Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

EUA afundam na crise com impasse no orçamento

Arnaldo Comin - Com Reuters e AFP
Bank of America reviu para baixo previsão de crescimento para 2012, a 2%
Bank of America reviu para baixo previsão de crescimento para 2012, a 2%

Collapse Falta de consenso entre as duas forças políticas do país se agrava em um momento de piora dos indicadores econômicos.
Em clima amargo e cheio de incertezas econômicas, chega nesta quarta-feira (23/11) ao fim o prazo para que a "supercomissão" do Congresso americano encarregada de aprovar um profundo corte de US$ 1,2 trilhão nas despesas públicas ao longo de dez anos chegue a uma solução de consenso.
As negociações entre democratas e republicanos, que atingiram o ápice do confronto na segunda-feira (21/11), na última tentativa frustrada de acordo, deverão obrigar o presidente Barack Obama a aplicar cortes automáticos no orçamento a partir de 2013, trazendo consequências imprevisíveis na corrida eleitoral do ano que vem.
"Eu ficarei muito surpreso se houver um acordo de última hora hoje no Congresso, que está completamente radicalizado", afirmou ao Brasil Econômico o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens Barbosa.
Mais devagar
A falta de consenso entre as duas forças políticas do país se agrava em um momento de piora dos indicadores econômicos dos Estados Unidos.
Na terça-feira (22/11), o governo divulgou o resultado do Produto Interno Bruto do terceiro trimestre, que apresentou alta de 2%, ante a previsão original de 2,5%.
Em reunião na tarde de ontem, os diretores do Fed, o banco central americano, optaram por não estabelecer objetivos formais de crescimento para os próximos meses, em função das incertezas nas variáveis políticas e macroeconômicas.
Em relatório a investidores, o Bank of America elevou sua previsão de crescimento para o quarto trimestre para a economia americana de 3% para 3,3%. Em compensação, reviu para baixo em 0,2 ponto percentual sua previsão de crescimento para 2012, a 2%.
"Tudo vai depender de como a população americana vai reagir a esse cenário de crise política, gastando mais ou menos no Natal", disse ao Brasil Econômico o professor de ciências políticas da Universidade Federal de Brasília (UNB), o americano David Fleischer.
A incerteza, segundo ele, recai no reflexo do racha político do país. "Os republicanos querem prejudicar Obama o máximo que puderem antes da corrida eleitoral, mas o presidente já deixou claro que não cederá às pressões e responderá com cortes automáticos na Defesa, o que pode ser um tiro no pé dos conservadores", diz Fleischer.
De fato, Obama enfrenta agora a difícil tarefa de equilibrar a natureza dos cortes, que superarão os US$ 100 bilhões anuais a partir de 2013.
Do ponto de vista mais imediato, outro fator que pode complicar o cenário dos Estados Unidos é o reflexo nas empresas e outros agentes econômicos em meio a uma taxa persistente de desemprego de 9% e o agravamento da crise na Europa.
"A falta de acordo pode levar a um novo rebaixamento do rating da dívida, o que complica ainda mais a recuperação do país", destaca Barbosa.
Ontem, as agências de classificação de risco não se pronunciaram sobre o fracasso das negociações. Para analistas nos Estados Unidos, a Standard & Poor's, após rebaixar sua nota de AAA para AA+ em agosto, não deve mudar a curto prazo sua posição.
Já a agência Moody's - que no início do mês mudou sua perspectiva de "estável" para "negativa" - seria a mais sensível aos solavancos no Congresso neste momento. A Fitch declarou, antes do fracasso nas negociações de anteontem, que poderia levar a uma revisão para "negativa", mas que só se pronunciaria sobre o assunto no final do mês.
Reflexos políticos
O embate entre democratas e republicanos sobre o orçamento do ano que vem, agora que só um acordo de emergência poderá evitar os cortes automáticos em 2013, torna mais nebuloso o cenário da corrida eleitoral.
Visivelmente contrariado com a recusa dos republicanos em aprovar o fim das isenções fiscais para os mais ricos, Obama tentará se esquivar da culpa pela falta de uma solução para a crise.
Por esse motivo, ainda não enfrentou a oposição direta do movimento de insatisfação popular "Occupy Wall Street", cujos enfrentamentos com a polícia de Nova York têm se agravado nos últimos dias. Mas tampouco demonstrou que é capaz de solucionar esse impasse, sob o risco de ver sua popularidade deteriorar com cortes obrigatórios na área social.
"O que conta a favor para o Obama neste momento é a ausência de um candidato republicanos forte para a Casa Branca", diz Barbosa.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A TRANSPARÊNCIA DOS DIAS QUE CORREM



A semana começa iluminada pela  alarmante transparência que as crises irradiam quando atingem seu domínio sobre a economia e a sociedade. Em entrevista neste domingo à revista alemã Der Spiegel, a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde,voltou  a advertir: um novo ciclo de recessão está a caminho. Sinal dos tempos, convocou Estados a redobrarem esforços de investimento e salvaguarda bancária para evitar o pior. As advertências dramáticas de Lagarde  legitimam a decisão tomada  pelo BC brasileiro que na semana passada desgostou os mercados. Consultores da banca e seus ventríloquos na mídia demotucana receberam mal a redução de meio ponto na taxa de juro mais alta do mundo.  Menos de 24 horas depois vinha dos EUA uma ratificação do diagnóstico embutido no corte da Selic: em agosto, a maior economia capitalista da Terra não gerou nenhuma vaga de emprego.  Na próxima 5ª feira será a vez de Obama desagradar a lógica do extremismo ortodoxo que na sua versão nativa ou forânea prescreve o arrocho fiscal como maravilha curativa para a maior crise do capitalismo desde 29. Obama abre a sua campanha pela reeleição anunciando um programa de geração de empregos  a contrapelo do suicídio fiscal imposto pela Tea Party contra sua administração. Num certo sentido, a eleição de 2012  nos EUA  confrontará duas grandes vertentes que se enfrentam  nas respostas à crise mundial. De um lado, um neoliberalismo cego que resolveu dobrar a aposta na desregulação financeira, responsável pelo colapso em curso no planeta. De outro, a ainda tíbia mas correta tentativa esboçada em diferentes países -- inclusive no Brasil, para suprir R$ 30 bilhões que faltam à saúde pública-- de taxar os ricos para financiar o investimento público travado pela crise. Durante décadas a hegemonia neoliberal aprisionou o debate econômico numa espécie de escolha de Sofia: as opções de desenvolvimento  estariam restritas ao endividamento insustentável dos Estados, capturados pelo rentismo como usinas de juros, ou o arrocho salazarista, vendido pela mídia como a dolorosa purgação rumo ao paraíso. Protegida por esse falso dilema, a riqueza engordou despudoramente isenta ou sub-taxada  por sistemas tributários amigáveis (no Brasil, assalariados pagam 4,5 vezes mais IR que os bancos). A crise implodiu essa fraude ao exaurir os Tesouros no socorro à desordem  financeira. O déficit  fiscal das sete maiores economias do mundo  ultrapassa atualmente U$ 41 trilhões: 70% do PIB mundial. O Estado brasileiro gasta mais com juros do que com a saúde pública ou a educação. O Chile com um a carga fiscal de apenas 17% do PIB  --a média européia é de 48%-- não tem respostas a dar aos estudantes que exigem educaçao pública de qualidade. Obama não conseguirá ressuscitar o emprego sem políticas públicas para as quais falta-lhe  o mesmo do que se ressente Dilma para acudir a saúde, Piñera para democratizar a educação ou Zapatero para atender aos indignados: receita fiscal originária da taxação da riqueza e não mais do endividamento imobilizante. A ver.
(Carta Maior; 2ª feira, 05/09/ 2011

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Tijolaço: OS PROFESSORES NÃO FIZERAM O "DEVER DE CASA."


Os “professores” erraram e não têm a dignidade de chamar os “alunos” para refazerem, eles próprios, as lições que determinavam

Extraído no Tijolaço:

Os professores não fizeram o “dever de casa”


Os países ricos, o FMI e a mídia conservadora (ou isso é pleonasmo?) vivem dizendo que o Brasil precisa cortar gastos públicos, que não pode gastar mais do que arrecada e que sua dívida é astronômica.


Por isso, é irônico ver o que traz hoje O Globo, vejam só:



“Pelos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida média dos (países) emergentes em relação a seu PIB é de 33,6%, já a do G-7 (grupo que reúne EUA, Japão, Alemanha, Itália, França, Canadá e Reino Unido) é o triplo (118,2% do PIB). Pelas projeções do Fundo, a diferença será de quatro vezes em 2016.”


Ah, mas vocês pensam que eles dão o braço a torcer? Não, de jeito nenhum. Logo a seguir dizem que estamos nesta situação por termos seguido a cartilha do FMI e praticado a austeridade nos gastos públicos.



Só que o FMI é controlado justamente por aqueles países que nos deram tão bons conselhos.


Nós não estamos muito endividados e nunca estivemos. O que nós fomos e ainda somos é submetidos a um processo de endividamento extorsivo, com juros que não existem nesse mundo desenvolvido e que os “sabidos” do FMI sempre aplaudiram.



O mundo desenvolvido acumula déficits  e reclama do alto preço das commodities – os produtos minerais e agrícolas que eles exauriram e acham que devemos entregar-lhes barato, agora. Reclamam, como faz hoje a The Economist, que estamos usando esses recursos para gastar mais com importações e fomentar o aumento do consumo, em vez de investir dinheiro na economia, mas são os primeiros, através de seus agentes financeiros, torcer o nariz para investimentos na base da economia e a medidas protecionistas para nossa indústria.


E a receita que nos deram não serve para eles próprios: continuam subsidiando o capital com seus juros públicos bem baixinhos, favorecendo um fluxo que nos obriga a mantê-los altos aqui.



Os “professores” erraram e não têm a dignidade de chamar aqueles  “alunos” que tratavam com dureza e palmatória para refazerem, eles próprios, as lições que determinavam.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Risco de calote dos EUA faz mercados falarem em "cataclismo"



Os Estados Unidos estão a uma semana de serem obrigados a suspender os pagamentos à sua administração pública, aos veteranos de guerra e a credores estrangeiros se o governo Obama e o Partido Republicano não resolverem a queda de braço em torno do limite da dívida pública. Fundo Monetário Internacional e Wall Street falam em "cataclismo" de âmbito mundial se esse cenário se concretizar. A dívida pública norte-americana é de 14,3 trilhões de dólares, equivalente a cerca de 100 por cento do PIB do país.

Existe a convicção de que as duas partes não irão até à ruptura mas reina o nervosismo nos mercados financeiros e respectivos símbolos, desde a diretora geral do FMI a Wall Street, que não hesitam em recorrer à palavra “cataclisma” de âmbito mundial se o cenário se concretizar.

São muitas as divergências entre Obama e os democratas de um lado e os republicanos, que dominam a Câmara dos Representantes, do outro. No entanto, que impede verdadeiramente o acordo é o calendário para integração do limite do déficit no orçamento. A Casa Branca insiste que a alteração deve fazer-se de uma só vez, válida até 2013, portanto já depois das eleições presidenciais do próximo ano. Os republicanos, através do presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner, pretendem que a operação seja a dois tempos: um aumento até fevereiro ou março de 2012 e o outro até 2013.

Obama contesta porque, em seu entender, uma crise do mesmo tipo seria reaberta dentro de nove meses, praticamente já em plena campanha eleitoral; Boehner argumenta que o presidente “quer um cheque em branco”. Analistas políticos norte-americanos consideram que o duelo é uma verdadeira queda de braço com um conteúdo eleitoral em que ambas as partes testam reacções perante as suas próximas linhas econômicas e orçamentárias.

Na sequência de uma mensagem televisiva presidencial pedindo aos cidadãos para que pressionem seus representantes sobre a necessidade de se entenderem, Washington tem estado nas últimas horas sob uma tempestade de chamadas telefônicas e mails, sufocando comunicações, websites de representantes e agitando o Twitter através da campanha “Fuck You Washington”.

A dívida pública norte-americana é de 14,3 trilhões de dólares, equivalente a cerca de 100 por cento do PIB, e, mais do que a definição do limite da dívida, o que divide os dois partidos do sistema de poder norte-americano são os conteúdos das reduções de gastos que devem acompanhar esse aumento. Os republicanos pretendem cortes entre 2,7 e 3 trilhões e os democratas vão até 1 trilhão contando com mais 1,2 trilhões que viriam da retirada de tropas do Afeganistão e do Iraque.

Os números nem sempre dão uma ideia da envergadura dos montantes envolvidos, o que levou um website a defini-la graficamente a partir da acumulação de notas de cem dólares de modo a perfazerem o total da dívida do Estado federal norte-americano. Os resultados podem ser encontrados aqui.

As agências de classificação de risco, que mantêm a dívida norte-americana sob pressão, consideram que sem cortes de despesas de 4 trilhões de dólares não haverá condições para travar a “indisciplina orçamentária”.

A imprensa norte-americana recorda que desde que o aumento da dívida norte-americana se tornou vertiginoso, a partir das administrações Reagan nos anos oitenta, os limites já foram alterados cerca de 40 vezes, o que torna inusitado o prolongamento da resistência republicana em relação ao teto. Alguns órgãos da imprensa europeia lembram também que os alargamentos dos limites das dúvidas públicas são frequentes em Estados da União Europeia, inclusivamente na Alemanha, que em 1949 estabeleceu na sua Constituição um limite para o déficit e logo deixou de cumprir essa norma.


Fotos: Visualização da dívida norte-americana em notas de 100 dólares. Foto Christopher Rasch/Flickr

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A CRISE E O IMPASSE FISCAL NOS EUA:

  
A carga fiscal nos EUA depois de três décadas de domínio neoliberal é de 24% do PIB. A plutocracia nada em isenções de impostos concedidas por sucessivos mandatos republicanos. 45 milhões de norte-americanos admitem passar fome porque a sua renda não sustenta o metabolismo. A carga fiscal americana é a mais baixa entre os países ricos e costuma ser festejada pela ignorância do jornalismo nativo como evidência de correlação entre economia forte e Estado mínimo. O disparate é tão grande que na Alemanha da insuspeita dama de ferro Angela Merkel a carga é de 37% do PIB. Na Dinamarca cujo padrão de vida e urbanidade são invejados pelas elites nativas em seu eterno giro pelas alfandegas, a taxa passa de 44%. Mas elas maldizem os 34,5% do Brasil, que acusam de financiar o que classificam como ‘gastança’, tipo Bolsa Família, postinho de saúde, subsídio à habitação popular, escola pública, aposentadoria rural etc. Nesse momento de transparência das coisas, o facho de luz da crise mundial mostra o capitalismo americano colapsado pela sua hora da verdade fiscal: a receita do país hoje é 11% inferior ao que se gasta (no Brasil o déficit é de  3% e eles espumam).  A dívida pública já rompeu o limite de US$ 14 trilhões e os republicanos não aceitam elevar o teto do endividamento, sem o quê, a partir de agosto, fornecedores e rentistas aplicados nos títulos do Tesouro estão sujeitos ao calote. A ortodoxia republicanam cega e esperta ao mesmo tempo, faz braço de ferro com Obama: só dá mais corda fiscal para o Presidente se ele se comprometer a cortar US$ 4 trilhões de despesas até 2014, acuando assim sua reeleição num corner de cortes de gastos –inclusive na área de saúde, que Obama queria universalizar-- em plena campanha eleitoral. Eis o ponto a que nos leva a ideologia obscurantista do Estado mínimo. Se ela é obtusa o suficiente para colocar em risco a solvência da maior economia capitalista da terra, imagine do que não é capaz em latitudes tropicais? Esse é o teor de barbárie ideológica vendida pelo jornalismo demotucano como suflê dos deuses nas últimas décadas. É isso que está em questão nos EUA: de um lado, os mercados e a extrema direita republicana disposta a jogar o país no caos para manter o privilégio fiscal dos ricos às custas dos pobres; de outro, a tibieza de um presidente fraco, que levita sobre uma sociedade atomizada, corroída pela desindustrialização e o esfarelasmento de sindicatos e partidos, sendo assim o oposto do universo mobilizado que ancorou o New Deal nos anos 30. A salgar tudo isso, uma opinião pública de classe média adestrada em seus medos e ignorância pelo noticiário da Fox News, do magnata Rupert Murdoch, cujas credenciais dispensam apresentações. Ah, sim, Obama acha que vai vencer os blindados com disparos de Twiter.
(Carta Maior; 6º feira 15/07/ 2011)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Se o mundo fosse uma rua, quem conseguiria viver com um vizinho assim?

O valentão mais perigoso do mundo ( pensa que é) , por  Immanuel Wallerestein
do OUTRAS PALAVRAS

Immanuel Walleresten aponta novos sinais do declínio dos Estados Unidos, e lamenta: Obama é poderoso apenas para fazer o mal

Por Immanuel Wallerestein | Tradução: Antonio Martins

O presidente dos Estados Unidos é considerado o indivíduo mais poderoso no mundo moderno. O que Barack Obama está aprendendo, para seu desapontamento, é que ele tem enorme poder para fazer o mal – mas quase nenhum, para fazer o bem. Imagino que ele perceba isso, e não saiba como o que fazer a respeito. O fato é que ele pode muito pouco.


Examinemos sua principal preocupação específica, no momento – a primaver árabe. Ele não a começou. Ele foi evidentemente pego de surpresa quando ela começou – como, aliás, quase todo mundo. Sua resposta imediata foi pensar, com razão, que o processo representava grande perigo para a já abalada ordem geopolítica da região. Os Estados Unidos procuraram, de todas as maneiras possíveis, limitar o dano, manter sua própria posição e restaurar a “ordem”. Ninguém pode afirmar que tiveram grande sucesso. A cada dia, a situação torna-se mais incerta e fora do controle de Washington.

Barack Obama é, por convincção e personalidade, a quinta-essência do centrismo. Ele busca diálogo e compromisso entre “extremos”. Age com a devida reflexão, e tomas as grandes decisões com prudência. É partidário de mudanças lentas e ordenadas – que não ameacem as bases do sistema do qual ele é não apenas parte, mas a figura central e o mais poderoso ator.

Porém, ele encontra-se, hoje, constrangido de todos os lados para o exercício de seu papel. Ainda assim, continua tentando jogá-lo. Diz, obviamente, para si mesmo: que mais eu poderia fazer? O resultado é que outros atores (inclusive os que foram seus aliados subaltermos) desafiam-no aberta, desavergonhada e repetidamente – o que reduz ainda mais seu poder.

Benyamin Netanyahu, o premiê israelense, fala ao Congresso dos EUA, que aplaude seus absurdos interesseiros com entusiasmo e arrebatamento – como se ele fosse em George Washingto reencarnado. Foi um tapa na cara de Obama, mesmo que o presidente já tivesse, ao falar ao lobby pró-israelense AIPAC, retirado na prática sua tímida tentaiva de propor a volta às fronteiras que Israel e os palestinos mantinham em 1967, como base para a paz.

O governo saudita deixou muito clara que fará tudo a seu alcance para defender os regimes atuais do mundo árabe. Está irritadíssimo com as concessões ocasionais de Obama à linguagem dos “direitos humanos”. O governo do Paquistão está avisando muito claramente a Obama que, se os EUA tentarem enquadrá-lo com dureza, encontrará na China uma amizade mais firme. Os governos russo, chinês e sul-africano lembraram sem reservas que, se Washington tentar obter decisões do Conselho de Segurança da ONU contra a Síria, não terá seu apoio. Provavelmente, sequer reunirá maioria de votos – um eco do fracsso de Bush, ao tentar obter, em 2003, uma segunda resolução sobre o Iraque. No Afganistão, o presidente Karzai está reivindicando da OTAN o fim dos ataques com aviões não-tripulados. E o Pentágono sofre pressões para deixar o país, onde sua aventura tornou-se muito cara.

Para que não se enxergue a fraqueza apenas no Oriente Médio, basta espiar Honduras. Os Estados Unidos virtualmente endossaram o golpe contra o ex-presidente Zelaya. Em consequência, Honduras foi suspensa da Organização dos Estados Americanos (OEA). Washington tem batalhado duro para restaurar a participação do aliado, alegando que um novo presidente foi formalmente eleito. Os governos latino-americanos resistiram, porque Zelaia, o chefe de Estado deposto, não era autorizado a regressar — com a retirada de todos os processos legais que o ameaçavam.

O que aconteceu em seguida? A Colômbia (supostamente o principal aliado dos EUA na América Latina) e a Venezuela (supostamente o satã dos EUA na região) acertaram-se e, juntas, negociaram com o governo hondurenho o retorno – nas condições definidas por Zelaya. A secretária de Estado Hillary Clinton sorriu amarelo, diante da derrota da diplomacia de Washington.

Por fim, Obama está em apuros com o Congresso dos Estados Unidos em torno da guerra na Líbia. A Lei dos Poderes de Guerra autoriza o presidente a comprometer tropas no país apenas por 60 dias, após os quais é necessária autorização explícita do Legislativo. Dois meses passaram, e não houve decisão do Congresso. A continuidade da ação é claramente ilegal, mas Obama é incapaz de obter o endosso. Ainda assim, permanece comprometido com a guerra e o envolvimento norte-americano pode crescer. Ou seja: ele pode fazer o mal, mas não o bem.

Enquanto isso, concentra-se em sua reeleição. Tem boas chances de obtê-la. Os republicamos estão caminhando cada vez mais para a direita e cometendo graves exageros políticos. Mas uma vez reconduzido, o presidente dos EUA terá ainda menos poder que hoje. O mundo está mudando rapidamente. Num tempo de tantas incertezas e atores imprevisíveis, os Estados Undios estão se convertendo no valentão mais perigoso do planeta.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Wall Street contra os pobres e a classe média


O novo orçamento de Obama é uma continuação da guerra de classe da Wall Street contra os pobres e as camadas médias. As oligarquias dominantes atacaram novamente, desta vez através do orçamento federal. O governo dos EUA tem um enorme orçamento militar e de segurança. Ele é tão grande quanto os orçamentos do resto do mundo somados. Os orçamentos do Pentágono, da CIA e da Segurança Interna representam US$1,1 trilhão do déficit federal que a administração Obama prevê para o ano fiscal de 2012. O artigo é de Paul Craig Roberts.

Wall Street não acabou conosco quando os "banksters" venderam os seus derivativos fraudulentos aos nossos fundos de pensão, arruinaram as perspectivas de empregos e planos de aposentadoria dos americanos, asseguraram um resgate de US$ 700 bilhões às expensas dos contribuintes enquanto arrestavam os lares de milhões de americanos e sobrecarregavam o balanço do Federal Reserve com vários milhões de milhões de dólares em papel financeiro lixo em troca de dinheiro recém criado para escorar os balanços dos bancos. 

O efeito da “flexibilização quantitativa” do Federal Reserve sobre a inflação, as taxas de juro e o valor cambial do dólar ainda está para nos atingir. Quando o fizer, os americanos obterão uma lição do que é a pobreza. 

As oligarquias dominantes atacaram novamente, desta vez através do orçamento federal. O governo dos EUA tem um enorme orçamento militar e de segurança. Ele é tão grande quanto os orçamentos do resto do mundo somados. Os orçamentos do Pentágono, da CIA e da Segurança Interna representam US$1,1 trilhão do déficit federal que a administração Obama prevê para o ano fiscal de 2012. Este gasto deficitário maciço serve apenas a um único propósito – o enriquecimento de companhias privadas que servem o complexo militar/securitário. Estas companhias, juntamente com aquelas da Wall Street, são quem elege o governo dos EUA. 

Os EUA não têm inimigos exceto aqueles que os próprios EUA criam ao bombardearem e invadirem outros países e pela derrubada de líderes estrangeiros e instalação de fantoches americanos no seu lugar. 

A China não efetua exercícios navais ao largo da costa da Califórnia, mas os EUA efetuam jogos de guerra junto às suas costas no Mar da China. A Rússia não concentra tropas nas fronteiras da Europa, os EUA instalam mísseis nas fronteiras da Rússia. Os EUA estão determinados a criar tantos inimigos quanto possível a fim de continuar a sangrar a população americana para alimentar o voraz complexo militar/securitário. 

O governo dos EUA gasta realmente US$ 56 bilhões por ano a fim de que os americanos que viajam de avião possam ser rastreados e tateados de modo a que firmas representadas pelo antigo secretário da Segurança Interna Michael Chertoff possam ganhar grandes lucros vendendo o equipamento de rastreamento (scanning). 

Com um déficit orçamentário perpétuo conduzido pelo desejo de lucros do complexo militar/securitário, a causa real do enorme déficit do orçamento dos EUA está fora dos limites para discussão. 

O secretário belicista da Guerra, Robert Gates, declarou: “Se evitarmos as nossas responsabilidades da segurança global é sob o nosso risco”. As altas patentes militares advertem contra o corte de qualquer dos milhares de milhões de ajuda a Israel e ao Egito, dois dos funcionários da sua “política” para o Médio Oriente. 

Mas o que são as “nossas” responsabilidades globais de segurança? De onde vieram? Por que a América ficaria em perigo se cessasse de bombardear e invadir outros países e de interferir nos seus assuntos internos? Os riscos que a América enfrenta são criados por ela própria. 

A resposta a esta pergunta costumava ser que do contrário seríamos assassinados nas nossas camas pela “conspiração comunista mundial”. Hoje a resposta é que seremos assassinados nos nossos aviões, estações de comboios e centros comerciais por “terroristas muçulmanos” e por uma recém criada ameaça imaginária – “extremistas internos”, isto é, manifestantes contra a guerra e ambientalistas. 

O complexo militar/securitário dos EUA é capaz de criar qualquer número de invencionices (false flag) a fim de fazer com que estas ameaças pareçam reais para um público cuja inteligência é limitada à TV, experiências em centros comerciais e jogos de futebol. 

Assim, os americanos estão atolados em enormes déficits orçamentários que o Federal Reserve deve financiar imprimindo dinheiro novo, dinheiro que mais cedo ou mais tarde destruirá o poder de compra do dólar e o seu papel como divisa de reserva mundial. Quando o dólar se for, o poder americano também irá. 

Para as oligarquias dominantes, a questão é: como salvar o seu poder. 

A sua resposta é: fazer o povo pagar. 

E isso é o que o seu mais recente fantoche, o presidente Obama, está a fazer. 

Com os EUA na pior recessão desde a Grande Depressão, uma grande recessão que John Williams e Gerald Celente, assim como eu próprio, afirmaram estar a aprofundar-se, o “orçamento Obama” tem como objetivo programas de apoio para os pobres e os desempregados. As elites americanas estão se transformando em idiotas quando procuram replicar na América as condições que levaram às quedas de elites analogamente corruptas na Tunísia e no Egito e a desafios crescentes aos demais governos fantoches. 

Tudo o que precisamos é de uns poucos milhões mais de americanos sem nada a perder a fim de trazer as perturbações no Médio Oriente para dentro da América. 

Com os militares estadunidenses atolados em guerras lá fora, uma revolução americana teria ótima oportunidade de êxito. 

Políticos americanos têm de financiar Israel pois o dinheiro retorna em contribuições de campanha. 

O governo dos EUA deve financiar os militares egípcios para haver alguma esperança de transformar o próximo governo egípcio em outro fantoche americano que servirá Israel pelo bloqueio contínuo dos palestinos arrebanhados no gueto de Gaza. 

Estes objetivos são, de longe, mais importantes para a elite americana do que o Pell Grants que permite a americanos pobres obterem educação, ou água limpa, ou block grants comunitários, ou o programa de assistência em energia aos baixos rendimentos (cortado na mesma quantia em que os contribuintes americanos são forçados a dar a Israel). 

Também há US$7.7 bilhões de cortes no Medicaid e outros programas de saúde ao longo dos próximos cinco anos. 

Dada a magnitude do déficit orçamentário dos EUA, estas somas são uma ninharia. Os cortes não terão qualquer efeito sobre as necessidades de financiamento do Tesouro. Eles não interromperão a necessidade de imprimir dinheiro do Federal Reserve a fim de manter o governo dos EUA em operação. 

Estes cortes servem apenas uma finalidade: reforçar o mito do Partido Republicano de que a América está em perturbação econômica por causa dos pobres. Os pobres são preguiçosos. Eles não querem trabalhar. A única razão porque o desemprego é alto é que os pobres preferem confiar no estado previdência. 

Um novo acréscimo ao mito do estado previdência é que membros da classe média saídos recentemente de faculdades não querem os empregos que lhes são oferecidos porque os seus pais têm demasiado dinheiro e os rapazes gostam de viver em casa sem terem de fazer nada. Uma geração mimada, eles saem da universidade recusando qualquer emprego que não seja para começar como executivo principal de uma companhia da Fortune 500. A razão porque licenciados em engenharia não conseguem entrevistas de emprego é que não os querem. 

Tudo isto leva a um assalto aos “direitos adquiridos”, o que significa Segurança Social e Medicare. As elites programaram, através do seu controle dos media, uma grande parte da população, especialmente os que se consideram conservadores, a assimilar o conceito de “direitos adquiridos” ao de estado-previdência. A América está indo para o inferno, não por causa de guerras externas que não servem qualquer objetivo americano, mas porque o povo, que durante toda a sua vida pagou 15% das suas remunerações para pensões de velhice e cuidados médicos, quer “dádivas” nos seus anos de aposentadoria. Por que estas pessoas egocêntricas pensam que trabalhadores americanos deveriam ser forçados através de contribuições sobre remunerações a pagar as pensões e cuidados médicos dos afastados do trabalho? Porque os afastados não consomem menos e preparam a sua própria aposentadoria? 

A linha da elite, e a dos seus porta-vozes contratados em “think tanks” e universidades, é de que a América está perturbada devido aos aposentados. Demasiados americanos tiveram os seus cérebros lavados a fim de acreditar que a América está em perturbação por causa dos seus pobres e aposentados. A América não está perturbada porque coage um número decrescente de contribuintes a suportarem os enormes lucros do complexo militar/securitário, governos fantoche americanos lá fora e Israel. 

A solução da elite americana para os problemas da América não é simplesmente arrestar as casas dos americanos cujos empregos foram exportados, mas aumentar o número de americanos aflitos com nada a perder, de doentes, afastados do trabalho e privados de tudo e de licenciados das universidades que não podem encontrar os empregos que foram enviados para a China e a Índia. 

De todos os países do mundo, nenhum necessita uma revolução tão urgentemente quanto os Estados Unidos, um país dominado por um punhado de oligarcas egoístas que têm mais rendimento e riqueza do que pode ser gasto durante toda uma vida. 

[*] Ex-editor do Wall Street Journal e ex-secretário assistente do Tesouro dos EUA. Seu livro mais recente, HOW THE ECONOMY WAS LOST , acaba de ser publicado pela CounterPunch/AK Press. 
e-mail: PaulCraigRoberts@yahoo.com 

O original encontra-se em: "A Tool for Class War". Este artigo encontra-se em:Resistir.info 

Fonte: http://ecoepol.blogspot.com/2011/02/wall-street-contra-os-pobres-e-classe.html