Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A Rede Globo e a greve de caminhoneiros que paralisou o Chile



Em 1972 uma grande greve de caminhoneiros paralisou o Chile, provocou desabastecimento e fez parte do plano americano de derrubar o governo, o que foi comprovado posteriormente por documentos da própria CIA revelados pelo WikiLeaks.

“E o Congestionamento não é só nas estradas”, foi a frase de Alexandre Garcia hoje pela manhã (25/02)no tal Bom Dia Brasil. Na continuidade, pra não variar do script da mídia e da Globo, tome pau nos políticos e no governo e uma ampla cobertura da Greve, como nunca se vê em nenhuma outra greve. Greves e paralisações são direito de todos os trabalhadores. No geral, patrões tentam impedir a greve a qualquer custo, pois as empresas perdem dinheiro. No caso desta greve em andamento não vi nenhum empresário do transporte falando contra a greve. Por outro lado, a mesma mídia que cobre tão ciosamente esta greve, continua também criando a cada dia noticias negativas que chegam a provocar náuseas. Apesar do Governo Federal chamar caminhoneiros e donos de empresa de transporte para conversar, a greve com fechamento de estradas e consequente desabastecimento em cidades e regiões, continuava hoje pela manhã.

Não foi diferente em 1972 no Chile.

Em outubro de 1972, durante o governo socialista de Salvador Allende, os EUA financiaram uma greve de caminhoneiros que paralisou o país. Amplamente apoiada pela mídia conservadora, a greve causou prejuízos estimados em um milhão de dólares e abriu caminho para o golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende no ano seguinte. Essa é uma das velhas táticas fomentadas pela CIA para desestabilizar governos populares em todo o mundo.

O menor índice de desemprego da história, salário mínimo que subiu 75% acima da inflação nos 12 anos do governo do PT, salário médio subindo acima da inflação, milhões de pessoas que saíram da pobreza, isto é a foto do Brasil em dezembro de 2014. Mas a mídia continua anunciando supostas tragédias econômicas. Agora mesmo, quando escrevo este artigo, a TV noticia o “rebaixamento” da Petrobras feito por uma tal Agência Moodys. No mínimo estranho, quando as ações da Petrobras e o preço do Petróleo sobem no mundo inteiro.

O Golpe continua em marcha e vem eivado de mentiras que são repetidas milhares e milhares de vezes, fazendo com que virem verdade no senso comum. A Globo, a mídia tupiniquim estão pavimentando o caminho para o golpe definitivo na democracia. Se não houver respostas rápidas e a altura, o golpe virá e é só uma questão de tempo.

A resposta a altura esta na comunicação do Governo e na mobilização dos movimentos sociais verdadeiros para defender as conquistas que tivemos nestes últimos anos. Isto é defender a democracia. E foi democraticamente que o governo Dilma foi eleito.

Por isto é muito positivo que os movimentos sociais tenham compreendido o que realmente esta em jogo. Clica no link abaixo e lê sobre o ato em Defesa da Petrobras e Contra o Golpe, ocorrido ontem :
Lula põe o bloco na rua: “Quero paz e Democracia, mas se eles não querem nós sabemos brigar também”

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Chile: a AL não tolera mais a desigualdade

Piñera emergiu na AL chamada de chavista, em 2010, como o anfíbio ansiosamente aguardado: pensava a economia como Pinochet, sem ter vestido o capuz negro.

por: Saul Leblon 
Arquivo




 







A volta de Bachelet ao comando do Chile, após levar 62% dos votos no 2º turno, domingo, envia uma mensagem às elites da região.

A sociedade latino-americana não tolera mais a desigualdade.

Enquanto o conservadorismo se aferra à ideia de dar eficiência às estruturas carcomidas que instalaram aqui uma das piores assimetrias de renda do planeta, as urnas  --e as ruas--  sistematicamente invertem a equação.

Em recados de crescente contundência à direita e à esquerda , avisam:  a meta deve ser a equidade, a economia  não pode funcionar mais contra as urgências da população.

O Chile rico e educado é a confirmação  enfática da fraude arquitetada por aqueles que propõem  chilenizar o Brasil primeiro (‘as reformas’), para depois distribuir.

Tudo funciona nesse modelo, mas tudo  só funciona a quem paga.

A maioria não pode pagar, por  exemplo, uma educação universitária de qualidade.
Nem a classe média remediada.
Essa, a origem da revolta dos pinguins que premiou o Chile com uma  renovação de liderança política inédita na região, pela esquerda.

Jovens comunistas  se projetam à frente da sociedade chilena dando , inclusive, uma sobrevida representativa ao Partido Comunista local, só encontrável em nações estilhaçadas pelo bisturi implacável do ajuste neoliberal. Caso da Grécia, por exemplo.

Um minúsculo enclave de 5%  da população chilena fatura por ano  quase 260 vezes mais que o seu extremo oposto na pirâmide de renda.

A principal riqueza do país, o cobre, preserva uma estatização de fachada na qual os maiores beneficiários sãos as castas fardadas que se reservaram durante a ditadura Pinochet uma fatia cativa dos rendimentos da maior reserva do metal no planeta.

Pior que o Brasil, pior que os EUA ou a Alemanha, a plutocracia chilena aferrou-se de tal maneira a seus privilégios que hoje 1% da população detém 31% de toda a riqueza nacional (21% nos EUA ; 13% no Brasil; 12,5% na Alemanha).

O conjunto faz do Chile um paradigma odioso de segregação econômica escolar.

Segundo a OCDE, dentre todos os seus membros, o Chile é o país com maior índice de financiamento privado da educação primária e secundária.

O resultado das urnas deste domingo esfarela e devolve às goelas conservadoras o júbilo manifestado em janeiro de 2010, quando um  Chile cansado das hesitações de seu centrismo, elegeu  o bilionário Sebástian Piñera  ao final do primeiro mandato de Bachelet.

Piñera reacendeu a esperança conservadora na América Latina.
Sua vitória reluzia como a revanche diante de um colar de governos progressistas que asfixiavam o horizonte da direita regional.  Enfim, um presidente para chamar de seu.

Um porta-voz moderno do dinheiro grosso.

Alguém talhado para fazer a ponte entre a inconclusa redemocratização chilena e o necessário arejamento das agendas apuradas no calabouço escuro da ditadura Pinochet.

Recorde-se que o Chile é o que é hoje  porque, antes mesmo de Thatcher,  foi militarmente capturado para ser a cozinha experimental do neoliberalismo no mundo.

Talvez fosse mais apropriada a metáfora 'açougue'.

Ali se sangrou, retalhou, picou e moeu uma nação até reduzi-la a uma massa disforme e vegetativa.

Dessa matéria-prima, nasceu a primeira receita mundial bem sucedida do cardápio que decretaria o fim do capitalismo regulado, a partir dos anos 70.

O quitute indigesto foi enfiado goela abaixo de uma das sociedades mais democráticas do continente latino-americano. Por isso mesmo, exemplarmente esgoelada na sua tentativa de construir o socialismo pela via eleitoral.

O recado foi escrito com sangue na pele da esquerda latino-americana: 'a democracia promete mais do que os mercados estão dispostos a conceder'.

Mestres-cucas da direita regional e global aderiram em massa ao mutirão corretivo.

Piñera não serviu diretamente à ditadura mais sanguinária da AL.  Justamente por isso, sua vitória em 2010 acendeu o entusiasmo conservador.

Eis o anfíbio tão aguardado.

Porque pensava a economia como Pinochet, sem ter vestido diretamente o capuz negro, era a ponte palatável entre dois mundos, no caminho de volta a uma democracia bem comportada.

"É provável que se fortaleça na América do Sul uma "frente antichavista", integrada por Álvaro Uribe (Colômbia), Alan García (Peru) e o próprio Piñera".

O augúrio do editorial da "Folha", de 22 de janeiro de 2010, externava essa aposta ansiosa.

O dote de mandatário-ponte servia ademais para espicaçar a viabilidade da jejuna e também recém-eleita presidenta brasileira, Dilma Rousseff.

Transcorridos quatro anos, Piñera devolve o lugar a Bachelet.

Os jornalismo que apostou na ressurgência neoliberal, porém, não desiste. No Brasil flerta com anfíbios tropicalizados. 

Ou não será a mesma receita da chilenização do país que emitem as goelas de veludo dos Campos & Aécios?

Quiçá de alas petistas obsequiosas aos lamentos dos mercados?

O Chile fez tudo como eles querem fazer aqui.

É a economia "mais aberta" da América Latina.

O Estado é mínimo: a dívida do setor público é de apenas 11,5% do PIB (37% no Brasil, no conceito líquido; 60% no bruto).

A previdência foi privatizada. A proteção trabalhista é pífia.

A linha da desigualdade parece o eletrocardiograma de um morto: o índice de GINI chileno oscilou de 0,55 para 0,52 entre 1990 e 2009 (o do Brasil melhorou de 0,61 para 0,54).

Segundo a CEPAL, entre 1990 e 2009, o investimento público na área social oscilou mediocremente no país: de 15,2% para 15,6% do PIB.

Até o México deu um passo maior no mesmo período: passou de 5,5% para 11,3% do PIB.

Na direitista Colômbia, o salto foi de 6,1% para 11,5%.

No Brasil, a ' gastança' avançou de 17,6% para 27,1% do PIB; na Argentina, de 18,6% para 27,8%.

O jornalismo conservador atribui à falta de 'traquejo' político do empresário-presidente o paradoxo entre uma economia 'saudável' e a rejeição política esmagadora.

O raciocínio condescendente desdenha de uma lacuna-chave.

Piñera não foi programado para transformar a maçaroca econômica em uma Nação.

Mas para transformar uma nação em mercado.

Por que teria apoio dos seus órfãos?

O Chile tornou-se um país simplificado por uma ditadura que decidiu exterminar fisicamente o estorvo ideológico e social no seu caminho: a classe trabalhadora organizada.

Uma parte foi sangrada nas baionetas de Pinochet.

A outra, exterminada estruturalmente pelos sacerdotes do laissez-faire.

Os Chicago's boys reduziram a economia às suas estritas 'vantagens comparativas'.

Um pomar de pêssego. Vinícolas. Uma mina de cobre.

Um acervo como esse não precisa de projeto nacional.

Um fluxo de mercadorias não requer formulação intelectual própria. Logo, não precisa de universidade pública autônoma.

Um aglomerado de consumo não reclama cidadania.

Piñera tentou ser o cadeado moderno entre isso e uma redemocratização intrinsecamente tensa e limitada. Os estudantes rechaçaram esse entendimento do que seja um 'Chile moderno' .

E carregaram para as ruas o inconformismo de décadas que se consagrou nas ruas deste domingo. Mas que explica, também, o monstruoso incide de abstinência de 59%.

O desinteresse pelo voto é um aviso a Bachelet: um pedaço do país, quase suficiente para eleger um outro presidente, não aguenta mais simulacros de justiça social e maquiagens estruturais.

O fracasso de Piñera não deve ser desfrutado com precipitações simplistas.

O jogo não acabou na AL. Nunca acaba.

Os embates tendem a se acirrar.  Não por acaso Aécio e Campos acercam-se de profissionais do ramo e de modelos estratégicos que caberiam perfeitamente num ministério de Piñera.

O Chile, pequeno, mas historicamente imenso, tem muito a dizer à experiência política latinoamericana.

Não foi qualquer apego a efemérides que motivou Carta Maior a reunir, este ano,  uma dezena e meia de analistas, personagens, cineastas e filmes para registrar os 40 anos do golpe militar de 11 de setembro no Chile.

O Especial ‘Chile de Allende, 40 anos do golpe’ não mira o passado.

A atualidade da arguição inclui nuances. Algumas delas falam diretamente ao Brasil dos dias que correm. Exemplos.

O que acontece em um país quando o conservadorismo forma a percepção de que as possibilidades democráticas e eleitorais de seu retorno ao poder se estreitaram?
Que contrapesos poderiam, ou melhor, deveriam ser acionados quando a judicialização da política e o golpismo midiático compõem um corredor polonês asfixiante em torno de um governo democrático e progressista?

Em que medida é realista apostar em um alicerce defensivo ancorado exclusivamente nas instituições existentes, quando o propósito é superar o que elas guarnecem? É um primeiro indicativo.

Há outros a sinalizar que não estamos falando de ontem. Mas das evocações que 1973 inspira em 2013. E em 2014.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O PIRATA-MOR. BIONDI, UBALDO E MILLÔR “FHC vendeu as jóias e aumentou a dívida da família”- Delfim Netto


No dia 6 de maio de 1997, o Farol de Alexandria, com o apoio vigilante do Padim Pade Cerra, vendeu a Companhia Vale do Rio Doce, por US 3,3 bilhões, financiados.

Dez anos depois, o valor de mercado da Vale era de US$ 160 bilhões – 60 vezes mais.

Dentro, tinha maior província mineral do mundo, descoberta por geólogos brasileiros, Carajás.

Mario Covas “vendeu” a Cosipa por R$ 300 milhões e absorveu as dívidas da empresa.

O tucano – ex-brizolista – Marcelo Alencar vendeu o Banerj por R$ 330 milhões depois de levantar  um empréstimo de R$ 3,3 bilhões – dez vezes mais !!! – para demitir funcionários e limpar as dividas do banco.

Cerra vendeu a Light e seus bueiros.

Reichstuhl criou a Petrobrax e, sob sua jestão, houve 62 acidentes graves na empresa, inclusive o afundamento da plataforma P-36 – o que contribuiu para difundir a imagem de uma empresa afundada, que precisava ser salva pela Chevron, como prefere o Cerra, no WikiLeaks.

(A Petrobrax ia ser fatiada em 40 pedaços, para ficar mais fácil vender. 

Como vai fazer agora, no México, com a PEMEX, o presidente do PRI, o Peña Nieto.

O México, como se sabe, incorporou-se definitivamente ao gigante do Norte.

Que é o que o FHC e o Celso Lafer, o dos sapatos, iam fazer com a ALCA, na “diplomacia da dependência”.)

FHC isentou as empresas que forneciam à Petrobras de imposto de importação e quebrou 5 mil fornecedoras.

A Dilma e a Graça Forster, no Governo do Nunca Dantes, recriaram a política do “conteúdo nacional”, que, agora, exige 65% de produto nacional – e portanto, emprego de brasileiros – para poder vender à Petrobras.
Essas reflexões surgiram ao ansioso blogueiro ao repassar informações do livro “Brasil Privatizado”, de Aloysio Biondi.

O Amaury Ribeiro Júnior, que vendeu quase 150 mil exemplares da Privataria do clã do Cerra, valeu-se do “Brasil Privatizado” para iniciar os trabalhos de prospecção familiar.
Ocorreu ao ansioso blogueiro que trechos do livro do Biondi fossem lidos na posse de Fernando Henrique Cardoso, na cadeira P-36 da Academia Brasileira das Letras (porque se fosse dos números ali ele não entrava).
Ocorreu ao ansioso blogueiro que o discurso de saudação ao privateiro-mór fosse de autoria de João Ubaldo Ribeiro, que o tem em altíssima conta –http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2013/03/26/ubaldo-fhc-e-a-academia-voce-e-um-mediocre/
Outro que poderia saudar o Farol seria Millôr Fernandes, se não tivesse partido.
Ele fez análise minuciosa da dependência, escrito no “exílio” no Chile e, assim, Millôr pronunciou-se:
Sobre Dependência e Desenvolvimento na América Latina, de Fernando Henrique Cardoso:
“(…) De uma coisa ninguém podia me acusar – de ter perdido meu tempo lendo FhC (superlativo de PhD). Achava meu tempo melhor aproveitado lendo o Almanaque da Saúde da Mulher. Mas quando o homem se tornou vosso Presidente, achei que devia ler o Mein Kampf (Minha Luta, em tradução literal) dele, quando lutava bravamente, no Chile, em sua Mercedes (‘A mais linda Mercedes azul que vi na minha vida’, segundo o companheiro Weffort, na tevê, quando ainda não sabia que ia ser Ministro), e nós ficávamos aqui, numa boa, papeando descontraidamente com a amável rapaziada do Dops-Doi-Codi. (…)”
Por falar na amável rapaziada do DOI-CODI, como é que o Cerra saiu do Estádio Nacional do Chile do Pinochet e apareceu em Cornell, nos Estados Unidos, onde foi lecionar (segundo ele …) Economia ?
O Amaury não esclareceu esse enigma.
Em tempo: esse Bessinha …


Paulo Henrique Amorim

quinta-feira, 4 de abril de 2013

PAULO BERNARDO VAI GIRAR ESSA MAÇANETA?



O governador  tucano,Geraldo Alckmin, levou a tiracolo um estafeta e notório defensor da ditadura  à cerimonia de entrega dos arquivos digitalizados  do DOPS, em São Paulo. O episódio ilustra o corredor de camaradagem  que liga as portas abertas da democracia  e os socavões  escuros da ditadura  ainda existentes  na sociedade. A mais notória delas  guarda os nomes dos mortos e desaparecidos políticos e os de seus respectivos algozes. Outra, abriga a colaboração estreita entre o mundo  empresarial,  a repressão e a barbárie. Um lacre merecedor  da mais  prestigiada das omissões  garante  a intocabilidade do monopólio  do sistema de comunicação, setor cuja centralidade  na vida democrática dispensa apresentações. A presidenta Dilma experimentou na carne , em Durban, as consequências desse anacronismo, que seu ministro das Comunicações tinge de virtude democrática. A indignação de Dilma com o uso distorcido de suas palavras coincidiu, na sua volta, com sugestiva mudança na postura do ministro. Paulo Bernardo, concede agora a hipótese de  desengavetar o projeto de regulação da mídia, deixado pelo antecessor. Mas exala inoxidável má vontade com a missão de faxinar um esqueleto da ditadura, que gostaria  de preservar no confortável formol da omissão. Resta saber por quanto tempo mais a mão do governo poderá  repousar sobre a maçaneta dessa porta. Sem risco de ser decepada pelas baionetas aquarteladas no seu interior. (LEIA MAIS AQUI)


O Chile que se cuide: o Goldman Sachs vem aí!


O banco de investimento estadunidense Goldman Sachs, protagonista do desastre financeiro global de 2008, começou a operar neste ano a partir de uma base no Chile. O que os banqueiros desejam por lá? A resposta não é complicada: aproveitar este paraíso da desregulamentação financeira latino-americano.


No final de fevereiro, o banco de investimento estadunidense Goldman Sachs começou suas operações no Chile com um capital de modestos 289 milhões de pesos. A notícia, embora a boa recepção que a imprensa financeira local concedeu, refrescou a memória de não poucos leitores: o Goldman Sachs não só é um dos maiores bancos de investimento do mundo, mas também foi um dos causadores do desastre financeiro dos Estados Unidos em 2008. O estado atual da economia mundial não é alheio às corruptas e obscuras operações desta instituição.

O Goldman Sachs já realizava atividades no Chile através da sua filial em Buenos Aires. Mas é compreensível o passo dado ao transpor a cordilheira. Sob a tramoia dos negócios globalizados no marco do neoliberalismo ultrarradical, o Chile, embora seja um mercado pequeno, leva a dianteira na América Latina. As declarações do gerente da empresa para suas operações na região, reproduzidas pela imprensa especializada, corroboram esta afirmação: “A banca de investimento pode se desempenhar muito bem no Chile, assim como a colocação de ações e gestão de riqueza privada. Mas o mais interessante é que nos últimos anos vimos o capital chileno desempenhar um papel muito mais proeminente, enquanto a financiamento, na América Latina”.

Vale lembrar algo deste protagonista do desastre financeiro de 2008. Como banco de investimento, tem um verdadeiro prontuário e não só na crise das subprimes, mas também como detonador da crise grega, que neste momento tem boa parte da Europa pendendo por um fio. Um documentário titulado Inside Job (Trabalho Confidencial, completo no Youtube) desenreda a ensebada trama entre o poder político e financeiro: como responsáveis pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos estavam altos executivos do Goldman Sachs, que iam e vinham dos salões da Casa Branca aos escritórios financeiros. Assim vem se dirigindo a economia mundial durante as últimas décadas. O documentário narra que Ronald Reagan nomeou como secretário do Tesouro Donald Regam, ex-diretor geral do Merrill Lynch, apenas poucos anos depois, durante a administração de Bill Clinton, nesse mesmo cargo foi sucedido por Robert Rubin, que vinha do Goldman Sachs. Após sua passagem pelo governo, voltou ao setor financeiro, desta vez ao Citigroup. Uma verdadeira porta giratória do ouro e dos milhões.

O caso mais recente, e certamente o mais escandaloso, é o de Henry Paulson, ex-presidente do Goldman Sachs e mais tarde secretário do Tesouro de Bush. Em meio à catástrofe e durante a administração de Obama, o Congresso dos Estados Unidos vazou um relatório sobre os responsáveis da crise. Entre bancos e outras agências, o Goldman Sachs aparece com papel protagônico. Esta empresa, diz, “especialmente sob a presidência de Henry Paulson (pouco antes de ser nomeado por Bush) aliviou os efeitos da queda do mercado das subprimes” potencializando a criação e difusão de produtos tóxicos, com a cumplicidade das agências de qualificação. Como resultado destas operações, a economia estadunidense expressa hoje todo o contraste neoliberal, com um aumento histórico da pobreza e concentração da riqueza.

Em suma, no dia 16 de abril de 2010 a Comissão do Mercado de Valores dos Estados Unidos acusou a Goldman Sachs de fraude pelas hipotecas subprime. Trata-se de uma informação pública. Até a Wikipédia corrobora: “A Comissão considera que estão no centro da fraude Fabrice Tourre, vice-presidente do Goldman, e aponta também Paulson, gestor principal do fundo de investimento livre (hedge fund) Paulson & Co. A Goldman Sachs é considerada um dos atores principais na ocultação do déficit da dívida grega”.

Que interesse pode ter este banco no Chile? Muito. Bem sabemos que este é o paraíso da desregulamentação financeira, o que significa que os fluxos de capitais entram e saem com muita intimidade. Mas não só é a utopia do mercado transformada em realidade, também é hoje um paraíso para videntes e especuladores financeiros, o combustível atual do forte crescimento no consumo e a economia, o que deveria, como em bom ano eleitoral, prolongar-se pelo menos até novembro.

A máquina financeira está que arde, fenômeno celebrado pelo empresariado, o consumidor e, como não, pelo governo. Um processo febril que pouco tem que ver com o cauteloso e também angustioso passo do capitalismo mundial, em franca deterioração. Existem fluxos especulativos que ingressam para fazer seus negócios na Bolsa, na construção, no mercado cambiário em um processo complexo e arriscado - uma clássica bolha especulativa - que tem já as características de um cassino financeiro, o cenário perfeito para o Goldman Sachs.

*Publicado em “Punto Final”, edição Nº 777, 22 de março, 2013. 

**Tradução: Liborio Júnior

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

SAÍDA DA CRISE: NAÇÃO OU PAÍS-MERCADORIA?


*'Não há como apoiar Dilma sem se opor à trama embutida na AP 470; e vice-versa' (ex-ministro José Dirceu, em debate em Brasília, nesta 3ª feira)**Corrida contra o tempo: governo amplia atrativos para viabilizar investimento em grandes projetos de  infra-estrutura.



Quando foi eleito presidente do Chile, em janeiro de 2010, o direitista Sebástian Piñera reacendeu a esperança conservadora  na América Latina.Sua vitória reluzia como a revanche diante de um colar de governos progressistas que asfixiavam o horizonte da direita regional. Enfim, um presidente para chamar de seu.Transcorridos três anos, Piñera rasteja a caminho de uma derrota sucessória  antevista como inevitável nas eleições de novembro próximo.Dilma, 'o poste', como queria Serra, ostenta mais de 70% de aprovação.O jornalismo que apostou na ressurgência neoliberal mostra-se estupefato. O Chile fez tudo como deve ser. É a economia mais aberta da América Latina. O Estado é mínimo: a dívida do setor público é de apenas 11,5% do PIB (36% no Brasil). A previdência foi privatizada. A proteção trabalhista é pífia. O raciocínio conservador desdenha de uma lacuna-chave:o 'mandatário moderno' esqueceu de transformar a maçaroca econômica em uma Nação.Um 'país-mercadoria' não precisa de projeto nacional. A qualidade distinta do desenvolvimento perseguido pelo Brasil não representa uma certeza. É um projeto em disputa. A crise mundial estreitou a margem de manobra. Reclama definições mais duras. E linhas de passagem mais curtas e ousadas. A cada dia as opções reforçam a excludência entre a lógica que modelou o Chile, de Pinochet a Piñera, e a que tateia o Brasil, de Lula a Dilma. Projeto de Nação ou 'país -mercadoria'?.(LEIA MAIS AQUI)



Madame Christine e a presidente Cristina


A inflação argentina é, efetivamente, muito mais elevada do que o governo diz. E, a partir disso, pode-se até mesmo duvidar também do crescimento do PIB. O que não dá para entender – e aceitar – é o tom da declaração que, na verdade, foi uma ‘moção de censura’ de Christine Lagarde e do FMI. Boas razões tem Cristina Kirchner, presidente da Argentina, para bater duro. A análise é de Eric Nepomuceno

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Foi a mais dura crítica do Fundo Monetário Internacional, o FMI, contra um de seus integrantes, a Argentina. Em 69 anos de história, jamais o FMI havia ameaçado um de seus sócios de expulsão sumária, além de advertir do alto risco de, mesmo permanecendo na instituição, o país não poder ter direito a receber empréstimos.

A razão da barafunda toda: os índices oficiais argentinos de inflação. De acordo com esses números, em 2012 a inflação foi de pouco mais de 10% na Argentina. Ninguém, inclusive gente muito próxima ao governo, engole esse número. A cifra é de mais de o dobro. O país vive uma inflação oficial e outra, a dos supermercados, ou seja, a real, calculada em uns 25% no ano passado. De roldão, o FMI deu um prazo de oito meses para que o país reveja não apenas esse índice, mas também o da evolução do PIB em 2012. Ou seja, o FMI disse que é tudo duvidoso. Pelo menos duvidoso.

Até aí, tudo bem. A inflação argentina é, efetivamente, muito mais elevada do que o governo diz. E, a partir disso, pode-se até mesmo duvidar também do crescimento do PIB. Portanto, daria para entender a chamada de atenção do FMI presidido por madame Christine Lagarde, uma advogada de 57 anos com certa trajetória progressista e que substituiu Dominique Strauss-Kahn no cargo de diretor-geral, o mais alto da organização. 

O que não dá para entender – e aceitar – é o tom da declaração que, na verdade, foi mais do que isso: foi uma clara ‘moção de censura’, com todas as letras. Afinal, se de errar feio se trata, difícil será achar alguém capaz de competir com o FMI.

Boas razões tem Cristina Fernández de Kirchner, presidente da Argentina, ao bater duro. É bem verdade que ela não esclarece a questão da distância olímpica entre preços nas ruas e índice oficial de inflação. Preferiu bater em vez de rebater. E acertou em cheio. Primeira pergunta da presidente eleita pelos argentinos: onde estava o FMI, que foi incapaz de detectar com um mínimo de antecipação uma só das crises que sacodem países europeus? Onde estava quando um dos bancos espanhóis, o Bankia, foi para o brejo, presidido por um de seus antigos diretores, Rodrigo Ratto, obrigando o Estado a se endividar para salvar a ganância dos abutres da banca? 

Onde está o FMI neste exato instante, quando países endividados se afundam levando sua população ao desespero, como acontece na Grécia, em Portugal, na Irlanda, na Espanha?

Cristina Kirchner lembrou, com amarga memória, que seu país, a Argentina, foi dileta seguidora das receitas do FMI nos anos 90. O resultado é pago até hoje. Em 2001 a Argentina quebrou, foi para o brejo, e só foi resgatada a partir da chegada de Nestor Kirchner ao poder, em 2003. 

Aliás, em 2005 Kirchner liquidou o que a Argentina devia ao Fundo Monetário Internacional e prometeu que seu país nunca mais cairia na esparrela de tomar dinheiro se obrigando a cumprir receitas nefastas e perversas. 

São muitas as sequelas padecidas pela Argentina desde a quebra de 2001. Uma delas é a dificuldade de obter financiamento em organismos internacionais e na banca global. Outra é desconfiar de números e dados oficiais.

Acontece que isso pode ser corrigido, de uma forma ou de outra. Retomando fórmulas de cálculo abandonadas, por exemplo. Encarando o problema de frente, por exemplo. 

Muito, muito mais difícil, porém, é, foi e tem sido reparar os danos profundos causados pelas regras absurdas e as receitas malvadas do FMI que o país adotou no período bizarro de Carlos Menem.

Ao longo dos últimos anos, vários países emergentes, com destaque para o Brasil de Lula e de Dilma, vêm pressionando para que ocorra uma profunda mudança no diálogo entre os organismos financeiros internacionais, a começar pelo FMI, e seus sócios. 

Criticar as estatísticas oficiais da Argentina até que seria cabível. Mas partir para moções de censura e ameaças de expulsão é inadmissível.

Aliás, está mais do que na hora de examinar a atuação do FMI e sua influência na crise econômica e financeira que sacode a Europa. Onde estava todo esse rigor prepotente na hora de examinar os números falsos de países como a Grécia, a Itália, a Irlanda e um longo rosário de nações?

Nós, latino-americanos, conhecemos bem os efeitos colaterais das receitas do FMI. Cada um de nossos países padeceu esse mal, essa perversão. Muitos de nossos países encontraram seu caminho para evitar essa cura que mais mata que salva.

A Argentina tem equívocos, e deve corrigi-los. Cabe aos argentinos pressionarem para evitar números duvidosos, que contrastam com a realidade vivida no seu dia a dia.

Cabe, ou deveria caber, a madame Christine Lagarde e seus cúmplices do FMI saber a hora certa de se pronunciar. E entender que, a esta altura do campeonato, prepotência e impertinência são atitudes que não têm o menor cabimento.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

FHC: COMO SERIA O BRASIL EM MÃOS TUCANAS?

*150 mil estudantes tomam as ruas de Santiago nesta 3ª feira na maior manifestação dos últimos meses:pedem educação pública, gratuita e de qualidade** 'VEJA': governo do Equador decide processar a revista por calúnia contra um ministro de Estado**Vingança: quem jogou na rede imagens de Aécio Neves embriagado no Rio de Janeiro?

 

Um banco de São Paulo reuniu nesta 3ª feira  três vigas chamuscadas do incêndio neoliberal que ainda arde no planeta: Clinton, Blair e FHC. Que um banco tenha promovido um megaevento com esses personagens  a essa altura do rescaldo diz o  bastante sobre a natureza do setor e da ingenuidade dos que acreditam  em cooptar o  seu 'empenho' na travessia para um novo modelo de desenvolvimento.  Passemos. As verdades  às vezes escapam das bocas mais inesperadas.  Clinton e Blair  jogaram a toalha no sarau anacrônico do dinheiro com seus porta-vozes. Coube ao ex-presidente norte-americano sintetizar um reconhecimento explícito: 'Olhando de fora, o Brasil está muito bem. Se tivesse que apostar num país, seria o Brasil'.O democrata elogiou o Brasil  quase pedindo desculpas por pisotear o ego ao lado do grande amigo de consensos em Washington e de corridas de emergência ao guichê FMI: FHC. (LEIA MAIS AQUI)


Realidade da Educação

O esforço de transformação do sistema educacional deverá ser acompanhado, para ter êxito, por uma política intensa de geração de empregos e de promoção de investimentos. Fazer crer que a educação isoladamente é o maior desafio da sociedade brasileira sem associar a educação à necessidade de aumento da capacidade instalada e do emprego contribui para evitar o debate sobre a concentração de renda e de riqueza, e a urgência cada vez maior de promover sua desconcentração. O artigo é de Samuel Pinheiro Guimarães.

“Com a divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB ficou provado que o ensino médio público no país não evoluiu em aspecto algum mantendo a mesma nota obtida em 2009, 3,4 numa escala de zero a 10”. Correio Braziliense, 19/8/12, pag. 12

“Mas a proporção dos que atingem um nível pleno de habilidades de leitura, escrita e matemática manteve-se praticamente inalterada entre 2001 e 2011, em torno de apenas 25%. No ensino médio, só 35% dos alunos são plenamente alfabetizados. Maria Alice Setubal, Folha de São Paulo, 15/8/12, pag. A3

“A nossa prioridade é levar a educação integral para as famílias e as regiões mais pobres”. Dilma Rousseff, 20/8/12


1. A educação é extremamente importante do ponto de vista do indivíduo, da sociedade e do Estado. Sua própria existência e seus resultados diferenciam o ser humano dos demais seres vivos.

2. A educação é o conjunto de processos pelos quais se formam o cidadão, o trabalhador, o ser humano.

3. A formação do cidadão se dá pela transmissão dos valores sociais de nacionalidade, de democracia, de igualdade racial e de gênero, de tolerância religiosa, de família e comunidade, de liberdade de expressão.

4. A formação dos trabalhadores se verifica pela transmissão de conhecimento científico e técnico que habilita o indivíduo a desempenhar tarefas produtivas desde aquelas de grande complexidade, tais como a pesquisa científica, até aquelas mais simples que o trabalhador não qualificado executa.

5. A formação do ser humano se faz pela transmissão e assimilação de conhecimentos culturais, de capacidade de apreciação das artes, das manifestações culturais, da filosofia.

6. Na sociedade brasileira, vários são os veículos pelos quais se verifica o processo de educação de crianças, jovens e adultos: a escola, a família, as igrejas, a televisão, a Internet e a rua.

7. A escola se encontra em situação extremamente difícil. A qualificação média dos professores é insuficiente e precária, sendo que há uma enorme maioria de professores “leigos”, isto é, sem formação profissional adequada. Os níveis salariais dos professores são em extremo baixos o que não permite atrair para esta missão indivíduos mais qualificados e submete os professores a jornadas de trabalho estafantes. As instalações escolares se encontram muitas vezes depredadas e o ambiente de convívio nas escolas pode ser desrespeitoso, conflituoso e até violento entre alunos e professores, em decorrência, em parte, da desvalorização social dos professores. Naturalmente, esta não é a situação das escolas de classe média, mas sim das escolas que frequenta a enorme maioria das crianças e jovens brasileiros.

8. A família no Brasil tem poucas condições de transmitir às crianças e aos jovens valores sociais e informações técnicas e culturais. Cerca de 35% das famílias, 22 milhões de lares, são chefiadas por mulheres em geral de baixa renda, de escassa formação educacional e cultural e que tem de trabalhar para manter sua prole, o que as mantém afastadas de suas residências a maior parte do dia. As crianças e os jovens muitas vezes não conhecem seus pais e vivem em ambientes em que predominam habitações precárias, sem saneamento básico, com nutrição e hábitos de higiene inadequados, de grande violência familiar e até de abuso sexual, com as consequências psíquicas daí resultantes.

9. As igrejas de diferentes denominações, com honrosas exceções, difundem e perpetuam preconceitos sociais e sexuais e a desinformação científica como, por exemplo, teorias criacionistas e, às vezes, chegam a estimular o antagonismo religioso, em especial contra as religiões de origem africana. Em alguns casos, pela sua ênfase na exaltação do sucesso, simbolizado pela aquisição de riqueza, contribuem para o enraizamento do individualismo enquanto outras, com sua ênfase na salvação eterna e na aceitação da situação social de desigualdade, são essencialmente conservadoras em uma sociedade que, por suas características, requer grandes transformações.

10. A televisão, como veículo do processo educacional em seu sentido mais amplo, pode ser classificada em TV aberta e TV por assinatura. A principal questão relativa à televisão é a posição hegemônica da TV Globo e de sua rede de repetidoras.

11. A TV aberta é, acima de tudo, uma máquina de propaganda de consumo. Os programas são, em realidade, apenas os intervalos em um fluxo de propaganda que almejaria ser contínuo. Em grande parte, esta propaganda se refere a automóveis, a supermercados, a cosméticos, a bancos e a cerveja. A propaganda é altamente individualista, procurando uma nítida associação do produto ao sucesso sexual e afetivo. Os programas podem ser classificados em programas de auditório, transmissão de eventos esportivos, noticiários, novelas, filmes. Os programas de auditório exibem raridades humanas, comportamentos esdrúxulos, ridicularização de indivíduos, concursos de prêmios. A transmissão de eventos esportivos, do futebol às artes marciais, corresponde ao que os romanos designavam de circo. Os programas de noticiário dão ênfase a crimes, a casos de corrupção, a eventos esportivos.

O noticiário internacional é normalmente pautado pelas agências de notícias estrangeiras, reproduzindo seu material. O patrocínio dos noticiários é feito maciçamente por instituições financeiras o que garante razoável “proteção” contra críticas, em especial nessa época de crise e crimes financeiros. As novelas são o que há de melhor na TV aberta, garantindo um contraponto à maciça divulgação de filmes de baixa qualidade, seriados e programas estrangeiros, esmagadoramente americanos.

12. Na TV por assinatura, a que tem acesso cerca de 50 milhões de brasileiros, a programação é maciçamente de filmes americanos, com alguns canais de noticiário, entre eles a GloboNews, com todo o seu efeito sobre a formação do imaginário e a transmissão de valores e de comportamentos.

13. O brasileiro em média dedica à televisão cerca de cinco horas por dia. Há que fazer duas qualificações. Há aparelhos de televisão que ficam ligados sem que os programas estejam sendo assistidos e há pessoas que assistem efetivamente a mais de cinco horas diárias de TV. 60% das crianças e de jovens até 17 anos, antes ou ao voltar da escola, se dedicam a assistir televisão e sua média efetiva de assistência é de mais de três horas por dia.

14. A Internet, saudada em seu início como um extraordinário avanço nas comunicações, tem efeitos contraditórios, do ponto de vista educacional. De um lado, certamente propicia acesso rápido a informações as mais variadas. De outro lado, se tornou campo de atividades criminosas como a pedofilia, a xenofobia, o racismo, o antissemitismo, o tráfico de drogas etc. Além disto, do ponto de vista das crianças e dos jovens, a Internet ocupa um espaço extraordinário em seu tempo fora da escola devido a sua sedução narcísica pelas redes sociais tais como Facebook, Orkut e outras.

15. Finalmente, a rua. Nela, onde as crianças e os jovens, principalmente os mais pobres, em ambientes física e culturalmente degradados, adquirem hábitos de violência, de criminalidade, de tráfico e consumo de drogas etc. A violência na rua é a regra e ali se transmitem “valores”, que certamente não são os melhores, tais como a esperteza, a malandragem, a força, mas nenhuma informação positiva sobre cidadania, trabalho ou cultura.

16. Na concorrência com a rua, a Internet e a televisão, a escola certamente perde pela dificuldade natural do processo de aprendizado, pela atração do entretenimento fácil da TV, e do narcisismo individualista da Internet e pela desconexão entre o que se ensina na escola e a percepção de sua utilidade pelos alunos.

17. Como não há mesmo no médio prazo possibilidade razoável de modificar o padrão dos programas de televisão, o conteúdo veiculado pela Internet e o nível cultural das famílias a solução para o aperfeiçoamento do processo educativo é a adoção gradual do ensino em tempo integral.

18. A escola em tempo integral permitiria afastar a criança e o jovem da televisão, da Internet e da rua. Em segundo lugar, a própria produtividade seria afetada, pois as mães trabalhadoras estariam mais tranquilas quanto ao que ocorre com seus filhos enquanto elas trabalham. As crianças e os jovens poderiam fazer seus trabalhos escolares, adquirir a disciplina necessária ao estudo e ter na própria escola aulas de recuperação, de suporte e de reforço. Não se trata de implantar regime de horário integral apenas para as crianças e jovens fazerem esportes, ainda que isto seja importante, mas sim para algo essencial: para estudar e aprender.

19. A escola em horário integral não pode ser implementada de uma só vez em todo o Brasil devido ao seu custo e à necessidade de aperfeiçoamento e treinamento dos professores. Seria necessária a organização dessas escolas gradualmente e definir um programa de implantação com acesso democrático a todos as crianças e jovens, com preferência, mas não exclusivamente, para aqueles de menor renda, os afrodescendentes e as mulheres.

20. Naturalmente, enquanto não for definida a carreira de professor com salários correspondentes à importância de sua atividade, a escola de boa qualidade, em horário integral ou não, continuará a ser um privilégio dos brasileiros abastados.

21. O programa do Ministério da Educação de escolas em tempo integral, de sete horas por dia denominado Mais Educação, atende a um total de três milhões de alunos do ensino fundamental, isto é, do 1º ao 9º ano. Há um longo caminho a percorrer, em quantidade e qualidade, pois são 51 milhões de crianças e jovens que se encontram matriculados no ensino fundamental e médio.

22. A educação é extremamente importante para cada indivíduo e para a sociedade. O esforço de transformação do sistema educacional deverá ser acompanhado, para ter êxito, por uma política intensa de geração de empregos e, portanto, de promoção de investimentos. Cada indivíduo certamente poderá melhorar seu nível de renda caso venha a habilitar-se, venha a se educar. Para o conjunto da população, para a população como um todo, a educação isoladamente não leva à melhoria do seu nível de renda médio.

23. O nível de renda médio depende do aumento da produção; o aumento da produção depende do aumento da capacidade instalada, isto é, do número de fábricas, da extensão da área cultivada, do número de empresas de serviços etc.

24. Esta expansão de capacidade produtiva, o que acarretaria em princípio o aumento do emprego, é necessária para que as pessoas que se educam isto é, que se capacitam, venham a encontrar oportunidades de emprego, isto é, encontrem postos de trabalho onde produzir e receber um salário.

25. Caso isto não ocorra, caso a capacidade instalada permaneça igual, apenas haveria uma substituição de trabalhadores, os mais qualificados obtendo os empregos, enquanto que o número total de trabalhadores empregados e a renda média permaneceriam os mesmos. Talvez, até ocorresse um aumento do lucro das empresas na medida em que os trabalhadores, ao se tornarem mais qualificados, aumentassem sua produtividade, já que este aumento de produtividade não corresponderia necessariamente que a um aumento de seus salários.

26. Fazer crer que a educação isoladamente é o maior desafio da sociedade brasileira sem associar a educação à necessidade de aumento da capacidade instalada e do emprego contribui para evitar o debate sobre a concentração de renda e de riqueza, e a urgência cada vez maior de promover sua desconcentração, etapa indispensável para construir um verdadeiro Brasil Maior.

sábado, 16 de junho de 2012

O BRASIL DIANTE DE DOIS INIMIGOS

 


Mauro Santayana

Em discurso recente no Senado, Pedro Simon advertiu contra o perigo de que o crime organizado se aposse das instituições do Estado. Até o caso Cachoeira, disse o parlamentar gaúcho, havia sido comprovada a corrupção de setores da burocracia dos governos, mas não a da estrutura do Estado.
O governador Marconi Perillo se esquivou, com habilidade, das questões mais graves, em seu depoimento na CPMI. Registre-se que ele se encontrava mais do que tranqüilo, mesmo respondendo às indagações precisas do relator, até que chegou a vez do deputado Miro Teixeira. O experiente homem público, mesmo tendo como ponto de partida o caso menor, que é o da venda da casa de Perillo, deixou, na argúcia de suas perguntas, graves suspeitas.
Como pôde o governador receber o dinheiro de uma empresa e passar a escritura a um particular? Também ficou claro a quem ouviu o governador ser difícil que ele ignorasse as atividades ilícitas do apontado contraventor; ele conhecia, com intimidade, a sua vida empresarial, social e familiar.
O caso Cachoeira – e a advertência de Pedro Simon é importante – mostra como a nação está acossada por um inimigo interno insidioso, que é o crime organizado. Os recursos públicos são desviados para alimentar um estado clandestino, que está deixando de ser paralelo, para constituir o núcleo do poder, em alguns municípios, em muitos estados e na própria União. Essa erosão interna da nacionalidade brasileira, que se assemelha a uma gangrena, coincide com o cerco internacional contra o nosso país.
Enquanto parte da opinião nacional acompanha, indignada, as revelações do esquema Cachoeira, articula-se eixo internacional entre os Estados Unidos, a Espanha e todos os países da Costa do Pacífico, com a exceção do Equador e da Nicarágua, contra o nosso povo, mediante a Aliança do Pacífico. Não há qualquer dissimulação.
Como informa a publicação Tal Cual, da oposição venezuelana, o foro funciona ativamente e já celebrou seis reuniões de alto nível. “Os quatro países signatários da nova Aliança do Pacífico – revela a publicação – têm, todos eles, governos de centro ou centro-direita, crêem no capitalismo, são amigos dos Estados Unidos, e favorecem os tratados de livre comércio e o princípio do livre-comércio em geral. Une-os sobretudo um temor comum e impulso defensivo frente à ascendente potência hegemônica ou neo-imperial que é o Brasil”. E termina: “sentimo-nos satisfeitos e aliviados pelo surgimento do muro de contenção à expansão brasileira, que é a Aliança do Pacífico”.
Assim, os Estados Unidos cuidam de retomar a sua influência e presença militar na América Latina. Nesse sentido, procuram valer-se da Aliança do Pacífico para estabelecer bases militares cercando o Brasil, da Colômbia ao sul do Chile. Leon Paneta, o Secretário de Defesa dos Estados Unidos, acaba de acertar com o presidente do Chile, Sebastián Piñera, o estabelecimento de uma base norte-americana em Fuerte Aguayo, nas proximidades de Valparaíso. Entre outras missões dos militares americanos está a de treinar os carabineiros chilenos, a fim de coibir manifestações populares. Há, ao mesmo tempo, uma orquestração da imprensa e dos meios políticos e empresariais, a fim de reabilitar a figura do ditador Pinochet.
Os Estados Unidos, que mantêm uma base no Chaco paraguaio, quiseram também ocupar o aeroporto de Resistência, na província argentina do Chaco, e o governador Capitanich assentiu, mas o governo de Cristina Kirchner vetou o acordo.
A participação da Espanha nesse novo cerco ao Brasil é evidente. Em Madri, os embaixadores dos quatro paises maiores envolvidos (México, Colômbia, Peru e Chile) se reuniram, para defender a nova aliança, e coube ao embaixador do Chile, Sergio Romero, ser bem explícito. Ao afirmar que o bloco não nasce contra o Brasil, nem contra o Mercosul, aclara, no entanto, que o grupo recebe de braços abertos os investimentos europeus, especialmente da Espanha e dos Estados Unidos - que poderiam formalmente participar da Aliança.
Limpemos os nossos olhos, vejamos os perigos que ameaçam diretamente a nossa sobrevivência como nação independente, nas vésperas do segundo centenário do Grito do Ipiranga. Não temos que ficar abrindo mais divisões internas, e devemos nos unir para enfrentar, ao mesmo tempo, o inimigo interno, que é o crime organizado e suas teias nas instituições do Estado, e os inimigos externos.
Esses, sempre que estivemos avançando no desenvolvimento social e econômico, procuraram quebrar as nossas pernas, contando com traidores brasileiros. Não é preciso recuar muito no passado. Basta lembrar o cerco contra Vargas, em 1954, a tentativa de golpe de 1955, repetida em 1961 e, por fim, o golpe de 1964, com as conseqüências conhecidas. Registre-se que, apesar da vinculação com os Estados Unidos, durante o governo Castelo Branco, e a famosa doutrina das “fronteiras ideológicas”, vigente durante o governo Médici, a partir de Geisel os militares brasileiros não mantiveram a mesma subserviência diante de Washington.
Enfim, espera-se que o Itamaraty mantenha o governo da Sra. Dilma Roussef a par dessas manobras anti-brasileiras, comandadas a partir de Madri e de Washington, e que a CPMI vá até o fundo, nas investigações em curso. Elas não devem parar nas imediações de Anápolis, mas chegar a todo o Brasil, conforme os indícios surjam. É bom conhecer a verdade do passado, mediante a Comissão formada para isso. E se faz também necessário conhecer a verdade do presente, e impedir que o crime tome conta das instituições nacionais, como está ocorrendo no México de Calderón.
E não nos devemos esquecer que o sistema financeiro mundial é também uma forma – superior e mais poderosa – de crime organizado. E muito bem organizado.

Postado por Mauro Santayana 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Folha (*) manipula o aborto. (Como o Cerra)



Ministra Eleonora Menicucci, o Cerra e a Folha são uma coisa só

Paulo,

Ontem saiu uma nota na Folha On-line que trata a nova ministra da Dilma de “companheira de prisão” e só diz que ela é reitora de universidade escondido dentro da matéria.

Aqui está o link:

http://www1.folha.uol.com.br/poder/1044806-dilma-escolhe-ex-companheira-de-prisao-para-secretaria-das-mulheres.shtml

Hoje, no impresso, a Folha vai mais longe e lança a manchete: Ex-colega de cela de Dilma, nova ministra defende o aborto.

http://www1.folha.uol.com.br/poder/1044935-nova-ministra-da-secretaria-das-mulheres-defende-direito-ao-aborto.shtml

A história da ministra passou longe de ser contada.

Só há referência à biografia no fim da matéria.

O mais engraçado é que o mais perto que há de uma defesa do aborto na entrevista da Ministra para a Folha é quando ela diz: “Minha luta pelos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres e minha luta para que nenhuma mulher neste país morra por morte materna só me fortalecem”.

Hoje, a Ministra deu uma entrevista, muito boa por sinal.

Disse que é Governo (ou seja, adota a politica do Governo, da Presidenta)  e  que o aborto é questão de saúde pública;  não é papel do Executivo legalizar ou não e, sim, do Legislativo.

Bruno Pavan, editor do Conversa Afiada

Em tempo: telefona o Vasco para lembrar que na edição impressa, a Folha transcreve entrevista da Ministra em trecho que trata de suas preferências sexuais. Taí, a Folha deveria fazer isso com todos os homens públicos: dar a idade e a preferência sexual. A começar pelo PSDB de São Paulo. E lembra o Vasco: e por que não colocar ao lado da assinatura de cada reporter e editor da Folha, também ? Inclinacao sexual e partidária. Seria otimo: Fulano/a de tal, bi, gay, hetero tucano/a roxo/a.  Não deixe de ler: “Bolsa manda Folha embora – falta-lhe credibilidade “


A Folha (*) poderia trazer ao debate do aborto a grande estadista chilena, Monica Cerra, que fez aborto no Chile e condenou no Brasil.
Seria uma perspectiva original à questão: no Chile, pode; no Brasil, não !
Paulo Henrique Amorim

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

OUTUBRO: NOVO MARCADOR HISTÓRICO? Forte repressão no Chile. Nova greve geral é convocada

 
Colapso do neoliberalismo passa a ser decidido nas ruas.  Primeira semana de outubro reúne ingredientes de um ponto de mutação: greve geral na Grécia põe em xeque a solução ortodoxa para a crise; ascensão fulminante dos indignados nos EUA instala a contestação  ao neoliberalismo no coração do sistema financeiro internacional e pauta a sucessão de Obama. Passeatas de desempregados na Espanha  afrontam a rendição socialdemocrata aos 'livres mercados'. Radicalização  política no Chile desmascara a 'direita moderna da AL' em sua vitrine mais festejada. A maior greve bancária brasileira em duas décadas desmente acomodação sindical e expõe lucros obscenos do poder financeiro. PT fará seminário sobre regulação da mídia.
(Carta Maior; 6ª feira,07/10/ 2011)
 
 
 

A quinta-feira terminou com números panelaços em protesto contra a nova jornada de repressão que fez lembrar os piores momentos da ditadura de Pinochet. Enquanto isso, outra vez, as barricadas acendiam no meio da noite, dando conta de um movimento que vai mais além da mobilização dos estudantes e que envolve toda uma sociedade que reclama mudanças em modelo que está fazendo água não só no Chile, mas no mundo inteiro. Contra a repressão, estudantes e trabalhadores convocam nova greve geral para o dia 19 de outubro. A reportagem é de Christian Palma, direto de Santiago.

A pesar de não terem sido autorizados pela prefeitura para marchar pela capital chilena, os estudantes se reuniram assim mesmo, quinta-feira, na Praça Itália, tradicional ponto de encontro nestes cinco meses de ocupações e greves, para iniciar uma nova caminhada denunciando a intransigência do governo de Sebastian Piñera, sobretudo na última reunião entre ambas as partes, que culminou com a saída dos estudantes da mesa de diálogo, após o Ministério da Educação reafirmar que a educação no Chile não pode ser grátis.

A líder universitária, Camila Vallejo, junto com um grupo de dirigentes e estudantes, encabeçava a marcha portando um lenço com a frase “Unidos com + força”. No entanto, poucos minutos após o início da marcha, os manifestantes foram reprimidos por um carro com jatos d’água, dos carabineiros, que acabou com a manifestação que estava apenas começando.

Esse fato deu início a duros enfrentamentos entre estudantes e carabineiros em diferentes pontos de Santiago, sobretudo em frente à Universidade Católica, à Universidade do Chile, ao Instituto Nacional (colégio secundário mais importante do Chile) e nas cercanias do Palácio de La Moneda, em pleno centro de Santiago, onde um grupo de jovens com o rosto coberto (encapuzados) instalaram barricadas na principal avenida da capital, a Alameda, provocando a aparição imediata da polícia que os esperava para entrar em ação. E fez isso com força. A polícia reprimiu a todos por igual, aos que faziam desordens, aos estudantes inocentes e as pessoas comuns que passavam pelo lugar naquele momento. Foram cinco horas de luta contínua que deixou 150 detidos e vários feridos, entre civis e policiais.

A ruptura da mesa de diálogo pela educação, que não apresentou nenhum avanço na direção de uma educação gratuita e de qualidade, segue unificando os jovens que ontem também rechaçaram a repressão aplicada pelo governo contra os manifestantes.

Neste cenário, a Confederação de Estudantes do Chile (Confech), representada pelos porta-vozes Camila Vallejo e Camilo Ballesteros, juntamente com o presidente da Central Unitária dos Trabalhadores (CUT), Arturo Martínez, e o presidente do Colégio de Professores, Jaime Gajardo, anunciaram que continuarão com as mobilizações e convocarão uma nova greve nacional para o dia 19 de outubro.

“Resolvemos convocar para a próxima semana a todas as organizações sociais, culturais, sindicais, ecologistas e profissionais para uma mobilização. Convocamos a todas as organizações que estão contra a repressão”, disse Martínez.

A respeito do balanço sobre a jornada de quinta-feira, a totalidade dos dirigentes que convocaram a greve geral nacional coincidiram em classificar a ação do governo como uma das mais violentas e repressivas até agora. “Lamentamos novamente como o governo decidiu enfrentar o movimento. A prefeitura deu-lhes liberdade absoluta para reprimir, para evitar reuniões nos espaços públicos e essas coisas são inaceitáveis, porque violam uma liberdade constitucional, assinalou Camila Vallejo.

Do outro lado, a prefeita de Santiago, Cecília Perez, qualificou os dirigentes do movimento como “responsáveis pelos desmandes”. Nesta linha, Camila Vallejo respondeu que a “Prefeitura não só deu à polícia, conscientemente, absoluta liberdade para reprimir e não permitir que a manifestação avançasse pela Alameda, como também para impedir que as pessoas se reunissem nos espaços públicos”. A dirigente estudantil chamou a todos os chilenos “para apoiar o movimento e para manifestar repúdio a essa repressão”.

Na noite de quinta, na televisão, o ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter, defendeu o Projeto de Lei denominado “antitomas”, firmado pelo presidente Sebastian Piñera no domingo passado, que estabelece sanções para aqueles que tomem de forma violenta edifícios públicos e privados, ou que participem de saques e desordens públicas. “Estamos seguros que representamos a grande maioria dos chilenos e chilenas. Aqueles que saqueiam com força e violência um pequeno armazém, uma escola, um hospital, uma igreja, estão cometendo um delito”, afirmou.

A quinta-feira terminou com números panelaços em protesto contra a nova jornada de repressão que fez lembrar os piores momentos da ditadura de Pinochet. Enquanto isso, outra vez, as barricadas acendiam no meio da noite, dando conta de um movimento que vai mais além da mobilização dos estudantes e que envolve toda uma sociedade que reclama mudanças em modelo que está fazendo água não só no Chile, mas no mundo inteiro.

Tradução: Katarina Peixoto

 
 
 

 
 
 
 
 

 
 
 
 
 

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A TRANSPARÊNCIA DOS DIAS QUE CORREM



A semana começa iluminada pela  alarmante transparência que as crises irradiam quando atingem seu domínio sobre a economia e a sociedade. Em entrevista neste domingo à revista alemã Der Spiegel, a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde,voltou  a advertir: um novo ciclo de recessão está a caminho. Sinal dos tempos, convocou Estados a redobrarem esforços de investimento e salvaguarda bancária para evitar o pior. As advertências dramáticas de Lagarde  legitimam a decisão tomada  pelo BC brasileiro que na semana passada desgostou os mercados. Consultores da banca e seus ventríloquos na mídia demotucana receberam mal a redução de meio ponto na taxa de juro mais alta do mundo.  Menos de 24 horas depois vinha dos EUA uma ratificação do diagnóstico embutido no corte da Selic: em agosto, a maior economia capitalista da Terra não gerou nenhuma vaga de emprego.  Na próxima 5ª feira será a vez de Obama desagradar a lógica do extremismo ortodoxo que na sua versão nativa ou forânea prescreve o arrocho fiscal como maravilha curativa para a maior crise do capitalismo desde 29. Obama abre a sua campanha pela reeleição anunciando um programa de geração de empregos  a contrapelo do suicídio fiscal imposto pela Tea Party contra sua administração. Num certo sentido, a eleição de 2012  nos EUA  confrontará duas grandes vertentes que se enfrentam  nas respostas à crise mundial. De um lado, um neoliberalismo cego que resolveu dobrar a aposta na desregulação financeira, responsável pelo colapso em curso no planeta. De outro, a ainda tíbia mas correta tentativa esboçada em diferentes países -- inclusive no Brasil, para suprir R$ 30 bilhões que faltam à saúde pública-- de taxar os ricos para financiar o investimento público travado pela crise. Durante décadas a hegemonia neoliberal aprisionou o debate econômico numa espécie de escolha de Sofia: as opções de desenvolvimento  estariam restritas ao endividamento insustentável dos Estados, capturados pelo rentismo como usinas de juros, ou o arrocho salazarista, vendido pela mídia como a dolorosa purgação rumo ao paraíso. Protegida por esse falso dilema, a riqueza engordou despudoramente isenta ou sub-taxada  por sistemas tributários amigáveis (no Brasil, assalariados pagam 4,5 vezes mais IR que os bancos). A crise implodiu essa fraude ao exaurir os Tesouros no socorro à desordem  financeira. O déficit  fiscal das sete maiores economias do mundo  ultrapassa atualmente U$ 41 trilhões: 70% do PIB mundial. O Estado brasileiro gasta mais com juros do que com a saúde pública ou a educação. O Chile com um a carga fiscal de apenas 17% do PIB  --a média européia é de 48%-- não tem respostas a dar aos estudantes que exigem educaçao pública de qualidade. Obama não conseguirá ressuscitar o emprego sem políticas públicas para as quais falta-lhe  o mesmo do que se ressente Dilma para acudir a saúde, Piñera para democratizar a educação ou Zapatero para atender aos indignados: receita fiscal originária da taxação da riqueza e não mais do endividamento imobilizante. A ver.
(Carta Maior; 2ª feira, 05/09/ 2011