As manchetes dos jornais de hoje, quarta-feira, sobre o crescimento zero do PIB no terceiro trimestre de 2011 revelam um equívoco e, indiretamente, a timidez em reagir às pressões políticas que nos desejam levar a uma estagnação econômica, a famosa “roda presa”.
O equívoco é tratar um índice – que, obrigatoriamente, registra uma variação passada – como um retrato do presente.
O exemplo clássico eu reproduzo aí na imagem.
Em 10 de junho de 2009, a Folha publicou em letras garrafais que o Brasil estava em recessão, com base no dado do IBGE sobre o PIB do primeiro trimestre daquele ano. O Globo publicou manchete idêntica. Dias depois, ambos os jornais publicavam matérias sobre a escassez de máquinas de lavar e outros eletrodomésticos provocada pelo forte consumo popular.
A recessão, literalmente, já era, quando se a noticiou. Ou pode-se dizer que, já ali, era uma “não-notícia”.
Da mesma forma, agora, todos sabem que a desaceleração de nossa economia, este ano, deveu-se à necessidade de reprimir as pressões inflacionárias reais e, sobretudo, à “inflação inflacionada” com que a mídia e os agentes do mercado pressionaram a opinião pública e, com isso, as próprias relações econômicas nos setores mais fortemente influenciáveis por este subjetivismo: os serviços, especialmente.
E isso teve peso importante sobre outros fatores reais que influenciaram a economia.
O primeiro, a falta de aumento real do salário mínimo, que permitiu certa corrosão no seu valor real, sobretudo a partir do segundo semestre, quando as perdas inflacionárias tornaram-se significativas.
O segundo, a elevação das taxas de juros iniciada no final de 2010 e potencializada pelas medidas macroprudenciais que restringiram – até mais do que encareceram – o crédito.
O terceiro, a necessidade de frear os gastos governamentais, especialmente quanto aos investimentos públicos.
Tudo isso estava, embora se possa discutir o grau com que foi feito, na agenda da política econômica do governo, como forma de “freada de arrumação” na economia brasileira.
Mas o que não estava nas contas, isto sim, era a crise europeia e americana que, a partir de julho/agosto, fez “transbordar” a dose de restrições que se procurava aplicar à atividade econômica.
Como se tem insistido aqui, ao contrário de “apressada e imprudente”, como todo o mercado e a mídia a qualificaram, a decisão de baixar os juros públicos foi demorada e, mais que tudo, tímida. Foi, porém, o que se pôde fazer para que os gestores da política monetária “pensassem fora da caixa”. Um escasso meio ponto de redução – quase nada tendo em vista as taxas que praticamos – bastou para serem condenados como “hereges” econômicos e, pior, acusados de sabujice em relação ao Governo.
Finalmente agora parece que se desperta no Governo a convicção de que a dose de restrição se tornou exagerada e é preciso compensar, e rápido, a contrapressão que se deu à economia. Sobretudo porque, quase todos já concordam, a inflação deixou de ser uma assombração e que uma obsessão por atingir exatamente a meta de 4,5% pode ser uma quimera paralisante, pois índices alguns décimos acima dela nunca foram problemas insanáveis para a estabilidade econômica.
Recessão, sim, seria. Mas não é o caso de pensar nisso, senão como cenário hipotético, porque a menos que ocorram situações de agravamento brutal da crise externa, nossas defesas são mais do que suficientes para controlar seus efeitos.
Dizer, portanto, que o país parou de crescer é algo que não descreve – nem mesmo nas manchetes de jornal – a base para um raciocínio correto sobre nossa economia.
A pergunta cabível, agora, é outra: com que velocidade e em que grau iremos retomar a aceleração econômica.
Por: Fernando Brito
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