Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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domingo, 27 de abril de 2014

HAITIANOS, GASPARI, VIANA E A HIGIENIZACÃO O que define melhor a elite bandeirante (e seus sabujos): facilitar a viagem ou desovar haitiano ? ​


Quatrocentos haitianos chegaram a São Paulo munidos do direito de ir e vir que a Constituição brasileira assegura a qualquer um que esteja em território nacional, de forma legal.

Chegaram a São Paulo, ao Acre, ponto de chegada, Porto Velho, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre.

Mas, só São Paulo deixou escapar do pré-sal de sua História o que o Governador do Acre Tião Viana chama de racismo e tentativa de higienização da sociedade brasileira.

Fossem americanos do Sul ou membros do Tea Party seriam recebidos pela Folha (*) e seus milhares de colonistas (**) com um tea-party no aprazível solar da Barão (sic) de Limeira.

Para situar o amigo navegante, o ansioso blog sugere ouvir a impecável entrevista do governador Tião Viana à Radio Eldorado, onde os apresentadores Haisem Abaki e Tatiana Ferraz (essa moça vai longe ! Um dia o Kamel descobre ela !) -
http://radio.estadao.com.br/audios/audio.php?idGuidSelect=273B7520AF0D499C859EC9337AB30A49.

Os implacáveis entrevistadores começam a perguntar se ele tinha avisado ao Alckmin que os haitianos estavam chegando.

A resposta dá o tom do que viria adiante.

Seria a primeira vez na História em que um governador ligaria para outro para avisar que chegavam pessoas a seus Estados.

Chegam a São Paulo, diz ele, todo dia, milhares de estrangeiros e ninguém avisa ao Alckmin: olha, tá chegando aí um americano de Boston !

(Se for de Harvard, possivelmente o colonista dos múltiplos chapéus. irá recebe-lo em Guarulhos.)

Seria uma censura prévia, pergunta Viana à implacável entrevistadora.

(Como diz o Mino, no Brasil os jornalistas são piores que os patrões.)

Os cidadãos em território brasileiro são livres para ir onde quiserem.

(O dos chapéus diz no título de sua enfurecida colona, no Globo e na Folha (êpa ! Êpa !): 

“Tão Viana desovou haitianos” – o que, por si só dava um belo processo na Justiça !

“Desova” – lembra o que, amigo navegante ?)

Desde dezembro de 2010, chegaram ao Acre 20 mil haitianos – sem aviso prévio, lembra Viana.

Desses, não há NENHUM sem documento !

Todos tem visto concedido pelo Estado brasileiro, ou CPF, ou Carteira do Trabalho.

E vão para onde querem e bem entendem.

Como qualquer um em território nacional !

“Não impeço ninguém de ir para onde quiser !”

O que está por trás disso, pergunta-se o “desovador” de haitiano: preconceito racial ?

Nenhum dos outros estados para onde foram haitianos reclamou.

Para evitar o verbo “desovar”, a Secretaria de Justiça (!)  de São Paulo, Eloisa Arruda, chamou Viana de “irresponsável !”.

Consta que chamou também de “coyote”, aqueles criminosos que cobram para traficar mexicanos ilegais para os Estados Unidos.

Viva a Chuíça (***) !

Tião Viana respondeu que ela não tem autoridade política para se dirigir a ele – “não tem estatura”.

(Mas, no jornal nacional, ela é superior a ele, governador…)

E Tião Viana trata de responsabilizar a elite paulista que, desde o Século XVIII, se comporta assim.

( “Bandeirante” adorava índio …)

A elite e os imigrantes meridionais que, aqui, incorporam seus vícios.

“Não mando ninguém para São Paulo nem para lugar nenhum !”, diz Viana

Mas, a Patricia Soneto no jornal nacional (essa, o Kamel já descobriu … http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-nacional/t/edicoes/v/mais-de-500-imigrantes-haitianos-ja-passaram-por-igreja-em-sp-desde-o-inicio-do-mes/3303466/) assegurou que Tião “facilita a viagem” (só faltou o “desovar”) para São Paulo !

“Os haitianos vão para onde querem !”, disse Viana.

Esses 20 mil haitianos tem uma rede de parentes no Brasil e, desde o Haiti, que se articulam para ir a diferentes pontos do pais.

O Acre é uma porta de entrada.

E a elite de São Paulo que afie as garras da intolerância (que pode ter outro nome), porque, segundo Viana, chegam ao Brasil, agora, também imigrantes do Senegal e da Nigéria.

Sem passar por Boston …

Em tempo: a Folha neste domingo celebra a troca de ombudsman. A Folha dedica mais espaço a colonas como a dos chapéus do que a informação. E o ombudsman não pode ombudsmar colonistas. E querem se levar a sério …

Paulo Henrique Amorim



(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

(***) Chuíça é o que o PiG de São Paulo quer que o resto do Brasil ache que São Paulo é: dinâmico como a economia Chinesa e com um IDH da Suíça.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Obama: o mercado vai bem, o povo vai mal

Solidariedade a Genoino e Delúbio se traduz em mais de R$ 1,6 milhão.

Um Brasil aos cacos? ciclo de governos do PT reduziu em 50% o desemprego no país

11,6 milhões de brasileiros tem carteira assinada: um Portugal inteiro com trabalho formal

Brasil vive o menor desemprego de sua história: 5,4% nas seis regiões metropolitanas

Lula e a questão fundamental: como fazer política hoje? (assista: https://www.youtube.com/watch?v=csK6SAqw-Jg#t=21)


Adultos em idade produtiva compõem a maioria dos lares nos EUA que depende de ajuda estatal para alimentação: de cada 7 pessoas, uma recebe vale refeição.

por: Saul Leblon 

Arquivo


















A economia dos EUA caminha a duas velocidades. A expansão em 2013 foi tímida: 1,9% de crescimento. No último trimestre avançava a bordo de uma taxa anualizada de 3%, mas ainda abaixo dos 4% preconizados pelos otimistas.

O consumo cresce, mas os pedidos de seguro desemprego também. Um dos principais patrimônios dos EUA, a classe média afluente, derrete.

Os empregos são de baixa qualidade, a precariedade impera: a curva de crescimento dos salários, comparativamente a dos lucros, mostra a relação mais baixa da história dos EUA. 

Pessoas em idade de trabalhar agora compõem a maioria dos norte-americanos que dependem do vale-refeição do governo para comer.

Trata-se de uma ruptura de padrão: a norma, depois da depressão dos anos 30, era uma clientela feita de crianças e idosos.

Um em cada sete norte-americanos recebe ajuda alimentar.

O conservadorismo no Congresso quer cortar  US$ 4 bi/ano do programa –que hoje soma US$ 80 bi/ano, o dobro do valor de cinco anos atrás. Lá como cá, o mercadismo entende que isso  gera  ‘dependência e abuso’.

Esse o mundo real.

Na  atividade papeleira a história é outra: a banca colhe bons lucros, as bolsas decolam. Bônus milionários  voltaram a tonificar os pelos dos lobos de Wall Street.

Lembremos: são quase cinco anos de injeção mensal de US$ 85 bilhões nas mãos da matilha financeira.

Nesta semana, a ração foi mitigada com um segundo corte: o Fed depositará US$ 65 bi mensais na cuia dos lobos.

Do acúmulo efervescente parte o frisson responsável, em boa medida, por acionar a viagem de volta dos capitais estacionados em vários pontos do planeta.

A matilha fareja carne fresca no habitat original;  prepara-se para ocupar posições.

O ensaio de êxodo explica a  instabilidade cambial nas economias em desenvolvimento. Atinge, sobretudo,  dependentes de fluxos especulativos, que não conseguem segurar a fuga de capitais.

Céticos dizem que  há uma, várias,  para dizer a verdade, bolhas embutidas em uma recuperação  inflada na circularidade do dinheiro descolado do sistema produtivo.

A julgar pelo que disse Obama 3ª feira, no tradicional discurso sobre o estado da arte do país, a suspeita guarda pertinência.

Após saudar a retomada nos indicadores, o democrata emendou um desabafo sobre o panorama debaixo da ponte:

"A desigualdade se aprofundou. A mobilidade ascendente se estancou, e há pessoas demais que não estão trabalhando", lamentou.

O paradoxo do renascimento sem vida foi desdenhado na abordagem  midiática.

Preferiu-se focar  o esforço de Obama para recuperar o tônus eleitoral de um prestígio esfarelado por cinco anos de hesitações sob o garrote implacável do conservadorismo.

A contabilidade política do democrata equipara-se atualmente a de Bush  em final do mandato : apenas 40% dos americanos o apoiam; somente 30% enxergam motivos para otimismo com o país

O fato de Obama não ter conseguido até hoje reajustar o salário mínimo norte-americano, congelado há 15 anos, diz muito sobre a natureza de uma recuperação sem povo a bordo. Ou pelo menos mantido longe da primeira classe.

Parodiando um general da ditadura sobre o  ‘milagre brasileiro’:  nos EUA  os mercados vão bem, o povo vai mal.

‘Deem  um aumento à América", exortou  Obama, em busca da anuência do Congresso para seu projeto de lei que eleva em 40%  o salário mínimo  -- hoje  20% menor do que o vigente no governo Reagan, lamentou.

A título de comparação: nos últimos 12 anos, o salário mínimo brasileiro teve um aumento de 70% acima da inflação.

O desemprego nos EUA –oficial— é de 6,5%. Lambe os dois dígitos entre os negros e hispânicos.

A título de comparação número dois: nos últimos 10 anos, caiu à metade o número de  desempregados no Brasil; foi  criado um Portugal  inteiro de vagas (11,6 milhões) com carteira assinada; ao final de 2013, nas seis principais regiões metropolitanas, a taxa de desemprego atingiria a sua mínima histórica: 5,4%. Não por acaso, a inadimplência recuou ao menor nível desde 2011, mesmo com o  estoque de crédito na economia tendo crescido 14,5%  no ano passado, para somar um volume equivalente a 56,5% do PIB  (girava em torno de 25% no ciclo tucano)

As chances de Obama sensibilizar uma Câmara dominada pelos republicanos desde 2010 são equivalem às de Dilma em convencer o Tea Party tupiniquim de que não se deve jogar fora a maior defesa do país nessa transição de ciclo mundial: seu imenso mercado interno.

No desencontro entre essas duas trajetórias  desenha-se a encruzilhada que divide as avaliações sobre a pretensão brasileira de se construir enquanto nação justa e  soberana , em plena era dos capitais globalizados.

O consenso que esbraveja contra a gastança aqui e contra o vale-refeição lá tem uma receita um pouco diferente de futuro: cabe  aos  ‘livres mercados’  a tarefa de aplainar o terreno,  ordenar os alicerces e modelar a distribuição da renda e da riqueza na sociedade.

‘Tirar o governo do caminho’, como  gosta de dizer o Tea Party, seita norte-americana que se avoca intimidades mediúnicas com a mão invisível do mercado.

‘Um governo mais leve’,  evoca a linguagem atucanada por aqui, quase um esperanto do jornalismo isento, abraçado agora  também pelo neto que constrangeria  o avô  se vivo fosse.

A decepção de Obama ao constatar que a tão aguardada recuperação não revitalizou a sociedade na mesma proporção que agitou os índices Down Jones,  ilustra a dificuldade de se atribuir ao mercado aquilo que ele não sabe fazer.

O conjunto sugere que a Presidenta Dilma deveria analisar detidamente as características da convalescença em curso da maior crise do capitalismo desde 1929.

Convém atentar para as armadilhas do caminho, antes de endossar aquele pedaço do seu entorno que  mal consegue disfarçar  o entusiasmo com a janela de oportunidade para ressuscitar a dobradinha feita de  ‘arrocho monetário e fiscal’.

O discurso do Obama de 3ª feira  é o reconhecimento de uma emergência social.

Algumas informações colhidas de reportagens da Associated Press e do jornal El Pais:

- o governo dos EUA gasta atualmente US$ 80 bi  por ano com ajuda alimentar - o dobro do valor registrado há cinco anos;

- desde os anos 80, a dependência de ajuda para alimentação cresce mais entre os trabalhadores com alguma formação universitária --  sinal de que sob a égide  dos mercados desregulados, a  ex- classe média afluente não consegue sobreviver sem ajuda estatal;

- cerca  de 28% por cento das famílias que recebem vale-refeição são chefiadas por uma pessoa com alguma formação universitária;

- hoje o food stamps atende  1 de cada sete norte- americanos;

- de  2000 a 2011 , salários baixos e desigualdade  foram responsáveis por 13% da expansão do programa – contra  3,5%  entre 1980 e 2000

- pesquisas relativas ao período de 1979 e 2005 (ciclo neoliberal anterior à crise) revelam que 90% dos lares norte-americanos viram sua renda cair nesse período; apenas 1% das famílias ascendeu à faixa superior a meio milhão de dólares.

- 21% dos menores norte-americanos vivem em condições de pobreza atualmente.

O alarme anti-arrocho  emitido por essas estatísticas não  invalida o fato de que o Brasil precisa construir uma nova máquina de crescer.

Mais que nunca, porém, deixa claro que essa não é uma obra a se terceirizar aos livres mercados, como percebeu um Obama engessado em tibieza pessoal, mas não só nela.

Numa economia longamente descarnada de sua base industrial,  e desfibrada por taxas de sindicalização operária as mais baixas da história, a correlação de forças reservou-lhe pouca margem de manobra.

Exceto apelar algo pateticamente à boa vontade... dos mercados.

O Brasil vive um momento histórico distinto.

Se a trepidação global ajustar a paridade do Real na faixa dos R$ 2,45 por dólar, como quer o governo,  na verdade será  bom para regenerar seu tecido industrial e vitaminar o saldo comercial.

Pressões inflacionárias que assaltem a economia pelo canal dos bens importados, porém, não podem ser descarregadas exclusivamente no ombro dos assalariados.

Ganho de produtividade extraído da prensa dos holerites  tem sido  a norma em uma receita de capitalismo indiferente ao trunfo de seu mercado de massa.

Não é mais assim.

E os dados de 2013 sobre  consumo, emprego e renda  evidenciam o ganho da mudança processada desde 2003.

A produtividade imprescindível à renovação dessa engrenagem requer a  construção de um outro percurso.

Certamente ele será mais longo que o ajuste instantâneo oferecido pelo ferramental ortodoxo.

Mas se afigura também mais consistente do ponto de vista político  --e mais sólido se bem sucedido na inserção do país em cadeias tecnológicas de abrangência global, associada à expansão da infraestrutura local.

A única forma de modular uma travessia desse tipo, sob comando democrático da sociedade e do Estado, é pela negociação política.

O engessamento de Obama  demonstra que apostar na indulgência do conservadorismo parlamentar para pavimentar esse  caminho leva ao desmanche político.

Dilma tem os instrumentos dos quais  Obama se ressente e Roosevelt dispunha nos anos 30/40.

O Brasil preserva em seu metabolismo uma estrutura de organização social e sindical que precisa e poder ser rejuvenescida.

Dispõe de um governo progressista que mudou, para melhor, a face da sociedade em uma década e pouco à frente do Estado.

As eleições de 2014 configuram excelente oportunidade para as duas pontas renovarem o seu estoque de força e consentimento na repactuação da democracia social brasileira.







quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Quando se chocar com a direita brasileira, pense na dos EUA

Qualquer brasileiro politizado e instruído que não seja muito rico e que não integre algum esquema empresarial ou político com interesses conflitantes com um mínimo de decência humana, teme e repudia o pensamento legítimo de direita e o ideário sobre organização social que essa ideologia luta para que se torne hegemônico nos quatro cantos da Terra.
Nem precisa ser “socialista”, seja lá isso o que for em um mundo atolado até o pescoço no capitalismo, que, por definição, significa a valorização do dinheiro em detrimento do ser humano. Sejamos honestos: se você não for canalha ou ignorante, entende que o pensamento de direita se baseia no egoísmo e na desonestidade intelectual.
O pensamento de direita só faria sentido em uma sociedade sem desigualdade de oportunidades, pois tal ideário se baseia na premissa do “mérito” sem levar em conta que vencer na vida (nos estudos e no trabalho, sobretudo) também depende de vantagens que as crianças e adolescentes recebem de herança dos pais.
Um dos exemplos mais eloquentes sobre como o ideário de direita é desonesto se encontra no sistema que impõe aos estudantes que disputam vagas no ensino público superior. Os vestibulares são uma aberração. Põem jovens paupérrimos, sem o mínimo acesso a bens culturais, para disputar vagas com jovens ricos que estudaram em escolas de excelência.
Grande mérito, o dos que chegam na frente…
Os ideólogos desse pensamento bárbaro e injusto, acalentado e difundido pela máquina de comunicação que a riqueza de que dispõe a direita impôs à humanidade, infectam qualquer sociedade livre, sendo sua verborragia obscena o preço a pagar pelas liberdades individuais. Temos que ser livres até para sermos os piores canalhas que se possa conceber.
No Brasil, a nossa direita choca as pessoas decentes e humanas mesmo que não tenham ideologia e politização. Muitos se chocam com o pensamento de direita sem nem saberem que é um pensamento político-ideológico.
Que cidadão decente, minimamente sensível e razoavelmente humanista pode concordar com o comportamento de alguém como o deputado Jair Bolsonaro, com seu racismo galopante, sua homofobia descontrolada e sua truculência (inclusive física) escancarada?
Bolsonaro, porém, não passa de expressão da direita desinibida, daquela que não tem vergonha de se assumir. Mas há outros expoentes desse pensamento que tentam disfarçar seus pendores autoritários, antidemocráticos, desumanos, egoístas.
Um Reinaldo Azevedo (colunista e blogueiro da revista Veja), por exemplo, simboliza a direita dissimulada, que não tem coragem de assumir seu ódio à diferença, seu apreço pela desigualdade, sua crença inabalável na segregação racial e social etc. Aliás, a própria revista, ou melhor, o próprio Grupo Abril é uma máquina de propaganda da direita, ou da ultradireita.
Só para abreviar este capítulo da direita brasileira, recorro ao verbete da Editora Abril na Wikipedia, de modo a resumir a natureza desse grupo empresarial:
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“(…) Em 5 de maio de 2006, a empresa de mídia sul-africana Naspers adquiriu 30% das ações do Grupo Abril. Para tanto, pagou 422 milhões de dólares. Tratou-se da terceira transação a fazer uso das possibilidades abertas pela emenda constitucional nº 36, de 2002, que permite a presença de capital estrangeiro em empresas jornalísticas e de radiodifusão – antes completamente vedada – até o limite de 30%.
O novo dispositivo constitucional fora ‘inaugurado’ pela própria Abril, quando, em agosto de 2004, ela recebeu um aporte do fundo de investimentos Capital Group, que passou a deter 13,8% da empresa. A Naspers foi um dos esteios do regime do apartheid na África do Sul e prosperou com a segregação racial(…)”
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Precisa dizer mais?
Enfim, a direita brasileira é horrorosa. Chocante mesmo. Sua luta incansável contra o programa Bolsa Família, programa emergencial para socorro de legiões de miseráveis que vem sendo elogiado e copiado até por grandes e prósperas democracias, resume o ideário da direita brasileira.
Ainda assim, há um certo pudor da “nossa” direita em assumir seu egoísmo imanente. Nunca se viu essa manifestação da maldade e do ódio chegar ao ponto de pregar contra o precário sistema público de saúde que o Brasil construiu e que, a duras penas, garante a cada brasileiro que não morra à míngua sem qualquer atendimento.
Ou seja: a direita brasileira tem limites, voluntária ou involuntariamente.
Quando se olha para o que a direita norte-americana fez com o país mais rico e desenvolvido do mundo, chega-se a dar graças a Deus pela direita que infesta o nosso país. Pode ser considerada altamente progressista, sob tal comparação.
Reflita, leitor, sobre o que a direita dos Estados Unidos vem fazendo nessa questão do orçamento federal. Está sabotando não só o próprio país, mas o mundo.
Em um momento em que a potência hegemônica começa a se recuperar dos estragos que o partido Republicano causou ao longo da primeira década do século XXI, esse partido se nega a aprovar o orçamento federal caso o presidente Barack Obama não retroceda da implantação de um arremedo de sistema público de saúde que mal chega aos pés do nosso SUS.
A conduta dos republicanos é tão imoral que chocou até a nossa direita. Na edição do Jornal da Globo da última terça-feira, até o colunista Arnaldo Jabor se insurgiu contra seus congêneres ideológicos norte-americanos. Sim, Jabor, que vive a vituperar contra “esquerdismo” em seus comentários naquele telejornal.
Reproduzo, abaixo, o comentário dele sobre o que está perpetrando o partido republicano.
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O Obama disse bem: o país está ameaçado por uma cruzada ideológica de direita… É isso, a alma republicana não admite a lei de assistência médica que beneficia 15% do povo, que não pode pagar.
Eles não admitem que pobres sejam ajudados porque, para americano, pobre é vagabundo, fracassado, e ninguém pode pagar por ele.
Dizem que ele nem é americano, o Obama. Que é comunista…
O partido Republicano está dominado pelo Tea Party e seu líder disse: ‘A lei da saúde é a mais sórdida lei que o ser humano já conheceu…’
O SUS americano, o ‘Obamacare’, já foi votado há três anos e o supremo tribunal federal já referendou, mas os republicanos querem chantagear o presidente de qualquer maneira, mesmo quebrando a América.
Sabe o que é isso, os Estados Unidos dando calote em suas dívidas? Imagine a repercussão no mundo, já em crise…
Mas os canalhas não ligam, são irracionais e loucos mesmo. Não se conformam com um presidente negro, preocupado com questões sociais, querendo taxar mais os ricos. Há racismo nisso, sim. Forte.
E há o desejo de destruir o seu mandato. E pior: além da chantagem, querem culpar o Obama pelo impasse, fingindo que querem negociar.
Já são quatro anos de sabotagem. Obama está definhando, mas não vai ceder. Só negocia se deixarem a saúde intacta.
Ele está certo. É melhor enfrentar essa chantagem, e sua desgraça, do que continuar essa ópera bufa
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Alguns dirão que é demagogia de Jabor, que, como a Globo, vem tentando melhorar a própria imagem. Mas esse pudor da direita brasileira mostra a distância que, graças a Deus, ainda separa os ideólogos de direita desta nação e os seus homólogos estadunidenses.
E note, leitor, que o sistema de saúde de Obama nem é um SUS da vida. Na verdade, para simplificar, trata-se de um mega plano de saúde estatal para que os mais pobres possam recorrer à medicina privada. E cheio de limites de coberturas que, em nosso sistema de saúde público, não há.
O egoísmo, pois, é uma instituição americana. A mentalidade do americano médio o faz levar os psicopatas do partido Republicano ao poder a intervalos tantos, o que faz com que o país mais desenvolvido da face da Terra tenha a menor expectativa de vida entre os países desenvolvidos. Além de pobreza e desigualdade que não se vê em nenhum país rico.
A boa notícia é que a nossa direita é mais envergonhada que a deles e não tem coragem de ir tão fundo nesse culto obsceno ao egoísmo, à desumanidade, à canalhice em estado puro. A má notícia é que essa mesma direita brasileira acredita que, um dia, poderá reproduzir por aqui a imoralidade vigente no sistema de organização social norte-americano.

sábado, 9 de março de 2013

INGLATERRA PODE ABANDONAR CONVENÇÃO DE DIREITOS HUMANOS


domingo, 16 de dezembro de 2012

"Mass Murder" nas escolas: aconteceu...mais uma vez!



A teimosia dos políticos, e dos especialistas americanos, em não discutir a livre venda de armas, a segurança nas escolas e programas de educação que valorizem o trabalho social, os objetivos de equipe e que diminuam as “guerras” entre grupos de “losers” e de “populars” nas escolas é, claramente, parte causal dos massacres. O recuo, durante a campanha eleitoral de 2012, do Presidente Obama em colocar com clareza a questão da livre venda e porte de armas automáticas mostra uma indesculpável rendição perante os mitos da direita conservadora e reacionária norte-americana. O artigo é de Francisco Carlos Teixeira.


As notícias chegadas nas últimas horas ( 14/12/12) nos dão conta de mais um ataque massivo – “mass murder” - de um atirador contra civis inocentes nos Estados Unidos. Desta feita o massacre, atingindo crianças, foi em Sandy Hook, Connecticut. A imprensa norte-americana, notável por seus meios e equipamentos, transmitiu do local desde cedo e assinalou, com um traço vermelho, que era hora de oferecer solidariedade aos familiares e evitar quaisquer debates políticos sobre. A polícia prometeu, por sua vez, “esclarecer todos os fatos”. Será isso mesmo?

Caso de Polícia, saúde mental e fenômeno social
O mais notável no massacre de Sandy Hook, e tristemente notável, é a repetição dos acontecimentos narrados pelas agências internacionais. No caso atual um atirador mata um familiar, possivelmente em casa, e então busca a escola em que ela trabalha – ainda falta apurar detalhes - , e ele mesmo estudara, e inicia um ataque em massa contra os pequenos alunos. O saldo ainda não confirmado aponta para possivelmente mais de trinta pessoas mortas, a maioria crianças. Sandy Hook é uma “elementary school”, sendo seus alunos crianças e pré-adolescentes. O atirador, Adam Lanza, morto no local, tinha 20 anos e estava pesadamente armado com armas automáticas compradas por sua própria mãe.

Os ataques desse tipo, em especial contra escolas, são repetitivos no caso americano, a ponto de contarmos 177 ataques contra “High Schools” (a partir de 1853) e 111 outros contra “Elementary schools”, incluindo o atual ataque contra Sandy Hook. Alguns destes ataques, como Sandy Hook ou Bath School, em 1927, foram verdadeiros banhos de sangue. Outras, poucos, infelizmente, foram frustrados, deixando feridos e mereceram pouco destaque na mídia. Um bom número atingiu apenas um aluno ou um professor, sendo tratado com forte indiferença. A maioria absoluta deles foi cometida por alunos (e/ou funcionários) que estudavam/trabalhavam na mesma escola atacada e, ainda uma vez, a maioria dos atacantes, bem como de suas vítimas, tinha entre 14-18 anos de idade. Grande parte dos perpetradores deixou relatos – como no caso brasileiro da escola de Realengo (RJ) em 2011-, ou colegas relataram, um perfil solitário, inteligência média-alta, dedicação aos estudos e grande dificuldade de estabelecer e/ou manter relacionamentos. A grande maioria dos adolescentes e jovens sofreu alguma forma de assédio e de exclusão social, algumas vezes publicamente e de forma violenta (ainda uma vez como no caso da escola em Realengo, RJ).

Neste contexto – como também dos assassinatos de massa na Noruega e na Alemanha – os “especialistas” trataram de construir, rapidamente, análises e perfis “pessoais”, buscando descobrir o que, na personalidade do perpetrador, originou os ataques. Assim, uma “cliniquização” ( ou uma explicação psicologizante ) do atacante – família desfeita, distúrbios mentais, uso de drogas – é imediatamente aventada. Embora, paradoxalmente, os próprios colegas digam que eram “excêntricos” talvez, mas não mais do que boa parte do alunado – e que não mata colegas! 

Assim, a sociedade e suas instituições, em especial as escolas, seriam poupadas de quaisquer responsabilidades na irrupção de um surto psicótico na pessoa do atacante. Em suma, estaríamos verdadeiramente buscando as respostas certas no lugar/pessoas certas? Ou, num movimento rápido de ocultamente do massacre que se passa nas escolas, estaríamos ocultando a dimensão social dos “mass murder” e de seus íntimos imbricamentos com o clima mental e emocional existente nas escolas?

É comum ouvirmos, e depois de 38 anos de magistério pude, eu mesmo, vivenciar e acompanhar casos seguidos de stress coletivo, cólera, mágoas e ira entre alunos e seus colegas, professores e alunos, bem como professores e seus colegas, funcionários e, até mesmo, pais e professores. Algumas vezes, incluindo o Brasil, com desdobramentos de violência física.

Não seria o caso de pensarmos a instituição escolar em seu conjunto? E isso seria muito especialmente verdadeiro para o caso norte-americano.

UM MASSACRE OCULTO
Desde o ataque de Columbine High School (que não foi nem o primeiro e nem o mais letal dos ataques) até o atual ataque em Sandy Hook, as escolas são palco, alvo e/ou causação de súbitas explosões de raiva e ira. Sabemos todos – e isso não é um apanágio dos Estados Unidos – a escola, mesmo com escolas de ensino básico, e particularmente nas escolas para adolescentes – como as chamadas “High school” norte-americnas – são lugares onde o assédio moral, social (e mesmo sexual) pode ser intenso, cruel e, mesmo, levar a uma aniquilação do próprio eu de indivíduos mais fragilizados por sua aparência física, opção de gênero, timidez ou qualquer outro atributo pessoal correlacionado com uma vaga e cruel categoria de “losers”, os perdedores na “corrida” social pelo sucesso. 

Nem sempre os professores e os profissionais de apoio e orientação – como pedagogos e psicólogos – tem a chance de acompanhar alunos – ou seus parentes – de forma adequada para prever ataques de “mass murder” como os ocorridos. Da mesma forma, não é possível “cliniquizar” todas a sociedade e manter um psicólogo de plantão dentro de cada sala de aula. Assim, tais ataques – malgrado suas particularidades e do seu desenho – não são, e dificilmente poderiam ser, previstos e, logo, prevenidos. Mas, por outro lado, a determinação da polícia de Newtown, Connecticut, em explicar a razão do ataque seja inútil. Poderão explicar, em detalhes, como seu “deu” o ataque. Mas, sua “explicação” escapa a Sandy Hook, em Newtown, Connectcut – há uma razão maior, mas ampla, insidiosa, que paira sobre todo o sistema educacional norte-americano.

Da mesma forma, nem só escolas são alvos de ataques. Cinemas e shoppings foram alvo de atos de assassinos de massa, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países. No entanto, mesmo nestes casos há um claro elo de ligação: escola, cinema e shopping são locais de reunião de jovens ou, ao menos, há sempre uma maioria de jovens. De certa forma, são continuidades dos grupos de companheirismo que se formam nas escolas. Os ataques representam, mais uma vez reconhecidas as especificidades, um notável acúmulo de frustrações, mágoas e perda que se expressam, então, em violência cega e bruta – em pleno local socialização e entretenimento dos jovens, que o perpetrador pode sentir como recusado a ele mesmo.

Da mesma forma os ataques na Noruega, em 2011, organizado em detalhes por um supremacista branco ou o ataque contra as crianças judias em Toulouse, em 2012, foram atos de terrorismo ideologicamente motivados. Cruéis e brutos tinham uma direção e mostram a face da intolerância de tipo racista e religioso. Os ataques como de Sandy Hook são cruéis e cegos, não visam uma pessoa ou um conjunto de pessoas realmente existentes, concretas. Visam “uma situação” que exaspera, por motivações diversas, o perpetrador.

O GRANDE MASSACRE DOS INOCENTES
Também devemos reconhecer que os Estados Unidos não possuem o monopólio do “mass murder” (cabe diferenciar de “serial killer”, que, em regra, agem durante longo tempo escolhendo vítimas a partir de critérios diversos, conforme cada caso). Nos últimos anos assistimos, como já destacamos, a assassinatos em massa na pacata Noruega e na organizada e politicamente correta França. Mesmo no Brasil tivemos tristes episódios de ataques em cinema (São Paulo) e em uma escola (Rio de Janeiro), com um perfil muito próximo dos casos norte-americanos. Nos últimos anos a autoritária China Popular, com seus critérios draconianos de justiça, tem assistido, para perplexidade de suas autoridades, a vários ataques em escolas, com uso de armas brancas ou utensílios de trabalho transformados em armas.

No entanto, no caso dos Estados Unidos as estatísticas compilados pela Secretaria de Estado de Justiça, reunindo dados completos e pormenorizados dos ataques é, simplesmente, estupeficante. A mais antiga referência a um ataque em escolas norte-americanas data de 1764, antes mesmo da independência do país em 1776. Daí em diante as ocorrências são quase epidêmicas, com o século XIX marcado por ataques sucessivos em 1867, 1868, 1871, 1889, 1891 e 1898, perfazendo neste período pelo menos 19 vítimas infantis. A precisão das armas ainda precária e sua natureza obrigando o recarregamento davam, então, chances aos administradores de deter o atacante.

Com a chegada das armas automáticas e aquelas de fácil, e rápido, recarregamento, os ataques, e número de vítimas, cresceram. No século XX tais ataques tornaram-se, então, verdadeiramente epidêmicos, ocorrendo massacres nas “Elementary School” nos anos de 1902, 1906, 1907, 1909, 1912, 1919 e culminado no terrível massacre de 1927, quando Andrew Kehoe, após matar a esposa, ataca, com bombas caseiras, a Bath Elementary School, causando 45 mortes, no maior massacre escolar da história dos Estados Unidos. Andrew Keohoe era funcionário da escola de longa data.

Os anos seguintes assistiram a continuidade dos ataques: 1933, 1940, 1944, 1959, 1960 e 1961, com pelo menos 16 crianças mortas – lembremo-nos que em média a “Elementary school” americana abriga crianças entre 4 e 11 anos de idade. Mas, se juntarmos às estatísticas de ataques às “Elementary school” os ataques havidos contra as “High school”, que recebem adolescentes na faixa de 12-18 anos, em média, os ataques crescem de forma exponencial: são 24 ataques entre 1903 e 1968, com a morte de 27 adolescentes. Ainda uma vez a qualidade das armas e a prontidão de inspetores e funcionários faz com que a maioria dos ataques tenha em média 1-2 mortos, evitando o caráter cataclísmico do “bombardeamento” de Bath School em 1927.

A MASSIFICAÇÃO DO “SCHOOL MASS MURDER”
A partir dos anos de 1970, contudo, os ataques se multiplicam e as “high school” substituem, apenas parcialmente as “elementary scholl”, como cenário principal dos ataques. Nestes anos temos 7 ataques, com 7 mortes; nos anos de 1980 são 13 ataques, com 15 mortes; nos anos de 1990 já são 60 ataques, com exatos 93 mortes de adolescentes. Entre os ataques da década de 1990 inscreve-se o tristemente célebre ataque de 1999 contra a Columbine High School, no Colorado, matando 15 alunos e professores. Os atiradores, que ensaiaram o massacre repetidas vezes, estavam envoltos – além das condições de frustração e mágoas acumuladas – numa espécie de cultura “dark”, valorizando a morte falsamente “heroica” muito comum nos vídeos games que eles assistiam e verdadeiramente cultuavam, tais como “Dom” e “Wolfstein 3D”. Eric Harris tinha 18 anos e Dylan Klebold 17 anos e relataram, em seus documentos deixados como “memorial” do massacre, casos de “bullying” e exclusão.

Nos anos 2000 até 2012 foram 68 ataques contra High School, com 74 mortes de estudantes. Nesta lista dolorosa encontramos o massacre de 2005 contra a Red Lake High School, em Minissota, atacada pelo jovem Jeffrey Weise, de 17 anos, que após matar os avós, ataca os colegas na escola. Também está nesta relação o ataque do estudante aos colegas da Virgínia Tech, universidade no estado da Virgínia, e formalmente uma faculdade e não uma “escola”, daí o expurgo dos seus 33 mortos das estatísticas do Departamento de Justiça dos Estados Unidos no âmbito de “school´s mass murder”.

Infelizmente os ataques centrados nas “High School” não afastaram o risco das “Elementary school” e no ano de 2010 deram-se 10 ataques, com 31 mortes; em 2011, foram 5 ataques e 16 mortes e em 2012, antes do ataque contra a escola de Sandy Hook (em 14/12/2012), já haviam ocorrido dois ataques, felizmente frustrados.

Embora este quadro seja verdadeiramente assustador, a mídia americana e influentes políticos – e mesmo especialistas universitários – insistiram, no dia de ontem (quando se deu o ataque, 14/12/2012) que não se deveriam “fazer política com o sofrimento das famílias”. Ora, há alguma coisa muito errada aqui.

MASS MURDER E POLÍTICA
Um dos mais importantes, e progressistas, sociólogos dos Estados Unidos –especializado na análise das contradições, projetos e frustrações do homem comum na sociedade de massas americana – Charles Wright Mills (1916-1962), num pequeno manual de sociologia, tornado um clássico introdutório da disciplina – “A Imaginação Sociológica” -, advertia os colegas sobre a diferença entre um “problema social” e uma “questão social”. 

Wright Mills, num linguagem precisa, insistia que processos que se repetem no conjunto da sociedade e causam enorme dano e dor, mesmo mal-estar social, não podem, de forma alguma, ser atribuídos a motivos ou causas pessoais do tipo preguiça, baixo esforço ou baixa estima, ausência de talento ou incapacidade social ou distúrbios mentais. Bem ao contrário, o quanto de tais “distúrbios” tem origem em processos sociais cruéis e excludentes? Ao seu tempo, Wright Mills combatia o brutal individualismo liberal e o darwinismo social que explicava sucessos e insucessos das pessoas, num a sociedade altamente competitiva, exclusivamente através da “garra” e vontade de vencer de cada um. Colocando-se na contramão dos mitos americanos do “self made men” e da ideia de que todos vencem, se trabalham o suficiente para isso, na América, Mills vislumbrava uma sociedade já atingida por frustrações e pelo mal-estar que podia rapidamente expressar-se em repentinas explosões de ira.

A divisão popular da sociedade entre “pessoas de sucesso” e “losers”, os perdedores, já se expressa, assim, nos primeiros anos de vida e nas primeiras escolhas de jovens adolescentes, em especial num clima de competição – muitas vezes, vezes demais, desleal e cruel – no interior da própria escola. Eleições e concursos frequentes, mobilizações em torno de competições e torneios, o incentivo a mostrar um perfil de vencedor e de celebridade “popular” criam, no conjunto da sociedade, mas em especial na escola, um clima de verdadeira guerra social. O romance, de terror note-se bem, de Stephen King, chamado “Carrie, a estranha”, ambientado numa “high school”, de 1974, consagrou, de forma alegórica, o clima exacerbado e cruel de exclusão das diferenças no sistema educacional norte-americano, a cegueira de mestres e funcionários e o clima de linchamento moral. Quando tais pessoas tem acesso fácil e livre – como Adam Lanza – a um arsenal de armas automáticas são dadas as condições básicas para o desastre.

Mills, com sua delicadeza incisava – bem ao contrário de Stephen King - afirmava: aquilo que se repete e atinge amplas camadas sociais não é um problema “pessoal” e, sim, uma questão social.

A teimosia dos políticos, e dos especialistas americanos, em não discutir a livre venda de armas, a segurança nas escolas e programas de educação que valorizem o trabalho social, os objetivos de equipe e que diminuam as “guerras” entre grupos de “losers” e de “populars” nas escolas é, claramente, parte causal dos massacres.

O recuo, durante a campanha eleitoral de 2012, do Presidente Obama em colocar com clareza a questão da livre venda e porte de armas automáticas – algumas com capacidade de luta em campos de guerra total -mostra uma tremenda e indesculpável rendição perante os mitos da direita conservadora e reacionária norte-americana. Além, é claro, do lucrativo negócio de armas.

LOBBIES E MITOS DA DIREITA
Para a direita mais reacionária norte-americana, como se expressa, por exemplo, no grupo denominado “Tea Party” – núcleo duro do reacionarismo republicano – as armas, sua livre venda e posse, são uma garantia de liberdade. Voltam-se, todo o tempo, e de forma totalmente inadequada, para uma apropriação ideológica das guerras de Independência dos Estados Unidos, quando milícias de fazendeiros pegavam suas armas, atacavam repentinamente os britânicos – os “Minutmen” – e então retornavam às suas atividades rotineiras de bons fazendeiros. Assim, manter suas armas, treinar pré-adolescentes em tiro – incluindo a caça – seria manter, pura e simplesmente, a tradição dos “Pais Fundadores” da Nação.

Nem a história foi assim – já que George Washington montou exército profissional regular e os colonos americanos receberam forte auxílio do exército real francês – como, é claro, os Estados Unidos de 2012 não são as Treze Colônias de 1776. Talvez resida aqui a melhor definição de fundamentalismo: apegar-se, de forma peremptória, a um traço, narrativa ou fato do passado como uma verdade imutável. Além disso, numa cultura fortemente dividida entre noções de o que é bom e justo e aquilo que é o mal, a frustração e fragilidade identitária apegam-se em armas como muletas psicológicas. Para muitos jovens a arma é um prolongamento, capacitante e potente, de suas próprias fraquezas, substituindo sentimentos de impotência pelo poder absoluto de vida e morte.

Cabe agora às autoridades norte-americanas olhar em perspectiva: examinar esta imensa lista de mortes – em especial de crianças e adolescentes – e se perguntar se estamos, verdadeiramente, em face de atiradores “com problemas pessoais” ou em face de uma “questão social”.

Discutir a política de venda e posse de armas, melhorar a segurança das escolas – como os mesmos conservadores não duvidam em “securitizar” os bancos onde guardam seus bens – e, acima de tudo, rever os parâmetros pedagógicos que criaram uma escola competitivamente extremada, individualista e voltada para a geração contínua de “celebridades” é uma ação que se impõe com urgência.

E que as tragédias alheias, que já nos tocaram, sirvam também de lição para nós brasileiros.

(*) Professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro

segunda-feira, 26 de março de 2012

QUANDO A VITÓRIA FRAGILIZA E DESGASTA

*Demóstenes Torres, o líder dos demos no Senado: 298 ligaçoes para o contraventor Carlinhos Cachoeira e  cerca de duas centenas de ligações para a alta direção da revista VEJA** é justo arguir: afinal, do que tanto falavam?**boa pergunta para uma CPI.

Há vitórias que desconcertam pela intrínseca dimensão crepuscular que carregam. Em geral atestam o fim de um ciclo, quando o trunfo imediato mais revela uma perda de tônus do que reafirma uma supremacia promissora. Foi um pouco esse o sabor amargo do trunfo entre aspas conquistado por José Serra na prévia deste domigo do PSDB para a escolha do candidato do partido à prefeitura de São Paulo. Ao obter apenas 52,1% dos votos, de um total 6.229 filiados que participaram do escrutínio, Serra expôs a marca dolorosa de uma rejeição intuída entre seus próprios pares. Toda a máquina do partido e a mídia amiga trabalhando a favor revelaram-se insuficientes para contornar a enorme resistência que o seu nome gera no seio do próprio conservadorismo nacional. O grande vitorioso foi a  rebeldia do secretário estadual tucano José Aníbal, que se recusou a renunciar a favor de Serra, obtendo o surpreendente apoio de 31,2 % dos votantes; o deputado federal Ricardo Tripoli amealhou outros 15,7 %, cravando o 3º lugar. Os serristas não escondiam a decepção com uma vitória que mais fragiliza e desgasta do que consagra. Imaginava-se fazer da convenção uma gigantesca operação reiterativa do suposto favoristismo do candidato na disputa municipal, dando-lhe mais de 80% dos votos --"para não passar a impressão de que o partido entra dividido na corrida eleitoral". Deu-se o inverso. A vitória decepcionante entre seus pares foi o revés oposicionista mais eloquente sofrido pelo ex-governador numa disputa municipal que apenas se inicia. Ela gerou um fato político mais grave do que um eventual crescimento das intenções de voto entre os seus adversários. Por uma razão  incontornável: o resultado mostrou de maneira inequívoca que a liderança de Serra sofre o peso de um teto e não tem mais horizonte de crescimento ou de apoio nem entre os tucanos. Um palavra para exprimir esse estágio é declínio; convenhamos, não soa exatamente como um bordão eleitoral empolgante e mobilizador

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

CUBA, MÍDIA E HIPOCRISIA

Quem paga a conta? Desde a eclosão da crise, em 2008, o endividamento privado nas 10 maiores economias do mundo recuou 2%; a dívida pública, em contrapartida, cresceu 26% --basicamente para salvar bancos e corporações que originaram a crise (McKinsey Global Institute (MGI); citado por J.P.Kupfer, Estadão,31-01) 
A  Folha desta 3ªfeira dedica meia página da Ilustrada a entrevista com ilustre escritora cubana desconhecida. Sem piscar, nem engasgar, lá pelas tantas, Zoé Valdés, que vive em Paris, afirma que o regime de Fulgência Batista era mil anos luz melhor que o de Fidel Castro. Passemos. Na 'totalitária' Cuba uma Comissão de Direitos Humanos convocou ontem uma coletiva de imprensa internacional, livremente realizada (será que na sempre poupada Arábia Saudita isso seria possível?). Colocou à disposição dos jornalistas a viúva de um suposto dissidente morto após greve de fome. O  motivo original da prisão, reconhecido pela viúva, não foi político, mas uma briga de casal, que levou  sua mãe a pedir socorro aos vizinhos e estes à polícia. Nota da União Patriótica Cubana, de oposição, admite que o  'estreitamento de laços' do suposto dissidente com a UPC só teria ocorrido após a prisão. No mínimo nebuloso, este é o caso em torno do qual a mídia demotucana tentou transformar a visita oficial da Presidenta Dilma a Havana num constrangimento diplomático. O jornal O Globo, como se sabe um veículo de impecável tradição democrática, reclama, também na edição desta 3ª feira, que a entrevista coletiva da viúva teve a  participação da imprensa oficial cubana, cujas perguntas provocaram, digamos assim, ruídos na narrativa conservadora do caso. Carta Maior defende a democracia em todas as latitudes e considera incompatível o socialismo sem soberania popular, mas não compactua com a hipocrisia midiática que subestima a inteligência do leitor e menospreza a História.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Os perigos de 2012

Os países emergentes, que enfrentaram com sucesso as tempestades de 2008 e 2009, poderão não lidar tão bem com os problemas futuros 


O ano de 2011 será lembrado como o período em que muitos americanos otimistas incorrigíveis começaram a perder as esperanças. O presidente John F. Kennedy certa vez disse que uma maré crescente levanta todos os barcos. Agora, porém, na maré vazante, os americanos estão começando a perceber não só que aqueles com os mastros mais altos foram elevados bem mais alto, mas também que muitos dos barcos menores foram feitos em pedaços na esteira deles.

Naquele breve momento em que a maré crescente estava realmente crescendo, milhões de pessoas acreditaram que poderiam ter uma chance justa de realizar o "Sonho Americano". Agora, esses sonhos também estão se desfazendo. Em 2011, as poupanças dos que perderam seus empregos em 2008 e 2009 foram gastas. Os freios para controlar o desemprego haviam se esgotado. As manchetes anunciavam novas contratações - ainda insuficientes para alcançar o número dos que teriam entrado normalmente na força de trabalho - que significaram pouco para as pessoas com 50 anos ou mais com pouca expectativa de conseguir um novo emprego algum dia.

Aliás, as pessoas de meia idade que achavam que ficariam desempregadas por alguns meses, agora perceberam que estavam, de fato, compulsoriamente aposentadas. Jovens que se formaram na universidade ao preço de dezenas de milhares de dólares de crédito educativo não conseguem encontrar nenhum emprego. Pessoas que foram morar com amigos e parentes ficaram sem teto. Casas adquiridas durante o boom imobiliário ainda estão no mercado ou foram vendidas com prejuízo. Mais de 7 milhões de famílias americanas perderam suas casas.

O lado escuro do boom financeiro da década anterior ficou plenamente exposto na Europa também. As hesitações sobre a Grécia e a devoção à austeridade de governos nacionais importantes começaram a cobrar um alto preço no ano passado. O contágio se espalhou para a Itália. O desemprego na Espanha, que já chegara perto de 20% desde o início da recessão, subiu ainda mais. O impensável - o fim do euro - começou a parecer uma possibilidade real.

Este ano promete ser ainda pior. É possível, é claro, que os Estados Unidos resolvam seus problemas políticos e finalmente adotem as medidas de estímulo de que necessitam para reduzir o desemprego para 6% ou 7% (o nível de 4% ou 5% de antes da crise é bom demais para se sonhar).

Mas isso é tão improvável quanto a Europa descobrir que essa austeridade apenas não resolverá seus problemas. Ao contrário, a austeridade só exacerbará a desaceleração econômica. Sem crescimento, a crise da dívida e a crise do euro só se agravarão. E a longa crise que começou com o colapso da bolha imobiliária em 2007 e a recessão subsequente continuará.

Ademais, os principais países de mercados emergentes, que transitaram com sucesso pelas tempestades de 2008 e 2009, poderão não lidar tão bem com os problemas que despontam no horizonte. O crescimento do Brasil já está paralisado, alimentando ansiedades em seus vizinhos na América Latina.

Enquanto isso, os problemas de longo prazo - incluindo mudança climática e outras ameaças ambientais, e o aumento da desigualdade na maioria dos países do mundo - não desapareceram. Alguns se tornaram mais graves. Por exemplo, o desemprego elevado fez deprimir salários e aumentar a pobreza.

A boa nova é que o enfrentamento desses problemas de longo prazo poderia realmente ajudar a resolver os problemas de curto prazo. O aumento dos investimentos para reajustar a economia para o aquecimento global ajudaria a estimular a atividade econômica, o crescimento e a criação de emprego.

Uma taxação mais progressiva, redistribuindo de fato a renda do topo para o meio e a base, simultaneamente reduziria a desigualdade e aumentaria o emprego com o fortalecimento da demanda total. Impostos mais altos no topo poderiam aumentar a receita fiscal para financiar o necessário investimento público, e prover alguma proteção social aos que estão na base, incluindo os desempregados.

Mesmo sem alargar o déficit fiscal, os aumentos de impostos e de gastos nesse "orçamento equilibrado" reduziriam o desemprego e aumentariam a produção.

O senão, porém, é que política e ideologia nos dois lados do Atlântico, mas especialmente nos Estados Unidos, não permitirão que nada disso ocorra. A fixação no déficit induzirá a cortes nos gastos sociais, agravando a desigualdade. Da mesma maneira, a atração duradoura pela economia do lado da oferta, apesar de todas as evidência em contrário (em especial, num período em que há um alto desemprego), impedirá a elevação dos impostos no topo.

Antes mesmo da crise, havia um reequilíbrio do poder econômico - de fato, uma correção de uma anomalia histórica de 200 anos, em que a participação da Ásia no Produto Interno Bruto global caiu de quase 50% para, em certo ponto, menos de 10%. O compromisso pragmático com o crescimento que hoje se vê na Ásia e em outros mercado emergentes contrasta com as políticas desorientadas do Ocidente que, impelidas por uma combinação de ideologia com interesses adquiridos, quase parecem refletir um compromisso com o não crescimento.

Por consequência, um reequilíbrio econômico global provavelmente vai se acelerar, quase inevitavelmente alimentando tensões políticas. Com todos os problemas que a economia global já se depara, teremos sorte se essas tensões não começarem a se manifestar nos próximos doze meses.

Tradução de Celso Paciornik

*É PRÊMIO NOBEL DE ECONOMIA E PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE COLÚMBIA