Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Bocejos para o século XXI

Nenhuma das questões essenciais que desafiam o futuro da humanidade encontra resposta adequada no ambiente extremado da desregulação global, pós crise.
por: Saul Leblon 

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O impasse entre a lógica dos mercados e os interesses da humanidade, sobretudo da parcela  que ainda luta pelo seu desenvolvimento, está por trás das declarações truncadas, dos documentos entremeados de colchetes [sinônimo de pendências diplomáticas] e da circularidade irritante dos fóruns globais  que bocejam para as urgências do século XXI.

Sempre foi assim, mas o quadro se agravou com o colapso da ordem neoliberal, desde 2008.

A emergência  dos pobres se agudizou; o caixa dos ricos se retraiu. A desordem financeira se acomodou  às custas do elo mais fraco da corrente.

Num primeiro momento, o ajuste se deu pela expansão da liquidez internacional para salvar a bancarrota da grande finança.

A contrapartida foi a valorização das moedas locais, uma doença autoimune que passou a operar contra a produção doméstica, à favor das importações ‘baratas’.

Na reversão do ciclo, ensaiada agora pelo BC norte-americano, pavimentam-se as condições à ascensão do receituário recessivo.

Chegou a hora, esfrega as mãos o colunismo  isento por essas bandas, que evoca a desforra das urnas desde setembro de 2008.

Manchetes exigem que o governo se antecipe à ‘tempestade perfeita’, adotando-a voluntariamente.

A saber: raios de choque de  juros para conter a fuga de capitais e o salto da inflação; trovões de arrocho fiscal sobre os pobres, para purgar os pecados das desonerações ao consumo e ao investimento (feitas para evitar a internalização da crise dos ricos).

O encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC), que acontece esta semana, em Bali, na Indonésia, ilustra essa colisão da  lógica na esfera econômica.

Como conciliar, a essa altura, o interesse protecionista  de milhões de pequenos agricultores da Índia, por exemplo, com a voragem liberalizante das grades potencias exportadoras de grãos? 

Chovem colchetes em Bali.

Há duas semanas, o mesmo ambiente de prostração se repetiu na Polônia.

A 19ª reunião do clima, preparatória para o encontro de 2015, em Paris (quando em tese será pactuado um novo acordo global)  não avançou um honesto centímetro no esboço de um sucessor para o malogrado protocolo de Kioto.

A crise colocou a agenda da descarbonização na gaveta das prioridades remotas.

E endureceu o braço de ferro na distribuição dos sacrifícios imediatos.

Quanto cada nação poderá emitir, antes que a temperatura multiplique eventos extremos em progressão devastadora?

Reza a Convenção do Clima, de 1992, que é necessário  diferenciar as responsabilidades, maiores, dos países ricos em relação aos pobres que ainda lutam  pelo seu desenvolvimento.

Não foi o que ocorreu até hoje.

 ‘70% das emissões de gases-estufa até 2010 vieram dos países desenvolvidos, enquanto 70% das reduções das emissões até agora foram feitas pelos países em desenvolvimento’, desabafou a delegação chinesa na fracassada reunião de Varsóvia, segundo o jornal Valor.

 A  China, a exemplo do Brasil, deve uma cota de sacrifício ao futuro.

Os propulsores do seu desenvolvimento terão que convergir desde já para uma matriz menos poluente. Mas tudo isso será inútil se sociedade norte-americana persistir, de longe, como a maior ameaça ao aquecimento do planeta.

A emissão média per capita nos EUA hoje é de 16,9 toneladas de CO2 por habitante/ano. Equivale a dizer que cada norte-americano sozinho emite mais que um chinês e um europeu juntos (respectivamente 6,8 t/per capita/ano e 8,1 t/per capita/ano).

A delegação dos EUA  nesses encontros desconversa e evoca contribuições isonômicas para ‘salvar o planeta’.

Tampouco  assume a iniciativa de inaugurar doações ao Fundo Verde, criado em 2009, na reunião de Copenhague, que destinaria US$ 100 bi em compensações ambientais às nações em desenvolvimento.

Se Obama não comparece, o resto do planeta se desobriga; as  discussões giram em torno de miragens desprovidas de lastro econômico ou políticas.

Nem ONGs aguentam mais.

Mais 700 ativistas das 13 megaorganizações - incluindo Greenpeace, WWF e Oxfam – deixaram o Estádio Nacional de Varsóvia no meio da COP 19.

Do lado da fome e da miséria, o cenário tampouco está imune ao tsunami de colchetes.

Aguarda-se a generosidade dos países ricos para dar alicerce financeiro à necessária repactuação dos Objetivos das Metas do Milênio de 1990.

A principal delas --reduzir à metade os níveis de fome e miséria, até 2015,  foi alcançada por apenas  40 nações. O Brasil é um dos destaques.

Mas e os restantes 840 milhões de famintos?

São necessários  cerca de U$ 30 bilhões de dólares/ano para um combate efetivo às causas do seu infortúnio.

Quem se habilita?

Silencio de ouvir moscas nos encontros mundiais.

É nesse mundo de ouvidos moucos que a OMC buscar o Santo Graal na Indonésia, aquele ponto de equilíbrio capaz de conciliar o ímpeto dos livres mercados e o interesse coletivo da humanidade.

Pretende-se, de um lado,  eliminar barreiras protecionistas e alfandegárias; de outro, garantir salvaguardas de subsídio a uma agricultura familiar que costura várias das boas intenções que desfilam por entre bocejos nos fóruns internacionais.

Basta dizer que 70% da fome do planeta concentra-se no espaço rural e que a pequena agricultura cooperativa talvez seja um suporte de segurança alimentar alternativo à escalada esgotante dos métodos convencionais de plantio.

A dificuldade de um consenso em torno desse ponto imaginário reflete menos as dificuldades técnicas que ele encerra, do que o embate entre  interesses  que a nomenclatura conservadora no Brasil denominou de:  ‘intervencionismo da Dilma’ versus  ‘agenda do custo Brasil’.

Ou, no idioma acadêmico, planejamento público versus desregulação de mercados.

O ponto a reter é que nenhuma das questões essenciais que desafiam o futuro da humanidade  –a fome e a miséria, o destino do clima e da cooperação para o desenvolvimento—  encontra  resposta adequada no ambiente extremado da desregulação existente na ordem  global.

Isso deveria dizer algo ao debate sucessório brasileiro em 2014.

Não apenas a quem reverbera aqui a emergência ambiental mas, paradoxalmente, alia-se aos que atribuem aos ‘livres mercados’ a panaceia para os gargalos nacionais.

O campo progressista –inclua-se aí o PT-- talvez devesse considerar também com mais de seriedade a hipótese de existir neste país condições singulares para aquilo de que tanto se fala e tão pouco se arrisca.

Não uma identidade exaustiva de agenda histórica.

Mas  a possibilidade de uma articulação inédita de força social e  horizonte econômico em torno do pré-sal brasileiro.

Uma agenda de convergência da riqueza na qual a lógica de mercado se subordine ao planejamento democrático da sociedade em que os brasileiros querem viver no século XXI.

A soberba do pragmatismo bem sucedido,  ou a esférica indiferença dos portadores da verdade histórica, pouco ou nada representam diante do ganho que uma frente política dessa ordem traria a um mundo enfadado de bocejos, diante de um século que mal nasceu e já parece morrer.

sábado, 30 de novembro de 2013

A batalha do algodão: Estados Unidos retaliaram o Brasil por reclamar de espionagem

algodao
A jornalista Raquel Landim, que publica uma coluna sobre assuntos de comércio exterior às sextas, na Folha, escreveu um correto e esclarecedor artigo ontem.
Faltou apenas, como dizia o outro, “juntar (explicitamente) o nome à pessoa”.
Ela rememora o contencioso entre Brasil e Estados Unidos no mercado mundial de algodão, quando o Brasil se queixou à Organização Mundial do Comércio porque  os americanos estavam subsidiando sua produção de algodão acima dos limites permitidos.
Houve, depois de muitos desaguisados, um acordo para que os EUA indenizasse os produtores brasileiros em US$ 147 milhões por ano, enquanto não cortassem os subsídios (que palavrão, não, senhores neoliberais?) ao níveis aceitos nos tratados internacionais.
E eles vinham pagando, direitinho.
Mas pararam em setembro deste ano.
Por que? O que aconteceu em setembro para que parassem?
Bem, para quem não se lembra, em 1° de setembro vieram à tona as denúncias de espionagem da NSA sobre as comunicações oficiais brasileiras, inclusive as da presidenta Dilma Rousseff. E, no dia 8, a arapongagem sobre a Petrobras.
Foi isso o que faltou dizer.
Mas, corretamente, Landim escreve que o Brasil não tem outra saída senão retaliar os Estados Unidos de acordo com as decisões da OMC sobre o caso, o que pode ser feito até com quebra de patentes.
O Brasil, segundo ela, está evitando o quanto pode uma ação hostil, mas até empresários  reconhecem que “os EUA colocaram o Brasil numa situação insolúvel”.
O desfecho desta história é acompanhado com enorme interesse pelos países da África, produtores de algodão, e pela China, que tem nesta fibra um de seus dez maiores itens de importação, apesar de ser também um grande produtor.
É engraçado , diante desta atitude americana, a gente ver outros jornalistas dizerem que é o Brasil que está fazendo um cavalo de batalha prejudicial às nossas relações com os EUA por conta da espionagem.
Nós estamos cumprindo todos os acordos – muitos espúrios – internacionalmente firmados, naquela base do “pacta sunt servanda”  tão ao gosto dos juristas.
Mas os Estados Unidos quebram o acordado nos fóruns internacionais com a maior sem-cerimônia.
E acham que sacudindo um dinherinho que não lhes  faz falta terão diante de si governos e governantes ajoelhados, suplicantes.
Mister, passou o tempo do “bwana sahib”.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

CHUTANDO A HISTÓRIA

* "a virulência da crise inaugural do século derrubou o mito de que a política econômica poderia se resumir à busca de estabilidade monetária e de um bom ambiente de negócios e recolocou a política industrial no centro das iniciativas governamentais em quase todos os países" (David Kupfer;Valor)** corrosão industrial: em 1979 a indústria americana empregava 19,6 milhões de pessoas **após 30 anos de desmonte neoliberal  e transferência de plantas fabris para a China, setor emprega 11,8 milhões: queda de 40%** China  impõe tarifas protecionistas às importações de carros dos EUA
Ninguém sabe ao certo o que vai predominar em 2012: se a lenta recuperação norte-americana ou o mergulho sem fim do sistema econômico europeu. O certo é que a busca por chão firme fará do comércio internacional um espaço de disputa impiedoso. O mercado interno brasileiro é um dos mais cobiçados; o país que sobreviveu bem à primeira etapa da crise precisa se preparar para não morrer na praia. Sua indústria acumula um déficit comercial da ordem de U$S 80 bi nos últimos dois anos. E há quem se oponha a uma política ativa de fomento ao setor. Protecionismo, subsídios, câmbio e juros administrados foram utilizados largamente pela Inglaterra até erguer seu poderio no século XIX; as mesmas armas prestaram serviços equivalentes aos EUA, Japão, China e Coréia do Sul, cujos governos protestam na OMC quando os emergentes disparam igual arsenal. Ou, como diria o economista Ha-Joon Chang, 'chutam a escada' em que subiram. Faz parte. O pior são aliados internos que não hesitam em chutar a história para defender um laissez-faire que nunca teve o protagonismo que lhe atribuem na riqueza das nações. (LEIA MAIS AQUI)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A obsessão e o complexo de vira-lata.Amorim: só nossa elite não vê a força do Brasil

Até os jornais brasileiros tiveram de noticiar. Uma força-tarefa criada pelo Conselho de Relações Exteriores, organização estreitamente ligada ao establishment político/intelectual/empresarial dos Estados Unidos, acaba de publicar um relatório exclusivamente dedicado ao Brasil, -pontuado de elogios e manifestações de respeito e consideração. Fizeram parte da força-tarefa um ex-ministro da Energia, um ex-subsecretário de Estado e personalidades destacadas do mundo acadêmico e empresarial, além de integrantes de think tanks, homens e mulheres de alto conceito, muitos dos quais estiveram em governos norte-americanos, tanto democratas quanto republicanos. O texto do relatório abarca cerca de 80 páginas, se descontarmos as notas biográficas dos integrantes da comissão, o índice, agradecimentos etc. Nelas são analisados vários aspectos da economia, da evolução sociopolítica e do relacionamento externo do Brasil, com natural ênfase nas relações com os EUA. Vou ater-me aqui apenas àqueles aspectos que dizem respeito fundamentalmente ao nosso relacionamento internacional.

Logo na introdução, ao justificar a escolha do Brasil como foco do considerável esforço de pesquisa e reflexão colocado no empreendimento, os autores assinalam: “O Brasil é e será uma força integral na evolução de um mundo multipolar”. E segue, no resumo das conclusões, que vêm detalhadas nos capítulos subsequentes: “A Força Tarefa (em maiúscula no original) recomenda que os responsáveis pelas políticas (policy makers) dos Estados Unidos reconheçam a posição do Brasil como um ator global”. Em virtude da ascensão do Brasil, os autores consideram que é preciso que os EUA alterem sua visão da região como um todo e busquem uma relação conosco que seja “mais ampla e mais madura”. Em recomendação dirigida aos dois países, pregam que a cooperação e “as inevitáveis discordâncias sejam tratadas com respeito e tolerância”. Chegam mesmo a dizer, para provável espanto dos nossos “especialistas” – aqueles que são geralmente convocados pela grande mídia para “explicar” os fracassos da política externa brasileira dos últimos anos – que os EUA deverão ajustar-se (sic) a um Brasil mais afirmativo e independente.

Todos esses raciocínios e constatações desembocam em duas recomendações práticas. Por um lado, o relatório sugere que tanto no Departamento de Estado quanto no poderoso Conselho de Segurança Nacional se proceda a reformas institucionais que deem mais foco ao Brasil, distinguindo-o do contexto regional. Por outro (que surpresa para os céticos de plantão!), a força-tarefa “recomenda que a administração Obama endosse plenamente o Brasil como um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. É curioso notar que mesmo aqueles que expressaram uma opinião discordante e defenderam o apoio morno que Obama estendeu ao Brasil durante sua recente visita sentiram necessidade de justificar essa posição de uma forma peculiar. Talvez de modo não totalmente sincero, mas de qualquer forma significativo (a hipocrisia, segundo a lição de La Rochefoucault, é a homenagem que o vício paga à virtude), alegam que seria necessária uma preparação prévia ao anúncio de apoio tanto junto a países da região quanto junto ao Congresso. Esse argumento foi, aliás, demolido por David Rothkopf na versão eletrônica da revista Foreign Policy um dia depois da divulgação do relatório. E o empenho em não parecerem meros espíritos de porco leva essas vozes discordantes a afirmar que “a ausência de uma preparação prévia adequada pode prejudicar o êxito do apoio norte-americano ao pleito do Brasil de um posto permanente (no Conselho de Segurança)”.

Seguem-se, ao longo do texto, comentários detalhados sobre a atuação do Brasil em foros multilaterais, da OMC à Conferência do Clima, passando pela criação da Unasul, com referências bem embasadas sobre o Ibas, o BRICS, iniciativas em relação à África e aos países árabes. Mesmo em relação ao Oriente Médio, questão em que a força dos lobbies se faz sentir mesmo no mais independente dos think tanks, as reservas quanto à atuação do Brasil são apresentadas do ponto de vista de um suposto interesse em evitar diluir nossas credenciais para negociar outros itens da agenda internacional. Também nesse caso houve uma “opinião discordante”, que defendeu maior proatividade do Brasil na conturbada região.

Em resumo, mesmo assinalando algumas diferenças que o relatório recomenda sejam tratadas com respeito e tolerância, que abismo entre a visão dos insuspeitos membros da comissão do conselho norte-americanos- e aquela defendida por parte da nossa elite, que insiste em ver o Brasil como um país pequeno (ou, no máximo, para usar o conceito empregado por alguns especialistas, “médio”), que não deve se atrever a contrariar a superpotência remanescente ou se meter em assuntos que não são de sua alçada ou estão além da sua capacidade. Como se a Paz mundial não fosse do nosso interesse ou nada pudéssemos fazer para ajudar a mantê-la ou obtê-la.