Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sábado, 9 de novembro de 2013

2008: o ano que a mídia esqueceu

Agência de risco dá um cala boca na mídia conservadora:Standard & Poors afirma que o Brasil é uma economia consistente, com ferramentas e a vontade necessárias para reverter a deterioração fiscal.

 A S&P enfatiza que o grau de investimento conquistado pelo país não está está em discussão na agência e que não se cogita rebaixar a nota brasileira.

 O que esperam os candidatos à presidência do PT para se pronunciarem em apoio a Haddad e ao reajuste do IPTU em SP? Duvidam que em SP se decide um pedaço do futuro do partido?



Quando a tempestade neoliberal despencou, em 2007/2008, o Brasil resistiu ao naufrágio com boias que exigiram gastos fiscais da ordem de R$ 400 bilhões.

por: Saul Leblon 

As notícias contraditórias que chegam dos EUA, em recuperação, e da Europa, sob a ameaça de uma deflação que obrigou o BC a derrubar o juro na sua mínima histórica,  evidenciam a profundidade de uma desordem financeira que não cederá tão cedo, nem tão facilmente.

A consciência dessa longa travessia é um dado fundamental para a ação política em nosso tempo.

É imprescindível abrir o olhar ao horizonte mais largo das determinações  ofuscadas pelo alarido imediatista da mídia conservadora.

A agenda  do arrocho fiscal e monetário bate seu bumbo outra vez.

Com objetivos explícitos e implícitos.

De um lado, determinar a natureza das respostas à dura transição de ciclo de desenvolvimento vivida pelo país.

De outro, encurralar  a sucessão de 2014 em um ambiente contaminado pela represália iminente das agências de risco e dos investidores à ‘derrocada fiscal’.

É o palanque pronto para aqueles que prometem fazer mais e melhor, restaurando o ‘tripé’, recita a cristã-nova do apocalipse, Marina Silva.

Mudam as moscas. Resgata-se o enredo de 2002.

Nesta 6ª feira, na Folha, colunistas  já apregoam a necessidade de se voltar aos bons preceitos da Carta aos Brasileiros, bem como aos mandamentos do Consenso de Washington.

‘Não é que não deu certo; não foi bem aplicado’.

Tudo se passa como se setembro de 2008 nunca tivesse existido no calendário do país e do planeta.

O movimento de expansão do capital financeiro, cuja supremacia determina a dinâmica da economia em nosso tempo, e o faz com a imposição de dramáticos constrangimentos à soberania das nações e às escolhas do desenvolvimento,  antecede e explica  a crise que o conservadorismo apagou.

Não há  economicismo nessa constatação.

A política contribuiu de maneira inestimável para o modo como essa lógica se impôs, a velocidade com que ela se consolidou, a virulência de sua hegemonia e a agonia sem data para terminar de seu poder prevalecente.

 A espoleta da maior crise do capitalismo desde 1929  foi o recuo desastroso do controle da Democracia sobre o poder do Dinheiro.

Seu vetor: o desmonte das travas regulatórias impostas ao sistema financeiro no pós-guerra.

De novo: a regressão não foi obra do acaso.

Recuos e derrotas acumulados pela esquerda mundial desde os anos 70, sobretudo a colonização de seu arcabouço pelos interditos neoliberais, alargaram os vertedouros ao espraiamento de uma dominância financeira que se tornou ubíqua em todas as esferas da vida.

A queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, sancionou-a no imaginário social como uma segunda natureza.

Era o  fim da história, diziam os áulicos.

Não era, mostrou setembro de 2008.

Mas a sociedade que cedeu a soberania ao suposto poder autorregulador dos mercados comprometera fortemente a sua capacidade política de gerar antídotos ao algoz.

A atrofia ideológica  dos partidos progressistas, por exemplo.

Com ela corroeu-se  a principal fonte de restauração do interesse público sobre a supremacia do dinheiro.

A combustão não foi espontânea.

Um jornalismo rudimentar no conteúdo, ressalvadas as exceções de praxe, mas agressivo na abordagem, capturou o discernimento histórico com uma camada de verniz naval de legitimidade incontrastável.

Durou décadas.

Deformou toda uma geração de jornalistas e de lideranças políticas.

Irradiou descrédito e desinteresse na política e no debate do desenvolvimento.

A economia tornou-se um templo sagrado, dotado de leis próprias, revestido de esférica coerência endógena, avesso ao ruído das ruas, das urnas e das aspirações por cidadania plena.

Alguma dúvida sobre o ventre de origem da revolta black bloc?

A crise mundial açoitou impiedosamente a sabedoria excretada nessa endogamia religiosa entre o circuito do dinheiro especulativo e o noticiário conservador.
Para dizê-lo de forma educada, a pauta dos mercados autorregulados revelou-se uma fraude.

Gigantesca.

Seus pressupostos, os valores por ela veiculados  adernam junto com o seu objeto há cinco anos.

Muito pouco, todavia, seria colocado em seu lugar.

Persiste na democracia um vácuo de representação e escrutínio que renova ao mercado a prerrogativa de pautar o país.

É imperioso resgatar as folhas arrancadas do calendário.

Em setembro de 2008, após um ciclo de fastígio da liquidez e do financiamento barato, a ponto de sancionar os famosos créditos ninjas, que bancavam aquisições de imóveis para cidadãos sem renda, sem emprego e sem garantias, deu-se o sabido.

O dominó começou a quebrar pelas sub-primes, lastreadas na evanescente solvibilidade dos mencionados ninjas.

 Graças à sofisticação atingida pela engenharia rentista, esse estoque  tóxico fora  fatiado e reempacotado em ‘produtos financeiros’ negociados em escala global.

O artifício destinado a ‘diluir os riscos’ acentuaria a sua natureza sistêmica, transformando-se  em um dos canais de irradiação da crise que alcançaria todas as praças do mundo.

Inclusive essa que no presente momento está sob o ataque das manchetes terminais  da atilada mídia conservadora.

Disposta a tudo para acuar o governo, ela fustiga o demônio do descontrole fiscal para obriga-lo a aceitar a talagada do veneno que há cinco anos entubou o mundo na UTI gastrofinanceira.

Os bons modos corporativos desaconselham.

Mas é forçoso dizê-lo nos dias que correm.

Aqueles que hoje ministram extrema-unção diária ao país   --‘se não for hoje, de amanhã o Brasil não passa’--  são os mesmos sacerdotes da santa inquisição neoliberal que, durante décadas, transformaram o jornalismo econômico numa obsequiosa prestação de serviço ao dinheiro graúdo.

Vigiar e punir quem ousasse afrontar  os interesses dos mercados financeiros  e das agências de risco internacionais era ( é ) a sua pauta de estimação.

Para isso são regiamente retribuídos.

E fazem jus ao diferencial.


O primeiro impulso do jogral midiático quando a tempestade se instaurou, em 2007/2008, foi instar o Brasil a aderir ao afogamento coletivo. 

De preferencia com os pés amarrados a uma bola de chumbo de juros altos; as mãos decepadas pelos cortes de um virulento arrocho fiscal.

O BC  brasileiro, dirigido pelo comodoro Henrique Meirelles, aquiesceu de bom grado.

Na noite de 10 de setembro de 2008, quando a água invadia os mercados urbi et orbi, o país era informado de que a operosa autoridade monetária, a mão firme no leme,  subira a taxa de juro, já um colosso de 13%, para graúdos 13,75%.

Arrancou aplausos do jornalismo tupiniquim, o mesmo que agora pede bis.

Cinco dias depois quebrava o  Lehman Brothers.

Na época, o quarto maior banco dos EUA.

O buraco de US$ 3,9 bi na instituição de 159 anos marcaria simbolicamente a temporada de esfarelamento das verdades graníticas com as quais a emissão conservadora tutelava o país até então.

Após o desastroso ato pró-cíclico do BC, o governo Lula soube aproveitar a margem de manobra ampliada pela desmoralização plutocrática e inverteu a ênfase.

Em vez de trazer a crise mundial para dentro do Brasil, como pedia a mídia isenta, ergueu diques para afrontá-la na porta.

Um vigoroso acervo de medidas de extração contracíclica  foi acionado.

Ampliou-se o crédito ao consumo,  programas sociais foram expandidos, desonerações favoreceram o investimento produtivo, fomentou-se um gigantesco plano de habitação, articulou-se uma fornada de urgentes inversões em infraestrutura e logística social.

Enquanto o mundo se liquefazia na maré do desemprego, o país continuou a crescer e a expandir seu mercado de trabalho.
Calcula-se que entre subsídios, renúncia fiscal  e incentivo ao investimento, ademais de ações sociais, a resistência ao naufrágio tenha acumulado gastos da ordem de R$ 400 bilhões.

É em torno dessa conta que se afina a partitura da tragédia fiscal iminente, anunciada agora pelo jornalismo econômico.

Esponja-se na fronteira do acerto de contas.

Os que incitavam o governo a jogar o país ao mar em 2008,  retrucam que o custo de não tê-lo afogado na hora certa acarretou custos  insustentáveis.

Tucanos, de sabedoria econômica comprovada pelos resultados diante de outras crises, endossam o clamor pela eutanásia.

FHC: “Os governos petistas puseram em marcha uma estratégia de alto rendimento econômico e político imediato, mas com pernas curtas e efeitos colaterais negativos a prazo mais longo. O futuro chegou...” (Estadão;03-11-2013)
Recomenda-se vivamente beber a cota do dilúvio desdenhada irresponsavelmente em 2008.

A politização do debate econômico  –que o governo não fez a tempo, abrindo os canais para tanto, e o PT vocaliza de modo delicado--  é o primeiro passo para livrar a agenda da crise desse garrote infernal.

A persistir a hesitação, a hegemonia falida ditará as regras à superação da própria falência, coisa que nem o código de falência do capitalismo permite.

O resultado, aí sim, jogará o Brasil no abismo contornado há cinco anos.

Não há, nunca houve, solução sem custo para os desequilíbrios intrínsecos a um processo de desenvolvimento.

Desenvolvimento exige projeto, força e consentimento.

À democracia compete libertar a economia da fraudulenta camisa-de-força 'técnica' que circunscreve  as alternativas aos limites intocáveis dos interesses dominantes. 
Desmoralizada pelos mercados, a política ficará refém dos black blocs de máscara e aqueles, muito mais perigosos,  de gravata de seda.

As escolhas a fazer  não são singelas.

O país precisa do investimento público e privado para adequar uma infraestrutura planejada para a 1/3 da população ao mercado de massa nascido nos últimos anos.

Estamos falando de proporções épicas: em vidas humanas e recursos financeiros.

Nada que se harmonize do dia para a noite.

O crucial é erguer as linhas de passagem, pactuar seus custos, os ganhos e prazos.

A persistir a livre mobilidade dos capitais, do lado externo,  e a captura dos fundos públicos para os juros  da dívida, no plano doméstico, a travessia fica vulnerável à chantagem rentista.

Sobra uma pinguela estreita e oscilante.

Não cabe o Brasil.

Um ano de juro da dívida equivale a 71 anos de merenda escolar diária para 47 milhões de crianças e adolescentes da rede pública brasileira.

É só uma ilustração. Mas também é a síntese das proporções em jogo na arquitetura que será preciso escolher.

A crise desnudou o fatalismo econômico que estruturou a narrativa dominante nas últimas décadas.

Mas alguém precisa dizer que o rei está nu.

E, sobretudo, erguer mirantes de pluralidade para que o país possa enxerga-lo como tal. E a partir daí reescrever a sua própria história.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

OS ALQUIMISTAS DA ÉTICA


Mais de R$ 1 bi sonegados à receita por uma rede de 300 empresas da área química desdobraram-se em saldos em paraísos fiscais, iates, ilhas paradisíacas e mansões. A transmutação do que seria fundo público em lucro privado foi interrompida pela operação 'Alquimia', da PF. Na mesma 4º feira caía o quarto ministro do governo Dilma, acusado de corrupção. O duplo episódio suscita considerações. A primeira diz respeito à extensão do golpe desvelado pela PF. Trata-se de predação superlativa comparativamente ao abominável varejo político do afano feito de porcentagens, nepotismo e caronas em jatinhos. A outra  remete à alquimia ética da mídia. Nossos murdochs costumam reservar à política e instituições públicas o rigor de um torquemada.  Ótimo. Dobram-se, todavia, quando o malfeito emerge dos mercados. Assim é que o neoudenismo reverbera agora as defecções ministeriais como start para o coro do ‘mar de lama', com o qual tenta ofuscar a superioridade histórica do ciclo presidencial do PT.  Nada remotamente próximo ocorre quando o escândalo frequenta a esfera dos mercados. Do que se trata, afinal, a crise financeira se não do sistêmico intercurso de corrupção e fraude entre opacas  corporações, governos complacentes e auditorias amigáveis? Mitigam neste caso o que é sistêmico em exceção. Assim os torquemadas trataram o caso Enron. Sétima maior empresa dos EUA, suas ações foram avaliadas em US$ 85 pelo Morgan Stanley em 12/07/2001 e assim recomendadas; em 9 /10/2001 a Merryl Linch ajuizou-as em US 45. Em 02/12/ 2001, a Enron quebrou. Quem se fiou na auditoria da Arthur Andersen, que por 10 anos atestou a excelência financeira da fraude,viu ações virarem pó. O mesmo se deu com a Goldman Sachs. Dias antes da explosão das subprimes,esse altar do jornalismo conservador recomendou a compra de títulos podres dos quais sua própria tesouraria se desfazia às pressas. A lista imensa cabe numa palavra: desregulação. Dinheiro que se autofiscaliza; mercados que se autocorrigem. Ou ainda, Estado mínimo. Não foi esse, por décadas, o tripé de eficiência apregoado pela mídia? A mesma que, entre nós, não poupou obuses à extinção da taxa de 0,38% sobre cheques, na verdade sobre grandes fortunas que assinam grandes cheques? À moda Tea Party,  blindados demotucanos e sapadores midiáticos lograram destruir a CPMF em 2007, subtraindo R$ 40 bi ao SUS. Aos que celebravam a vitória contra o ‘custo Brasil' o ex-ministro Adib Jatene retrucou: 'Dos cem maiores contribuintes da CPMF, 62 nunca tinham pago IR; ela identificou os  sonegadores e a arrecadação federal triplicou. Aí começou a  brutal campanha contra'. Possivelmente a operação 'Alquimia' tivesse sido dispensável se em vez de extinta, a CPMF fosse aperfeiçoada como antídoto à lavagem e corrupção. Mas a alquimia ética da mídia vetou-a.
(Carta Maior; 5º feira, 18/08/ 2011)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Temendo quebra de banco, Europa dá tapa na mão invisível

11 de agosto de 2011 às 23:45
Four European Nations to Curtail Short-Selling
By LOUISE STORY and STEPHEN CASTLE
New York Times, em 11.08.2011
O regulador do mercado de ações europeu anunciou na noite de quinta-feita que a venda a descoberto [short-selling] de ações financeiras seria banida em vários paises temporariamente, numa tentativa de estancar a instabilidade dos mercados.
A decisão pode colocar pressão nos reguladores do mercado dos Estados Unidos para que também proibam a prática. As ações de bancos americanos tem estado voláteis durante a semana, no momento em que investidores globais demonstram preocupação, considerando que os problemas na Europa podem atravessar o oceano [Atlântico].
A Autoridade Europeia de Mercados e Valores Mobiliários, órgão que coordena as políticas dos mercados da União Europeia, disse numa declaração que as “short sales” — apostas negativas em ações — seriam banidas na França, Bélgica, Itália e Espanha a partir de sexta-feira. Já existe um banimento temporário na Grécia e na Turquia.
“Hoje algumas autoridades decidiram impor ou estender o banimento das vendas a descoberto em seus respectivos paises”, a autoridade europeia declarou. “Fizeram isso ou para restringir os benefícios que podem ser obtidos com rumores falsos ou para manter um campo de jogo equilibrado do ponto-de-vista regulatório, dada a interligação próxima entre os mercados da União Europeia”.
Na França, o órgão regulador daquele mercado baniu short-selling ou o aumento das posições vendidas em short-selling com efeito imediato, durante 15 dias, para as ações de 11 instituições financeiras. Elas são:  April Group, Axa, BNP Paribas, CIC, CNP Assurances, Crédit Agricole, Euler Hermès, Natixis, Paris Ré, Scor e Société Générale.
A declaração da autoridade europeia diz que os detalhes relativos a cada país seriam colocados em sites dos reguladores financeiros nacionais.
As medidas de emergência levaram a comparações com a crise financeira de 2008, quando os Estados Unidos e muitos outros governos baniram as operações a descoberto em várias ações de empresas do ramo financeiro.
Os reguladores da Europa discutiram um banimento continental durante os últimos dias, em meio ao medo de governos, como o da França, de que as vendas a descoberto estavam causando pânico. Os reguladores fizeram duas conferências telefônicas na quinta-feira para completar os termos da declaração, de acordo com uma autoridade governamental que tem conhecimento das negociações. O Reino Unido e a Alemanha estão entre os países que não aderiram ao banimento.
Nas vendas a descoberto, um corretor vende ações emprestadas com a esperança de que elas vão perder o valor antes que ele tenha de comprá-las de volta. A diferença de preço é o seu lucro — ou perda.
Críticos dizem que operações do tipo encorajam especulação e derrubam o preço das ações, algumas vezes alimentando o pânico em mercados que já estão em pânico. Defensores das vendas a descoberto dizem que as operações fornecem informações sobre a opinião de investidores a respeito de empresas e mantém a liquidez do mercado.
Historiadores financeiros alertam que os banimentos de 2008 não funcionaram e que tais medidas são tomadas por causa de preocupações políticas — necessidade de demonstrar alguma forma de ação decisiva — sem comprovação de que são benéficas pelas teorias de mercado.
“O banimento das vendas a descoberto realmente demonstra desespero”, disse Kenneth S. Rogoff, um professor de economia de Harvard. “Este é o plano deles para resolver a crise do euro? Quero dizer, com isso eles não vão ganhar muito tempo”.
A crise na Europa, disse o sr. Rogoff, vai muito além da queda dos preços de ações e tem mais a ver com o estado dos bancos de lá, inclusive os bancos da Itália e da França. Ele disse que os problemas da dívida soberana [de países europeus] são uma extensão do stress no sistema criado pela crise bancária.
O aumento no número de governos europeus que está banindo as operações a descoberto coloca os reguladores dos Estados Unidos em uma posição complicada. Investidores com uma opinião negativa sobre as ações de bancos podem fechar suas apostas na Europa e transferí-las para os bancos norte-americanos.
Na quinta-feira, ações nos Estados Unidos continuaram na montanha russa, subindo 4%, empurradas por informações sobre o mercado de trabalho. O custo do seguro de vários bancos dos Estados Unidos, como o Bank of America e o Citigroup, aumentou esta semana, de acordo com a Markit, uma empresa de informações financeiras, um indício de que os investidores estão crescentemente pessimistas sobre estas companhias.
O anúncio na Europa causou críticas imediatas.
“É uma crise de confiança e quando você faz algo assim, demonstra falta de confiança, que é exatamente o oposto do que você quer dizer aos mercados”, disse Robert Sloan, sócio-gerente da S3 Partners, uma firma que ajuda fundos de investimento a gerenciar seu relacionamento com corretores.
Em 2008, autoridades da Europa e dos Estados Unidos coordenaram o banimento temporário de operações a descoberto.
Os fundos de hedge, em particular, foram prejudicados pelo banimento então, já que interferiu com as estratégias de negócios que envolviam apostas positivas e negativas.
É impossível saber se o pânico de 2008 teria sido pior sem o banimento, que protegeu companhias como a Goldman Sachs e a Morgan Stanley, mas estudos sobre short-selling descobriram que o banimento pode aumentar a volatilidade no mercado e causar menor volume de negócios, de acordo com o professor Andrew W. Lo, do Massachusetts Institute of Technology.
O sr. Lo disse que o banimento também remove informação importante sobre o que os investidores pensam da saúde financeira de empresas e sugere que o banimento serve a objetivos políticos.
“É mais ou menos como tirar o paciente com problemas cardíacos do monitoramento na sala de emergência, para evitar que médicos e enfermeiras fiquem ansiosos”, ele disse.
Alguns investidores esperavam há meses pelo banimento e estavam antecipadamente se afastando de suas posições vendidas, disse o sr. Sloan da S3 Partners. Ele também disse que se houvesse mais gente investida no mercado agora, os mercados poderiam estar caindo menos do que estão. Quando os mercados caem, os vendedores em geral realizam seus lucros e para fazer isso precisam comprar ações. Os mercados poderiam se beneficar destes compradores agora, o sr. Sloan afirmou.
Mesmo com o banimento europeu das vendas a descoberto de algumas ações, os investidores com opiniões negativas sobre empresas podem encontrar outras formas de apostar contra elas no mercado de derivativos, se esses tipos de operação continuarem autorizadas.
Liz Alderman contributed reporting.
PS do Viomundo: A linguagem do cassino penetrou de vez no jornalismo econômico. Só eu notei que o Times não ouviu nenhuma opinião contra esse tipo de aposta? Foram perguntar ao pedreiro o que ele acha do banimento do martelo. E o professor do MIT que disse que o banimento pode diminuir o volume dos negócios? A próxima dele é dizer que a chuva molha. A metáfora da sala de emergência é típica dos norte-americanos: uma imagem boa que encobre um raciocínio estúpido. E quem disse que permitir esse tipo de aposta não significa dar uma injeção de adrenalina num enfartado? Ah, o que essa gente não faz por uma gorda comissão.
Onde é que você estava em agosto de 2011?
Um professor de Harvard me ajudou a olhar para as pessoas, não para o dinheiro
A mão invisível do mercado vai quebrar um grande banco?
Heloisa Villela vive em uma sociedade anestesiada
Maria da Conceição Tavares, de olho na treva
Krugman: Crise política, não apenas econômica
Sara Robinson: A ascensão do fascismo nos Estados Unidos
Sara Robinson: O Tea Party e a ascensão da extrema-direita

segunda-feira, 13 de junho de 2011

ORTODOXIA TREME : OBAMA QUER

 
Diante de uma crise que não cede, mesmo depois de o governo despejar US$ 1,3 trilhão no metabolismo dos mercados, retidos, em boa parte, nos cofres da banca privada --que prefere investir em títulos públicos ou especular nas bolsas de commodities a financiar a demanda e o  investimento-- o presidente Barack Obama cogita agora criar um banco de desenvolvimento estatal, semelhante ao BNDES brasileiro. A intenção é ter uma ferramenta contracíclica , induzindo investimentos em infraesterutura para injetar algum oxigênio à atividade econômica. A crise e sua longa convalescência evidenciaram o custo elevado do desmonte do aparato público promovido por três décadas de neoliberalismo nos EUA, iniciado com Reagan, em 1981, passando por Clinton nos anos 90 até o seu esfarelamento completo com Bush. Em 2007/2008, quando os mercados entraram em parafuso com a crise das sub-primes, o governo não dispunha de mecanismos para se contrapor à lógica pró-cíclica, sobretudo das finanças, que agem como manada, exacerbando períodos de alta e agravando as dinâmicas recessivas. A reação de Obama , algo tardia, mas sobretudo amesquinhada pela resistência republicana que deseja impor limite acanhados à instituição - no ano passado, por exemplo,  o BNDES concedeu US$ 96,32 bilhões em empréstimos, 3 vezes mais que o BID  controlado pelos EUA, com US$ 28,8 bi-- traz importantes lições ao Brasil. Um dos maiores acertos do governo Lula foi ter preservado e expandido o fôlego do sistema financeiro público que permitiu ao país resistir e reverter a espiral recessiva  e voltar a crescer. Entre 2008 e 2010, quando a banca privada deixou o país na mão criando uma crise de crédito, o BNDES  aumentou sua fatia no financiamento produtivo  de 9,4% para 22,5%  O dispositivo midiático demotucano fez fogo e criticou as tendências estatizantes do empréstimo público subsidiado ( a taxa de juro do BNDES é de 6% contra Selic de 12,25%). A intenção de Obama agora  reafirma a relevancia desse ferramental num mundo onde nações se tornam reféns da incerteza financeira, que imobiliza governos e partidos desprovidos de instrumentos para enfrentá-la.  Os textos inéditos de Luiz Gonzaga Belluzzo publicados nesta pág. explicam a natureza centralizadora do sistema financeiro no capitalismo. Seu poder estrutural de 'coordenar' a economia não pode ficar subordinado à lógica privada.

(Carta Maior; 2º feira,13/06/ 2011)