalubre. E isso não importa, ainda que existam muitos edifícios vazios em Paris. Quando chega o inverno, o governo fala de “planos”. Então, abrem-se ginásios ou algumas salas para abrigar os milhares que não tem onde morar. Mas esses “planos” não são solução para o frio. A solução é construir habitações dignas. É uma vergonha, é desumano e não é cristão deixar que centenas de pessoas morram de frio nas calçadas e ruas da França.



Como disse o escritor Victor Hugo: “Fazemos caridade quando não conseguimos impor a justiça”. Porque não é de caridade que necessitamos. A justiça vai às causas; a caridade, aos efeitos. Eu não estou dizendo que não se deve ajudar com um prato de sopa ou um abrigo a quem está nas ruas. Existem urgências. Eu faço isso, mas minha consciência não fica tranquila, porque penso que devemos lutar contra as causas estruturais que prendem essas pessoas na injustiça. O mais triste é que as pessoas vão se acostumando com a injustiça. E eu digo: Despertem! Tenham vergonha! Vamos nos indignar contra a injustiça!



Hoje, a injustiça está presente por toda a França. Existem oásis de riqueza, de luxo exorbitante, e extensos guetos de miséria. Na França, há uma violação flagrante dos Direitos Humanos. Por isso devemos combater, para que os direitos das pessoas sejam respeitados.



No ano passado, ocorreram manifestações massivas de protesto contra diferentes projetos do governo, que se fez de surdo para o barulho das ruas.



Eu acredito que, quando não se respeita o povo que se expressa nas ruas, não se tem em conta o futuro. Na França, ficou um sentimento de raiva. Isso não pode seguir assim. Não se pode seguir metendo a polícia por todas as partes para conter a inconformidade do povo. Isso está nos levando na direção de um regime policial. A injustiça não traz paz. É exatamente o contrário. Existe fogo sob uma panela que querem manter fechada. Ela pode explodir.



As suas lutas pela justiça não se dão só na França. Sua palavra e ação se manifestam em outros lugares também. Poderia dar alguns exemplos?



Seguimos lutando pelos direitos do povo palestino. Israel é um Estado colonialista que rouba terra palestina e exclui esse povo pela força. Há mais de 60 anos que a Palestina vive sob a ocupação israelense e a injustiça. E a chamada “comunidade internacional” faz bem pouco ou nada. Por isso estamos nos mobilizando em todas as partes para exercer uma pressão sobre o governo israelense. E uma das ações é boicotar os produtos vindos de Israel, principalmente aqueles que são produzidos nos territórios ocupados. Cerca de 50 produtos agrícolas são produzidos na Palestina para benefício israelense. Enquanto os palestinos viverem na injustiça, não haverá paz.



Cuba. Este é um país que tem futuro. Eu pude constatar que é um povo digno, corajoso e solidário. Em Cuba pode haver pobreza, mas não existe a miséria que se vê em qualquer país da América Latina, ou na França, ou nos Estados Unidos. Apesar do bloqueio imposto pelos EUA, todos têm saúde e educação gratuita, e ninguém dorme nas ruas. É incrível!



Eu faço parte do Comitê Internacional pela Libertação dos Cinco Cubanos presos nos EUA. Eles lutaram contra as ações terroristas que estavam sendo preparadas em Miami. Resolvi participar do Comitê porque me dei conta da injustiça cometida contra eles e que não pode ser tolerada.



- Qual a sua avaliação sobre a maneira pela qual a imprensa francesa trata os processos sociais e políticos alternativos que se desenrolam na América Latina? Por que essa imprensa tem a tendência a ridicularizar presidentes como Evo Morales e Hugo Chávez?



Esse comportamento da imprensa deve-se ao fato de que, regularmente, a França apóia a quem não deveria apoiar. É uma questão de interesses. Estes presidentes não fazem o que os ricos querem, assim a França se coloca ao lado dos ricos. É como faz na África também.



Agora, a participação das mulheres latino-americanas na política é sensacional. Uma mulher na presidência do Brasil é algo extraordinário! Na França, não fomos capazes nem de ter uma primeira ministra: somos tão machos! Ah, sim, uma vez tivemos a senhora Edith Cresson, mas ela não pode ficar por muito tempo já que tentaram massacrá-la em função de sua condição de mulher. Somos machos e vulgares como não se pode imaginar! Hoje, não é a velha Europa que dá o exemplo, é a América Latina. Devemos olhar para lá.



Duas últimas perguntas: o que outros altos membros da Igreja Católica pensam do senhor? E, como cidadão e ser humano, vê alguma alternativa para a situação social da França?



Em geral, minhas relações com os outros bispos são cordiais, ainda que alguns prefiram me ignorar. Não me enviam nenhum documento da Conferência Episcopal, não me convidam para a assembleia anual em Lourdes. Tampouco dizem o porquê, e eu também não perguntei, embora outros sacerdotes tenham perguntado, sem receberem uma resposta até hoje. Às vezes, isso não é confortável, mas o que me conforta é que estou em paz com minha consciência, por dizer o que penso, por denunciar a injustiça.



Quanto à segunda pergunta, tenho confiança e esperança nos homens e mulheres. Vamos seguir avançando. Existem movimentos cidadãos que estão criando um tecido associativo alternativo. Vejo muitas lutas que nascem e se desenvolvem pouco a pouco. É formidável! Cada um deve encontrar o caminho onde outros lutam. A unidade: é isso que pode ajudar a salvar a democracia e os direitos das pessoas. Eu tenho esperança.



Notas:



1) http://www.partenia.com/



2) Foi arcebispo de Olinda e Recife. Morreu em 27 de agosto de 1999.



3) Chamado de « Bispo dos Índios », e também de « O bispo vermelho». Exercia seu trabalho pastoral na cidade de Riobamba. Morreu em 31 de agosto de 1988.



4) Vários sacerdotes e freiras somaram-se às guerrilhas. O precursor foi Camilo Torres, na Colômbia, que morreu em combate em 15 de fevereiro de 1966. Na Nicarágua, durante a guerra contra a ditadura de Somoza, muitos seguiram seu exemplo, sendo Ernesto Cardenal o mais famoso.



(*) Hernando Calvo Ospina, jornalista colombiano residente na Europa, autor de vários livros, entre os quais: Salsa, Don Pablo Escobar, Perú: los senderos posibles y Bacardí: la guerra oculta



Tradução: Katarina Peixoto

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Plim, Plim !!!

By: Blog do Maurício Porto

Pergunte a Julian Assange

  
Natalia Viana é uma jornalista independente que tem um blog no site da revista Carta Capital e mantém parceria com o Wikileaks, de Julian Assange, o ciberativista que está incendiando as relações políticas internacionais com suas revelações surpreendentes e perigosas, o que o transformou em alvo da fúria ianque.
Na última terça-feira, Natalia, que edita o blog Carta-Capital Wikileaks (agora linkado do lado direito desta página), e que tem divulgado, em primeira mão, vazamentos que não interessam à grande imprensa brasileira, abriu o seu blog para perguntas que fará em entrevista com Assange.
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O fundador do WikiLeaks vai dar uma entrevista exclusiva para o público brasileiro.
A ideia é aumentar a comunicação direta com o Brasil, abrindo espaço para perguntas dos internautas.
Todo mundo pode participar. Basta enviar a sua pergunta como um comentário neste blog, incluindo nome completo e email para contato.
Eu e o pessoal do WikiLeaks vamos selecionar dez perguntas que serão respondidas por Julian.
Vamos selecionar em especial perguntas originais – já que o Julian deu muitas entrevistas ultimamente – e que tenham relevância para o público brasileiro e para o atual momento do WikiLeaks.
Claro, nem todo mundo será contemplado, mas a ideia que a entrevista seja o mais democrática possível.
As perguntas podem ser enviadas até as 18 horas da próxima sexta-feira, dia 21 de janeiro.
Já a entrevista vai ser publicada na próxima semana – somente na internet.
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Só reforçando os termos da proposição de Natalia: as questões a Julian Assange devem ser enviadas diretamente ao blog Carta Capital Wikileaks (veja link na relação de sites indicados pelo blog, do lado direito da página).
Para finalizar, reproduzo, abaixo, o perfil do ciberativista australiano, de acordo com a Wikipedia.
Julian Paul Assange (Townsville, 3 de julho de 1971) é um jornalista e ciberativista australiano. É um dos nove membros do conselho consultivo do WikiLeaks, um wiki de denúncias e vazamento de informações. É também o principal porta-voz do website.
Assange estudou matemática e física, foi programador e hacker, antes de se tornar porta-voz e editor-chefe do WikiLeaks. Fundou o WikiLeaks em 2006 e atua em seu conselho consultivo. Esteve envolvido na publicações de documentos sobre execuções extrajudiciais no Quênia, e isso lhe garantiu o prêmio Amnesty International Media Award de 2009. Também publicou documentos sobre resíduos tóxicos na África, procedimentos do Guantánamo, e outros. Em 2010, ele publicou detalhes sobre o envolvimento dos Estados Unidos nas guerras do Afeganistãoe Iraque. E então em 28 de novembro do mesmo ano o WikiLeaks e seus cinco parceiros de mídia, El País, Le Monde, Der Spiegel, The Guardian e The New York Times, começaram a publicar os telegramas secretos da diplomacia dos EUA.[ Por seu trabalho no Wikileaks ganhou outros prêmios, como o Sam Adams Award e o Index on Censorship do The Economist em 2008, além de ter sido considerado o “homem do ano” pelo jornal francês Le Monde em 2010.
Em 2010, após o vazamento da vasta massa de documentos sobre possíveis crimes de guerra cometidos na Guerra do Afeganistão e na Guerra do Iraque pelo Exército dos Estados Unidos, sua fama cresceu. Recentemente Assange perdeu a cidadania sueca e está à procura de um país que o receba. Em 30 de novembro, foi acusado de estupro e abuso sexual na Suécia e a Interpol o colocou em sua lista de procurados. No dia 7 de dezembro, em Londres, Assange apresentou-se à Polícia Metropolitana e negou a veracidade das acusações contra ele, sendo liberado nove dias depois.

'O Globo' conquista Prêmio Goebbels


WikiLeaks: ex-senador do DEM quis armar o país contra a Venezuela

Um telegrama obtido pelo site WikiLeaks aponta que o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) sugeriu que o governo dos Estados Unidos estimulasse a produção de armas no Brasil para conter supostas ameaças da Venezuela, Irã e Rússia.

Em correspondência assinada pelo ex-embaixador americano Clifford Sobel, o diplomata relata o diálogo com Heráclito, que na época presidia a Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado. O senador nega a conversa. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.



De acordo com o documento, o senador pediu uma reunião "urgente" com Sobel. Na conversa, Heráclito teria se declarado "verdadeiramente preocupado" com a influência do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Ele teria sugerido um plano para armar Brasil e Argentina contra a suposta ameaça bolivariana, "antes que fosse tarde".



Segundo a correspondência, o senador sugeriu ainda acionar empresas privadas para mascarar a ação americana. Em outro telegrama, de 2008, Sobel afirma que Heráclito relatou a suposta presença de terroristas em uma organização não governamental (ONG) controlada por petistas no Piauí e disse temer a instalação de uma guerrilha esquerdista em Rondônia.

Nicolelis é alvo de sites da extrema-direita americana: contas não ajustadas da eleição


Na seqüência, vieram, entre outros, o Inquision News, o Angelqueen.org, ora copiando LifeSite News.Com, ora o Rorate Caeli.

O estopim dessas manifestações foi este artigo do professor Miguel Nicolelis, especial para o Viomundo: Uma coisa estranha aconteceu em Natal , publicado em 26 de outubro de 2010, a seis dias do 2º turno da eleição presidencial brasileira. O Rorate Caeli salienta o “apoio incondicional” de Nicolelis à então candidata Dilma Rousseff (PT) e reproduz estes dois trechos do texto de Nicolelis, publicados no Viomundo:

Voltando à estratégia americana de ganhar eleições, numa segunda fase, caso o oponente sobreviva ao primeiro assalto, apela-se para outra arma infalível: a evidente falta de valores cristãos do oponente, manifestada pela sua explícita aquiescência para com o aborto; sua libertinagem sexual e falta de valores morais, invariavelmente associada à defesa do fantasma que assombra a tradição, família e propriedade da direita histérica, representado pela tão difamada quanto legítima aprovação da união civil de casais homossexuais. Nesse rolo compressor implacável, pois o que vale é a vitória, custe o que custar, pouco importa ao George Bush tupiniquim que milhares de mulheres humildes e abandonadas morram todos os anos, pelos hospitais e prontos-socorros desse Brasil afora, vítimas de infecções horrendas, causadas por abortos clandestinos.

George Bush, tanto o original quanto o genérico dos trópicos, provavelmente conhece muitas mulheres do seu meio que, por contingências e vicissitudes da vida, foram forçadas a abortos em clínicas bem equipadas, conduzidas por profissionais altamente especializados, regiamente pagos para tal prática. Nenhum dos dois George Bushes, porém, jamais deu um plantão no pronto-socorro do Hospital das Clínicas de São Paulo e testemunhou, com os próprios olhos e lágrimas, a morte de uma adolescente, vítima de septicemia generalizada, causada por um aborto ilegal, cometido por algum carniceiro que se passou por médico e salvador.

LifeSiteNews.Com diz:


Papa Bento XVI é um firme defensor do direito à vida e dos valores da família, é improvável que estivesse ciente de artigo de Nicolelis, quando fez a nomeação.

Um dos entrevistados afirma:

Esperamos que a Santa Sé investigue o passado do professor Nicolelis. Não podemos permitir que a Pontifícia Academia seja corrompida por “católicos” que afirmam ser pessoalmente contra o aborto, mas que se opõem à Igreja publicamente sobre essa e outras questões cruciais. Essa falsidade da fé não tem lugar tão perto do coração da Igreja.

Os comentaristas desses sites vão além.

O Santo Padre não teve acesso ao seu CV [curriculum vitae] completo, mas parcial. Esse professor deve, respeitosamente, ser convidado a se demitir. Ele não representa os valores da vida católica.


Eu não tenho nenhuma dúvida de que existe um esforço organizado para destruir a Igreja por dentro com a ajuda de fora e que o Papa Bento pode estar em perigo.


Homem [Nicolelis] com moral anticristo.

Que pena que não existem mais fogueiras para queimar os hereges.

Nossa Senhora da Aparecida nos livre dos comunistas!

A Pontifícia Academia de Ciências tem as suas raízes na de Lincei, fundada em Roma, em 1603, a primeira exclusivamente científica no mundo. O físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano Galileu Galilei (1564-1642) integrou-a. O astrofísico inglês Stephen Hawking, responsável por contribuições fundamentais ao estudo dos buracos negros, faz parte atualmente. Nicolelis será seu colega. Conversamos com ele sobre a eleição, a condenação por sites da extrema-direita e a patrulha por algumas pessoas de esquerda no Brasil.

Viomundo – Vou começar pelos sites da extrema-direita católica dos EUA, Europa, México e Brasil, que claramente condenam a sua nomeação. Dizem que o Vaticano nomeou um ateu, defensor da descriminalização do aborto, da união civil entre homossexuais e que apoiou a marxista Dilma Rousseff para a presidência do Brasil. O senhor teve de assinar qualquer documento se comprometendo a não se manifestar sobre esses temas considerados tabu pela Igreja Católica?

Miguel Nicolelis – Evidentemente que não. E se tivesse de fazê-lo, eu nunca aceitaria. Os estatutos da Academia são claros. A Academia é laica e não é formada exclusivamente de católicos. As pessoas são indicadas pelo mérito científico e não por afiliação ou crença religiosa. A carta que recebi após a escolha deixou isso muito claro

Viomundo – Como foi indicado para a Academia?

Miguel Nicolelis – Não tenho a menor ideia. Só soube que havia sido eleito, pois me pediram depois algumas informações. Eu não sabia que iria ser anunciado pelo Papa nem que iria ser o único nome da lista.

Viomundo – Como esses sites radicais americanos souberam das suas posições político-religiosas?

Miguel Nicolelis – Pasme! Imediatamente após a minha nomeação, um brasileiro, que não se identificou, deu dica a um site americano da extrema-direita religiosa. Ele pegou um texto meu sobre a eleição presidencial, publicado pelo Viomundo, traduziu para o inglês – muito mal, por sinal –, e enviou para os Estados Unidos. No mesmo dia, saiu uma nota contra a minha eleição. A partir daí se proliferou, batendo na mesma tecla: o Papa indicou para a Academia uma pessoa que defendia a descriminalização do aborto e a união civil entre pessoas do mesmo sexo. O que é pura verdade. Eu não fui abduzido por nenhum Alien nem introduziram um microchip na minha cabeça para falar o que eu falei (risos).

Viomundo – Eles dizem que houve “engano do Papa”, que “o Papa desconhecia o seu currículo completo”… O senhor seria um cientista “infiltrado”, como disseram também?

Miguel Nicolelis – “Infiltrado” (risos), não sou. Todo o meu histórico é público, conhecido. Eu nunca escondi que não participo da igreja católica nem tenho crença religiosa. O que o pessoal desses sites não se dá conta é que se o Vaticano visse as minhões concepções ideológica, política e religiosa como obstáculo não teria me nomeado. A questão científica é o parâmetro decisório. Tanto que ninguém pediu para eu tomar qualquer posição contrária às minhas crenças pessoais.

Viomundo – O senhor mora nos Estados Unidos há 20 anos. Viveu alguma experiência semelhante lá?

Miguel Nicolelis — É a primeira vez. E olha que já escrevi muito lá. As minhas posições, insisto, são bem conhecidas.

Viomundo – O que mais o espantou nesse episódio?

Miguel Nicolelis — O fato de que existe alguém no Brasil que se preocupa em pegar um texto como o meu, traduzir e remeter para sites da extrema direita americana. Talvez esse indivíduo não saiba, mas nos Estados Unidos, ele coloca a pessoa em risco. Ele está transformando essa pessoa que quer apenas debater politicamente, ideologicamente, religiosamente em eventual de algum fanático.

Esse episódio mostra como a globalização dos movimentos radicais é competente e que o Brasil não está fora desse circuito, não. Tem gente aqui conectada aos radicais de de direita dos EUA. Gente que não se furta em destruir instaneamente o caráter e a reputação de uma pessoa a partir de uma coisa minúscula. É assustadora também a violência verbal de alguns leitores/comentaristas. É um lingujar que foge a qualquer padrão de civilidade. Parece que vivem em outra galáxia. Vêem conexões que só existem na cabeça deles. Tem gente que diz que eu vim do Brasil comunista, da marxista Dilma Rousseff.

Viomundo – Seria uma tentativa de intimidá-lo?

Miguel Nicolelis – Com certeza. Entre os comentaristas desses sites, tem gente do meu estado, a Carolina do Norte. Até o endereço do meu laboratório lá, colocaram. Podem até querer me intimidar, mas não vão conseguir.

Viomundo — Mas houve alguma ameaça explícita, aqui ou lá?

Miguel Nicolelis – Por enquanto, não. Aqui, se houver, comunicarei imediatamente à Polícia Federal. Nos Estados Unidos, a coisa é bem diferente. Ninguém pode chegar ao meu laboratório sem passar pela segurança. Além disso, nessas situações, há um protocolo-padrão que é automaticamente acionado.

Neste momento, estou em Natal. O pessoal do meu laboratório contatou então a Duke, alertou sobre esses sites e a polícia da universidadade já começou a monitorar o caso. A segurança do meu laboratório foi reforçada. Lá existem precedentes. Daí a a cautela maior.

Viomundo – Em blogs progressistas apareceram comentaristas criticando também a sua eleição para a Pontifícia Academia de Ciências, dizendo até que “teria se vendido ao Papa”. O que achou?

Miguel Nicolelis – Um absurdo. Primeiro, ela é laica. Segundo, fui convidado a me tornar membro da mesma academia a que Galileu Galilei pertenceu. Aceitei com a garantia de que ela está interessada na minha ciência e não na minha opção (ou falta de opção) religiosa. Espanta-me verificar que mesmo em sites progressistas ocorra tamanho grau de patrulha ideológica (ou religiosa).

Meu outro colega de Academia é o fisico Stephen Hawking, que professa as mesmas opiniões que eu. Agora eu me pergunto: a troco de quê de que eu iria recusar a oportunidade de bater bons papos com um dos maiores físicos da história?

Viomundo – Voltando aos blogs da extrema-direita católica. Essa retaliação à sua eleição seria uma continuação do que aconteceu na eleição presidencial brasileira, quando o candidato tucano instigou o conservadorismo, trazendo para a campanha o discurso moralista da extrema-direita?

Miguel Nicolelis — Eu acho que tem uma relação muito próxima. Aparentemente a eleição acabou, mas as contas ainda não foram todas ajustadas. Mesmo uma pessoa como eu, com uma vida política restrita ao indivíduo permanece na lista do ajuste de contas.

Essa radicalização do discurso político que é muito forte nos EUA e começa a ocorrer aqui, como aconteceu na campanha, é assustadora. O seu adversário político, ideológico, passa a ser o seu inimigo. E esse inimigo é passível de qualquer tipo de punição, até mesmo a morte. Eu não consigo imaginar que essas pessoas que propagam mensagens de ódio, vingança, violência, podem ao mesmo tempo se dizer cristã

* Meu twitter: @conceicao_lemes, siga à vontade.