Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Chile: a AL não tolera mais a desigualdade

Piñera emergiu na AL chamada de chavista, em 2010, como o anfíbio ansiosamente aguardado: pensava a economia como Pinochet, sem ter vestido o capuz negro.

por: Saul Leblon 
Arquivo




 







A volta de Bachelet ao comando do Chile, após levar 62% dos votos no 2º turno, domingo, envia uma mensagem às elites da região.

A sociedade latino-americana não tolera mais a desigualdade.

Enquanto o conservadorismo se aferra à ideia de dar eficiência às estruturas carcomidas que instalaram aqui uma das piores assimetrias de renda do planeta, as urnas  --e as ruas--  sistematicamente invertem a equação.

Em recados de crescente contundência à direita e à esquerda , avisam:  a meta deve ser a equidade, a economia  não pode funcionar mais contra as urgências da população.

O Chile rico e educado é a confirmação  enfática da fraude arquitetada por aqueles que propõem  chilenizar o Brasil primeiro (‘as reformas’), para depois distribuir.

Tudo funciona nesse modelo, mas tudo  só funciona a quem paga.

A maioria não pode pagar, por  exemplo, uma educação universitária de qualidade.
Nem a classe média remediada.
Essa, a origem da revolta dos pinguins que premiou o Chile com uma  renovação de liderança política inédita na região, pela esquerda.

Jovens comunistas  se projetam à frente da sociedade chilena dando , inclusive, uma sobrevida representativa ao Partido Comunista local, só encontrável em nações estilhaçadas pelo bisturi implacável do ajuste neoliberal. Caso da Grécia, por exemplo.

Um minúsculo enclave de 5%  da população chilena fatura por ano  quase 260 vezes mais que o seu extremo oposto na pirâmide de renda.

A principal riqueza do país, o cobre, preserva uma estatização de fachada na qual os maiores beneficiários sãos as castas fardadas que se reservaram durante a ditadura Pinochet uma fatia cativa dos rendimentos da maior reserva do metal no planeta.

Pior que o Brasil, pior que os EUA ou a Alemanha, a plutocracia chilena aferrou-se de tal maneira a seus privilégios que hoje 1% da população detém 31% de toda a riqueza nacional (21% nos EUA ; 13% no Brasil; 12,5% na Alemanha).

O conjunto faz do Chile um paradigma odioso de segregação econômica escolar.

Segundo a OCDE, dentre todos os seus membros, o Chile é o país com maior índice de financiamento privado da educação primária e secundária.

O resultado das urnas deste domingo esfarela e devolve às goelas conservadoras o júbilo manifestado em janeiro de 2010, quando um  Chile cansado das hesitações de seu centrismo, elegeu  o bilionário Sebástian Piñera  ao final do primeiro mandato de Bachelet.

Piñera reacendeu a esperança conservadora na América Latina.
Sua vitória reluzia como a revanche diante de um colar de governos progressistas que asfixiavam o horizonte da direita regional.  Enfim, um presidente para chamar de seu.

Um porta-voz moderno do dinheiro grosso.

Alguém talhado para fazer a ponte entre a inconclusa redemocratização chilena e o necessário arejamento das agendas apuradas no calabouço escuro da ditadura Pinochet.

Recorde-se que o Chile é o que é hoje  porque, antes mesmo de Thatcher,  foi militarmente capturado para ser a cozinha experimental do neoliberalismo no mundo.

Talvez fosse mais apropriada a metáfora 'açougue'.

Ali se sangrou, retalhou, picou e moeu uma nação até reduzi-la a uma massa disforme e vegetativa.

Dessa matéria-prima, nasceu a primeira receita mundial bem sucedida do cardápio que decretaria o fim do capitalismo regulado, a partir dos anos 70.

O quitute indigesto foi enfiado goela abaixo de uma das sociedades mais democráticas do continente latino-americano. Por isso mesmo, exemplarmente esgoelada na sua tentativa de construir o socialismo pela via eleitoral.

O recado foi escrito com sangue na pele da esquerda latino-americana: 'a democracia promete mais do que os mercados estão dispostos a conceder'.

Mestres-cucas da direita regional e global aderiram em massa ao mutirão corretivo.

Piñera não serviu diretamente à ditadura mais sanguinária da AL.  Justamente por isso, sua vitória em 2010 acendeu o entusiasmo conservador.

Eis o anfíbio tão aguardado.

Porque pensava a economia como Pinochet, sem ter vestido diretamente o capuz negro, era a ponte palatável entre dois mundos, no caminho de volta a uma democracia bem comportada.

"É provável que se fortaleça na América do Sul uma "frente antichavista", integrada por Álvaro Uribe (Colômbia), Alan García (Peru) e o próprio Piñera".

O augúrio do editorial da "Folha", de 22 de janeiro de 2010, externava essa aposta ansiosa.

O dote de mandatário-ponte servia ademais para espicaçar a viabilidade da jejuna e também recém-eleita presidenta brasileira, Dilma Rousseff.

Transcorridos quatro anos, Piñera devolve o lugar a Bachelet.

Os jornalismo que apostou na ressurgência neoliberal, porém, não desiste. No Brasil flerta com anfíbios tropicalizados. 

Ou não será a mesma receita da chilenização do país que emitem as goelas de veludo dos Campos & Aécios?

Quiçá de alas petistas obsequiosas aos lamentos dos mercados?

O Chile fez tudo como eles querem fazer aqui.

É a economia "mais aberta" da América Latina.

O Estado é mínimo: a dívida do setor público é de apenas 11,5% do PIB (37% no Brasil, no conceito líquido; 60% no bruto).

A previdência foi privatizada. A proteção trabalhista é pífia.

A linha da desigualdade parece o eletrocardiograma de um morto: o índice de GINI chileno oscilou de 0,55 para 0,52 entre 1990 e 2009 (o do Brasil melhorou de 0,61 para 0,54).

Segundo a CEPAL, entre 1990 e 2009, o investimento público na área social oscilou mediocremente no país: de 15,2% para 15,6% do PIB.

Até o México deu um passo maior no mesmo período: passou de 5,5% para 11,3% do PIB.

Na direitista Colômbia, o salto foi de 6,1% para 11,5%.

No Brasil, a ' gastança' avançou de 17,6% para 27,1% do PIB; na Argentina, de 18,6% para 27,8%.

O jornalismo conservador atribui à falta de 'traquejo' político do empresário-presidente o paradoxo entre uma economia 'saudável' e a rejeição política esmagadora.

O raciocínio condescendente desdenha de uma lacuna-chave.

Piñera não foi programado para transformar a maçaroca econômica em uma Nação.

Mas para transformar uma nação em mercado.

Por que teria apoio dos seus órfãos?

O Chile tornou-se um país simplificado por uma ditadura que decidiu exterminar fisicamente o estorvo ideológico e social no seu caminho: a classe trabalhadora organizada.

Uma parte foi sangrada nas baionetas de Pinochet.

A outra, exterminada estruturalmente pelos sacerdotes do laissez-faire.

Os Chicago's boys reduziram a economia às suas estritas 'vantagens comparativas'.

Um pomar de pêssego. Vinícolas. Uma mina de cobre.

Um acervo como esse não precisa de projeto nacional.

Um fluxo de mercadorias não requer formulação intelectual própria. Logo, não precisa de universidade pública autônoma.

Um aglomerado de consumo não reclama cidadania.

Piñera tentou ser o cadeado moderno entre isso e uma redemocratização intrinsecamente tensa e limitada. Os estudantes rechaçaram esse entendimento do que seja um 'Chile moderno' .

E carregaram para as ruas o inconformismo de décadas que se consagrou nas ruas deste domingo. Mas que explica, também, o monstruoso incide de abstinência de 59%.

O desinteresse pelo voto é um aviso a Bachelet: um pedaço do país, quase suficiente para eleger um outro presidente, não aguenta mais simulacros de justiça social e maquiagens estruturais.

O fracasso de Piñera não deve ser desfrutado com precipitações simplistas.

O jogo não acabou na AL. Nunca acaba.

Os embates tendem a se acirrar.  Não por acaso Aécio e Campos acercam-se de profissionais do ramo e de modelos estratégicos que caberiam perfeitamente num ministério de Piñera.

O Chile, pequeno, mas historicamente imenso, tem muito a dizer à experiência política latinoamericana.

Não foi qualquer apego a efemérides que motivou Carta Maior a reunir, este ano,  uma dezena e meia de analistas, personagens, cineastas e filmes para registrar os 40 anos do golpe militar de 11 de setembro no Chile.

O Especial ‘Chile de Allende, 40 anos do golpe’ não mira o passado.

A atualidade da arguição inclui nuances. Algumas delas falam diretamente ao Brasil dos dias que correm. Exemplos.

O que acontece em um país quando o conservadorismo forma a percepção de que as possibilidades democráticas e eleitorais de seu retorno ao poder se estreitaram?
Que contrapesos poderiam, ou melhor, deveriam ser acionados quando a judicialização da política e o golpismo midiático compõem um corredor polonês asfixiante em torno de um governo democrático e progressista?

Em que medida é realista apostar em um alicerce defensivo ancorado exclusivamente nas instituições existentes, quando o propósito é superar o que elas guarnecem? É um primeiro indicativo.

Há outros a sinalizar que não estamos falando de ontem. Mas das evocações que 1973 inspira em 2013. E em 2014.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Desigualdade caiu 1,89% com FHC e 9,22% com Lula


A divulgação na última segunda-feira do Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDHM) gerou um previsível proselitismo político da grande mídia em relação a uma pequena diferença no desempenho dos indicadores do estudo em favor do decênio em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso governou em maior parte.
A Folha de São Paulo, por exemplo, destaca que o IDHM subiu 24,14% (de 0,493 para 0,612) entre 1991 e 2000 (década em que FHC governou por 6 anos), enquanto que subiu 18,79% (de 0,612 para 0,727) de 2000 a 2010 (década em que FHC governou por 2 anos e Lula, por 8 anos).
Abaixo, um quadro que mostra em que áreas de estudo do IDHM o governo FHC teve melhor desempenho. O gráfico deixa claro que a política de “universalização da educação” no governo FHC foi responsável pela melhora um pouco maior na década retrasada nesse índice específico da ONU. Àquela época, houve um grande esforço para “colocar todas as crianças e adolescentes na escola”
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O intuito da Folha, é óbvio, foi o de desmontar a teoria de que a era Lula foi superior à era FHC no “social”.
Infelizmente, o IDHM é um índice apurado a cada 10 anos e, assim, não existe disponibilidade ano a ano de sua evolução. Se existisse, ficaria claro que a década “de Lula” foi prejudicada pelos 3 anos finais do governo FHC (2000, 2001 e 2002), quando o país mergulhou em uma gravíssima crise econômica que teve início em 1998 e que piorou todos os indicadores até o primeiro ano do governo Lula (2003), a partir do qual o Brasil começou a melhorar socialmente.
Assim como o desemprego e a inflação dispararam entre 1999 e 2002 (o segundo mandato de FHC), pode-se supor que os dados apurados pelo PNUD, pelo IBGE e pelo IPEA para compor o IDHM também devem ter sofrido com a situação vigente naqueles quatro anos.
Seja como for, para esclarecer melhor essa pequena diferença em favor do período FHC no âmbito do IDHM, o Blog da Cidadania, mais uma vez, recorreu ao doutor Marcio Pochmann, que foi presidente do IPEA entre 2007 e 2012 e que, semana passada, concedeu-lhe uma entrevista.
Abaixo, a visão de Pochmann sobre o resultado do estudo recém-divulgado e, em seguida, um dado impressionante que o Blog apurou sobre a distribuição de renda no Brasil nos governos Lula e FHC.
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O índice de desenvolvimento Humano das Nações Unidas foi criado em uma época em que a dominação neoliberal era bastante grande no mundo. Hoje estamos vivendo um quadro de questionamento do que foi o neoliberalismo e os resultados sociais e econômicos que deixou.
O IDHM é simplista e se fundamenta em três informações: renda per capita, expectativa de vida e escolaridade. Esses três indicadores, de maneira geral, têm quase uma progressão natural porque é difícil um país não abrir escolas, não crescer minimamente a sua economia e é difícil não haver ganhos na saúde, que resulta em mais expectativa de vida.
No meu entender, esse índice deveria ser melhor aprofundado, com dados tão importantes quanto expectativa de vida, educação e escolaridade. Haveria que incluir indicadores de maior qualidade. Da forma que é feito, não permite uma visão mais complexa e aprofundada dos países.
Da forma como é feito esse estudo, é como medir a temperatura de dois braços, estando um no congelador e o outro no forno. Somam-se as temperaturas de ambos os grupos (mais pobres e mais ricos) e se tira a média, o que produz um resultado distorcido”.
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Com base na explicação do doutor Pochmann, o Blog foi verificar outro indicador que explica melhor o que aconteceu no Brasil durante os governos Lula e FHC em termos, por exemplo, de distribuição de renda e o resultado foi impressionante.
O gráfico abaixo foi extraído da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) 2011. Ilustra os níveis de concentração de renda no Brasil de 1995 a 2002 (governo FHC) e de 2003 a 2011 (governo Lula), apurados peloÍndice de Gini.
O que se nota, através do gráfico acima, é que, enquanto entre 1995 e 2002 (8 anos) a concentração de renda no Brasil caiu 1,89%, de 2003 a 2011 (9 anos) a queda foi de 9,22%. Ou seja: o gráfico mostra uma queda da desigualdade durante a era FHC que foi quase que inercial, enquanto que durante a era Lula-Dilma foi uma política de Estado.
Se o IDH juntasse a concentração de renda e a redução da pobreza aos três dados “simplistas”, por certo haveria como comparar os governos Lula e FHC no que tange ao social. Usar para esse fim somente três indicadores que são afetados pelo transcurso do tempo e pelo desenvolvimento que experimenta qualquer país, é vigarice.

INSTITUTO LULA REBATE FHC SOBRE RESULTADOS NO IDHM




segunda-feira, 29 de julho de 2013

ONU VÊ PROGRESSO SOCIAL "IMPRESSIONANTE" NO BRASIL

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A economia pode derrotar Dilma ano que vem? Duvido!


Afinal de contas, a nossa economia vai bem ou vai mal? O emprego e a renda crescem sem parar, mas o PIB anda de lado, a indústria não aumenta a sua produção e a inflação não mostra sinais de acomodação.
Esse paradoxo está sendo visto como um “mistério” da economia brasileira. Como é possível haver criação de empregos e aumento na renda das famílias se o setor produtivo e boa parte da economia estão estagnados?
Você tem alguma explicação para esse fenômeno? Tem pensado nisso, está preocupado? Ou será que é tudo invenção do PIG e da oposição?
E a reeleição de Dilma? Você leu a análise de Brian Winter na Agência Reuters pintando um quadro bem difícil para ela no ano que vem justamente com base no desempenho da economia?
Em síntese, esse analista diz que Dilma não seria derrotada se o quadro econômico, que dizem ruim, se mantiver. Mas levanta sérias dúvidas sobre em que estado chegará a economia ao ano que vem, achando serem fortes as chances de chegarmos a 2014 com desemprego e inflação em alta (!?).
A economia não tem mistério algum, apesar de estar com problemas que podem, sim, tornar-se sérios. E a reeleição de Dilma, claro, não é fava contada. Mas não dá para passar da euforia ao derrotismo por uma conjuntura econômica que está longe de ser ruim.
Primeiro, falemos do paradoxo entre emprego e renda, de um lado, e estagnação econômica e inflação de outro.
Se a economia não cresce, como é possível que exista inflação? E o que é mais intrigante: como pode haver inflação de demanda (preços subindo porque há mais gente querendo comprar do que produtos sendo fabricados) se, com crescimento baixo, em tese não aumenta o contingente de consumidores?
É aí que entra o aspecto “misterioso” da questão. Pelas teorias econômicas convencionais, o PIB fraco deveria gerar competição de empresários por mercado, o que se traduz em redução de preços, mas o que se vê é o contrário: os preços sobem.
Certos preços sobem por conta da sazonalidade (produtos agrícolas sobem de preço por quebra de safra, por exemplo), mas ela não explica tudo. O consumo alto está, sim, gerando inflação de demanda.
Não há mistério algum na economia. Ela estagnou-se, sim, mas em patamar extremamente alto. Em 2002, o PIB brasileiro foi de R$ 1,32 trilhão. Em 2012, foi de R$ 4,4 trilhões. A economia brasileira, na última década, triplicou de tamanho.
Ainda que digam que não foi um grande crescimento, foi quase o dobro da década anterior. Mas isso não explica tudo. Há um fator que gerou demanda desproporcional ao crescimento do PIB: a distribuição de renda.
Em 2002, tínhamos um PIB que era um terço do de hoje, mas era distribuído de forma muito mais perversa. O índice de Gini, que mede a distribuição de renda, caiu de 0,61 em 2001 para 0,51 em 2011, ou seja, houve uma revolução nessa área no Brasil
Ainda está longe de se esgotar o processo redistributivo em curso. Com cada vez mais gente que não consumia passando a consumir, a pizza continua do mesmo tamanho, mas a maioria que dividia algumas poucas fatias agora fica com mais fatias.
Ou seja: a economia, em 2012, não cresceu (praticamente), mas a renda cresceu porque a maioria passou a consumir uma parte maior daquela pizza.
Esse processo, aliás, não terminou. A renda continua sendo distribuída. Assim, o empresariado está vendendo para mais gente.
Outro aspecto é a falta de mão-de-obra. Por força da estagnação econômica, da concentração de renda e do desemprego que imperaram até o início da década passada, o Brasil não formava profissionais que vão de encanadores a engenheiros
Com a explosão de crescimento da década passada, o país passou a requerer mão-de-obra para sustentar um patamar da economia altíssimo. Estamos importando profissionais de outros países, inclusive.
A inflação, portanto, decorre da sede de consumo da dita “nova classe média”, que mal começou a consumir e que nos próximos anos irá consumir ainda mais. E como o empresariado, intimidado com o alarmismo da mídia, não investe, estamos enfrentando um processo inflacionário que pode, sim, prosseguir.
O receituário ortodoxo recomenda reduzir o crédito e aumentar os juros. Todavia, se levarmos em conta o processo redistributivo em curso, com políticas públicas voltadas a incluir consumidores ao mercado, a inflação não irá ceder com taxa de juro, a menos que aumente tanto que produza uma recessão.
Do contrário, a falta de mão-de-obra necessária para sustentar o atual patamar da economia certamente continuará elevando a renda das famílias, até equilibrar a demanda por essa mão-de-obra com a oferta.
Nesse ponto entra a análise de Brian Winter, na Reuters. Um ano e meio é suficiente para se atingir o equilíbrio entre oferta e procura por mão-de-obra e o estímulo ao consumismo que a busca por ela produz de forma a produzir falta de emprego?
Falar em desemprego, nesse quadro, é absurdo. O contingente de brasileiros que há para ser integrado ao mercado de consumo é imenso, ainda. Mal começamos o processo inclusivo. E para contrabalançar a falta de investimento do setor privado, há a liderança do processo pelo Estado.
Há um pacote incrivelmente amplo de obras de infraestrutura (PAC) em curso. Essas obras por certo sustentarão o crescimento (que é até bom que não seja tão alto, por conta da inflação) e continuarão gerando demanda por mão-de-obra em todos os setores.
Dilma pode ser derrotada pela estratégia política que está sendo armada, como escrevi recentemente aqui, com várias “Marinas” em 2014 no lugar de uma Marina só em 2010. Com Eduardo Campos, Marina Silva e o anti-Lula tucano da vez (Aécio Neves?), o arranjo político pode criar uma situação difícil para a atual presidente.
Um segundo fator é a criminalização de Lula, que, mais uma vez, pretende anular a sua imensa influência eleitoral.
O segundo turno de 2014 está cada vez mais garantido, a despeito das pesquisas que mostram que se a eleição fosse hoje Dilma venceria no primeiro turno – como se sabe, nos períodos eleitorais as pessoas são influenciadas por fatores não-racionais, como religião, moralismo relativo a “corrupção” etc.
Todavia, no segundo turno um só candidato terá que enfrentar todo o bem-estar social que há hoje no Brasil. E terá a seu dispor a única arma de sempre, a das denúncias de corrupção que serão feitas sobretudo a Lula, que acaba de ser indiciado em processos armados pelo procurador-geral da República visando unicamente a eleição do ano que vem.
Funcionará desta vez? Parece difícil, mas, claro, não é impossível.
Contudo, apostar no mal-estar social para o ano que vem, como fez Brian Winter, é uma estupidez e um alheamento da realidade.
A economia brasileira vai bem. Está em um patamar altíssimo de funcionamento e a distribuição de renda em curso está sendo subestimada em um processo de autoengano das elites destro-midiáticas.
Em resumo: só o que pode derrotar Dilma, ano que vem, é a política. A economia será sua aliada. A direita midiática não entende de economia. Basta lembrar das previsões que vem fazendo – e errando feio – ao longo da última década.

domingo, 3 de março de 2013

Desempenho do PIB não interfere no ânimo do eleitorado


O fraco crescimento do PIB de 2012 vem se mostrando objeto de esperança dos grupos políticos, econômicos e midiáticos de oposição ao projeto político que governa o Brasil desde 2003. Mais uma vez.
Em alguma medida, no entanto, fazer essa aposta outra vez chega a espantar. Afinal, não faz muito tempo que foi feita e perdida por quem fez.
Em 2009, às portas do ano eleitoral de 2010, o discurso tucano-midiático era exatamente o mesmo que o de hoje, só que a situação era muito mais grave. 2008 terminara sob a égide da eclosão da crise econômica das hipotecas norte-americanas que, dali em diante, contaminaria o mundo.
O desemprego aumentou consideravelmente entre o último trimestre de 2008 e o primeiro de 2009. A produção e as vendas no comércio praticamente ficaram paralisadas, até que o governo começasse a liderar a reação da economia brasileira investindo pesado.
O ano que precedeu a eleição presidencial de 2010, sob o aspecto do PIB, foi um presente para a oposição. Afinal, em 2009 o Brasil não teve “pibinho”, teve recessão. Isso mesmo, o tamanho da economia brasileira reduziu-se em 0,2% e o nível de emprego, ao fim daquele ano, apenas retornou ao que estava ao fim de 2008, quando a crise internacional explodiu.
Contudo, a partir do segundo semestre de 2009 já se começava a sentir uma reação da economia como a que já se faz sentir agora e que, ao longo do ano eleitoral de 2010, chegaria a experimentar crescimento próximo ao nível chinês, com aumento do PIB de 7,5%.
Diante dos resultados ruins do último trimestre de 2008 e do primeiro semestre de 2009, mídia e oposição duvidaram de que fosse possível uma reação e já davam como favas contadas a derrota do “poste” Dilma – outros viriam – não apenas pelo nível de emprego que sofrera a primeira redução em anos, mas por a candidata à sucessão de Lula nunca ter disputado uma eleição na vida.
O fim dessa história todos conhecemos. Mas o que há para resgatar é a velha discurseira tucano-midiática que se abate sobre o país toda vez que o resultado do PIB não é brilhante, mesmo que indicadores sociais revelem que mais ou menos crescimento não é fator determinante das condições de vida da maioria.
Se tomarmos como exemplo um editorial da mídia oposicionista de março de 2009, encontraremos uma argumentação igualzinha à que tem sido vista nesses veículos nos últimos tempos.
Abaixo, editorial da Folha de São Paulo de 11 de março de 2009.
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FOLHA DE SÃO PAULO
11 de março de 2009
Editorial
Queda vertiginosa
Recuo no PIB reafirma necessidade de ações anticrise, mas arsenal é limitado pelo pendor à gastança dos governos
A HISTÓRIA , mais à frente, irá decerto atenuar a sensação de que uma nova era da economia global se impôs, num chofre, entre setembro e outubro, subvertendo o que prevalecia até o instante imediatamente anterior. Mas é essa a impressão que resta depois da divulgação de estatísticas como a do PIB brasileiro.
A produção de bens e serviços no país crescia num ritmo anualizado de 7% até setembro; entrou em mergulho radical nos três meses seguintes, quando a taxa, se anualizada, resultaria em -13,6%. Não há cenário, previsão, estimativa ou modelo econométrico que parem de pé diante de inversão dessa magnitude. A incerteza sobre o comportamento da atividade econômica, em especial para este ano e o próximo, atingiu proporções ofuscantes.
Os números do IBGE confirmam que veio da indústria o principal vetor de retração no último trimestre de 2008. O volume da produção fabril decresceu 7,4% em relação ao período imediatamente anterior. As decisões de frear fortemente as linhas de montagem foram concomitantes a outras, destinadas a cortar, também brutalmente, as despesas com aquisição de máquinas, equipamentos e construção civil.
Esta classe de gastos, os investimentos produtivos, se expandia numa velocidade “chinesa”: suficiente para duplicar o volume de dispêndios em expansão da capacidade produtiva a cada nove anos. Passou-se no quarto semestre, sem direito a fase intermediária, a uma realidade que lembra a Grande Depressão -os investimentos diminuíram ao ritmo, anualizado, de 33%.
Não se pode, obviamente, tomar a pior fase da crise, até aqui, pelo todo. Dados preliminares acerca dos primeiros dois meses de 2009 mostram que aqueles índices de vertiginosa retração não se repetiram. Em alguns setores, caso da indústria automobilística, há sinais de incipiente recuperação. Nada, contudo, que já possa assegurar crescimento positivo do PIB neste ano.
Tampouco é recomendável desprezar a notável prosperidade verificada entre 2004 e 2008. Na esteira da bonança global, a economia brasileira mais que dobrou seu ritmo de expansão em relação às duas décadas anteriores. Com saldos comerciais expressivos e entrada maciça de capitais, o Brasil pôde, mediante prudente acumulação de poupança em dólares, aumentar a proteção contra crises externas.
Infelizmente, essa linha de prudência não abrangeu os gastos de custeio dos governos -federal, estaduais e municipais-, que dispararam no período. Se o poder público tivesse controlado seu pendor natural à gastança, teria agora um arsenal menos limitado para combater os efeitos deletérios da derrocada global.
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As semelhanças com o presente não são mera coincidência. Era ano pré-eleitoral como este e vínhamos de um fim melancólico do ano anterior, em termos de crescimento e emprego. A única diferença é a de que em março de 2009 as expectativas pareciam menos promissoras do que as de março de 2013.
Todavia, como já havia expectativa de retomada o discurso era exatamente o mesmo de hoje, de relativizar os sinais de aquecimento na economia dizendo, de uma forma ou de outra, que o modelo econômico em curso – baseado no consumo de massas – estaria “esgotado”.
Chega a ser risível dizer que o consumo de massas possa estar perto do patamar de estabilização em um país em que tanta gente ainda não consome mais do que o básico do básico. Mas, enfim, é nisso que a direita midiática acredita – ou quer acreditar.
Enfim, a aposta no ritmo mais fraco da economia se mostra fadada a novo fiasco por duas razões.
Primeira razão: o país deve retomar o crescimento em 2013 e não no ano eleitoral de 2014, enquanto que no penúltimo ano pré-eleitoral não houve retomada e houve até recessão, o que permitiu à oposição brandir a retração de 0,2% de 2009 na campanha de 2010.
Segunda razão: assim como o discurso sobre 2009 não empanou a sensação de bem-estar da população em 2010, em 2014 o “pibinho” de 2012 será história e o de 2013 deve ser no mínimo saudável, segundo já reconhecem mesmo os analistas da oposição.
Por fim, resta dizer que mesmo que a eleição fosse neste ano, com “pibinho” em 2012 e crescimento apenas médio em 2013, dificilmente isso iria interferir na visão que o brasileiro vem mantendo de que o governo impede que a crise chegue a si.
Trecho do Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) A Década Inclusiva (2001-2011): Desigualdade, Pobreza e Política de Renda permite entender melhor a questão.
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Numa sociedade de 10 pessoas, se 1 tem renda 10 e os 9 restantes tem renda 0; ou no extremo oposto, se 10 tem a renda igual a 1; o PIB é o mesmo. O PIB é uma medida de bem-estar social que por construção não se importa com as diferenças entre pessoas, apenas com a soma das riquezas produzidas”.
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Ora, o mesmo estudo mostra que a distribuição da riqueza, seja ela alguns pontos percentuais maior ou menor, é o que importa, pois é o que as pessoas sentem.
Nesse aspecto, segundo o Ipea, durante a última década o Brasil reduziu a desigualdade, fato que não ocorria de forma contínua e não chegava a índices tão baixos desde 1960, quando a série histórica começou a ser construída.
“Este é o menor nível de desigualdade da história documentada, embora o Brasil ainda seja desigual”, enfatizou o Pesquisador do Ipea Marcelo Néri. O Índice Gini, que mede a desigualdade, chegou a 0,527 em 2011 e em 2012 chegou a 0,519 – quanto mais próximo de 0, menos desigual é um país.
Em 2001, o Índice de Gini do Brasil era de 0,61 e, em 1960, era 0,535. Durante a ditadura militar a riqueza se concentrou fortemente, a desigualdade chegou a cair um pouco no início do plano real e depois, ao fim do governo FHC, voltou a subir.
Há anos que este blog vem dizendo que não é o nível do PIB e não é, apenas, o nível de emprego que mantêm o governo bem avaliado pelo eleitorado, mas a distribuição de renda.
Há alguns dias, algumas dezenas de manifestantes foram às ruas protestar contra Lula em São Paulo. Na quase totalidade, eram pessoas favorecidas pela sorte e que não se conformam com um fenômeno que a Era Lula-Dilma inaugurou no Brasil: distribuição de renda.
No imaginário do brasileiro remediado, que hoje é maioria, há uma elite branca e preconceituosa que quer tirar o PT do poder e pôr o PSDB porque é o partido que defende os interesses dos ricos. Até aqui, essa percepção não mudou uma vírgula. E não será “pibinho” que irá operar tal milagre.

sábado, 11 de agosto de 2012

Resistência a cotas explica desde a desigualdade até o mensalão

Durante a semana que finda, assisti reportagem do Jornal da Globo que se propôs a dar “dicas” sobre as profissões “em alta” no mercado e que ofereceu um dado absolutamente estarrecedor, ainda que não seja novo: o país tem enorme carência de profissionais em profissões absolutamente imprescindíveis ao crescimento econômico.
Um exemplo: faltam engenheiros a um país que, na contramão de um mundo em recessão, segue crescendo, ainda que, agora, em ritmo bem menor devido ao agravamento da crise econômica internacional.
O fato é que escasseiam profissionais com curso superior no país apesar do forte aumento do número de universitários nos últimos anos. Isso ocorre porque cursar universidade, por aqui, sempre foi privilégio da elite branca do Sul e do Sudeste. Foi assim que o Brasil chegou a ser um dos três países mais desiguais do mundo na segunda metade do século passado.
O gráfico que ilustra este texto explica a política no Brasil ao menos entre 1960 e 2012. Representa a Curva de Lorenz, desenvolvida pelo economista estadunidense Max O. Lorenz em 1905 para representar a distribuição de renda em regiões ou países.
O método é muito simples: quanto mais próximo de 1 maior é a desigualdade, e quanto mais perto de 0 é menor.
O Coeficiente de Gini, vale explicar, não é uma criação “petralha”. É calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – no Brasil, é apurado em parceria com o IBGE e com o IPEA.
Como se vê no gráfico, em 1960 a posição do Brasil no índice era de 0,5367. Durante a ditadura militar a desigualdade foi aumentando e mesmo após a redemocratização o país continuou promovendo concentração de renda chegando ao ponto máximo em 1990, cinco anos após o fim daquela ditadura.
A partir de 1990, a desigualdade começou a cair, ainda que de forma quase imperceptível. Entre aquele ano e 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, a desigualdade caiu de 0,6091 para 0,583. A partir de 2003, começou a cair em ritmo 3 vezes maior do que o preconizado pelo PNUD (ONU), chegando, ano passado, a 0,519 – inferior ao que vigia em 1960.
A queda da desigualdade brasileira durante o governo Lula, portanto, foi a maior em meio século – e, aliás, a maior da história do país em período tão curto (oito anos).
A correlação desses dados com a política é imensa. Como se vê, a ditadura militar veio para tornar o rico mais rico e o pobre mais pobre. E, após a ditadura, a situação melhorou muito pouco por mera falta de vontade política.
Durante os governos pós-redemocratização, mas anteriores à era Lula, a melhora da concentração de renda foi pífia apesar de ter caído timidamente durante a era FHC, quando chegou a subir um pouco e depois caiu de novo. Mas pouco, repito.
No período tucano no governo do Brasil, o índice caiu de 0,59 para 0,58, ou seja, quase nada. Eis a explicação para o fato de o PT ter vencido as três últimas eleições presidenciais: os três governos petistas vêm diminuindo a distância entre pobres e ricos como nunca antes na história deste país…
Os estudos do IBGE, do IPEA e do próprio PNUD também revelam um dos principais fatores para a maior concentração de renda a partir de 1964: houve um desmonte literal da educação pública.
A fim de cumprir o objetivo para o qual foi instalada, a ditadura tornou a educação de qualidade um bem das classes mais abastadas do Sul e do Sudeste, que são essencialmente de ascendência indo-europeia, ou seja, essencialmente brancas. Para ter boa educação escolar as famílias tinham que pagar caro, o que, obviamente, só estava ao alcance dos mais ricos.
Por conta disso, no começo da era Lula as universidades brasileiras – sobretudo as públicas – pareciam ser de países nórdicos. Os estacionamentos dessas instituições viviam repletos de carros de luxo e os corpos discentes eram de uma brancura de ofuscar os olhos, com seus olhos azuis e cabelos loiros.
A partir da década passada, porém, políticas públicas começaram a mudar essa situação.
Claro que o mérito maior para a queda acelerada da concentração de renda que o Brasil vem experimentando se deve ao Bolsa Família, mas a política reconhecidamente com maior potencial para mudar a ainda enorme concentração de renda no país é a que levou jovens pobres ao ensino superior.
Já dura quase uma década a política de cotas étnicas e sociais nas universidades públicas (sobretudo nas federais, como UFRG, UNB, UFRJ, UFBA e outras). Além das cotas há o Prouni, que permitiu aos jovens pobres chegarem a universidades privadas com financiamento federal.
No início, há quase uma década, quando o governo Lula trouxe para o Brasil a política afirmativa de inspiração norte-americana que criou uma classe média negra nos Estados Unidos, a elite branca do Sul e do Sudeste reagiu com ira e passou a propagar “criações mentais” (expressão em alta) sobre “prejuízo acadêmico”.
Mas o que seria esse “prejuízo acadêmico”?
Grandes grupos de mídia como as Organizações Globo, o Grupo Folha, o Grupo Estado, a Editora Abril e partidos políticos como DEM e PSDB abriram guerra contra o governo Lula valendo-se da teoria de que ao levar estudantes de escolas públicas para as universidades isso faria baixar o nível acadêmico delas.
A teoria demo-tucano-midiática era a de que, por terem formação escolar inferior, esses estudantes das escolas públicas – que, em maioria esmagadora no país, são negros – tornar-se-iam profissionais medíocres e não conseguiriam acompanhar os estudantes brancos egressos da escola particular, que proliferou durante a ditadura de forma a dar aos mais ricos chances melhores na vida.
O DEM, aliás, chegou a entrar na Justiça contra as políticas afirmativas petistas (cotas e Prouni) alegando que o governo federal estaria cometendo uma injustiça contra os brancos ricos das escolas particulares. O processo foi parar no STF e ali foi derrotado.
Ao mesmo tempo, a teoria sobre “prejuízo acadêmico” que seria gerado por jovens negros e pobres às universidades de elite (que, no Brasil, são as públicas, ou seja, financiadas pelos impostos sobretudo dos mais pobres), desmoronou.
Universidades como UFRG, UNB, UFRJ, UFBA e outras começaram a formar turmas de cotistas oriundos da escola pública e negros e o que se viu foi que não só tiveram o mesmo desempenho acadêmico que os egressos brancos das escolas particulares como, em alguns casos, até os superaram, sem falar que os cotistas abandonam menos os cursos, enquanto que os não-cotistas lideram as desistências.
Após a direita demo-tucano-midiática ter perdido a ação no STF contra as cotas e o Prouni, nesta semana perdeu no Legislativo – o Senado aprovou a política de cotas nas universidades federais. A mídia e os partidos de oposição reagiram, pois essa aprovação é ainda pior do que a derrota na Justiça porque materializa a política de cotas.
Não foi por outra razão que começaram a pipocar reações. Associações de escolas particulares prometem questionar na Justiça a política de reserva de vagas para negros e egressos de escolas públicas. Todavia, não passa de jogo político porque a instância máxima do Judiciário já rejeitou esse questionamento sobre as cotas serem injustiça de negros pobres contra brancos ricos.
No âmbito dessa gritaria política, a mídia ressuscita a teoria sobre “prejuízo acadêmico” que seria gerado pelos cotistas e abafa o contraditório e os próprios fatos.
Nos jornais ligados ao PSDB e ao DEM, as colunas de leitores e os colunistas voltam à carga contra as cotas com argumentos como o de que os cotistas rebaixariam o nível das universidades apesar de as experiências com a política afirmativa do PT mostrarem que os cotistas chegam a superar os não-cotistas.
Estabelecida a correlação entre a política de cotas e a queda da desigualdade mais intensa na era Lula, sobra outra correlação que o leitor certamente ainda não entendeu. Que relação têm as cotas com o mensalão?
Ainda na semana que finda, jornalistas respeitados como Janio de Freitas, da Folha, e até o ministro do STF Joaquim Barbosa ressaltaram como a mídia trata diferentemente os mensalões tucano e petista – o primeiro é abafado e o segundo vira “reality show”.
Ora, por que a mídia não gosta do PT a ponto de ser seletiva ao cobrir casos de corrupção desse partido? Afinal, todos sabem que nunca os ricos ganharam tanto quanto na era petista, ainda que não mais ganhem sozinhos.
Essa ojeriza ao PT ocorre simplesmente porque a mídia, o DEM e o PSDB representam os setores abastados da sociedade que impuseram ao Brasil uma ditadura militar que concentrou renda valendo-se da Educação como instrumento de injustiça social.
Por isso é que o mensalão tucano está sendo abafado enquanto a mídia transforma o julgamento do mensalão petista nesse espetáculo circense que todos estão vendo. Tenta, assim, convencer o país de que o PT encerra mais corrupção do que os partidos que defendem os interesses da elite branca do Sul e do Sudeste.
Simples assim.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Inflação: Tombini desmoraliza Urubóloga


Depois dizem que o Conversa Afiada persegue a Urubóloga.

Na verdade, como se vê no post do Fernando Brito, ela é quem se persegue a si mesma !

Saiu no Tijolaço:

Análise econômica ou mau-agouro?

“Houve pressões explícitas, e o Banco Central cedeu. Tentou convencer que a decisão (de baixar os juros) foi tomada de forma técnica. Não convenceu. A deterioração do quadro externo justificaria manter os juros para esperar para ver. Até porque, mesmo reduzindo o ritmo de crescimento do mundo, a inflação não está cedendo.”


O comentário aí, da simpática Miriam Leitão, tem apenas seis meses.


É só olhar o gráfico aí de cima e se verá que não somente a inflação cedeu como, naquele início de setembro, logo após a decisão do BC de começar a reduzir os juros, já vinha cedendo.


Hoje, se algum exagero houve, certamente não foi o de baixar os juros, mas o ter exagerado na alta que vinha desde o final de 2010.


A inflação acumulada no primeiro bimestre do ano (0,19%) – 0,25% em janeiro e – 0,06% em fevereiro – só perde, em toda a história brasileira, para a de janeiro/fevereiro de 2009, quando o Brasil vivia a ressaca da crise do final de 2008 e nossa economia, ao contrário de agora, encolhia.


As previsões de estagnação feitas para a economia brasileira este ano têm o mesmo valor que tinham as de explosão inflacionária naquele momento de 2011. Podem ser mau-agouro, análise da economia é que não são.


Mas essa gente continua pontificando, proferindo suas verdades como se não tivessem de dar conta de seus erros crassos em fazer previsões.


Hoje, em seu comentário na CBN, a mesma analista fecha seu texto com a seguinte observação:


“Será que o BC aceitará mais inflação? Isso vai bater mais no nosso bolso? É isso que nos interessa. O BC, hoje, parece mais tolerante. O IPCA em 12 meses está caindo, o que é bom. Não podemos nos preocupar  com a inflação, porque esse desafio foi vencido. Temos de enfrentar os demais que existem em outras áreas.”



Nesta terça-feira, num depoimento no Senado, Tombini previu que o PIB vá subir e a inflação vá cair.
Vai ficar mais perto do centro da meta de 4,5%.
Os “analistas” da GloboNews e das empresas de consultoria que trabalham para bancos estão “céticos”.
Mas, a Bolsa subiu, com eles ou sem eles !
Enquanto isso, no Valor, Delfim Netto prevê que a economia cresça este ano entre 4% e 4,5%:
Nos últimos dois meses, três mudanças foram importantes:
1ª) com relação ao misterioso “produto potencial” parece que agora o “mercado” aceita que ele anda às voltas de 4,5%;
2ª) o Banco Central quis saber do sistema financeiro como ele calcula a taxa de juros “neutra”;
e 3ª) houve uma melhora dos humores do setor privado em matéria de confiança no governo. Isso, somado aos sinais positivos do IBC-Br de novembro e dezembro mostra que, se tivermos disposição de fazê-lo, um crescimento de 4% a 4,5% em 2012 não está fora do radar, mesmo porque ele é bissexto !

Paulo Henrique Amorim