Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

PML: a verdade sobre a declaração das florestas

Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília, conta em seu blog fatos inéditos sobre a decisão do governo Dilma de não assinar o documento "Declaração de Nova York sobre Florestas", "um texto de cinco páginas" apresentado como "pacto" ou "acordo" da ONU contra o desmatamento, mas que "não vem a ser uma coisa nem outra", segundo ele; Marina Silva chamou ato de "lamentável", seguida por Aécio Neves; PML expõe bastidores sobre a exclusão da diplomacia brasileira na elaboração do documento e o posicionamento do Acre, estado natal da candidata do PSB, que assinou o texto apesar da decisão da presidente; para ele, "ao cobrar assinatura de Declaração apoiada por apenas 1/7 dos países-membros da ONU, a oposição mostra que atira para qualquer lugar na campanha presidencial" 

247 – O debate criado pela não assinatura, por parte do governo brasileiro, da "Declaração de Nova York sobre Florestas", um "texto de cinco páginas" e que vem sendo apresentado como "pacto" ou "acordo" das Nações Unidas contra o desmatamento, mas que "não vem a ser uma coisa nem outra", mostra que a oposição "atira para qualquer lugar na campanha presidencial", escreve Paulo Moreira Leite, em nova coluna em seu blog no 247.

O jornalista traz fatos inéditos e relevantes sobre o episódio, que provocou críticas de Marina Silva contra a presidente Dilma Rousseff. Para a candidata do PSB, a atitude do Brasil em não se comprometer com o "pacto" pelo desmatamento das Nações Unidas foi "lamentável". A presidenciável logo foi seguida pelo adversário do PSDB, Aécio Neves, em suas críticas.

PML minimiza, no entanto, o chamado "acordo" da ONU. Trata-se de "um texto diplomaticamente paralelo: não foi votado nem debatido em nenhuma instância deliberativa da ONU", além de assinado por mais empresas (34) – multinacionais como Cargill e Mc Donald´s – do que países (27). "No total, apenas 1/7 dos países-membros da ONU assinaram o documento", diz. "A lista de quem ficou de fora, que chega a 166 países, inclui Itália, Espanha e Portugal", acrescenta Paulo Moreira Leite.

O colunista descreve ainda como o Brasil foi excluído dos debates que resultaram na elaboração do documento e o fato de o Acre, estado natal de Marina Silva, ter assinado o texto, na condição de um estado "subnacional" brasileiro. "Se fosse uma decisão séria e grave, teria sido um ato de secessão ucraniana — pois os subnacionais peruanos acompanharam a diplomacia do presidente do país", observa. Além disso, consta do texto que o governo brasileiro recebeu a primeira notícia sobre o documento no dia 21 de agosto – por coincidência, um dia depois de o PSB confirmar a chapa Marina Silva-Beto Albuquerque para disputar a eleição presidencial.


Dilma vai a Nova York e adversários perdem rumo de casa


PML na íntegra.

Ao cobrar assinatura de Declaração apoiada por apenas 1/7 dos países-membros da ONU, oposição mostra que atira para qualquer lugar na campanha presidencial

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Quando se recorda que a ONU possui 193 países-membros, é obrigatório refletir pelo menos um minuto sobre a representatividade de uma declaração assinada pelos governos de 27 países — ou menos de um sétimo do plenário nos raros dias de casa cheia. Mas como o Brasil se encontra no vale tudo da reta final da campanha presidencial onde o condomínio Lula-Dilma pode cravar a quarta vitória consecutiva, a ausência da assinatura do governo brasileiro provocou um debate para consumo interno  a menor relação com a relevância de um texto de cinco páginas intitulado “Declaração de Nova York sobre Florestas.”

O texto da declaração tem sido apresentado como “pacto” ou “acordo”, quando não vem a ser uma coisa nem outra. Trata-se de uma declaração de intenções — algumas boas, outras razoáveis, outras ruins — mas especialmente confusas. É um texto diplomaticamente paralelo: não foi votado nem debatido em nenhuma instância deliberativa da ONU, nem mesmo pela Secretaria Geral e muito menos pelos organismos voltados para o meio ambiente. É assinado por mais empresas (34) do que que países, entre elas gigantes com um passivo de denúncias ambientais, como a Cargill e a Mc Donald´s. Numa miscelânea pós-moderna, o número de ONGs chega a 45. As nações e entidades ligadas à causa indígena são 16. Do ponto de vista técnico, a Declaração mistura conceitos contraditórios e aponta para soluções reconhecidamente impraticáveis.

Num comportamento que leva observadores mais zangados a se perguntar o que não se faz por um patrocínio num conjuntura de vacas magérrimas para causas que não ajudam a pagar o almoço de amanhã, um anexo do documento faz questão de falar bem de grandes grupos multinacionais — Nestlé, Unilever, Wal-Mart, Danone, Carrefour, Kellogg’s — que têm feito “progresso para eliminar o desmatamento da cadeia de suprimentos” sem perder a oportunidade de registrar referências positivas a parcerias com ONGs.”

O documento recebeu assinatura do Reino Unido, hoje adversário agressivo do Brasil em encontros diplomáticos, Alemanha e Estados Unidos, além de países menos desenvolvidos, como Colômbia, Peru, Guiana, Libéria, Mongólia e Nepal. A lista de quem ficou de fora, que chega a 166 países, inclui Itália, Espanha e Portugal. Nenhum parceiro do Brasil no condomínio chamado Brics — China, Índia, Rússia e África do Sul — assinou o documento.

Num esforço que ajudou a dar volume à lista de assinantes, a coluna de signatários é engordada por oito estados “subnacionais”, um nome fictício, culturalmente questionável, para falar de governos estaduais ou províncias. Destes oito, sete são peruanos. Há um estado “subnacional” brasileiro. O Acre do governador Tião Viana, do PT, deixou seu autógrafo na declaração. Se fosse uma decisão séria e grave, teria sido um ato de secessão ucraniana — pois os subnacionais peruanos acompanharam a diplomacia do presidente do país.

Há um elemento curioso neste estado “subnacional” brasileiro. Em 18 de agosto de 2014, quando faltavam dois dias para Marina Silva oficializar sua candidatura presidencial, ocorreu uma mudança importante no primeiro escalão do governo do Acre. Seu marido, Fábio Vaz, deixou o governo petista. Até então, Fabio era secretario-adjunto, empossado em 2011, encarregado de políticas de desenvolvimento florestal — exatamente o tipo de assunto que foi debatido nos encontros diplomáticos que produziram a “Declaração de Nova York.”

Na semana passada, a candidata presidencial (e mulher de Fábio Vaz) Marina Silva classificou a ausência da assinatura do governo brasileiro como “lamentável.” Como previsível, Aécio Neves reagiu no mesmo tom.
Dilma esclareceu que o governo não foi convidado a discutir o conteúdo do documento — mas apenas para assinar, ou não, um texto final, fechado, que não era mais sujeito a alterações nem acréscimos.

Na prática, é possível considerar razões favoráveis e desfavoráveis para assinar o documento, mesmo sem concordar inteiramente. Acontece todos os dias na diplomacia. Um motivo a favor é que, num anexo, o documento faz referências elogiosas ao Brasil, que poderiam ser úteis para o governo comprar o debate sobre seu desempenho ambiental, inclusive na campanha.

O texto diz que “o Brasil demonstrou que o progresso (contra o desmatamento) pode ser obtido em larga escala.” Usando números que permitem comparar o desempenho de Lula-Dilma com a gestão de Fernando Henrique, o documento afirma: “Em 2013, o Brasil reduziu o desmatamento em 71%, quando se compara com a média de 1996-2005.”

O texto faz ainda uma afirmação que deixa os críticos do desempenho ambiental do governo de cabeça baixa. Está lá: “pelo tamanho das emissões evitadas, (o Brasil) pode muito bem ser o maior caso de sucesso até a hoje, globalmente, em qualquer setor.”

Você leu isso mesmo: “maior caso de sucesso, globalmente, em qualquer setor.” São governos dos EUA, França, Alemanha, mais quatro dezenas de ONGs que assinam isso.
Há outras questões além do marketing, porém. O documento — em fase de pegar ou largar quando foi apresentado ao Brasil — estabelece meta zero para o desmatamento.

O problema é que o Congresso brasileiro acabou de aprovar uma legislação, negociada longamente, definindo limites para o desmatamento. Podem chegar a 50% numa região, 35% em outras, 20% mais adiante. Não se fala em desmatamento zero nem isso seria possível — pois qualquer criança que já cuidou das plantas do jardim de casa dos avós sabe que sem algum nível de desmatamento não é possível trocar os cravos brancos pelas rosas vermelhas, e muito menos manter a agricultura como atividade básica para a sobrevivência humana.

Quem acompanha a postura diplomática do Brasil sob o governo Lula e Dilma, sabe que o país faz o possível para evitar entrar em festa pela porta dos fundos nem aceita ultimatos. No segundo turno da campanha presidencial de 2010, lideranças do Partido Verde promoveram um ato de apoio a Dilma. Até assessores de Marina estavam presentes. Na última hora, militantes do Greenpeace resolveram fazer uma cena: abriram uma faixa pedindo que Dilma assinasse o compromisso com o fim do desmatamento. “Não assino documentos sem ler antes,” respondeu a candidata. “E não faço demagogia para ganhar votos.”

A reconstituição dos fatos de 2014, que você irá ler a seguir, mostra que o governo brasileiro — um protagonista mais do que reconhecido dos debates ambientais desde a Rio 92 — foi deixado a margem de uma discussão travada nos bastidores, por iniciativa de adversários conhecidos de longa data.
A missão do Brasil na ONU tomou conhecimento da existência de que havia “uma” declaração sobre florestas em 21 de agosto — por coincidência, um dia depois do PSB confirmar a chapa Marina Silva-Beto Albuquerque para disputar a eleição presidencial.

Pelo que se sabe, foi naquele dia que o governo brasileiro recebeu a primeira notícia.

Isso aconteceu numa conversa informal em Nova York, quando um diplomata brasileiro foi informado a respeito por um colega da Indonésia, país que participava dos debates fechados. Em 27 de agosto, seis dias depois do primeiro encontro informal em Nova York, a missão do Brasil recebeu, por email, uma cópia da versão do texto, com uma advertência em inglês: “Final for approval.” No dia seguinte, a Missão do Brasil encaminhou formalmente a declaração para a Secretaria Executiva. Vinte dias depois, a Secretaria se manifestou. Admitiu que “o governo brasileiro não participou da elaboração da ‘Declaração de Nova York’ e tampouco foi procurado a respeito pelos proponentes da iniciativa. ” No mesmo dia, diplomatas brasileiros solicitaram novas informações, inclusive sobre a possibilidade de contribuir para o documento.

Eles enviaram um email a Charle McNeill, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que coordenava debates que, em teoria, teriam mais relação com a área ambiental da ONU. Este conformou que o texto estava fechado e “em fase de adesão”, o que excluía qualquer possibilidade de alteração.
Ao longo da semana, mesmo empresários de agro-negócio engajados em campanhas adversárias, como Roberto Rodrigues, que foi ministro da Agricultura no governo Lula, deram razão neste ponto. Entidades ambientais se dividiram.

Se o enredo está claro, falta esclarecer algumas questões. A “Declaração…”foi divulgada durante a Conferência do Clima, um evento que reuniu 120 chefes do governo, dos quais 70% ficaram de fora do documento. Reunindo ativistas do mundo inteiro, com apoio de sindicatos e entidades populares dos países desenvolvidos, uma marcha que pedia medidas efetivas pela preservação ambiental foi um sucesso de mobilização. Reuniu meio milhão de pessoas nas ruas de Nova York. “Chegou a haver engarrafamento de militantes na altura da rua 84″, ironiza um participante brasileiro. Atividade preparatória para 2015, quando haverá uma nova Conferência Ambiental em Paris, a Declaração recuperou, por vias tortas, um debate que mobiliza países ricos e pobres desde que a palavra ecologia foi pronunciada pela primeira vez.

Ao dar prioridade à preservação das florestas, o documento retoma o costume de colocar a carga mais pesada do ambientalismo sobre a população dos países pobres. O problema é que o desmatamento responde por apenas 12% das emissões atmosféricas, enquanto outras emissões, típicas dos países desenvolvidos, ficam com a maior parte. Imagine se, com a crise infinita de 2008, que está levando o desemprego para a Europa inteira, derrubando governos em toda parte, aqueles chefes de Estado de sorriso amarelo do Velho Mundo irão fazer os desembolsos bilionários que seriam necessários para modernizar seu parque industrial — não para aumentar a produção, mas para diminuir a poluição.

“Num quadro de injustiça ambiental, as populações pobres são as mais vulneráveis, principalmente em nossas cidades,” discursou Dilma, na Conferência do Clima. “Historicamente, os países desenvolvidos alcançaram o nível de bem estar de suas sociedades graças a um modelo de desenvolvimento baseado em altas taxas de emissões de gases danosos ao clima. Nos não queremos repetir esse modelo. Mas não renunciaremos ao imperativo de reduzir as desigualdades e elevar o padrão de vida da nossa gente. Nós, países em desenvolvimento, temos igual direito ao bem-estar. E estamos provando que um modelo socialmente justo e ambientalmente sustentável e possível.”

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Dirigente do WWF: “Tirar o pré-sal da lista também seria uma boa ideia”

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por Luiz Carlos Azenha, a partir da dica do FrancoAtirador

Como a ONG se coloca no papel de, ainda que indiretamente, interferir na política eleitoral interna dos países em que atua (você verá logo mais), é mais que justo que a gente também lembre que o onguismo vem sendo crescentemente criticado no mundo.
Não estou falando de Hugo Chávez ou Vladimir Putin. O primeiro, na Venezuela, proibiu as ONGs de financiar as atividades locais que eram formas disfarçadas de ajudar a oposição. Putin fez o mesmo na Rússia e chegou a ameaçar que expulsaria todas as ONGs do território nacional.
Estas atitudes não cairam do céu.
Na Venezuela, a advogada Eva Golinger revelou a existência de um plano escrito para causar distúrbios durante o governo de Nicolás Maduro, sucessor de Chávez. O documento está aqui. Uma reportagem sobre ele publicada pelo Viomundoaqui.
O documento foi produzido em encontro, em junho de 2013, pela empresa de consultoria FTI Consulting, dos Estados Unidos e pelas organizações colombianas Fundación Centro de Pensamiento Primero Colombia e Fundación Internacionalismo Democratico. Ambas teriam ligações com o ex-presidente de extrema-direita, Álvaro Uribe. Da reunião em que se definiu a estratégia contra o chavismo participaram o chefe regional da famosa USAID (Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos), o psicólogo e estrategista Juan Jose Rendon e líderes da oposição venezuelana, inclusive Maria Corina Machado, que tem viajado o mundo denunciando Chávez/Maduro.
Aqui, permitam-me uma digressão. Eu era correspondente da TV Manchete em Nova York quando aconteceu o grande escândalo no governo conservador de Ronald Reagan, o Irã-Contras. Secretamente, os Estados Unidos venderam armas ao Irã, país com o qual não mantinham relações diplomáticas e que estava sob embargo internacional para compra de armas. Foi em 1986. O Irã estava em guerra contra o vizinho Iraque, numa disputa por campos de petróleo fronteiriços.
Os Estados Unidos forneciam informações relevantes a Saddam Hussein, do Iraque, sobre o movimento de tropas do Irã (o ditador iraquiano correu risco de ser derrotado militarmente). Os iranianos atacavam com ondas humanas e, com fotos de satélite fornecidas por Washington, Saddam sabia antecipadamente onde as ofensivas estavam sendo organizadas.
No mesmo período, os Estados Unidos venderam armas ao Irã. Com o dinheiro, financiaram outra guerra, a dos chamados “contras”, que tentavam derrubar o governo legítimo, constitucional, sandinista e de esquerda da Nicarágua.
Quando a casa de Reagan quase caiu e ele ficou sob o risco de ver fechada a torneira no Congresso, optou por uma espécie de privatização da política externa. A CIA era muito visada pelos crimes em série que havia cometido mundo a fora. Assim, foi criado o NED, o National Endownment for Democracy, uma super ONG financiada com dinheiro público que passou a “promover a democracia” no mundo, obviamente sob a tutela financeira e política de Washington. O NED, vamos dizer, é generoso: repassa dinheiro para entidades ligadas a republicanos e democratas, sindicatos e empresários. Ao NED se juntaram outras fundações e entidades que se dizem de fins não lucrativos, todas interessadas em “promover a democracia”. Há, inclusive, divergência entre elas.
Porém, basicamente o que fazem é treinar a chamada sociedade civil de outros países para ensinar democracia ao estilo dos Estados Unidos. Algumas são mais agressivas, outras não. Algumas prestam serviços de fato relevantes. O fato central é que elas fixam, nas pessoas “treinadas” por elas, a ideia de que não há alternativa ao modelo norte-americano. Ajudam a promover um pluralismo de fachada, já que exlcuem qualquer transformação mais profunda de estruturas intrinsicamente injustas. Confinam o debate.
O NED e associados, como a Fundação Soros, incentivam a “exportação de democracia” treinando militantes, focando em jovens, ensinando novas formas de comunicação. Não foram as responsáveis, mas estimularam revoltas no Leste Europeu, na África e no Oriente Médio. Coincidentemente, quanto mais fragilizados estiverem outros Estados, mais fácil fica o domínio dos países centrais sobre os recursos naturais do mundo.
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Vejamos agora o que a revista alemã Der Spiegelque não é comunista, escreveu sobre o WWF, aqui:
Título: Verniz verde: O WWF ajuda a indústria mais que o meio ambiente
Trechos relevantes:
Quer proteger as florestas tropicais? Para começar, tudo de que você precisa é de 5 euros. Salvar os gorilas? Três euros e você será incluído. Você pode fazer sua parte ajudando a natureza com apenas 50 centavos — desde que confie o dinheiro ao World Wide Fund for Nature (WWF), que ainda é conhecido nos Estados Unidos e Canadá por seu nome original de World Wildlife Fund. No ano passado, a WWF, junto com a cadeia varejista Rewe, vendeu mais de 2 milhões de peças a colecionadores. Em apenas seis semanas, o programa levantou 875,088 euros, que a Rewe transferiu à WWF. (…) Os governos também dão muito dinheiro para a organização. Ao longo dos anos, a WWF recebeu um total de U$ 120 milhões de dólares da USAID, a Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos. Por muito tempo, os ministérios do governo alemão foram tão generosos com a organização que a própria WWF decidiu, nos anos 90, limitar o financiamento recebido de governos. A WWF estava ansiosa para não ser vista como mera extensão das agências de proteção ambiental governamentais. (…)
A WWF, cuja sede mundial está em Gland, na Suiça, é vista como a mais poderosa organização conservacionista. É ativa em mais de 100 países, onde tem conexões com os ricos e poderosos. Sua marca registrada, um Panda, aparece nos copos de iogurte da Danone e nas roupas de socialites como a princesa Charlene de Mônaco. As companhias pagam taxas milionárias pelo privilégio de usar o logotipo. A WWF tem 430 mil integrantes só na Alemanha e milhões de pessoas doam sua poupança à organização. A questão é quão suntentavelmente o dinheiro é investido. (…) Representantes de organizações independentes do governo alemão, como as ONGs Rettet den Regenwald (Rainforest Rescue) e Robin Wood já não enxergam a WWF como defensora dos animais. Em vez disso, enxergam na WWF uma cúmplice das corporações. Na opinião delas, a WFF dá às corporações licença para destruir a natureza, em troca de grandes doações e pequenas concessões.
Agora vejam, logo abaixo, um trecho de entrevista que fiz com o seringueiro Osmarino Amâncio, no Acre (para ver a entrevista imperdível, clique aqui). Lá atrás, ele foi companheiro de “empates” de Marina Silva, ou seja, ambos batalharam na floresta contra a chegada de latifundiários “paulistas”, que queriam detonar os seringais e implantar pecuária extensiva e devastadora na Amazônia.


Notem o que ele diz sobre a relação entre WWF e a candidata ao Planalto Marina Silva, quando ela era ministra do Meio Ambiente no governo Lula:

Agora que contextualizamos, vamos ao que disse a chefe da WWF no Brasil, num trecho da entrevista à GloboNews:

“O que a presidente precisa dizer é o que será feito no futuro. Não é suficiente dizer que a gente já economizou dinheiro se a gente quiser continuar vivendo no futuro daqui pra frente. A gente tem que fazer mais. Eu acho que o que a presidente talvez pudesse de nos dar de alento é mostrar que a nossa matriz energética está apostando em energia eólica e solar, coisa que a gente não tá vendo num crescimento que deveria ver, porque ainda estamos naquela lógica de, sim, temos muita hidreletricidade, ou seja energia produzida com grandes reservatórios que conservam água. Isso também é impactante, isso também joga carbono na atmosfera face aos processos construtivos e de manutenção. Falta a nossa presidente nos mostrar um caminho mais agressivo e mais do século 21 no que diz respeito às energias. E tirar o pré-sal da lista também seria uma boa ideia”.

É um discurso muito, muito parecido com o de Marina Silva, que já foi premiada pelo WWF com a importante honraria do Duque de Edimburgo.
Maria Cecília Wei de Brito é uma pessoa respeitadíssima. Mas repete o comportamento dos diversos “lobismos” que atuam para influenciar políticas públicas. A falta de — uma frase que certamente agradaria Marina Silva — uma “visão holística”, política e econômica, do processo.
A produção de energia hidrelétrica ainda oferece uma vantagem competitiva à indústria brasileira na disputa pelo mercado internacional. Há um debate interessante na área. Há quem advogue pelas PCH, as pequenas centrais hidreléticas, como Ivo Pugnaloni, em artigo publicado no Viomundo. Há quem diga que, ao fim e ao cabo, a energia hidrelétrica não é limpa, nem barata, como disse o professor Celio Bermann em entrevista ao ViomundoPara ele, a hidrelétrica de Belo Monte serve essencialmente aos aliados de José Sarney e às mineradoras.
Mas o fato, o fato concreto, é que hoje temos já implantado um grande parque hidrelétrico no Brasil. Fazer a transição custa dinheiro.
Poderemos desenvolver nossos próprios cataventos (muitos comprados na Alemanha) e painéis solares (muitos vindos da China).
O Brasil não pode se dar ao luxo de, ao fazer a transição, ser mero importador de tecnologia. Isso, se quiser criar os empregos de qualidade de que precisa.
O programa econômico dos liberais (Aécio) e hiperliberais (Marina Silva) pensa, grosseiramente, assim: a gente derruba os salários, tira alguns direitos sociais, submete a indústria brasileira à competição externa em melhores condições e, assim, vamos exportar mais. O risco, como nos disse em entrevista o professor André Biancarelli, é abrir totalmente o mercado interno de 200 milhões de consumidores e perder justamente o que salvou a economia brasileira depois da crise financeira de 2008.
Poderemos ter um grande aporte de capital internacional no Brasil, ainda maior, para tirar proveito da mão-de-obra barateada, mas também poderemos ter um número crescente de maquiladoras, como o México, El Salvador e outros países centro-americanos.
Em resumo, nossa dependência externa pode aumentar justamente num momento de crise econômica internacional duradoura, em que a China produz sua própria tecnologia, conta com mão-de-obra barata e coloca seus produtos de forma avassaladora no mercado mundial.
Quanto aos países do capitalismo central, optaram por tecnologia de ponta, de altíssimo valor agregado, de empregos que pagam bem, que preservam o meio ambiente, ganhando também ao exportar para os países pobres suas tecnologias poluentes e já ultrapassadas.
Tudo o que a chefe do WWF no Brasil quer é mesmo desejável — recuperar os rios, acabar com represamentos, restaurar as várzeas e as matas ciliares, devolver à população o prazer de se banhar no Tietê despoluído, trazer de volta espécies que correm risco porque dependem de um rio livre para fazer a piracema (nadar contra a correnteza e se reproduzir), acabar com as ‘retificações’ de rios introduzidas no tempo em que era preciso acelerar as águas (por causa do risco de doenças), colocar escadas para piracema nas hidrelétricas brasileiras que não as possuem — com isso protegendo a biodiversidade –, preservar as nascentes — tudo isso é mesmo desejável no século 21.
Mas o Brasil não é a Alemanha, nem os Estados Unidos.
É justamente aí em que reside o problema destas ONGs que pretendem “nos ajudar”. Elas pensam com a cabeça daqueles que as financiam. Num dos trechos de sua entrevista, Maria Cecília Wei de Brito disse textualmente: “E tirar o pré-sal da lista também seria uma boa ideia”.
Porém, reside no pré-sal a possibilidade de o Brasil, ao ser exportador de petróleo, financiar o desenvolvimento de tecnologias próprias, de cadeias produtivas internas, para construir pelo menos parte dos painéis solares, cataventos, motores menos poluentes e pequenas centrais hidrelétricas a serem utilizados na fase de transição.
Não explorar o pré-sal é congelar o Brasil numa espécie de mundo sonhático, em que desperdiçamos nossa principal fonte de riqueza, enfraquecemos a indústria nacional de automóveis, perdemos ou rebaixamos a qualidade dos empregos e nos tornamos ainda mais dependentes de tecnologia importada.
Talvez sob a influência de seus financiadores, algumas ONGs querem que o Brasil assuma um papel desproporcional na proteção do ambiente mundial, uma espécie de “santuário” onde 200 milhões de pessoas precisam comer, estudar e trabalhar — Neca Setubal, inclusive.
Porém, notem no gráfico do Der Spiegel, baseado em dados de 2005, quem mais emitiu gás carbônico no planeta desde 1850:
offenders
Ou seja, eles querem que o Brasil pague agora, de forma desproporcional, a conta que vem sendo pendurada no meio ambiente há mais de um século e meio!
Sei que, como eu, o WWF sonha com ciclistas atléticos, rios limpos, florestas preservadas e um país produtor apenas de tecnologia e energia limpas. Mas, pela força das circunstâncias que expliquei acima, se o Brasil descartar o pré-sal o sonho do WWF só vai se realizar na Alemanha.
canastra
Olhar para o entorno é sempre bom (foto Luiz Carlos Azenha, na cachoeira Casca D’Anta, na serra da Canastra)
[O conteúdo exclusivo do Viomundo, como o documentário sobre o Choque de Gestão em Montezuma, que fiz recentemente com edição de Padu Palmério, é bancado exclusivamente pelos assinantes deste site. Torne-se um deles]
PS do Viomundo: Durante a entrevista, a GloboNews faz uma reportagem se referindo à nascente do rio São Francisco como sendo um riacho em São Roque de Minas, na serra da Canastra, onde estive recentemente. Há controvérsiasa partir de um estudo que colocou a nascente no município de Medeiros, embora não haja reconhecimento oficial da mudança. Além disso, o problema principal para preservar as importantes nascentes dali são as disputas jurídicas com fazendeiros que querem impedir a implantação do Parque Nacional como foi originalmente planejado, além do interesse de mineradoras. Depois da campanha, esperamos o WWF também lá, lutando contra fazendeiros e mineradoras e garantindo o parque íntegro, da forma como foi criado.
Leia também:

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O bagre do Rio Madeira continua lá. E a eletricidade está aqui

bagre

Semana que vem, quando Marina Silva estiver sendo entrevistada no Jornal Nacional, sete de cada 100 pessoas que a assistirão estarão com a TV ligada graças à energia da Usina Santo Antonio, no Rio Madeira.
Aquela que, quando era Ministra, ela não queria deixar construir, alegando que os bagres desapareceriam do rio.

Os bagres continuam lá, graças ao trabalho de manejo ambiental desenvolvido por vários órgãos, entre eles a Universidade Federal do Amazonas e a de Rondônia, que pode ser consultado aqui por quem o desejar, numa publicação de onde tiro a bela imagem acima. Alguns ganharam até chips para serem monitorados na sua migração para a desova, por um canal artificial.

Ontem, começou a funcionar a 30ª das 50 turbinas que a usina terá em funcionamento até agosto do ano que vem.

Juntas, elas geram mais de 2 mil Megawatt, o equivalente a toda – reparem, toda mesmo – a economia que está sendo feita na geração dos reservatórios do Sudeste, castigados pela estiagem.

Para o Brasil retomar o ritmo de crescimento na casa dos 5%, como é preciso, o acréscimo da demanda de energia elétrica é na casa de uma usina destas por ano.

E não é possível que uma pessoa com um mínimo de capacidade de raciocínio ache que isso vai ser suprido pelos cataventos das usinas eólicas. Elas são importantes, mas inconstantes: ontem, geraram 1,5 MW médios, dias atrás, 600. Depende, é claro, do vento.

É possível e necessária a conciliação entre preservação do meio-ambiente e aproveitamento hidrelétrico dos rios.

Assim como é mentira que se possa produzir energia sem impacto ambiental – até as eólicas têm – é demagogia terrível e destrutiva achar que se pode privar o Brasil de energia suficiente para seu desenvolvimento econômico, porque é este que gera o desenvolvimento social.

Do contrário, é a miséria e nada é mais destrutivo ao meio ambiente que a miséria, que empurra nossos irmãos para as periferias, avança sobre as áreas de preservação e torna a vida humana degradada e degradante.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Bocejos para o século XXI

Nenhuma das questões essenciais que desafiam o futuro da humanidade encontra resposta adequada no ambiente extremado da desregulação global, pós crise.
por: Saul Leblon 

Arquivo




















O impasse entre a lógica dos mercados e os interesses da humanidade, sobretudo da parcela  que ainda luta pelo seu desenvolvimento, está por trás das declarações truncadas, dos documentos entremeados de colchetes [sinônimo de pendências diplomáticas] e da circularidade irritante dos fóruns globais  que bocejam para as urgências do século XXI.

Sempre foi assim, mas o quadro se agravou com o colapso da ordem neoliberal, desde 2008.

A emergência  dos pobres se agudizou; o caixa dos ricos se retraiu. A desordem financeira se acomodou  às custas do elo mais fraco da corrente.

Num primeiro momento, o ajuste se deu pela expansão da liquidez internacional para salvar a bancarrota da grande finança.

A contrapartida foi a valorização das moedas locais, uma doença autoimune que passou a operar contra a produção doméstica, à favor das importações ‘baratas’.

Na reversão do ciclo, ensaiada agora pelo BC norte-americano, pavimentam-se as condições à ascensão do receituário recessivo.

Chegou a hora, esfrega as mãos o colunismo  isento por essas bandas, que evoca a desforra das urnas desde setembro de 2008.

Manchetes exigem que o governo se antecipe à ‘tempestade perfeita’, adotando-a voluntariamente.

A saber: raios de choque de  juros para conter a fuga de capitais e o salto da inflação; trovões de arrocho fiscal sobre os pobres, para purgar os pecados das desonerações ao consumo e ao investimento (feitas para evitar a internalização da crise dos ricos).

O encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC), que acontece esta semana, em Bali, na Indonésia, ilustra essa colisão da  lógica na esfera econômica.

Como conciliar, a essa altura, o interesse protecionista  de milhões de pequenos agricultores da Índia, por exemplo, com a voragem liberalizante das grades potencias exportadoras de grãos? 

Chovem colchetes em Bali.

Há duas semanas, o mesmo ambiente de prostração se repetiu na Polônia.

A 19ª reunião do clima, preparatória para o encontro de 2015, em Paris (quando em tese será pactuado um novo acordo global)  não avançou um honesto centímetro no esboço de um sucessor para o malogrado protocolo de Kioto.

A crise colocou a agenda da descarbonização na gaveta das prioridades remotas.

E endureceu o braço de ferro na distribuição dos sacrifícios imediatos.

Quanto cada nação poderá emitir, antes que a temperatura multiplique eventos extremos em progressão devastadora?

Reza a Convenção do Clima, de 1992, que é necessário  diferenciar as responsabilidades, maiores, dos países ricos em relação aos pobres que ainda lutam  pelo seu desenvolvimento.

Não foi o que ocorreu até hoje.

 ‘70% das emissões de gases-estufa até 2010 vieram dos países desenvolvidos, enquanto 70% das reduções das emissões até agora foram feitas pelos países em desenvolvimento’, desabafou a delegação chinesa na fracassada reunião de Varsóvia, segundo o jornal Valor.

 A  China, a exemplo do Brasil, deve uma cota de sacrifício ao futuro.

Os propulsores do seu desenvolvimento terão que convergir desde já para uma matriz menos poluente. Mas tudo isso será inútil se sociedade norte-americana persistir, de longe, como a maior ameaça ao aquecimento do planeta.

A emissão média per capita nos EUA hoje é de 16,9 toneladas de CO2 por habitante/ano. Equivale a dizer que cada norte-americano sozinho emite mais que um chinês e um europeu juntos (respectivamente 6,8 t/per capita/ano e 8,1 t/per capita/ano).

A delegação dos EUA  nesses encontros desconversa e evoca contribuições isonômicas para ‘salvar o planeta’.

Tampouco  assume a iniciativa de inaugurar doações ao Fundo Verde, criado em 2009, na reunião de Copenhague, que destinaria US$ 100 bi em compensações ambientais às nações em desenvolvimento.

Se Obama não comparece, o resto do planeta se desobriga; as  discussões giram em torno de miragens desprovidas de lastro econômico ou políticas.

Nem ONGs aguentam mais.

Mais 700 ativistas das 13 megaorganizações - incluindo Greenpeace, WWF e Oxfam – deixaram o Estádio Nacional de Varsóvia no meio da COP 19.

Do lado da fome e da miséria, o cenário tampouco está imune ao tsunami de colchetes.

Aguarda-se a generosidade dos países ricos para dar alicerce financeiro à necessária repactuação dos Objetivos das Metas do Milênio de 1990.

A principal delas --reduzir à metade os níveis de fome e miséria, até 2015,  foi alcançada por apenas  40 nações. O Brasil é um dos destaques.

Mas e os restantes 840 milhões de famintos?

São necessários  cerca de U$ 30 bilhões de dólares/ano para um combate efetivo às causas do seu infortúnio.

Quem se habilita?

Silencio de ouvir moscas nos encontros mundiais.

É nesse mundo de ouvidos moucos que a OMC buscar o Santo Graal na Indonésia, aquele ponto de equilíbrio capaz de conciliar o ímpeto dos livres mercados e o interesse coletivo da humanidade.

Pretende-se, de um lado,  eliminar barreiras protecionistas e alfandegárias; de outro, garantir salvaguardas de subsídio a uma agricultura familiar que costura várias das boas intenções que desfilam por entre bocejos nos fóruns internacionais.

Basta dizer que 70% da fome do planeta concentra-se no espaço rural e que a pequena agricultura cooperativa talvez seja um suporte de segurança alimentar alternativo à escalada esgotante dos métodos convencionais de plantio.

A dificuldade de um consenso em torno desse ponto imaginário reflete menos as dificuldades técnicas que ele encerra, do que o embate entre  interesses  que a nomenclatura conservadora no Brasil denominou de:  ‘intervencionismo da Dilma’ versus  ‘agenda do custo Brasil’.

Ou, no idioma acadêmico, planejamento público versus desregulação de mercados.

O ponto a reter é que nenhuma das questões essenciais que desafiam o futuro da humanidade  –a fome e a miséria, o destino do clima e da cooperação para o desenvolvimento—  encontra  resposta adequada no ambiente extremado da desregulação existente na ordem  global.

Isso deveria dizer algo ao debate sucessório brasileiro em 2014.

Não apenas a quem reverbera aqui a emergência ambiental mas, paradoxalmente, alia-se aos que atribuem aos ‘livres mercados’ a panaceia para os gargalos nacionais.

O campo progressista –inclua-se aí o PT-- talvez devesse considerar também com mais de seriedade a hipótese de existir neste país condições singulares para aquilo de que tanto se fala e tão pouco se arrisca.

Não uma identidade exaustiva de agenda histórica.

Mas  a possibilidade de uma articulação inédita de força social e  horizonte econômico em torno do pré-sal brasileiro.

Uma agenda de convergência da riqueza na qual a lógica de mercado se subordine ao planejamento democrático da sociedade em que os brasileiros querem viver no século XXI.

A soberba do pragmatismo bem sucedido,  ou a esférica indiferença dos portadores da verdade histórica, pouco ou nada representam diante do ganho que uma frente política dessa ordem traria a um mundo enfadado de bocejos, diante de um século que mal nasceu e já parece morrer.

sábado, 19 de novembro de 2011

Chevron assume culpa. Ela escondeu o vazamento.Que lição! Petrobras socorreu a incapaz Chevron…

 

Este senhor, Charles Buck, sabe há dez dias porque o petróleo vazou
A nossa grande imprensa “papou mosca”, de novo. E de novo em um assunto de imensa gravidade.
O presidente da Chevron no Brasil, Charles Buck, disse ontem à noite que a empresa foi culpada pelo vazamento, por não aplicar técnicas adequadas de cimentação do revestimento da coluna de perfuração .
A perfuração foi feita com uma cimentação insuficiente para proteger a rocha em torno dos tubos de revestimento do poço e o petróleo subiu por este espaço, infiltrando-se na rocha e subindo à superfície do solo oceânico.
A revelação está no portal Energia Hoje:
“O presidente da Chevron no Brasil, George Buck, afirmou nesta sexta-feira (18/11) que a petroleira foi responsável pelo acidente que provocou o vazamento de óleo na última semana no campo de Frade, na Bacia de Campos. Segundo o executivo, a companhia subestimou a pressão do reservatório, provocando o acidente.
    “É nossa culpa. Nós subestimamos a pressão do reservatório”, afirmou Buck. “O problema é que a pressão na formação foi maior do que a lama de perfuração poderia suportar. A modelagem do reservatório nos deu a informação incorreta sobre a pressão.”
    O poço horizontal de avaliação foi perfurado em lâmina d´água de 1.211 m. O reservatório foi encontrado no dia 7, a 2.279 m de profundidade. Quando a broca perfurou a formação, houve um kick, levando o óleo para dentro do poço em alta pressão.
    O poço estava revestido até os 567 m de profundidade. No caminho restante até o reservatório, a rocha tinha fendas, que levaram o óleo até à superfície.
    Um dia depois, a Petrobras informou à Chevron que havia identificado uma mancha, confirmada na noite seguinte pela companhia norte-americana. A petroleira levou três dias para identificar o vazamento abaixo do revestimento e, no dia 13, fechar o poço com lama de perfuração de alta densidade. No dia 14, começou a cimentação.
    De acordo com Buck, a fonte do vazamento foi fechada no último dia 17, com a cimentação de 350 m de poço. O executivo afirma que o óleo que ainda está chegando à superfície foi liberado antes dessa data.”
    Ou seja, a Chevron cometeu erros técnicos básicos, conduzindo a perfuração por uma extensão grande demais antes de noca cimentação. E esse erro tem uma básica razão: redução de prazos e custos da operação.
    Mas a Chevron cometeu outro erro, mais grave, imperdoável.
    A narrativa do presidente da empresa mostra claramente que a Chevron sabia, desde o dia em que foram avistadas as manchas de óleo, a razão do vazamento.
    Se é que não sabia antes, porque as manchas foram avistadas pelo pessoal da Petrobras e, aí, não dava mais para ter segredo.
    Como não houve vazamento direto pela cabeça de poço, o que é evitado pelo equipamento chamado Blowout Preventer, pode – pode, insisto – ter havido a tentação de imaginar que o fluxo de óleo externo ao tudo fosse ficar retido pelas paredes de rocha e ou não alcançasse a superfície ou vazasse muito lentamente, sem grandes evidências.
    Há um erro técnico que deve ser avaliado pelos peritos. Mas há um crime indiscutível de omissão de informações – com a  indulgência da nossa mídia – , crime que é imperdoável, porque evidencia má-fé.

    Que lição! Petrobras socorreu a incapaz Chevron…

    A fonte não poderia ser mais insuspeita: é O Globo quem diz que foi a Petrobras, que opera o campo de Roncador, vizinho ao de Frade, que encontrou óleo no mar, avisou a Chevron e ainda emprestou os dois robôs  submarinos necessários para identificar a origem e começar a combater o vazamento de petróleo.
    Emprestou porque o equipamento da Chevron, diz o jornal, “tinha capacidade limitada de operação e não conseguia fazer uma leitura precisa das coordenadas do local de onde vinha o petróleo”. E os robôs submarinos da Petrobras tinham e conseguiam.
    A Chevron não é uma empresa inexperiente e sem equipamentos ou tecnologia. So que não se acanha de trabalhar aqui com equipamento limitado ou obsoleto, porque se sabe poderosa. Ao ponto de passar uma semana distribuindo press-releases e fotos mentirosas do vazamento e não ser questionada pela imprensa, como ocorreu.
    Agora, os jornais falam em falta de transparência e os ambientalistas protestam. Muito bem, é o correto. Como foi incorreto seu silêncio.
    Que episódio tristemente exemplar do comportamento colonizado de nossa elite “pensante”. Aceitou passivamente o “la garantía soy yo” da petroleira americana. Não foi atrás de um dado, de informações, de elementos. Era a Chevron, uma das “sete irmãs” do petróleo quem dizia, para quê?
    Quis o destino que devamos também a um americano – um simples geógrafo, John Amos, do site Skytruth - a chance que tivemos de furar este bloqueio de servilismo. Foi ele, com a interpretação de fotos – públicas, por sinal – de satélites,  conseguiu demarcar o tamanho imenso da mancha de óleo. E a blogosfera – aliás, aos “blogueiros sujos” como nos chamam os “limpinhos”  da grande mídia – difundiu a verdade com que não contavam.
    Na cabeça servil dos colonizados não entra o entendimento de que, para o Brasil, a Petrobras não é apenas uma empresa para furar poços e tirar petróleo como as demais. Não conseguem entender que é ela, e mais ninguém, quem tem a tecnologia, os equipamentos e o conhecimento para que essa perigossíssima atividade – e mais ainda no mar – possa ser feita em segurança e tenha uma fiscalização correta.
    O resto, sobretudo a ANP, não tem tamanho, capacidade e, sobretudo, tamanho e conhecimento para se relacionar, de forma altiva e corajosa, com essas gigantes que estão por aqui. E que não podem ficar, se os seus métodos de trabalho forem os que estão sendo revelados na Chevron.

    sexta-feira, 12 de agosto de 2011

    Luciano Huck é multado em R$ 50 mil


    Por Altamiro Borges

    Luciano Huck – badaladíssimo apresentador da TV Globo, “bom moço” da capa da Veja e cabo eleitoral de José Serra em 2010 – acaba de ser multado pela Secretaria do Meio Ambiente do Rio de Janeiro em R$ 50 mil. A mixuruca punição é pela construção de obras irregulares no entorno da Ilha das Palmeiras, em Angra dos Reis, onde a estrela global possuí uma mansão.

    A multa foi aplicada em 2006, mas só foi ratificada pela secretaria municipal nesta terça-feira (9). Ela se refere à construção de um muro de arrimo com cerca de dez metros para a formação de uma praia artificial. Diante da repercussão do caso, o apresentador promoveu mudanças na obra irregular. Ele ainda pode recorrer na Justiça contra a punição.

    Bom-mocismo na berlinda

    No mês passado, Huck já havia sido multado pela Justiça de Angra dos Reis em R$ 40 mil pela colocação de bóias em torno da ilha para criação de camarão. A juíza da 1ª Vara Federal da cidade, Maria de Lourdes Coutinho Tavares, alegou que, “sob o propósito do exercício futuro de atividades de maricultura”, Huck prejudicou a natureza e tomou a iniciativa sem autorização ambiental.

    Huck também é alvo de uma ação do Ministério Público, que sustenta que a motivação da colocação do cerco "é outra que não a atividade de maricultura, ou seja, a maricultura seria um instrumento, um pretexto para legitimar a pretensão não acolhida pela lei, de apoderamento de bem de uso comum do povo". Em outras palavras, ele estaria privatizando um bem público. O “bom-mocismo” da estrela global, tão paparicado pela mídia, está na berlinda!

    terça-feira, 15 de março de 2011

    Santayana, ou a surdez das formigas


    Os ouvidos da formiga

    Mauro Santayana

    Há anos tento recuperar o texto de um dos mais assustadores contos de ciência ficção, que li ainda na adolescência. Ao que me indica a frágil lembrança da narração, o autor era russo. Em certo dia, os astrônomos localizam uma nuvem de gás letal que se aproxima da Terra e que a cobrirá, fatalmente. Certos do fim da vida no planeta, os líderes políticos se reúnem às pressas com os cientistas e, no tempo ainda disponível, tomam providências para registrar tudo o que seria possível guardar para uma civilização que viesse a surgir, em qualquer tempo depois, em nosso planeta. Um complexo sistema é estabelecido para chamar a atenção do futuro ser inteligente, quando, passado o efeito do envenenamento atmosférico, fosse presumível a comunicação com esse desconhecido, descendente de alguma forma de vida preservada durante o grande acidente cósmico.


    Um dia, os grandes alto-falantes, espalhados pelo mundo, reproduzem o som estridente das sirenes e, em seguida, em todas as línguas imagináveis, as informações sobre os arquivos da vida humana, com as chaves de sua decodificação. Durante meses, enquanto duram as potentes baterias do sistema, os sons se repetem, sem que haja qualquer reação. Segundo o conto, os únicos seres sobreviventes haviam sido as formigas – e as formigas são surdas.


    Nos arquivos subterrâneos, e para sempre, enquanto o sol brilhar e a Terra existir, jazerão, tão indiferentes como as rochas, as gravações da Quinta Sinfonia de Beethoven, com sua intrigante pausa inicial; das Quatro Estações de Vivaldi, de toda a obra de Bach e Telleman, das Sinfonias de Mahler e das surpreendentes composições de Gershwin;  as mais belas esculturas; todos os livros do mundo, juntamente com as pinturas, da reprodução dos afrescos da Antiguidade a Miró e Picasso. Também guardados em recipientes de cristal selado, os grandes filmes até então produzidos.


    Não estamos ouvindo os avisos da Natureza. Eles estão sendo mais insistentes em nosso século, que se inicia, do que nunca foram. Esses avisos podem ser confirmados pela ciência: o pólo magnético se desloca rapidamente, em conseqüência das tempestades magnéticas se sucedem. Há o risco, já anunciado, de que haja  tal subversão no campo magnético terrestre que todos os registros eletrônicos se apagarão em um instante – e para sempre.


    O homem ainda não se deu conta de sua grandeza. A inteligência que o assiste é a maior expressão da vida no Cosmos. Fruto do acaso, ou de  deliberada intenção superior, o Universo, com seus mistérios e sua imensidão só serve ao homem, porque só o homem tem a consciência de que o Universo existe.


    Nos últimos 150 anos causamos mais danos à Natureza do que em todo o curso da vida na Terra. E não adianta esquivar-se da verdade, tão clara como o sol das manhãs de verão: toda essa violência se fez em nome do lucro, em nome do acelerado crescimento do capitalismo, exacerbado a partir de sua aliança com a inteligência tecnológica. Ou paramos para refletir sobre tudo isso, ou, realmente, não merecemos o Universo que recebemos ao nascer e que, mesmo o perdendo, cada um de nós, ao morrer,  o legaremos aos que virão de nossa semente e de nossos sonhos. Nós o legaremos com o melhor de nossa essência, na arte, essa sublime cumplicidade com a natureza, no pensamento filosófico, na fé na transcendência, no registro das histórias de amor.


    Isso, se conseguirmos encontrar a razão da vida, que perdemos, inebriados pelo mito do progresso sem limites, do hedonismo sem limites, da insânia sem limites. Uma coisa é certa: nosso sistema de vida, conduzido pela razão do capitalismo, é incompatível com a preservação da espécie. Temos que encontrar um novo caminho, em que o homem possa ser feliz e se realizar, enquanto o nosso planeta se mantiver girando, na órbita de uma estrela ainda viva.

    quinta-feira, 10 de março de 2011

    CNBB prega a miséria para o Brasil e a riqueza para a igreja



    A igreja defendendo o meio-ambiente
    CNBB defende respeito ao planeta e critica o pré-sal
    Documento da Campanha da Fraternidade de 2011 cita projeto de exploração do petróleo que é um dos principais do governo

    Brasília - O projeto de exploração de petróleo na camada do pré-sal foi criticado pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) durante o lançamento, ontem, da Campanha da Fraternidade. Com o tema “Fraternidade e a Vida no Planeta — A Criação Geme em Dores de Parto”, a campanha cobra participação mais ativa dos fiéis na luta contra o aquecimento global.

    E critica os projetos de desenvolvimento que não levam em consideração os danos causados ao planeta. Um dos alvos é a proposta de exploração de petróleo em águas profundas, o pré-sal. “O programa pré-sal exige o dispêndio de fortunas para a extração de um produto altamente poluente”, diz o texto base da campanha, que será divulgado a todos os fiéis durante este ano.

    Como a CNBB não apresentou alternativas eu imagino que ela defenda o fim do automóvel, dos aviões e dos milhares de produtos fabricados com, ou partir de, petróleo. Esses sobreviventes da Idade das Trevas poderiam dar o exemplo andando a pé, viajando de carroça e indo visitar o Vaticano em barcos à vela. Isso se não for contra a doutrina da igreja cortar árvores e explorar animais, claro.

    O secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa, em entrevista no lançamento da campanha, afirmou que o petróleo brasileiro pode atrair a cobiça de outros países. “A primeira vez que ouvi falar no petróleo do pré-sal tive uma sensação muito ruim”, afirmou ele.

    A sensação foi causada pela perspectiva de ver o Brasil enriquecendo e o brasileiro estudando e deixando essa barbárie medieval para trás. O país gastar bilhões de dólares por ano para importar petróleo nunca causou sensação nenhuma nesses fugitivos do hospício.


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