Justiça atropela a Câmara e barra sanção do IPTU em SP
Impasse fiscal derruba popularidade de Obama, que tem apoio de 39% e desaprovação de 53% (Gallup)
Investimento público nos EUA cai ao menor nível do pós-Guerra, 3,5% do PIB, contra média histórica de 5%
Dilma: até março, o Mais Médicos cobrirá uma população de 46 milhões de pessoas,equivale a uma Argentina.
Zé Dirceu, sobre setores do governo receptivos a alta dos juros, com arrocho fiscal: para isso não precisam de nós; a direita faz
Há uma violência que campeia invisível no Brasil nos dias que correm. Em vez de máscaras, ternos de corte fino; as gravatas são de seda, italianas. O uniforme, de grifes famosas, que faíscam nas vitrines da Via Condotti, em Roma, adorna protagonistas confortavelmente instalados no anonimato de uma legenda poderosa.
Eles se avocam ‘o mercado’. Do rosto desconhecido ecoam decibéis sustenidos. Ora de forma cifrada, ora escancarada, o alarido martela diuturnamente. Suas sentenças tem a dureza dos vereditos inapeláveis. Nas chantagens irrecorríveis, opera um amplo sistema de difusão.
Os black blocs do dinheiro graúdo não legitimam aqueles outros, que se instalam no confortável papel de implodir o patrimônio público nas ruas, indiferentes ao árduo compromisso de democratizá-lo (leia as análises de Marco Aurélio Weissheimer e Wanderley Guilherme dos Santos; nesta pág).
Mas não são menos violentos no menosprezo pelo destino da sociedade e a sorte do seu desenvolvimento.
Há quem arrisque dizer que são almas gêmeas, produto de um mesmo tempo e de uma mesma lógica. Diferem na escala.
E isso deveria significar alguma coisa para aqueles que imaginam implodir o sistema chutando uma cabine de caixa eletrônico.
As labaredas nas escaramuças de rua formam uma espécie de tanquinho de areia perto dos incêndios estruturais que ameaçam ou ardem em torno de um alvo maior.
‘O mercado’ não reconhece os compromissos compartilhados que tornam possível a vida em sociedade.
Menos ainda a supremacia do interesse público sobre a ganância, que toma de assalto recursos, como se não houvesse amanhã.
‘O mercado’ acusa o governo Dilma de obstruir seu livre curso.
Centuriões avisam que ‘o mercado’ quer um Brasil com a legislação trabalhista da China.
Sem a contrapartida do Estado chinês.
Quer uma taxa de desemprego espanhola, de 26%, para dobrar de joelhos o custo Brasil.
Mas sem a indigência falimentar do Estado espanhol.
‘O mercado’ quer um Brasil desossado, à moda grega.
Mas com o charme de Paris, sem o IPTU do Haddad.
É esse cosido de país dilacerado que os blac blocks de gravata de seda reivindicam no noticiário econômico inflamável dos dias que correm.
Quanto custará a paralisia que essa guerra de expectativas pode trazer –já está trazendo-- ao investimento, enquanto múltiplos de bilhões se refugiam no abrigo da liquidez de curto prazo ?
Difícil dizer. Mas não é descabido afirmar: são valores suficientes para decepar um pedaço do futuro daqueles que hoje imaginam estilhaçar o sistema chutando ícones dele na avenida Paulista.
O Brasil, como se sabe pelas sirenes do noticiário, patina em baixa taxa de poupança interna (embora R$ 6,7 trilhões de riqueza financeira estejam aplicados em papéis de curto prazo); seu investimento (por isso) desliza; as exportações definham diante da competitiva manufatura chinesa (que traz embutido o comando econômico do PC da China); as importações vão de vento em popa nas velas de um câmbio valorizado, cujo ajuste requer uma pactuação que não esfarele o poder de compra dos salários...
E assim por diante.
Há dois caminhos: conversar sobre o assunto e eleger linhas de passagem para superar a teia dos impasses atuais -- isso quem faz é a disputa política, ou decidir que a fatalidade lacrou o futuro brasileiro.
Há exatamente dois anos, em novembro de 2011, indignados espanhóis ocuparam as ruas num misto de voluntarismo e aversão ao sistema político.
Cravaram uma abstenção de 30% nas eleições gerais.
A captura do Estado espanhol pelos mercados foi avassaladora. A vitória incondicional do extremismo conservador, com as consequências hoje sabidas, pesará sobre o futuro de sucessivas gerações de espanhóis.
Os blac blocks de gravata de seda, extremamente competitivos, querem cumprir suas metas e bônus, não se importam com a sorte da nação.
É deles o lema que pulsa no noticiário isento: deve haver um abismo no mundo onde cabe esse país que só não afundou ainda por falta de uma cova do seu tamanho.
As labaredas desse incêndio incontrolável irrompem no jornal da manhã e reacendem no noticiário da noite.
A mensagem das chamas tem um alvo: 2014.
‘O mercado’ não quer mais a ‘gastança social’ do PT, nem o ‘intervencionista’ de Dilma.
Mas ‘o mercado’ quer entrar no Brasil de qualquer jeito para desfrutar da sua riqueza e do seu mercado.
Há uma fila de espera de dez instituições financeiras internacionais querendo entrar na economia brasileira nesse momento.
As licenças do governo demoram até dois anos para serem liberadas.
Os gravatões de seda consideram isso um acinte.
O insuspeito noticioso do amigável Valor Econômico admite que o governo Dilma autorizou o ingresso de quase 8 bancos por ano desde 2011.
Acima até da média de Lula, de seis bancos/ano.
Mas nada que se compare ao desempenho de FHC: 18,4 bancos por ano.
O governo Dilma acaba de autorizar os bancos Bradesco, Itaú e Banco do Brasil a aumentarem de 20% para 30% a participação estrangeira no seu capital.
Os black blocs enrolam a gravata de seda e espiam por cima dos óculos de aro made in France.
O problema é que Dilma quer saber exatamente o que o capital estrangeiro vem fazer aqui e que vantagem trará ao país.
‘O estilo ultradetalhista da presidente tem alimentado suspeitas de que existe um viés nacionalista contra o aumento da participação estrangeira em instituições financeiras’, justifica o amigável Valor.
A presidente do Brasil só autoriza banco novo se ficar demonstrado o interesse do país na operação.
Dilma quer saber o que o banco fará pelo financiamento de longo prazo indispensável a um novo ciclo de desenvolvimento.
A Presidenta faz o que determina a Constituição. E o que determina a Constituição o ‘mercado ‘ rejeita.
Agora ela quer disciplinar o acesso à riqueza mineral do subsolo brasileiro.
O governo quer realizar leilões de reservas minerais comprovadas, cujo risco é zero.
E elevar de 2% para 4% os royalties sobre a atividade mineradora.
O Brasil está entre os maiores exportadores de minério de ferro do mundo. Só o faturamento da Vale do Rio Doce em 2012 foi de R$ 90 bilhões.
A arrecadação de royalties de todo o setor mineral brasileiro no ano passado rendeu ao caixa do Estado pouco mais de R$ 2 bilhões.
A acusação mais branda que se ouve no setor é a de que o governo está querendo fazer caixa para persistir na gastança fiscal.
Ideólogos dos blac blocks de gravata de seda, lotados na FGV, vaticinam: ou o Brasil derruba a política de reajuste do salário mínimo em 2014 –que beneficia também os aposentados, ou o PT vai imitar Haddad, em 2015, e taxar mais os ricos para sustentar os pobres.
O país está entre esses dois fogos.
Que fazer?
Salpicar o país de fogueiras esparsas que rendem uma manchete exclamativa na Folha de amanhã?
Ou montar um poderoso contrafogo de barragem política, que amplie a abrangência e a profundidade da agenda progressista?
A ver.
Eles se avocam ‘o mercado’. Do rosto desconhecido ecoam decibéis sustenidos. Ora de forma cifrada, ora escancarada, o alarido martela diuturnamente. Suas sentenças tem a dureza dos vereditos inapeláveis. Nas chantagens irrecorríveis, opera um amplo sistema de difusão.
Os black blocs do dinheiro graúdo não legitimam aqueles outros, que se instalam no confortável papel de implodir o patrimônio público nas ruas, indiferentes ao árduo compromisso de democratizá-lo (leia as análises de Marco Aurélio Weissheimer e Wanderley Guilherme dos Santos; nesta pág).
Mas não são menos violentos no menosprezo pelo destino da sociedade e a sorte do seu desenvolvimento.
Há quem arrisque dizer que são almas gêmeas, produto de um mesmo tempo e de uma mesma lógica. Diferem na escala.
E isso deveria significar alguma coisa para aqueles que imaginam implodir o sistema chutando uma cabine de caixa eletrônico.
As labaredas nas escaramuças de rua formam uma espécie de tanquinho de areia perto dos incêndios estruturais que ameaçam ou ardem em torno de um alvo maior.
‘O mercado’ não reconhece os compromissos compartilhados que tornam possível a vida em sociedade.
Menos ainda a supremacia do interesse público sobre a ganância, que toma de assalto recursos, como se não houvesse amanhã.
‘O mercado’ acusa o governo Dilma de obstruir seu livre curso.
Centuriões avisam que ‘o mercado’ quer um Brasil com a legislação trabalhista da China.
Sem a contrapartida do Estado chinês.
Quer uma taxa de desemprego espanhola, de 26%, para dobrar de joelhos o custo Brasil.
Mas sem a indigência falimentar do Estado espanhol.
‘O mercado’ quer um Brasil desossado, à moda grega.
Mas com o charme de Paris, sem o IPTU do Haddad.
É esse cosido de país dilacerado que os blac blocks de gravata de seda reivindicam no noticiário econômico inflamável dos dias que correm.
Quanto custará a paralisia que essa guerra de expectativas pode trazer –já está trazendo-- ao investimento, enquanto múltiplos de bilhões se refugiam no abrigo da liquidez de curto prazo ?
Difícil dizer. Mas não é descabido afirmar: são valores suficientes para decepar um pedaço do futuro daqueles que hoje imaginam estilhaçar o sistema chutando ícones dele na avenida Paulista.
O Brasil, como se sabe pelas sirenes do noticiário, patina em baixa taxa de poupança interna (embora R$ 6,7 trilhões de riqueza financeira estejam aplicados em papéis de curto prazo); seu investimento (por isso) desliza; as exportações definham diante da competitiva manufatura chinesa (que traz embutido o comando econômico do PC da China); as importações vão de vento em popa nas velas de um câmbio valorizado, cujo ajuste requer uma pactuação que não esfarele o poder de compra dos salários...
E assim por diante.
Há dois caminhos: conversar sobre o assunto e eleger linhas de passagem para superar a teia dos impasses atuais -- isso quem faz é a disputa política, ou decidir que a fatalidade lacrou o futuro brasileiro.
Há exatamente dois anos, em novembro de 2011, indignados espanhóis ocuparam as ruas num misto de voluntarismo e aversão ao sistema político.
Cravaram uma abstenção de 30% nas eleições gerais.
A captura do Estado espanhol pelos mercados foi avassaladora. A vitória incondicional do extremismo conservador, com as consequências hoje sabidas, pesará sobre o futuro de sucessivas gerações de espanhóis.
Os blac blocks de gravata de seda, extremamente competitivos, querem cumprir suas metas e bônus, não se importam com a sorte da nação.
É deles o lema que pulsa no noticiário isento: deve haver um abismo no mundo onde cabe esse país que só não afundou ainda por falta de uma cova do seu tamanho.
As labaredas desse incêndio incontrolável irrompem no jornal da manhã e reacendem no noticiário da noite.
A mensagem das chamas tem um alvo: 2014.
‘O mercado’ não quer mais a ‘gastança social’ do PT, nem o ‘intervencionista’ de Dilma.
Mas ‘o mercado’ quer entrar no Brasil de qualquer jeito para desfrutar da sua riqueza e do seu mercado.
Há uma fila de espera de dez instituições financeiras internacionais querendo entrar na economia brasileira nesse momento.
As licenças do governo demoram até dois anos para serem liberadas.
Os gravatões de seda consideram isso um acinte.
O insuspeito noticioso do amigável Valor Econômico admite que o governo Dilma autorizou o ingresso de quase 8 bancos por ano desde 2011.
Acima até da média de Lula, de seis bancos/ano.
Mas nada que se compare ao desempenho de FHC: 18,4 bancos por ano.
O governo Dilma acaba de autorizar os bancos Bradesco, Itaú e Banco do Brasil a aumentarem de 20% para 30% a participação estrangeira no seu capital.
Os black blocs enrolam a gravata de seda e espiam por cima dos óculos de aro made in France.
O problema é que Dilma quer saber exatamente o que o capital estrangeiro vem fazer aqui e que vantagem trará ao país.
‘O estilo ultradetalhista da presidente tem alimentado suspeitas de que existe um viés nacionalista contra o aumento da participação estrangeira em instituições financeiras’, justifica o amigável Valor.
A presidente do Brasil só autoriza banco novo se ficar demonstrado o interesse do país na operação.
Dilma quer saber o que o banco fará pelo financiamento de longo prazo indispensável a um novo ciclo de desenvolvimento.
A Presidenta faz o que determina a Constituição. E o que determina a Constituição o ‘mercado ‘ rejeita.
Agora ela quer disciplinar o acesso à riqueza mineral do subsolo brasileiro.
O governo quer realizar leilões de reservas minerais comprovadas, cujo risco é zero.
E elevar de 2% para 4% os royalties sobre a atividade mineradora.
O Brasil está entre os maiores exportadores de minério de ferro do mundo. Só o faturamento da Vale do Rio Doce em 2012 foi de R$ 90 bilhões.
A arrecadação de royalties de todo o setor mineral brasileiro no ano passado rendeu ao caixa do Estado pouco mais de R$ 2 bilhões.
A acusação mais branda que se ouve no setor é a de que o governo está querendo fazer caixa para persistir na gastança fiscal.
Ideólogos dos blac blocks de gravata de seda, lotados na FGV, vaticinam: ou o Brasil derruba a política de reajuste do salário mínimo em 2014 –que beneficia também os aposentados, ou o PT vai imitar Haddad, em 2015, e taxar mais os ricos para sustentar os pobres.
O país está entre esses dois fogos.
Que fazer?
Salpicar o país de fogueiras esparsas que rendem uma manchete exclamativa na Folha de amanhã?
Ou montar um poderoso contrafogo de barragem política, que amplie a abrangência e a profundidade da agenda progressista?
A ver.
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