A semana começa iluminada pela alarmante transparência que as crises irradiam quando atingem seu domínio sobre a economia e a sociedade. Em entrevista neste domingo à revista alemã Der Spiegel, a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde,voltou a advertir: um novo ciclo de recessão está a caminho. Sinal dos tempos, convocou Estados a redobrarem esforços de investimento e salvaguarda bancária para evitar o pior. As advertências dramáticas de Lagarde legitimam a decisão tomada pelo BC brasileiro que na semana passada desgostou os mercados. Consultores da banca e seus ventríloquos na mídia demotucana receberam mal a redução de meio ponto na taxa de juro mais alta do mundo. Menos de 24 horas depois vinha dos EUA uma ratificação do diagnóstico embutido no corte da Selic: em agosto, a maior economia capitalista da Terra não gerou nenhuma vaga de emprego. Na próxima 5ª feira será a vez de Obama desagradar a lógica do extremismo ortodoxo que na sua versão nativa ou forânea prescreve o arrocho fiscal como maravilha curativa para a maior crise do capitalismo desde 29. Obama abre a sua campanha pela reeleição anunciando um programa de geração de empregos a contrapelo do suicídio fiscal imposto pela Tea Party contra sua administração. Num certo sentido, a eleição de 2012 nos EUA confrontará duas grandes vertentes que se enfrentam nas respostas à crise mundial. De um lado, um neoliberalismo cego que resolveu dobrar a aposta na desregulação financeira, responsável pelo colapso em curso no planeta. De outro, a ainda tíbia mas correta tentativa esboçada em diferentes países -- inclusive no Brasil, para suprir R$ 30 bilhões que faltam à saúde pública-- de taxar os ricos para financiar o investimento público travado pela crise. Durante décadas a hegemonia neoliberal aprisionou o debate econômico numa espécie de escolha de Sofia: as opções de desenvolvimento estariam restritas ao endividamento insustentável dos Estados, capturados pelo rentismo como usinas de juros, ou o arrocho salazarista, vendido pela mídia como a dolorosa purgação rumo ao paraíso. Protegida por esse falso dilema, a riqueza engordou despudoramente isenta ou sub-taxada por sistemas tributários amigáveis (no Brasil, assalariados pagam 4,5 vezes mais IR que os bancos). A crise implodiu essa fraude ao exaurir os Tesouros no socorro à desordem financeira. O déficit fiscal das sete maiores economias do mundo ultrapassa atualmente U$ 41 trilhões: 70% do PIB mundial. O Estado brasileiro gasta mais com juros do que com a saúde pública ou a educação. O Chile com um a carga fiscal de apenas 17% do PIB --a média européia é de 48%-- não tem respostas a dar aos estudantes que exigem educaçao pública de qualidade. Obama não conseguirá ressuscitar o emprego sem políticas públicas para as quais falta-lhe o mesmo do que se ressente Dilma para acudir a saúde, Piñera para democratizar a educação ou Zapatero para atender aos indignados: receita fiscal originária da taxação da riqueza e não mais do endividamento imobilizante. A ver. |
Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
A TRANSPARÊNCIA DOS DIAS QUE CORREM
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