Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Chiclete eu misturo com banana, Miami com Copacabana

miami
Para a galera “coxinha” que anda sonhando com Miami e acha que nós, “esquerdistas desgraçados” ficamos contando mentiras sobre aquele paraíso dourado de felicidade, branquinho, limpinho e onde higienizaram a vida daqueles pobres inconvenientes, vai um recorte grátis de um veículo de comunicação “bacana”: o Huffington Post.
Traduzo, para os que não lêem o inglês.
Insegurança no Sul da Flórida: Cerca de um milhão de moradores não sabem de onde virá a próxima refeição.
Não chega para dar o que pensar?
Que tal o que diz a Forbes?
“Playground dos ricos e famosos, a cidade da Flórida passa por uma paralisante crise habitacional, tem uma das mais elevadas taxas de criminalidade do país, e seus habitantes passam horas demais no transporte todos os dias”,
Portanto, cuidado.
Vocês vão gastar um dinheirão e arriscam se ver em meio a um monte de pobres.
Para ajudar, deixo aqui o link de um mapa de dados interativos sobre quanto há de gente (eles são gente, ouviram?) vivendo abaixo da linha da pobreza.
Há bairros que superam em muito os níveis de pobreza das nossas favelas de Copacabana ou de Paraisópolis.
Dois terços vivendo abaixo da linha da pobreza.
Na cidade inteira, 35% vivem nessa situação.
Tem gente nos sinais, pedindo dinheiro. Em inglês, é verdade, mas pedindo.
Lamento informar, meninos, o mundo é global.
Pode ter muro para conter mexicanos na Califórnia (vocês não comemoraram tanto a queda daquele outro, ontem), ou “green card”  só para endinheirados,  mas não tem  mais jeito.
O mundo ficou pequeno demais para ser tão desigual.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Marina você desbotou


Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras que agora recorre à delação premiada, foi demitido da estatal em 27 de abril de 2012
 
Dilma, ao Estadão: nós investigamos tudo, doa a quem doer; mas não foi assim (em março de 2001) quando afundou uma plataforma de petróleo no governo FHC. Não é próprio das plataformas saírem por aí afundando E aquela custou R$ 1,5 bilhão, são duas Pasadenas, viu? E não investigaram.
 
Dilma, em entrevista ao Estadão: Quem acha que vai governar sozinho (com os bons) normalmente tem algum poderoso por trás e normalmente é alguém muito rico. Isto não é nova política; é uma política velha, que levou a crises no passado
 
Aprovação à Presidenta Dilma sobe 5 pontos e vai a 52,4%; avaliação de seu governo soma 76,5% entre regular, ótimo e bom (pesquisa CNT).
 

Nas últimas horas a 'nova política' de Marina adquiriu o frescor de uma Margareth Thatcher de museu de cera.

por: Saul Leblon
Reprodução/Muda Mais

A exemplo do que ocorre em praticamente todo o planeta, a dominação financeira tornou-se um problema estrutural do desenvolvimento brasileiro.

A novidade é que nestas eleições ela se transformou, também, em um tema divisor da democracia.

Trata-se de uma novidade vertiginosa.

Que injeta transparência histórica à disputa presidencial, e tem potencial esclarecedor capaz de impulsionar as grandes viradas eleitorais.

Justiça seja feita, deve-se isso em parte ao fervor novo-cristão da candidatura Marina Silva.

A independência do Banco Central, viga mestra do programa do PSB, funcionou como esse coágulo polarizante, incômodo e revelador, que atropelou a pauta do Brasil aos cacos, imposta pela mídia conservadora à disputa.

O ‘ruído’ empresta transparência política aos interesses alinhados em torno das duas candidaturas mais competitivas de 2014.

E isso não é bom para quem se avoca o estuário dos melhores, dos bons e dos justos.

A polaridade está posta há muito tempo na sociedade brasileira e em todo o mundo.

Mas foi o surgimento de uma terceira voz, empenhada em conquistar audiência junto ao mercado financeiro, que catalisou a dimensão histórica daquilo até então expresso de forma técnica pelo conservadorismo. E contornado de maneira mitigada pelo campo progressista.

Eduardo Campos e Marina chegaram com sede ao pote, determinados a disputar com o PSDB a primazia na representação dos interesses graúdos na vida do país.

A oferta teria que vir acompanhada de uma contraprova de vantagem e validade insofismável.

O selo de garantia foi a inclusão da independência do BC no alicerce programático da dupla.

A morte de Campos e a radicalização da disputa fez o resto.
 O alegre consenso em torno da ‘nova política’ impôs ao próprio governo, e ao PT, a necessidade de explicitar o polo oposto de um braço e ferro que a crise de 2008 já havia revelado em sua natureza inconciliável: quem vai ordenar o passo seguinte do desenvolvimento, a soberania democrática ou despotismo financeiro?

A disjuntiva, agora clara, depois de um hiato de perplexidade com o aluvião conservador, desembarcou nesta 3ª feira na campanha eleitoral de Dilma na televisão.

E o fez da forma como Lula cobrou em encontro com a militância na última 6ª feira: demarcando a natureza de classe da disputa em curso no país (assista aqui).

Ou seja, dando a essa contraposição um simbolismo que expõe causas e consequências com uma clareza poucas vezes presente na narrativa dos embates vividos desde 2003.

Se o governo e o PT são requisitados a dar expressão política literal a um conflito antes tratado de forma difusa (leia ‘A nau de Marina e o dilúvio antipetista’), do lado contrário fica cada vez mais difícil levitar na ‘terceira via’, depois de atravessar o Rubicão da parceria carnal com os mercados.

A verdade é que nas últimas horas a  ‘nova política’ de Marina Silva adquiriu o frescor de uma Margareth Thatcher de museu de cera.

E esse não é um problema de natureza geriátrica.

Mas de um arrendamento histórico conferido ao capital financeiro em seu programa de governo, que tem no Banco Central independente um pilar de sustentação política e ao mesmo tempo um garrote de credibilidade eleitoral.

A 25 dias da urna o PT aprendeu a girar a rosca.
 Fica difícil a Marina despir-se desse marcador ideológico com a mesma frivolidade com que desembarcou os direitos GBLT de sua plataforma, 24 horas após a intervenção tutelar do bispo Silas Malafaia.

Seu bonde eleitoral derreteria em menos tempo ainda se tentasse uma guinada dissimuladora para fora da dominância financeira que encampou.

O sacrossanto “tripé”, do qual Marina se tornou uma defensora ardorosa, enlaça assim o pescoço da nova-cristã ameaçando esganá-la qualquer que seja o seu ponto de fuga.

Uma espécie de enforcador à distância, o tripé consiste de uma coleira dentada que permite ao dinheiro grosso submeter governos, partidos e demais instâncias sociais a um comando de desempenho monitorado por três variáveis.

A saber:
1. regime de metas de inflação, ancorado no chicote dos juros “teatrais”, se necessários, asseverou Marina  para delírio do mercado;

2. câmbio livre, leia-se, nenhum aroma de controle de capitais, o que condena o BC ‘independente’ a se tornar uma correia de transmissão da irracionalidade especulativa dos mercados globais para dentro do país;

3. o superávit “cheio” – leia-se arrocho fiscal para garantir os juros dos rentistas.

Marina descobriu que quando abre a boca pautada por essa melodia encanta banqueiros e rentistas em geral.

Os meetings de seus assessores com a turma do mercado frequentemente são interrompidos por aplausos calorosos.

Escavar um fosso entre a representação política da sociedade e o poder efetivo do dinheiro sobre o seu destino é tudo o que esses auditórios almejam.

Se alguém trata isso com leveza, sedução e aroma popular como resistir?

A resistência teria que vir do outro lado da radicalização rentista introduzida por Marina na disputa de 2014.

É o ponto onde estamos.E essa será a toada da campanha progressista de agora em diante.

Trata-se de espetar em Marina as suas próprias propostas na forma de perguntas emolduradas pela contradição determinante em nosso tempo. 

Serve ao Brasil um Presidente da República que terá apenas o orçamento fiscal para governar, já que a moeda, o juro, o câmbio e o poder de compra das famílias serão ordenados pela banca através do BC independente?

Serve ao Brasil um Presidente da República que tem como meta programática desregular o mercado de crédito no país? E desobrigar a banca privada da destinação obrigatória de parte dos depósitos à vista e da poupança ao crédito agrícola e ao financiamento habitacional?

Serve ao país um Presidente da República que se propõe a reforçar a hipertrofia de um poder financeiro, cuja participação na Bolsa brasileira já é o dobro da registrada pelo seu equivalente nos EUA, mas que não financia a produção e menos ainda a infraestrutura?

Serve ao país um Presidente da República que se avoca herdeira dos protestos de 2013 por melhores serviços e maior qualidade de vida, mas que se apoia em uma terceirização do poder de Estado desse calibre?

A resposta da candidata do PSB é flutuar no tempo e no espaço que resta de campanha na tentativa de escapar ao atrito corrosivo que contrapõe os interesses populares aos da hegemonia financeira acolhida em seu projeto para o país.

Ao campo progressista cabe o desafio de maximizar o giro do ponteiro eleitoral.

Com propostas que articulem a verdadeira nova política para um novo ciclo de desenvolvimento em meio à desordem neoliberal: aquela ancorada na repactuação do futuro com ampla participação democrática da sociedade.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Brics e “frágeis”: adivinhem quem eles trocaram de grupo?

frageis
Durante os últimos anos, além de Brasil, Rússia, India, China e África do Sul, o o termo BRICS passou a designar, metaforicamente, todas as chamadas nações emergentes, fora do bloco EUA-Europa-Japão, bloco que levava aderidos, também, os países politicamente dependentes da “mamãe” Sam: Coreia, Canadá, México.
Agora, criaram uma nova denominação: os “frágeis”. E estes somos os BRICS, menos China e Rússia, “reforçados” (ou, no caso, enfraquecidos) da Turquia e Indonésia, duas das mais expressivas economias que ficavam aderidas, antes, aos BRICS.
China e Rússia tem tamanho, estruturas de poder e arsenal para não “fazerem brincadeirinhas” com elas.
Hoje, em seu blog, o professor Fernando Nogueira da Costa, num post –Metas do Ataque Especulativo  ou Terrorismo Psicológico -que traz uma imensa massa de dados e informações sobre as economias destes países ditos “frágeis”,  os define como os  que, supostamente, têm  ”maior vulnerabilidade nas contas externas e têm sido os mais afetados pela onda de venda generalizada de moedas emergentes”.
Mas se, como mostram os números recolhidos pelo professor, o Brasil não está numa situação nem próxima à de uma instabilidade estrutural de sua economia, como não estão outros dos “frágeis”, o que está levando a isso.
A pergunta que faz Nogueira da Costa é direta: a quem interessa essa desestabilização especulativa com a denúncia-vazia?
E a resposta vai ao ponto:
  1. a quem deseja comprar ativos baratos, seja ações das empresas brasileiras, inclusive da maior delas, a Petrobras, ou
  2. a quem negaceia para negociar, afinal, preços mais baixos nos leilões de concessões.
Na análise do economista, porém, falta ainda um elemento para que se entenda porque os cinco “frágeis” estão encurralados pela matilha do capital internacional.
Os cinco têm eleições este ano e seus governantes, por isso, estão mais facilmente “colocáveis contra a parede”, torcendo para que os caninos do mercado estejam ocupados o suficiente para não lhes rosnarem muito.
E sem espaço para enfrentamentos, ocupados com manifestações internas agressivas.
Quer mesmo entender a economia mundial? Inverta a frase:
“É a política, estúpido”.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Bocejos para o século XXI

Nenhuma das questões essenciais que desafiam o futuro da humanidade encontra resposta adequada no ambiente extremado da desregulação global, pós crise.
por: Saul Leblon 

Arquivo




















O impasse entre a lógica dos mercados e os interesses da humanidade, sobretudo da parcela  que ainda luta pelo seu desenvolvimento, está por trás das declarações truncadas, dos documentos entremeados de colchetes [sinônimo de pendências diplomáticas] e da circularidade irritante dos fóruns globais  que bocejam para as urgências do século XXI.

Sempre foi assim, mas o quadro se agravou com o colapso da ordem neoliberal, desde 2008.

A emergência  dos pobres se agudizou; o caixa dos ricos se retraiu. A desordem financeira se acomodou  às custas do elo mais fraco da corrente.

Num primeiro momento, o ajuste se deu pela expansão da liquidez internacional para salvar a bancarrota da grande finança.

A contrapartida foi a valorização das moedas locais, uma doença autoimune que passou a operar contra a produção doméstica, à favor das importações ‘baratas’.

Na reversão do ciclo, ensaiada agora pelo BC norte-americano, pavimentam-se as condições à ascensão do receituário recessivo.

Chegou a hora, esfrega as mãos o colunismo  isento por essas bandas, que evoca a desforra das urnas desde setembro de 2008.

Manchetes exigem que o governo se antecipe à ‘tempestade perfeita’, adotando-a voluntariamente.

A saber: raios de choque de  juros para conter a fuga de capitais e o salto da inflação; trovões de arrocho fiscal sobre os pobres, para purgar os pecados das desonerações ao consumo e ao investimento (feitas para evitar a internalização da crise dos ricos).

O encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC), que acontece esta semana, em Bali, na Indonésia, ilustra essa colisão da  lógica na esfera econômica.

Como conciliar, a essa altura, o interesse protecionista  de milhões de pequenos agricultores da Índia, por exemplo, com a voragem liberalizante das grades potencias exportadoras de grãos? 

Chovem colchetes em Bali.

Há duas semanas, o mesmo ambiente de prostração se repetiu na Polônia.

A 19ª reunião do clima, preparatória para o encontro de 2015, em Paris (quando em tese será pactuado um novo acordo global)  não avançou um honesto centímetro no esboço de um sucessor para o malogrado protocolo de Kioto.

A crise colocou a agenda da descarbonização na gaveta das prioridades remotas.

E endureceu o braço de ferro na distribuição dos sacrifícios imediatos.

Quanto cada nação poderá emitir, antes que a temperatura multiplique eventos extremos em progressão devastadora?

Reza a Convenção do Clima, de 1992, que é necessário  diferenciar as responsabilidades, maiores, dos países ricos em relação aos pobres que ainda lutam  pelo seu desenvolvimento.

Não foi o que ocorreu até hoje.

 ‘70% das emissões de gases-estufa até 2010 vieram dos países desenvolvidos, enquanto 70% das reduções das emissões até agora foram feitas pelos países em desenvolvimento’, desabafou a delegação chinesa na fracassada reunião de Varsóvia, segundo o jornal Valor.

 A  China, a exemplo do Brasil, deve uma cota de sacrifício ao futuro.

Os propulsores do seu desenvolvimento terão que convergir desde já para uma matriz menos poluente. Mas tudo isso será inútil se sociedade norte-americana persistir, de longe, como a maior ameaça ao aquecimento do planeta.

A emissão média per capita nos EUA hoje é de 16,9 toneladas de CO2 por habitante/ano. Equivale a dizer que cada norte-americano sozinho emite mais que um chinês e um europeu juntos (respectivamente 6,8 t/per capita/ano e 8,1 t/per capita/ano).

A delegação dos EUA  nesses encontros desconversa e evoca contribuições isonômicas para ‘salvar o planeta’.

Tampouco  assume a iniciativa de inaugurar doações ao Fundo Verde, criado em 2009, na reunião de Copenhague, que destinaria US$ 100 bi em compensações ambientais às nações em desenvolvimento.

Se Obama não comparece, o resto do planeta se desobriga; as  discussões giram em torno de miragens desprovidas de lastro econômico ou políticas.

Nem ONGs aguentam mais.

Mais 700 ativistas das 13 megaorganizações - incluindo Greenpeace, WWF e Oxfam – deixaram o Estádio Nacional de Varsóvia no meio da COP 19.

Do lado da fome e da miséria, o cenário tampouco está imune ao tsunami de colchetes.

Aguarda-se a generosidade dos países ricos para dar alicerce financeiro à necessária repactuação dos Objetivos das Metas do Milênio de 1990.

A principal delas --reduzir à metade os níveis de fome e miséria, até 2015,  foi alcançada por apenas  40 nações. O Brasil é um dos destaques.

Mas e os restantes 840 milhões de famintos?

São necessários  cerca de U$ 30 bilhões de dólares/ano para um combate efetivo às causas do seu infortúnio.

Quem se habilita?

Silencio de ouvir moscas nos encontros mundiais.

É nesse mundo de ouvidos moucos que a OMC buscar o Santo Graal na Indonésia, aquele ponto de equilíbrio capaz de conciliar o ímpeto dos livres mercados e o interesse coletivo da humanidade.

Pretende-se, de um lado,  eliminar barreiras protecionistas e alfandegárias; de outro, garantir salvaguardas de subsídio a uma agricultura familiar que costura várias das boas intenções que desfilam por entre bocejos nos fóruns internacionais.

Basta dizer que 70% da fome do planeta concentra-se no espaço rural e que a pequena agricultura cooperativa talvez seja um suporte de segurança alimentar alternativo à escalada esgotante dos métodos convencionais de plantio.

A dificuldade de um consenso em torno desse ponto imaginário reflete menos as dificuldades técnicas que ele encerra, do que o embate entre  interesses  que a nomenclatura conservadora no Brasil denominou de:  ‘intervencionismo da Dilma’ versus  ‘agenda do custo Brasil’.

Ou, no idioma acadêmico, planejamento público versus desregulação de mercados.

O ponto a reter é que nenhuma das questões essenciais que desafiam o futuro da humanidade  –a fome e a miséria, o destino do clima e da cooperação para o desenvolvimento—  encontra  resposta adequada no ambiente extremado da desregulação existente na ordem  global.

Isso deveria dizer algo ao debate sucessório brasileiro em 2014.

Não apenas a quem reverbera aqui a emergência ambiental mas, paradoxalmente, alia-se aos que atribuem aos ‘livres mercados’ a panaceia para os gargalos nacionais.

O campo progressista –inclua-se aí o PT-- talvez devesse considerar também com mais de seriedade a hipótese de existir neste país condições singulares para aquilo de que tanto se fala e tão pouco se arrisca.

Não uma identidade exaustiva de agenda histórica.

Mas  a possibilidade de uma articulação inédita de força social e  horizonte econômico em torno do pré-sal brasileiro.

Uma agenda de convergência da riqueza na qual a lógica de mercado se subordine ao planejamento democrático da sociedade em que os brasileiros querem viver no século XXI.

A soberba do pragmatismo bem sucedido,  ou a esférica indiferença dos portadores da verdade histórica, pouco ou nada representam diante do ganho que uma frente política dessa ordem traria a um mundo enfadado de bocejos, diante de um século que mal nasceu e já parece morrer.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

FOLHA PEDE AJUDA AO EXTERIOR PARA O GOLPE O problema da Folha não são as contas da Dilma. São as contas da Folha.


Saiu na Folha (*): 

DÚVIDAS SOBRE CONTROLE DE GASTOS DO GOVERNO FAZEM DÓLAR DISPARAR


Cotação vai a R$ 2,289 no câmbio usado em comércio exterior, a maior desde 6 de setembro

Humor de investidores também pressiona taxa de juros, que tende a subir; para analistas, falta comunicação.
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Como se sabe, a Big House não tem candidato.
São tantos que não tem nenhum.
Não tem candidatos e nem sabe o que quer, além de tirar os trabalhistas do Poder, como observou o Marcos Coimbra.
O jeito é o de sempre, da UDN, ou do PRP de São Paulo que tentou a Guerra da Secessão de 1932, de que participou como um dos heróis, o “seu”Frias – São Paulo é o único lugar do mundo que celebra fragorosa derrota …
Disseminar o caos – é o último cartucho.
Tentar o Golpe no PiG (**), de novo.
Como faz notável colonista (***) do PiG cada vez menos cheiroso, o Valor, que seguiu o papel que seus antecessores desempenharam antes e anunciou que o Lula ia confiscar a poupança.
A palavra de ordem, agora, é o risco da desordem fiscal.
(Enquanto não fomentam a desordem nas ruas, com a ajuda dos black blocs.)
O Delfim Netto e o próprio Valor tem demonstrado que o “desmando fiscal”, o caos que precede o Golpe, não passa de uma meia dúzia de propostas demagógicas em curso no Congresso: 

“Dilma tenta (sim, porque a Dilma jamais consegue no PiG: sempre “tenta”- PHA) frear projetos que podem custar R$ 60 bilhões” – diz o Valor na primeira página: são projetos de aumentos de salários para servidores e o tal do “orçamento impositivo” que acelera os projetos de emenda orçamentária dos congressistas.
Típica esperteza de congressista, que, agora, conta com o estadista Henrique Alves na presidência da Câmara, o pai do orçamento impositivo e sua aplicação automática.
Vamos ver se a “tentativa” da Dilma fracassa …
Como espera o título do Valor.
As contas do Governo Federal são sólidas.
Por isso, o PiG precisa contar com a ajuda das agências de risco.
Reduzir o grau de investimento da Petrobras é um dos objetivos desse Golpe.
O Brasil volta melancolicamente a 2001.
Quando o Paulo Leme, no Goldman Sachs, criou o Lulômetro: o risco – Brasil subia com a ascensão do Lula nas pesquisas.
Foi quando o PiG, os bancos americanos e seus solícitos economistas brasileiros e as agências de risco tentaram provar que o Lula ia argentinizar o Brasil.
(Aliás, pena que não tenha feito: a Globo ia ser dividida em seis e o Ustra estava na cadeia, assim como os colaboradores e epígonos dos presidentes militares).
(Clique aqui para ler “Jango foi derrubado pelo PiG e pelos americanos no auge de sua popularidade.)
Como não consegue ganhar eleição, a Folha dá o Golpe.
Como não consegue dar o Golpe aqui dentro, semeia lá fora.
O problema da Folha não são as contas do Brasil.
São as contas da Folha.




Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(***) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (**) que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

LEVY LEMBRA: BRASIL NÃO ESTA À BEIRA DO ABISMO



Os black blocs de gravata de seda


Justiça atropela a Câmara e barra sanção do IPTU em SP

 Impasse fiscal derruba popularidade de Obama, que tem apoio de 39% e desaprovação de 53% (Gallup)

 Investimento público nos EUA cai ao menor nível do pós-Guerra, 3,5% do PIB, contra média histórica de 5% 

Dilma: até março, o Mais Médicos cobrirá uma população de 46 milhões de pessoas,equivale a uma Argentina.

Zé Dirceu, sobre setores do governo receptivos a alta dos juros, com arrocho fiscal: para isso não precisam de nós; a direita faz

Arquivo












Há uma violência que campeia invisível no Brasil nos dias que correm. Em vez de máscaras, ternos de corte fino; as gravatas são de seda, italianas. O uniforme, de grifes famosas, que faíscam nas vitrines da Via Condotti, em Roma, adorna protagonistas  confortavelmente instalados no anonimato de uma legenda poderosa.

Eles se avocam ‘o mercado’. Do rosto desconhecido ecoam decibéis sustenidos. Ora de forma cifrada, ora escancarada, o alarido martela diuturnamente. Suas sentenças tem a dureza dos vereditos inapeláveis. Nas chantagens irrecorríveis, opera um amplo sistema de difusão.

Os  black blocs do dinheiro graúdo não legitimam aqueles outros, que se instalam no confortável papel de implodir  o patrimônio público nas ruas, indiferentes ao  árduo compromisso de democratizá-lo (leia as análises de Marco Aurélio Weissheimer e Wanderley Guilherme dos Santos; nesta pág).

Mas não são menos violentos no menosprezo pelo destino da sociedade e a sorte do seu desenvolvimento.
Há quem arrisque dizer que são almas gêmeas, produto de um mesmo tempo e de uma mesma lógica. Diferem na escala.

E isso deveria significar alguma coisa para aqueles que imaginam implodir o sistema chutando uma cabine de caixa eletrônico.

As labaredas nas escaramuças de rua formam uma espécie de tanquinho de areia perto dos incêndios estruturais que ameaçam ou ardem em torno de um alvo maior.

‘O mercado’ não reconhece os compromissos compartilhados que tornam possível a vida em sociedade.

Menos ainda a supremacia do interesse público sobre a ganância, que toma de assalto recursos, como se não houvesse amanhã.

‘O mercado’ acusa o governo Dilma de  obstruir  seu livre curso.

Centuriões avisam que ‘o mercado’ quer um Brasil com a legislação trabalhista da China.

Sem a contrapartida do Estado chinês.

Quer uma taxa de desemprego espanhola, de 26%, para dobrar de joelhos o custo Brasil.

Mas sem a indigência falimentar do Estado espanhol.

‘O mercado’ quer um Brasil desossado,  à moda grega.

Mas com o charme de Paris, sem o IPTU do Haddad.

É esse cosido de país dilacerado que os blac blocks de gravata de seda reivindicam no noticiário econômico inflamável dos dias que correm.

Quanto custará a paralisia que essa guerra de expectativas pode trazer –já está trazendo--  ao investimento, enquanto múltiplos de bilhões se refugiam no abrigo da liquidez de curto prazo ?

Difícil dizer. Mas não é descabido afirmar: são valores suficientes para decepar um pedaço do futuro daqueles que hoje imaginam estilhaçar o sistema chutando ícones dele na avenida Paulista.

O Brasil, como se sabe pelas sirenes do noticiário,  patina em baixa taxa de poupança interna (embora R$ 6,7 trilhões de riqueza financeira estejam aplicados em papéis de curto prazo); seu investimento (por isso) desliza;  as exportações definham diante da competitiva manufatura chinesa (que traz embutido o comando econômico do PC da China); as importações vão  de vento em popa nas velas de um câmbio valorizado, cujo ajuste requer uma pactuação que não esfarele o poder de compra dos salários...

E assim por diante.

Há dois caminhos: conversar sobre o assunto e eleger linhas de passagem para superar a teia dos impasses atuais -- isso quem faz é a disputa política, ou decidir que a fatalidade lacrou o futuro brasileiro.

Há exatamente dois anos, em novembro de 2011,  indignados espanhóis ocuparam as ruas num misto de voluntarismo e aversão ao sistema político.
Cravaram uma abstenção de 30% nas eleições gerais.

A captura do Estado espanhol pelos mercados foi avassaladora. A vitória incondicional do extremismo conservador, com as consequências hoje sabidas, pesará sobre o futuro de sucessivas gerações de espanhóis.

Os blac blocks de gravata de seda, extremamente competitivos, querem cumprir suas metas e bônus, não se  importam com a sorte da nação.

 É deles o lema que pulsa no noticiário isento: deve haver um abismo no mundo onde cabe esse país que só não afundou ainda por falta de uma cova do seu tamanho.

As labaredas desse incêndio incontrolável  irrompem no jornal da manhã e reacendem no noticiário da noite.

A mensagem das chamas tem um alvo: 2014.

‘O mercado’ não quer mais a ‘gastança social’ do PT, nem o   ‘intervencionista’ de Dilma.

Mas  ‘o mercado’ quer entrar no Brasil de qualquer jeito para desfrutar da sua riqueza e do seu mercado.

Há uma fila de espera de dez instituições financeiras internacionais querendo entrar na economia brasileira nesse momento.

As licenças do governo demoram até dois anos para serem liberadas.

Os gravatões de seda consideram isso um acinte.

O insuspeito noticioso do amigável  Valor Econômico admite que o governo Dilma autorizou o ingresso de quase 8 bancos por ano desde 2011.

Acima até da média de Lula, de seis bancos/ano.

Mas nada que se compare ao desempenho de FHC: 18,4 bancos por ano.

O governo Dilma acaba de autorizar os bancos Bradesco, Itaú e Banco do Brasil a aumentarem de 20% para 30% a participação estrangeira no seu capital.

Os black blocs enrolam a gravata de seda e espiam por cima dos óculos de aro made in France.

O problema é que Dilma quer saber exatamente o que o capital estrangeiro vem fazer aqui e que vantagem trará ao país.

‘O estilo ultradetalhista da presidente tem alimentado suspeitas de que existe um viés nacionalista contra o aumento da participação estrangeira em instituições financeiras’, justifica o amigável Valor.

A presidente do Brasil só autoriza banco novo se ficar demonstrado o interesse do país na operação.

Dilma quer saber o que o banco fará pelo financiamento de longo prazo indispensável a um novo ciclo de desenvolvimento.

A Presidenta faz o que determina a Constituição. E o que determina a Constituição  o ‘mercado ‘ rejeita.

Agora ela quer disciplinar o acesso à riqueza mineral do subsolo brasileiro.

O governo quer realizar leilões de reservas minerais comprovadas, cujo risco é zero.

E elevar de 2% para 4% os royalties sobre a atividade mineradora.

O Brasil está entre os maiores exportadores de minério de ferro do mundo. Só o faturamento da Vale do Rio Doce em 2012 foi de R$ 90 bilhões.

A arrecadação de royalties de todo o setor mineral brasileiro no ano passado rendeu ao caixa do Estado pouco mais de R$ 2 bilhões.

A acusação mais branda que se ouve no setor é a de que o governo está querendo fazer caixa para persistir na gastança fiscal.

Ideólogos dos blac blocks de gravata de seda, lotados na FGV, vaticinam: ou o Brasil derruba a política de reajuste do salário mínimo em 2014 –que beneficia também os aposentados, ou o PT vai imitar Haddad, em 2015, e taxar mais os ricos para sustentar os pobres.

O país está entre esses dois fogos.

Que fazer?

Salpicar o país de  fogueiras esparsas que rendem uma manchete exclamativa na Folha de amanhã?

Ou montar um poderoso contrafogo de barragem política, que amplie a abrangência e a profundidade da agenda progressista?

A ver.

quarta-feira, 20 de março de 2013

O confisco no Chipre e as veias abertas da velha Europa




A bancarrota neoliberal chegou agora ao Chipre, uma das maiores ilhas do Mediterrâneo, que segue o destino de outros antigos paraísos do capital, como Irlanda e Islândia. Com a crise, veio o confisco, que atinge investidores europeus – sobretudo russos e britânicos – que escolheram a ilha como residência pelas facilidades fiscais, entre elas o fato de o imposto sobre a renda ser linear e muito baixo: 10%. Por Flávio Aguiar, de Berlim



Berlim – Enquanto o novo Papa, Francisco I, assumia seu novo posto, distribuindo bênçãos e rezando missa, uma nova tsunami de adrenalina invadia as veias abertas do continente europeu. O motivo desta nova e, como as antigas, violenta turbulência a se propagar a partir da Zona do Euro foi a resolução tomada pelos ministros da área financeira, reunidos em Bruxelas durante o fim de semana, sobre a ajuda à combalida banca cipriota. Tão forte foi a agitação que os mesmos ministros realizaram uma vídeo-conferência na segunda-feira (18), para revisar as medidas, enquanto bolsas e ações de banco despencavam, manifestantes tomavam as ruas de Nicósia, a capital da República do Chipre, e correntistas, poupadores e até investidores ameaçavam uma corrida aos bancos na Espanha e na Itália.

Chipre é uma das maiores ilhas do Mediterrâneo, dividida em duas partes: em um terço da ilha, ao norte, existe uma hipotética República Turca de Chipre, na prática ocupada por tropas turcas e só reconhecida pelo governo de Ancara e de alguns países islâmicos. Os restantes dois terços constituem a República do Chipre, com uma população total estimada em 1.100.000 habitantes, embora o último censo tenha apontado pouco mais de 800 mil cidadãos. A diferença se deve ao fato de que o número de estrangeiros que moram na república é muito alto. Uma parte destes são aposentados ou investidores europeus – sobretudo russos e britânicos – que escolheram a ilha como residência pelas facilidades fiscais, entre elas o fato de o imposto sobre a renda ser linear e muito baixo: 10%.

Apesar deste atrativo, a República do Chipre não escapou ao destino de hoje ex-paraísos neoliberais, como a Irlanda ou a Islândia (esta hoje recuperada, graças a seu programa não ortodoxo de regeneração financeira, uma exceção no caos europeu), e em maio do ano passado começou a dar sinais de exaustão e degenração financeiras, tendo pedido ajuda ao Fundo de Emergência da Zona do Euro, de que faz parte.

O montante da ajuda pedida era de 17 bilhões de euros. Quase uma ninharia diante dos bilhões já despejados na Grécia, na Irlanda, na Espanha, e em Portugal. Afinal, a economia cipriota representa apenas 0,2% da economia da Zona do Euro. Começando no sábado e adentrando até a madrugada de domingo para segunda, a reunião dos ministros decidiu atacar o problema. Tão complicadas foram as negociações que o próprio presidente do país, o conservador Nicos Anastasíades, passou a participar do encontro, ao lado do seu ministro das Finanças, Michalis Sarris.

O que complicava as negociações era a exigência – hoje com a paternidade posta em dúvida – de que os correntistas e poupadores cipriotas participassem da operação, através do confisco de parte de suas economias, por meio de um imposto único. A resolução afinal tomada deveria, segundo o presidente do Grupo do Euro e ministro das Finanças da Holanda, Jeroen Dijsselbloem, “garantir a estabilidade do Chipre e na Zona do Euro como um todo”.

O tiro saiu-lhe perfeitamente pela culatra e entrou pela garganta abaixo de milhões e milhões de europeus. Tudo porque a resolução atravessava um Rubicão nunca dantes navegado, este de impor o confisco de parte das economias dos depositantes nas instituições bancárias cipriotas: 6,75% até 100 mil euros, 9,9% a partir daí. Com isso, o país visava arrecadar (e ainda visa) 5,8 bi de euros, vindo outros 10 do Fundo de Emergência. O governo e as autoridades da Zona do Euro contavam com um feriado na segunda-feira, devido ao começo das festividades da Páscoa Ortodoxa. Como medida suplementar, proibiram transações bancárias via internet, para evitar a fuga de capitais.

Tradicionalmente, este feriado ortodoxo leva as famílias – com o começo da primavera – a fazer piqueniques nos parques de Nicósia e no resto da ilha. Desta vez não houve piqueniques. Ao contrário, multidões começaram a ocupar as ruas da capital, protestando contra a medida. Nem foi eficaz a justificativa aventada para esta “participação” no “salvamento” da “economia” (leia-se: a banca cipriota e seus credores internacionais) do país, a de que os bancos locais tornaram-se guarida procurada por oligarcas russos e investidores britânicos.

A insatisfação transbordou. A primeira medida direta veio do Reino Unido, que suspendeu o pagamento de aposentados com contas em Chipre, com o objetivo de “proteger” seus investimentos, afirmando que ele seria retomado assim que a situação se esclarecesse. Na sequência, bolsas despencaram, começou uma turbulência ameaçadora em bancos italianos e espanhóis, com correntistas visando proteger seus fundos, alguns afirmando que passariam a preferir os próprios colchões às contas bancárias. As ações de bancos começaram a despencar, inclusive na poderosa Alemanha – logo apontada como a mãe da idéia.

O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, deu declarações que a Alemanha fora contra penalizar os pequenos investidores, embora seu governo tenha insistido na obtenção de parte do socorro através dos bancos cipriotas. Dedos apontaram então o presidente de Chipre, que se recusara a aceitar uma carga maior sobre os grandes investidores, de 12,5% ou 15% a partir dos 500 mil euros depositados. O Parlamento em Nicósia, onde o governo tem pequena margem de votos sobre a oposição, também se agitou, e até o momento em que redijo esta nota, não foi possível aprovar a medida. O feriado bancário foi estendido até quinta-feira. A teleconferência dos ministros das áreas financeiras propôs uma revisão da medida, salvaguardando os pequenos poupadores. Isto poderia vir sob a forma de reduzir-lhes o confisco a 3%, isentando os depósitos até 20 mil euros. Em contrapartida, voltou-se a falar na alíquota maior para grandes investidores, além dos 9,9%.

Outros dedos apontaram para a Comissão Européia, o FMI, o Banco Central Europeu. Várias unhas, nesta altura, voltaram-se para os credores das dívidas cipriotas públicas e privadas. É verdade que houve quem saudasse a medida como um “pragmatismo” indispensável, para evitar que apenas os “contribuintes europeus” paguem as contas dos países endividados e de seus sistemas financeiros. (V. p. ex., Christian Rickens, “Saving Cyprus: Tapping Bank Customers is the Right Move”, no ‘Spiegel International’). Também logo se aventou, com contido júbilo, que a medida deveria ser logo estendida aos correntistas de outros países, como a Itália e a Espanha. É um argumento curioso, pois parece partir da premissa de que “correntistas” não são “continuintes”. Na verdade, o argumento se apóia, nos bastidores, naquela surrada tese de que é necessário “disciplinar” o Sul da Europa, impondo-lhe a “moral saudável” do Norte.

Porém outras linhas se interpuseram neste cruzar de dedos apontando responsáveis pela medida, ou apontando novos alvos para ela.

Pais ou não da idéia, os credores dos “bonds” cipriotas foram apontados como favorecidos pelo confisco, pois nada teriam a pagar. Mas mesmo entre eles começaram a surgir dissidências. Analistas apontaram que os pequenos credores poderiam ser prejudicados, pois em caso de atribulações no honrar destas dívidas – e isto não está descartado, pois a medida que envolve 10 bi do Fundo precisa da aprovação de todos os parlamentos envolvidos – os grandes investidores são favorecidos pois, em geral, pagam taxas suplementares para serem pagos em primeiro lugar.

A confusão vai se estender por esta semana toda, sem dúvida.

Esta foi a Europa que encontrei ao retornar de três semanas no Brasil. Apesar dos problemas do nosso país, não deu para conter uma sensação de que retornava de uma “ilha de tranqüilidade” para um continente que não só está com suas veias abertas, mas está também com seu sistema nervoso em frangalhos.