Novo estudo da insuspeita organização, que reúne países ricos e emergentes como o México, reconhece importância do Estado para "enfrentar" mercado e reduzir diferença de renda entre as pessoas, defende que ricos paguem mais impostos e ainda pede elevação das taxas sobre propriedade e riqueza. Apesar do avanço na última década, Brasil segue entre os campeões de desigualdade.
Marcel Gomes
São Paulo – A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), clube que reúne países ricos e emergentes como México, divulgou segunda-feira (5) um compêndio sobre a evolução da desigualdade de renda no mundo. O estudo “Permanecemos divididos: por que a desigualdade segue aumentando” traz três conclusões importantes:
1) A diferença da renda recebida pelos trabalhadores da OCDE aumentou na maioria dos países do grupo para o maior nível em 30 anos;
2) Na contramão, o Brasil – que não é membro da OCDE, mas também foi analisado – registrou queda da desigualdade nos últimos anos;
3) Não fosse a ação dos Estados através de suas políticas sociais, o buraco entre ricos e pobres seria muito mais profundo.
O estudo da OCDE aponta que mesmo países reconhecidos por sua igualdade, como Alemanha, Dinamarca e Suécia, enfrentam processos de concentração econômica. Nessas nações, a média da renda dos 10% mais ricos em relação àquela dos 10% mais pobres saltou de cinco para seis vezes, dos anos oitenta para cá – ou seja, a concentração aumentou 20%.
A desigualdade subiu também em países como Itália, Japão, Coréia e Reino Unido, que atingiram uma taxa de dez para um. Na direção oposta, o México assistiu a um recuo das diferenças de renda, mas continua sendo o mais desigual da OCDE – os mexicanos mais ricos ganham 27 vezes a mais do que os mais pobres.
Já o Brasil é um caso a parte. Apesar do recuo da desigualdade desde o final da década de noventa, em torno de 8,5%, os 10% mais ricos recebem em média 50 vezes mais do que a renda dos mais pobres. Entre as nações analisadas, o país só é batido pela África do Sul, onde a herança do apartheid mantém essa relação em 61 para um.
Causas e conseqüências
De acordo com a OCDE, a principal razão para a desigualdade de renda nos países do bloco é o aumento das diferenças salariais entre os trabalhadores.
A acelerada evolução tecnológica abre mais vagas para os altamente qualificados e impulsiona a elevação do salário deles, enquanto os trabalhadores com menos anos de estudos mantêm remuneração estagnada.
"Não há nada inevitável quando se fala de desigualdade", disse o mexicano Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, na conferência à imprensa.
"Nosso relatório indica claramente que aperfeiçoamento profissional da força de trabalho é de longe o mais poderoso instrumento para combater a alta desigualdade de renda. O investimento nas pessoas deve começar na primeira infância e ser mantido na educação formal e no trabalho", completou.
A aposta na educação pode ter um viés ideológico, mas também é pragmática. A OCDE reconhece que desde os anos noventa os países do bloco reduziram benefícios sociais pagos aos trabalhadores e apertaram as regras de elegibilidade para conter gastos públicos.
Reverter isso no atual momento da crise financeira internacional parece um caminho improvável diante das medidas já tomadas em países com Grécia, Portugal e Itália.
Mas a organização não descarta a importância estatal no combate à desigualdade. Para reforçar esse papel, defende novas políticas fiscais para que os ricos paguem mais impostos, que sejam eliminadas deduções tributárias e reavaliados as taxas sobre propriedade e riqueza.
1) A diferença da renda recebida pelos trabalhadores da OCDE aumentou na maioria dos países do grupo para o maior nível em 30 anos;
2) Na contramão, o Brasil – que não é membro da OCDE, mas também foi analisado – registrou queda da desigualdade nos últimos anos;
3) Não fosse a ação dos Estados através de suas políticas sociais, o buraco entre ricos e pobres seria muito mais profundo.
O estudo da OCDE aponta que mesmo países reconhecidos por sua igualdade, como Alemanha, Dinamarca e Suécia, enfrentam processos de concentração econômica. Nessas nações, a média da renda dos 10% mais ricos em relação àquela dos 10% mais pobres saltou de cinco para seis vezes, dos anos oitenta para cá – ou seja, a concentração aumentou 20%.
A desigualdade subiu também em países como Itália, Japão, Coréia e Reino Unido, que atingiram uma taxa de dez para um. Na direção oposta, o México assistiu a um recuo das diferenças de renda, mas continua sendo o mais desigual da OCDE – os mexicanos mais ricos ganham 27 vezes a mais do que os mais pobres.
Já o Brasil é um caso a parte. Apesar do recuo da desigualdade desde o final da década de noventa, em torno de 8,5%, os 10% mais ricos recebem em média 50 vezes mais do que a renda dos mais pobres. Entre as nações analisadas, o país só é batido pela África do Sul, onde a herança do apartheid mantém essa relação em 61 para um.
Causas e conseqüências
De acordo com a OCDE, a principal razão para a desigualdade de renda nos países do bloco é o aumento das diferenças salariais entre os trabalhadores.
A acelerada evolução tecnológica abre mais vagas para os altamente qualificados e impulsiona a elevação do salário deles, enquanto os trabalhadores com menos anos de estudos mantêm remuneração estagnada.
"Não há nada inevitável quando se fala de desigualdade", disse o mexicano Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, na conferência à imprensa.
"Nosso relatório indica claramente que aperfeiçoamento profissional da força de trabalho é de longe o mais poderoso instrumento para combater a alta desigualdade de renda. O investimento nas pessoas deve começar na primeira infância e ser mantido na educação formal e no trabalho", completou.
A aposta na educação pode ter um viés ideológico, mas também é pragmática. A OCDE reconhece que desde os anos noventa os países do bloco reduziram benefícios sociais pagos aos trabalhadores e apertaram as regras de elegibilidade para conter gastos públicos.
Reverter isso no atual momento da crise financeira internacional parece um caminho improvável diante das medidas já tomadas em países com Grécia, Portugal e Itália.
Mas a organização não descarta a importância estatal no combate à desigualdade. Para reforçar esse papel, defende novas políticas fiscais para que os ricos paguem mais impostos, que sejam eliminadas deduções tributárias e reavaliados as taxas sobre propriedade e riqueza.
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