Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

PML: a verdade sobre a declaração das florestas

Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília, conta em seu blog fatos inéditos sobre a decisão do governo Dilma de não assinar o documento "Declaração de Nova York sobre Florestas", "um texto de cinco páginas" apresentado como "pacto" ou "acordo" da ONU contra o desmatamento, mas que "não vem a ser uma coisa nem outra", segundo ele; Marina Silva chamou ato de "lamentável", seguida por Aécio Neves; PML expõe bastidores sobre a exclusão da diplomacia brasileira na elaboração do documento e o posicionamento do Acre, estado natal da candidata do PSB, que assinou o texto apesar da decisão da presidente; para ele, "ao cobrar assinatura de Declaração apoiada por apenas 1/7 dos países-membros da ONU, a oposição mostra que atira para qualquer lugar na campanha presidencial" 

247 – O debate criado pela não assinatura, por parte do governo brasileiro, da "Declaração de Nova York sobre Florestas", um "texto de cinco páginas" e que vem sendo apresentado como "pacto" ou "acordo" das Nações Unidas contra o desmatamento, mas que "não vem a ser uma coisa nem outra", mostra que a oposição "atira para qualquer lugar na campanha presidencial", escreve Paulo Moreira Leite, em nova coluna em seu blog no 247.

O jornalista traz fatos inéditos e relevantes sobre o episódio, que provocou críticas de Marina Silva contra a presidente Dilma Rousseff. Para a candidata do PSB, a atitude do Brasil em não se comprometer com o "pacto" pelo desmatamento das Nações Unidas foi "lamentável". A presidenciável logo foi seguida pelo adversário do PSDB, Aécio Neves, em suas críticas.

PML minimiza, no entanto, o chamado "acordo" da ONU. Trata-se de "um texto diplomaticamente paralelo: não foi votado nem debatido em nenhuma instância deliberativa da ONU", além de assinado por mais empresas (34) – multinacionais como Cargill e Mc Donald´s – do que países (27). "No total, apenas 1/7 dos países-membros da ONU assinaram o documento", diz. "A lista de quem ficou de fora, que chega a 166 países, inclui Itália, Espanha e Portugal", acrescenta Paulo Moreira Leite.

O colunista descreve ainda como o Brasil foi excluído dos debates que resultaram na elaboração do documento e o fato de o Acre, estado natal de Marina Silva, ter assinado o texto, na condição de um estado "subnacional" brasileiro. "Se fosse uma decisão séria e grave, teria sido um ato de secessão ucraniana — pois os subnacionais peruanos acompanharam a diplomacia do presidente do país", observa. Além disso, consta do texto que o governo brasileiro recebeu a primeira notícia sobre o documento no dia 21 de agosto – por coincidência, um dia depois de o PSB confirmar a chapa Marina Silva-Beto Albuquerque para disputar a eleição presidencial.


Dilma vai a Nova York e adversários perdem rumo de casa


PML na íntegra.

Ao cobrar assinatura de Declaração apoiada por apenas 1/7 dos países-membros da ONU, oposição mostra que atira para qualquer lugar na campanha presidencial

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Quando se recorda que a ONU possui 193 países-membros, é obrigatório refletir pelo menos um minuto sobre a representatividade de uma declaração assinada pelos governos de 27 países — ou menos de um sétimo do plenário nos raros dias de casa cheia. Mas como o Brasil se encontra no vale tudo da reta final da campanha presidencial onde o condomínio Lula-Dilma pode cravar a quarta vitória consecutiva, a ausência da assinatura do governo brasileiro provocou um debate para consumo interno  a menor relação com a relevância de um texto de cinco páginas intitulado “Declaração de Nova York sobre Florestas.”

O texto da declaração tem sido apresentado como “pacto” ou “acordo”, quando não vem a ser uma coisa nem outra. Trata-se de uma declaração de intenções — algumas boas, outras razoáveis, outras ruins — mas especialmente confusas. É um texto diplomaticamente paralelo: não foi votado nem debatido em nenhuma instância deliberativa da ONU, nem mesmo pela Secretaria Geral e muito menos pelos organismos voltados para o meio ambiente. É assinado por mais empresas (34) do que que países, entre elas gigantes com um passivo de denúncias ambientais, como a Cargill e a Mc Donald´s. Numa miscelânea pós-moderna, o número de ONGs chega a 45. As nações e entidades ligadas à causa indígena são 16. Do ponto de vista técnico, a Declaração mistura conceitos contraditórios e aponta para soluções reconhecidamente impraticáveis.

Num comportamento que leva observadores mais zangados a se perguntar o que não se faz por um patrocínio num conjuntura de vacas magérrimas para causas que não ajudam a pagar o almoço de amanhã, um anexo do documento faz questão de falar bem de grandes grupos multinacionais — Nestlé, Unilever, Wal-Mart, Danone, Carrefour, Kellogg’s — que têm feito “progresso para eliminar o desmatamento da cadeia de suprimentos” sem perder a oportunidade de registrar referências positivas a parcerias com ONGs.”

O documento recebeu assinatura do Reino Unido, hoje adversário agressivo do Brasil em encontros diplomáticos, Alemanha e Estados Unidos, além de países menos desenvolvidos, como Colômbia, Peru, Guiana, Libéria, Mongólia e Nepal. A lista de quem ficou de fora, que chega a 166 países, inclui Itália, Espanha e Portugal. Nenhum parceiro do Brasil no condomínio chamado Brics — China, Índia, Rússia e África do Sul — assinou o documento.

Num esforço que ajudou a dar volume à lista de assinantes, a coluna de signatários é engordada por oito estados “subnacionais”, um nome fictício, culturalmente questionável, para falar de governos estaduais ou províncias. Destes oito, sete são peruanos. Há um estado “subnacional” brasileiro. O Acre do governador Tião Viana, do PT, deixou seu autógrafo na declaração. Se fosse uma decisão séria e grave, teria sido um ato de secessão ucraniana — pois os subnacionais peruanos acompanharam a diplomacia do presidente do país.

Há um elemento curioso neste estado “subnacional” brasileiro. Em 18 de agosto de 2014, quando faltavam dois dias para Marina Silva oficializar sua candidatura presidencial, ocorreu uma mudança importante no primeiro escalão do governo do Acre. Seu marido, Fábio Vaz, deixou o governo petista. Até então, Fabio era secretario-adjunto, empossado em 2011, encarregado de políticas de desenvolvimento florestal — exatamente o tipo de assunto que foi debatido nos encontros diplomáticos que produziram a “Declaração de Nova York.”

Na semana passada, a candidata presidencial (e mulher de Fábio Vaz) Marina Silva classificou a ausência da assinatura do governo brasileiro como “lamentável.” Como previsível, Aécio Neves reagiu no mesmo tom.
Dilma esclareceu que o governo não foi convidado a discutir o conteúdo do documento — mas apenas para assinar, ou não, um texto final, fechado, que não era mais sujeito a alterações nem acréscimos.

Na prática, é possível considerar razões favoráveis e desfavoráveis para assinar o documento, mesmo sem concordar inteiramente. Acontece todos os dias na diplomacia. Um motivo a favor é que, num anexo, o documento faz referências elogiosas ao Brasil, que poderiam ser úteis para o governo comprar o debate sobre seu desempenho ambiental, inclusive na campanha.

O texto diz que “o Brasil demonstrou que o progresso (contra o desmatamento) pode ser obtido em larga escala.” Usando números que permitem comparar o desempenho de Lula-Dilma com a gestão de Fernando Henrique, o documento afirma: “Em 2013, o Brasil reduziu o desmatamento em 71%, quando se compara com a média de 1996-2005.”

O texto faz ainda uma afirmação que deixa os críticos do desempenho ambiental do governo de cabeça baixa. Está lá: “pelo tamanho das emissões evitadas, (o Brasil) pode muito bem ser o maior caso de sucesso até a hoje, globalmente, em qualquer setor.”

Você leu isso mesmo: “maior caso de sucesso, globalmente, em qualquer setor.” São governos dos EUA, França, Alemanha, mais quatro dezenas de ONGs que assinam isso.
Há outras questões além do marketing, porém. O documento — em fase de pegar ou largar quando foi apresentado ao Brasil — estabelece meta zero para o desmatamento.

O problema é que o Congresso brasileiro acabou de aprovar uma legislação, negociada longamente, definindo limites para o desmatamento. Podem chegar a 50% numa região, 35% em outras, 20% mais adiante. Não se fala em desmatamento zero nem isso seria possível — pois qualquer criança que já cuidou das plantas do jardim de casa dos avós sabe que sem algum nível de desmatamento não é possível trocar os cravos brancos pelas rosas vermelhas, e muito menos manter a agricultura como atividade básica para a sobrevivência humana.

Quem acompanha a postura diplomática do Brasil sob o governo Lula e Dilma, sabe que o país faz o possível para evitar entrar em festa pela porta dos fundos nem aceita ultimatos. No segundo turno da campanha presidencial de 2010, lideranças do Partido Verde promoveram um ato de apoio a Dilma. Até assessores de Marina estavam presentes. Na última hora, militantes do Greenpeace resolveram fazer uma cena: abriram uma faixa pedindo que Dilma assinasse o compromisso com o fim do desmatamento. “Não assino documentos sem ler antes,” respondeu a candidata. “E não faço demagogia para ganhar votos.”

A reconstituição dos fatos de 2014, que você irá ler a seguir, mostra que o governo brasileiro — um protagonista mais do que reconhecido dos debates ambientais desde a Rio 92 — foi deixado a margem de uma discussão travada nos bastidores, por iniciativa de adversários conhecidos de longa data.
A missão do Brasil na ONU tomou conhecimento da existência de que havia “uma” declaração sobre florestas em 21 de agosto — por coincidência, um dia depois do PSB confirmar a chapa Marina Silva-Beto Albuquerque para disputar a eleição presidencial.

Pelo que se sabe, foi naquele dia que o governo brasileiro recebeu a primeira notícia.

Isso aconteceu numa conversa informal em Nova York, quando um diplomata brasileiro foi informado a respeito por um colega da Indonésia, país que participava dos debates fechados. Em 27 de agosto, seis dias depois do primeiro encontro informal em Nova York, a missão do Brasil recebeu, por email, uma cópia da versão do texto, com uma advertência em inglês: “Final for approval.” No dia seguinte, a Missão do Brasil encaminhou formalmente a declaração para a Secretaria Executiva. Vinte dias depois, a Secretaria se manifestou. Admitiu que “o governo brasileiro não participou da elaboração da ‘Declaração de Nova York’ e tampouco foi procurado a respeito pelos proponentes da iniciativa. ” No mesmo dia, diplomatas brasileiros solicitaram novas informações, inclusive sobre a possibilidade de contribuir para o documento.

Eles enviaram um email a Charle McNeill, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que coordenava debates que, em teoria, teriam mais relação com a área ambiental da ONU. Este conformou que o texto estava fechado e “em fase de adesão”, o que excluía qualquer possibilidade de alteração.
Ao longo da semana, mesmo empresários de agro-negócio engajados em campanhas adversárias, como Roberto Rodrigues, que foi ministro da Agricultura no governo Lula, deram razão neste ponto. Entidades ambientais se dividiram.

Se o enredo está claro, falta esclarecer algumas questões. A “Declaração…”foi divulgada durante a Conferência do Clima, um evento que reuniu 120 chefes do governo, dos quais 70% ficaram de fora do documento. Reunindo ativistas do mundo inteiro, com apoio de sindicatos e entidades populares dos países desenvolvidos, uma marcha que pedia medidas efetivas pela preservação ambiental foi um sucesso de mobilização. Reuniu meio milhão de pessoas nas ruas de Nova York. “Chegou a haver engarrafamento de militantes na altura da rua 84″, ironiza um participante brasileiro. Atividade preparatória para 2015, quando haverá uma nova Conferência Ambiental em Paris, a Declaração recuperou, por vias tortas, um debate que mobiliza países ricos e pobres desde que a palavra ecologia foi pronunciada pela primeira vez.

Ao dar prioridade à preservação das florestas, o documento retoma o costume de colocar a carga mais pesada do ambientalismo sobre a população dos países pobres. O problema é que o desmatamento responde por apenas 12% das emissões atmosféricas, enquanto outras emissões, típicas dos países desenvolvidos, ficam com a maior parte. Imagine se, com a crise infinita de 2008, que está levando o desemprego para a Europa inteira, derrubando governos em toda parte, aqueles chefes de Estado de sorriso amarelo do Velho Mundo irão fazer os desembolsos bilionários que seriam necessários para modernizar seu parque industrial — não para aumentar a produção, mas para diminuir a poluição.

“Num quadro de injustiça ambiental, as populações pobres são as mais vulneráveis, principalmente em nossas cidades,” discursou Dilma, na Conferência do Clima. “Historicamente, os países desenvolvidos alcançaram o nível de bem estar de suas sociedades graças a um modelo de desenvolvimento baseado em altas taxas de emissões de gases danosos ao clima. Nos não queremos repetir esse modelo. Mas não renunciaremos ao imperativo de reduzir as desigualdades e elevar o padrão de vida da nossa gente. Nós, países em desenvolvimento, temos igual direito ao bem-estar. E estamos provando que um modelo socialmente justo e ambientalmente sustentável e possível.”

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Leonardo Boff ao 247: "Dilma é a melhor opção"

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Líder religioso, intelectual e militante social, Leonardo Boff acredita que "nenhum governo fez políticas públicas cuja centralidade era o povo marginalizado, os invisíveis", como fizeram o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff; sobre Marina Silva, que já foi sua aluna, no Acre, comenta que a candidata do PSB se transformou "numa fundamentalista com a mentalidade de alguns líderes muçulmanos" e que não possui habilidade de articulação; "Se vencer, oxalá não tenha o mesmo destino político que teve Collor de Mello", prevê; em entrevista ao blog do jornalista Paulo Moreira Leite, Boff diz que candidatura da ex-senadora "representa uma volta ao velho e ao atrasado da política" 

247 – Líder religioso, intelectual e militante de causas sociais, Leonardo Boff acredita que a presidente Dilma Rousseff (PT) "é a melhor opção para o povo brasileiro". Ao explicar sua resposta, ele afirma que "os fatos falam por si". "Até hoje nenhum governo fez políticas públicas cuja centralidade era o povo marginalizado, os invisíveis, considerados óleo gasto e zeros econômicos", avalia. Quem fez isso com sucesso deve poder continuar a fazê-lo e de forma mais profunda e abrangente", acrescenta Boff.
Em entrevista concedida ao jornalista Paulo Moreira Leite, em seu blog no 247, ele constata haver "um mal estar generalizado no mundo". "Todos têm a sensação de que assim como o mundo está não pode continuar. Tem que haver mudanças", ressalta, reforçando o que diz as pesquisas, segundo as quais mais de 70% da população desejam mudanças no País, e justificando a causa das manifestações de junho, de que o brasileiro quer mais do que já consegue hoje.

"Há ainda um fator novo: as políticas públicas do PT que tiraram 36 milhões da pobreza foram incorporadas como coisa natural, um direito do cidadão. Ora, o cidadão não tem apenas fome de pão, de casa, de luz elétrica. Tem outras fomes: de ensino, de cultura, de transporte minimamente digno, de saúde razoável e de lazer. A falta de tais coisas suscita uma insatisfação generalizada que faz com que esta eleição de 2014 seja diferente de todas as anteriores e a mais difícil para o PT. Precisamos de mudança. Mas dentre os partidos que podem fazer mudanças na linha do povo, apenas vejo o PT, desde que consolide o que fez e avance e aprofunde as mudanças novas atendendo as demandas da rua. Dilma é ainda a melhor para o povo brasileiro".

Questionado a avaliar a mudança de Marina Silva desde que a conheceu, no Acre, quando foi sua aluna, até 2014, quando se candidata à Presidência da República pelo PSB, Boff observa, como primeiro ponto, a mudança de religião. "De um cristianismo de libertação, ligado aos povos da floresta e aos pobres, passou para um cristianismo pietista e fundamentalista que tira o vigor do engajamento e se basta com orações e leituras literalistas da Bíblia".

Para Boff, a candidatura da ex-senadora "representa uma volta ao velho e ao atrasado da política, ligada aos bancos e ao sistema financeiro. Seu discurso de sustentabilidade se tornou apenas retórico". Em sua visão, Marina não possui a habilidade de articulação. "Se vencer, oxalá não tenha o mesmo destino político que teve Collor de Mello", prevê. Na entrevista, ele comenta ainda sobre o pessimismo generalizado no País - "grande parte induzido por aqueles que querem a todo custo e por todos os meios tirar o PT do poder" - e dá sua opinião sobre a mídia: "hoje, com a oposição fraca, eles se constituíram a grande oposição ao governo do PT".

Leia a íntegra da entrevista em Boff: "Fatos falam por si. Dilma é a melhor opção para o povo brasileiro"

domingo, 27 de abril de 2014

HAITIANOS, GASPARI, VIANA E A HIGIENIZACÃO O que define melhor a elite bandeirante (e seus sabujos): facilitar a viagem ou desovar haitiano ? ​


Quatrocentos haitianos chegaram a São Paulo munidos do direito de ir e vir que a Constituição brasileira assegura a qualquer um que esteja em território nacional, de forma legal.

Chegaram a São Paulo, ao Acre, ponto de chegada, Porto Velho, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre.

Mas, só São Paulo deixou escapar do pré-sal de sua História o que o Governador do Acre Tião Viana chama de racismo e tentativa de higienização da sociedade brasileira.

Fossem americanos do Sul ou membros do Tea Party seriam recebidos pela Folha (*) e seus milhares de colonistas (**) com um tea-party no aprazível solar da Barão (sic) de Limeira.

Para situar o amigo navegante, o ansioso blog sugere ouvir a impecável entrevista do governador Tião Viana à Radio Eldorado, onde os apresentadores Haisem Abaki e Tatiana Ferraz (essa moça vai longe ! Um dia o Kamel descobre ela !) -
http://radio.estadao.com.br/audios/audio.php?idGuidSelect=273B7520AF0D499C859EC9337AB30A49.

Os implacáveis entrevistadores começam a perguntar se ele tinha avisado ao Alckmin que os haitianos estavam chegando.

A resposta dá o tom do que viria adiante.

Seria a primeira vez na História em que um governador ligaria para outro para avisar que chegavam pessoas a seus Estados.

Chegam a São Paulo, diz ele, todo dia, milhares de estrangeiros e ninguém avisa ao Alckmin: olha, tá chegando aí um americano de Boston !

(Se for de Harvard, possivelmente o colonista dos múltiplos chapéus. irá recebe-lo em Guarulhos.)

Seria uma censura prévia, pergunta Viana à implacável entrevistadora.

(Como diz o Mino, no Brasil os jornalistas são piores que os patrões.)

Os cidadãos em território brasileiro são livres para ir onde quiserem.

(O dos chapéus diz no título de sua enfurecida colona, no Globo e na Folha (êpa ! Êpa !): 

“Tão Viana desovou haitianos” – o que, por si só dava um belo processo na Justiça !

“Desova” – lembra o que, amigo navegante ?)

Desde dezembro de 2010, chegaram ao Acre 20 mil haitianos – sem aviso prévio, lembra Viana.

Desses, não há NENHUM sem documento !

Todos tem visto concedido pelo Estado brasileiro, ou CPF, ou Carteira do Trabalho.

E vão para onde querem e bem entendem.

Como qualquer um em território nacional !

“Não impeço ninguém de ir para onde quiser !”

O que está por trás disso, pergunta-se o “desovador” de haitiano: preconceito racial ?

Nenhum dos outros estados para onde foram haitianos reclamou.

Para evitar o verbo “desovar”, a Secretaria de Justiça (!)  de São Paulo, Eloisa Arruda, chamou Viana de “irresponsável !”.

Consta que chamou também de “coyote”, aqueles criminosos que cobram para traficar mexicanos ilegais para os Estados Unidos.

Viva a Chuíça (***) !

Tião Viana respondeu que ela não tem autoridade política para se dirigir a ele – “não tem estatura”.

(Mas, no jornal nacional, ela é superior a ele, governador…)

E Tião Viana trata de responsabilizar a elite paulista que, desde o Século XVIII, se comporta assim.

( “Bandeirante” adorava índio …)

A elite e os imigrantes meridionais que, aqui, incorporam seus vícios.

“Não mando ninguém para São Paulo nem para lugar nenhum !”, diz Viana

Mas, a Patricia Soneto no jornal nacional (essa, o Kamel já descobriu … http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-nacional/t/edicoes/v/mais-de-500-imigrantes-haitianos-ja-passaram-por-igreja-em-sp-desde-o-inicio-do-mes/3303466/) assegurou que Tião “facilita a viagem” (só faltou o “desovar”) para São Paulo !

“Os haitianos vão para onde querem !”, disse Viana.

Esses 20 mil haitianos tem uma rede de parentes no Brasil e, desde o Haiti, que se articulam para ir a diferentes pontos do pais.

O Acre é uma porta de entrada.

E a elite de São Paulo que afie as garras da intolerância (que pode ter outro nome), porque, segundo Viana, chegam ao Brasil, agora, também imigrantes do Senegal e da Nigéria.

Sem passar por Boston …

Em tempo: a Folha neste domingo celebra a troca de ombudsman. A Folha dedica mais espaço a colonas como a dos chapéus do que a informação. E o ombudsman não pode ombudsmar colonistas. E querem se levar a sério …

Paulo Henrique Amorim



(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

(***) Chuíça é o que o PiG de São Paulo quer que o resto do Brasil ache que São Paulo é: dinâmico como a economia Chinesa e com um IDH da Suíça.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Pensou que o pastor Marcos Feliciano era o fim? Conheça a vice-presidente da CDHM, ela só responde duas ações penais








Antônia Lúcia Câmara (PSC-AC)A deputa Antônia Lúcia Câmara (PSC-AC)
(Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados)


A deputada Antônia Luciléia Cruz Ramos Câmara (PSC-AC), conhecida como Antônia Lúcia, responde a duas ações penais, uma por crime eleitoral e outra por desacato.

Nos dois casos, a presidente do diretório do PSC no Acre nega ter cometido os crimes. Ela diz que o processo por crime eleitoral é resultado de denúncia anônima e de “showzinhos” da Polícia Federal. A deputada explicou que o processo por desacato foi registrado após incidente com uma funcionária no aeroporto de Guarulhos. 

Ação penal no TRE
Na ação penal registrada sob o número173726 no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Acre, Antônia Lúcia é processada por compra de votos, fraude processual, formação de quadrilha, peculato e falso testemunho. A Justiça determinou a quebra do sigilo telefônico da deputada e de pessoas ligadas à sua campanha. 


De acordo com o Ministério Público Federal do Acre, Antônia Lúcia e outras dez pessoas participaram de uma distribuição de combustíveis em 28 de agosto de 2010. Pouco tempo depois, em 6 de setembro, a Polícia Federal apreendeu uma caixa com R$ 472 mil em um carro em que estava a filha da deputada. Segundo o MP, o dinheiro seria utilizado na campanha. 

O que diz a deputada
Sobre a acusação de compra de votos, ela afirma que as acusações foram baseadas em denúncias anônimas. “Com certeza, vai ficar comprovado que não houve nenhuma compra de votos, não houve nenhuma testemunha, não houve um diálogo meu confirmando compra de votos.”


Sobre a distribuição de combustíveis, ela novamente culpa uma denúncia anônima. “Imagina eu, que tenho uma formação, que tenho conhecimento das leis, que tenho uma fé cristã, me submeteria a esse tipo de situação. (...) Imagina como é que uma pessoa vai distribuir gasolina num posto de gasolina com mais de 40 carros enfileirados? Quem patrocinou esse evento para a minha pessoa e para 12 candidatos do Partido Social Cristão foi o próprio partido. Um cheque do próprio partido foi apreendido pela Polícia Federal no posto de gasolina. Não é meu e de nenhum dos candidatos, que estavam presentes com seus cabos eleitorais contratados para um evento da carreata para a divulgação do trabalho de todos os candidatos. Isso aí é mais um showzinho da Polícia Federal.”

Sobre os R$ 472 mil apreendidos, disse que não tinha conhecimento do montante apreendido. Segundo ela, o proprietário do dinheiro é um membro de uma igreja evangélica. De acordo com a deputada, por terem um amigo em comum, a filha dela foi buscar o dono do dinheiro no aeroporto, quando ocorreu a apreensão. 

Ação na Justiça de Guarulhos
O processo 2010.03.00.027910-1, na Justiça Federal de Guarulhos, trata de desacato a autoridade. A deputada disse que o episódio aconteceu ao passar por um detector de metais no aeroporto de Guarulhos. Ela relatou que, à época, estava usando botinas por recomendação médica e que houve um problema com o calçado. A funcionária que controla o aparelho teria pedido que ela tirasse as botas.


“Eu disse: ‘olha, eu vou passar mais uma vez porque eu sempre uso essas botas e ela nunca disparou, pode ser uma moeda no meu bolso, vou verificar’. Verifiquei tudo, passei a segunda vez e não disparou. Simplesmente ela disse ‘não, mas você vai tirar as botinhas’. Falei: ‘olha, vou te dizer uma coisa, eu não posso abaixar a minha cabeça, se eu abaixar aqui, fico tonta, vou cair, vou precisar certamente de auxílio médico’. Então ela me obrigou a tirar as botinas. Quando tirei, ela saiu gritando, na frente de uma fila de cem, duzentas pessoas, saiu gritando, falando que ia me levar para o posto policial em Guarulhos, porque eu haveria contrariado a ordem dela ou ia jogar a bota nela, uma coisa dessas ela inventou”, relatou. 

Andamento processual
Veja abaixo o andamento das ações penais que investigam a deputada.
Ação penal que investiga Antonia Lucia
Processo que investiga a deputada Antônia Lúcia Câmara
No Maria da Penha Neles!

quinta-feira, 22 de março de 2012

Justiça do Acre condena Globo a indenizar família de sindicalista

Wilson Pinheiro
A juíza Ivete Tabalipa, da 4ª Vara Cível da Comarca de Rio Branco, condenou a Rede Globo nesta terça-feira (21) ao pagamento de indenização por danos materiais fixados em 0,5% dos lucros auferidos com a minissérie “Amazônia – de Galvez a Chico Mendes”, de autoria da novelista acreana Glória Perez, exibida em 55 capítulos, entre janeiro e abril de 2007.
A decisão, publicada na edição do Diário da Justiça do Acre desta quarta, favorece parcialmente a nove herdeiros do sindicalista Wilson de Souza Pinheiro, o Wilsão, assassinado em Brasiléia (AC) na década dos 1980, com três tiros nas costas, no momento em que assistia o noticiário da TV, na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia (AC), do qual era presidente.
A magistrada decidiu que o valor da indenização terá que ser apurado em liquidação, devidamente corrigido pelo INPC e acrescido de juros moratórios de 1% ao mês.
Não sendo possível a aferição dos lucros obtidos pela Rede Globo com a minissérie “Amazônia – de Galvez a Chico Mendes”, a indenização será arbitrada em liquidação.
- Declaro resolvido o mérito, nos moldes do art. 269, I, do CPC. Face a sucumbência recíproca, condeno as partes ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados no importe de 10% (dez por cento) do valor da indenização, na proporção de 1/3 para a parte ré e 2/3 para os autores, observando quanto a estes a gratuidade judiciária deferida - escreveu na decisão a juíza Ivete Tabalipa.
A ação indenizatória foi ajuizada por Ambrosio de Paiva Pinheiro, Andréia Paiva Pinheiro, Francisca Angelita Paiva Pinheiro, Hiamar de Paiva Pinheiro, Iliana de Paiva Pinheiro, Inêz de Paiva Pinheiro, Iolanda Pinheiro Bartha, Irismar de Paiva Pinheiro e Maria Terezinha de Paiva Pinheiro.
A minissérie retratou momentos históricos do sindicalista Wilson Pinheiro sem a devida autorização dos herdeiros, que reivindicavam a condenação da Rede Globo ao pagamento de indenização pelos danos materiais e morais e pela utilização indevida dos direitos de personalidade de Wilson Pinheiro.
A Rede Globo alegou que retratou a participação do sindicalista Wilson Pinheiro por ser imprescindível para a narrativa do protagonista Chico Mendes na minissérie, ante o envolvimento de ambos na causa dos seringueiros.
Os fatos relacionados ao sindicalista, segundo a Rede Globo, diz respeito exclusivamente a sua vida pública, não tendo, em momento nenhum, retratado fatos de sua vida privada, limitando-se apenas a reproduzir fatos nacionalmente conhecidos e amplamente divulgados. Hiamar, filha de Wilson Pinheiro, chegou a participar da gravação da cena que retratava o velório de seu pai.
O ponto controvertido da ação é a “indenizabilidade”, a título de danos morais e materiais da utilização da imagem de Wilson Pinheiro, sem autorização expressa de seus sucessores.
Embora Wilson Pinheiro fosse pessoa conhecida nacionalmente e os fatos retratados na produção televisiva de natureza pública, em razão de terem sido publicados em diversas revistas, a juíza entendeu que a exploração de sua imagem dependia do consentimento de seus sucessores.
- Não comprovando a ré a autorização dos autores para a exploração da imagem de Wilson Pinheiro, têm os autores direito à indenização em decorrência desse ato ilícito praticado pela ré - escreveu a magistrada na decisão.
Porém, a juíza não reconheceu qualquer menção a cenas que tenham associado a imagem de Wilson Pinheiro a condutas desonrosas ou que sua reputação tenha sido exposta, de forma vexatória ou ofensiva, a comentários ou a palavras que pudessem desabonar a sua conduta ou a de sua família, ou ainda, que pudessem macular a sua honra, profanando a sua memória.
- Assim, não há, de fato, dano moral compensável, pois ausente quaisquer provas da existência do componente psicológico, que evidencie o sofrimento ou a angústia dos autores com a retratação, na obra televisiva, da figura de seu parente.
A família de Wilson Pinheiro pleiteava indenização pelo uso indevido dos direitos da imagem, entretanto, a juíza entendeu que “a causa de pedir desta é idêntica à do dano material pretendido pelos autores, razão pela qual tenho por improcedente tal pedido, uma vez que deferi-lo seria incorrer em bis in idem.”
Altino Machado
No Blog da Amazônia

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Índios atacam exploração apoiada por Marina Silva


São Paulo, terça-feira, 01 de setembro de 2009


Natura, que tem relações próximas com a senadora, é alvo de ação sob acusação de biopirataria; empresa nega apropriação indevida


Gigante dos cosméticos é suspeita de aproveitar para fins comerciais o fruto do murmuru, de conhecimento tradicional dos ashaninkas

FÁBIO ZANINIENVIA
DO ESPECIAL A RIO BRANCO


Defendida pela senadora Marina Silva (PV-AC), a exploração comercial de um fruto típico do Acre gerou um processo judicial por biopirataria contra a Natura. A gigante do setor de cosméticos tem relações próximas com a pré-candidata do PV a presidente.

A empresa é ré em uma ação do Ministério Público Federal na Justiça Federal do Acre em razão do suposto aproveitamento ilegal do fruto do murmuru, que é usado na produção de xampus e sabonetes.

A acusação é de uso comercial a partir do conhecimento tradicional do fruto pela etnia ashaninka, que vive na fronteira com o Peru.

Em 2001, o murmuru constava de um acervo de plantas do Acre levado por Marina à Natura, para possível exploração econômica. Em 2003, foi assinado um termo de compromisso nesse sentido entre a empresa e o governo do Acre, intermediado pela senadora.

A Natura é considerada exemplo de compromisso com o meio ambiente por Marina. Juntando doações da empresa e de seus diretores, foi a segunda maior contribuinte da última campanha da senadora, em 2002, com R$ 30 mil. Seu presidente, Guilherme Leal, é mencionado como possível vice na provável chapa de Marina em 2010. A maior doadora foi a Pirelli, com R$ 50 mil.

Em agosto de 2007, a Procuradoria entrou com ação contra a Natura e mais duas empresas de cosméticos, em nome dos índios, cobrando compensação financeira. “A Natura, embora negue, acessou conhecimento tradicional sobre o murmuru. [...] Não é digno de crença que, como gigante do ramo, não tivesse obtido dados a partir dos resultados das pesquisas junto aos ashaninkas”, diz a ação.


“Uso indireto”

A base legal da ação é a medida provisória 2.186, de 2001, que assegura às comunidades indígenas “benefícios pela exploração econômica por terceiros, direta ou indiretamente, de conhecimento tradicional”.

No caso, a Natura é acusada de “uso indireto”, uma vez que o conhecimento teria sido repassado por um pesquisador que trabalhou com os ashaninkas nos anos 1990.

A empresa diz que teve acesso ao princípio ativo do murmuru na “vasta literatura científica” sobre o tema. A Procuradoria rebate que essa literatura baseou-se nas tradições dos ashaninkas, o que não isentaria a empresa de pagar pelo uso.

“Se você entrar na floresta procurando a esmo plantas, vai passar um século até achar algo. É evidente que foi pelo conhecimento dos ashaninka que se chegou ao murmuru”, diz o procurador Anselmo Lopes.

A promotoria pede que os réus paguem 50% dos lucros obtidos com a venda dos produtos à base de murmuru como compensação. Ainda não há data para o julgamento do caso.



São Paulo, terça-feira, 01 de setembro de 2009

outro lado


Senadora diz que exploração não tem regra clara

DO ENVIADO ESPECIAL A RIO BRANCO


Marina Silva considera “natural” a disputa entre a Natura e os índios ashaninkas e evita tomar partido. “Seria eu me colocar no lugar de juiz”, diz.

Segundo ela, há uma “zona cinzenta” no marco regulatório para exploração de produtos ligados a comunidades tradicionais. “Tem certa naturalidade em que haja esse tipo de processo. O problema é que não existe um regramento claro sobre acesso aos componentes da biodiversidade e conhecimentos tradicionais associados”, afirma.

Marina é autora de um projeto de lei de 1995 apresentando um marco regulatório, nunca aprovado. Segundo ela, a proposta levada à Natura de exploração de plantas é compatível com a defesa de uma “economia verde”.

“Eu sempre busquei empresários que tenham sensibilidade para a agenda do desenvolvimento sustentável. Agora, os problemas que surgem as empresas têm que resolver, e a Justiça tem que se pronunciar no mérito”, disse.

Já a Natura nega que tenha se apropriado indevidamente do conhecimento tradicional dos ashaninkas e justifica o acesso ao murmuru com base na literatura científica sobre as propriedades da planta.

“Há trabalhos publicados sobre o tema desde 1941. Foi assim que obtivemos acesso ao princípio ativo”, diz Rodolfo Guttilla, diretor de Assuntos Corporativos da empresa.

Segundo ele, a empresa não explora o produto no Acre, mas o acessa na região do Médio Juruá, no vizinho Amazonas, mediante compensação para comunidades locais. “Não houve dolo ou má-fé em nenhuma circunstância.”

Guttilla afirma que o termo de compromisso assinado com o governo do Acre em 2003, que foi intermediado por Marina, acabou não prosperando e hoje está dormente. Segundo ele, a Natura remunera 23 comunidades em vários Estados pelo uso de produtos vegetais, o que beneficia 2.000 famílias.

O diretor declara que o uso do murmuru está registrado no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, ligado ao Ministério de Meio Ambiente, como manda a lei.




São Paulo, terça-feira, 01 de setembro de 2009


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Repartição de benefícios é questão difícil

CLAUDIO ANGELO

EDITOR DE CIÊNCIA


O caso Natura versus ashaninkas pode virar uma dessas histórias paradigmáticas sobre como é mais fácil tocar fogo numa floresta do que gerar riqueza a partir do seu uso.

Não é a primeira vez que comunidades indígenas vão à Justiça exigir repartição de benefícios por bioprospecção. Em 2002, índios craôs, do Tocantins, denunciaram um grupo da Universidade Federal de São Paulo por biopirataria.

Os cientistas, liderados por Elisaldo Carlini, haviam feito um acordo com uma aldeia craô para desenvolver remédios fitoterápicos a partir do conhecimento indígena. Outras aldeias, excluídas do trato, processaram a universidade, pedindo uma indenização de R$ 25 milhões por uso indevido do conhecimento. A Unifesp não pagou, mas Carlini acabou desistindo do projeto.

A repartição de benefícios por conhecimento tradicional é um terreno pantanoso. É difícil definir a quem pertence um conhecimento, ainda mais quando várias populações são detentoras de conhecimentos comuns -o uso do curare, por exemplo.

Essa é uma das razões pelas quais empresas farmacêuticas sérias costumam correr dos índios.

A outra, no caso do Brasil, é uma legislação kafkeana que criminaliza a pesquisa ao mesmo tempo em que deixa buracos sobre a repartição de benefícios. Em seus mais de cinco anos como ministra, Marina Silva não conseguiu mudar essa norma.

Índios atacam exploração apoiada por Marina Silva



Defendida pela senadora Marina Silva (PV-AC), a exploração comercial de um fruto típico do Acre gerou um processo judicial por biopirataria contra a Natura. A gigante do setor de cosméticos tem relações próximas com a pré-candidata do PV a presidente.

A empresa é ré em uma ação do Ministério Público Federal na Justiça Federal do Acre em razão do suposto aproveitamento ilegal do fruto do murmuru, que é usado na produção de xampus e sabonetes.

A acusação é de uso comercial a partir do conhecimento tradicional do fruto pela etnia ashaninka, que vive na fronteira com o Peru.

Em 2001, o murmuru constava de um acervo de plantas do Acre levado por Marina à Natura, para possível exploração econômica. Em 2003, foi assinado um termo de compromisso nesse sentido entre a empresa e o governo do Acre, intermediado pela senadora.

A Natura é considerada exemplo de compromisso com o meio ambiente por Marina. Juntando doações da empresa e de seus diretores, foi a segunda maior contribuinte da última campanha da senadora, em 2002, com R$ 30 mil. Seu presidente, Guilherme Leal, é mencionado como possível vice na provável chapa de Marina em 2010. A maior doadora foi a Pirelli, com R$ 50 mil.

Em agosto de 2007, a Procuradoria entrou com ação contra a Natura e mais duas empresas de cosméticos, em nome dos índios, cobrando compensação financeira. "A Natura, embora negue, acessou conhecimento tradicional sobre o murmuru. [...] Não é digno de crença que, como gigante do ramo, não tivesse obtido dados a partir dos resultados das pesquisas junto aos ashaninkas", diz a ação.

"Uso indireto"

A base legal da ação é a medida provisória 2.186, de 2001, que assegura às comunidades indígenas "benefícios pela exploração econômica por terceiros, direta ou indiretamente, de conhecimento tradicional".

No caso, a Natura é acusada de "uso indireto", uma vez que o conhecimento teria sido repassado por um pesquisador que trabalhou com os ashaninkas nos anos 1990.

A empresa diz que teve acesso ao princípio ativo do murmuru na "vasta literatura científica" sobre o tema. A Procuradoria rebate que essa literatura baseou-se nas tradições dos ashaninkas, o que não isentaria a empresa de pagar pelo uso.

"Se você entrar na floresta procurando a esmo plantas, vai passar um século até achar algo. É evidente que foi pelo conhecimento dos ashaninka que se chegou ao murmuru", diz o procurador Anselmo Lopes.

A promotoria pede que os réus paguem 50% dos lucros obtidos com a venda dos produtos à base de murmuru como compensação. Ainda não há data para o julgamento do caso.. Matéria publicada na Folha tucana em 2009