Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 20 de maio de 2013

POR QUE A EUROPA FOI PARA O SACO. CULPA DA URUBÓLOGA ! “Austeridade”, “juros altos” … isso é papo de credor.



Neste fim de semana, o ansioso blogueiro teve o raro prazer de ler de Paul Krugman no ensaio “como a defesa da austeridade econômica foi para o saco (tradução não literal)”, na última edição da The New York Review of Books.

As setas inflamadas de Krugman apontaram para o peito de Kenneth Rogoff, que foi do FMI e do Banco Central americano, e se tornou o máximo-guru da teoria neolibelês (*).

Os Estados Unidos e o PiG (**) brasileiro levam o Rogoff muito a sério.

E a Europa também, a ponto de seu último trabalho, “Crescimento em tempo de dívida”, ser citado pelos fundamentalistas dos juros nos bancos centrais e instituições monetárias, depois que a Grécia quebrou.

Krugman mostra que, depois da crise de 2008, os Estado Unidos e a Europa até que tentaram algum keynesianismo, alguma intervenção: fazer o Estado gastar para criar demanda.

Krugman explica de forma trivial a necessidade de uma intervenção estatal em tempo de crise, com o princípio da interdependência: o seu gasto é a minha renda; o meu gasto é a sua renda.

Se nós dois tentarmos pagar a dívida com a redução dos gastos, a renda dos dois vai cair.

E essa redução da renda pode aumentar a nossa dívida, além de produzir desemprego em massa.

Contra essa obviedade desconcertante, Rogoff e Carmen Reinhardt demonstraram de forma categórica que a Histórica não perdoou a economia que tivesse uma dívida correspondente a 90% do PIB.

Passou dos 90% – como tinha sido o caso da Grécia -, a economia ia pro brejo !

(A do Brasil está perto de 50% do PIB.)

Essa “descoberta” assustadora ajudou a reverter as políticas econômicas suavemente expansionistas nos Estados Unidos e da Europa.

Dívidas, jamais !

E passaram todos a cortar os gastos de forma radical: Grécia, Espanha, Portugal … uma carnificina atrás da outra.

E o desemprego se tornou em massa: 25 milhões na Europa !

60% dos jovens espanhóis !

Até que Thomas Herndon, estudante de graduação  da Universidade de  Massachusetts, Amherst refez os cálculos do Rogoff e descobriu um erro primário: o jenial neolibelês (*) errou a “planilha Excel”.

Um pecado ginasiano !

A teoria dos 90% desabou sob o peso da arrogância.

Krugman demonstra que não há relação entre mais dívida e menos crescimento.

É papo neolibelês sem fundamento histórico.

Aí, vem a tese de Krugman para explicar por que a tese furada do Rogoff foi aceita tão rápido quanto radicalmente.

Porque há uma lógica que os brasileiros conhecem de cor e salteado.

Cortar investimentos e privatizar.

Assim, os Governos fazem caixa e pagam os bancos.

De quebra, juros altos.

Para engordar os bancos.

É uma política para os credores.

E os devedores que se lixem.

Na fila do desemprego.

Enquanto não acabam com o seguro-desemprego.

Em tempo: no Brasil, os fundamentalistas dos juros têm à frente a Urubóloga, que, como se sabe, foi o melhor pensador neolibelês que o Brasil conseguiu produzir. Não chega a ser um Rogoff, mas tenta.

Em tempo 2: como lembra o Bessinha, o Pinochet e o Videla foram pioneiros do neolibelismo (*) – e outros crimes – na América Latrina.


Paulo Henrique Amorim


(*) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

OUTUBRO: NOVO MARCADOR HISTÓRICO? Forte repressão no Chile. Nova greve geral é convocada

 
Colapso do neoliberalismo passa a ser decidido nas ruas.  Primeira semana de outubro reúne ingredientes de um ponto de mutação: greve geral na Grécia põe em xeque a solução ortodoxa para a crise; ascensão fulminante dos indignados nos EUA instala a contestação  ao neoliberalismo no coração do sistema financeiro internacional e pauta a sucessão de Obama. Passeatas de desempregados na Espanha  afrontam a rendição socialdemocrata aos 'livres mercados'. Radicalização  política no Chile desmascara a 'direita moderna da AL' em sua vitrine mais festejada. A maior greve bancária brasileira em duas décadas desmente acomodação sindical e expõe lucros obscenos do poder financeiro. PT fará seminário sobre regulação da mídia.
(Carta Maior; 6ª feira,07/10/ 2011)
 
 
 

A quinta-feira terminou com números panelaços em protesto contra a nova jornada de repressão que fez lembrar os piores momentos da ditadura de Pinochet. Enquanto isso, outra vez, as barricadas acendiam no meio da noite, dando conta de um movimento que vai mais além da mobilização dos estudantes e que envolve toda uma sociedade que reclama mudanças em modelo que está fazendo água não só no Chile, mas no mundo inteiro. Contra a repressão, estudantes e trabalhadores convocam nova greve geral para o dia 19 de outubro. A reportagem é de Christian Palma, direto de Santiago.

A pesar de não terem sido autorizados pela prefeitura para marchar pela capital chilena, os estudantes se reuniram assim mesmo, quinta-feira, na Praça Itália, tradicional ponto de encontro nestes cinco meses de ocupações e greves, para iniciar uma nova caminhada denunciando a intransigência do governo de Sebastian Piñera, sobretudo na última reunião entre ambas as partes, que culminou com a saída dos estudantes da mesa de diálogo, após o Ministério da Educação reafirmar que a educação no Chile não pode ser grátis.

A líder universitária, Camila Vallejo, junto com um grupo de dirigentes e estudantes, encabeçava a marcha portando um lenço com a frase “Unidos com + força”. No entanto, poucos minutos após o início da marcha, os manifestantes foram reprimidos por um carro com jatos d’água, dos carabineiros, que acabou com a manifestação que estava apenas começando.

Esse fato deu início a duros enfrentamentos entre estudantes e carabineiros em diferentes pontos de Santiago, sobretudo em frente à Universidade Católica, à Universidade do Chile, ao Instituto Nacional (colégio secundário mais importante do Chile) e nas cercanias do Palácio de La Moneda, em pleno centro de Santiago, onde um grupo de jovens com o rosto coberto (encapuzados) instalaram barricadas na principal avenida da capital, a Alameda, provocando a aparição imediata da polícia que os esperava para entrar em ação. E fez isso com força. A polícia reprimiu a todos por igual, aos que faziam desordens, aos estudantes inocentes e as pessoas comuns que passavam pelo lugar naquele momento. Foram cinco horas de luta contínua que deixou 150 detidos e vários feridos, entre civis e policiais.

A ruptura da mesa de diálogo pela educação, que não apresentou nenhum avanço na direção de uma educação gratuita e de qualidade, segue unificando os jovens que ontem também rechaçaram a repressão aplicada pelo governo contra os manifestantes.

Neste cenário, a Confederação de Estudantes do Chile (Confech), representada pelos porta-vozes Camila Vallejo e Camilo Ballesteros, juntamente com o presidente da Central Unitária dos Trabalhadores (CUT), Arturo Martínez, e o presidente do Colégio de Professores, Jaime Gajardo, anunciaram que continuarão com as mobilizações e convocarão uma nova greve nacional para o dia 19 de outubro.

“Resolvemos convocar para a próxima semana a todas as organizações sociais, culturais, sindicais, ecologistas e profissionais para uma mobilização. Convocamos a todas as organizações que estão contra a repressão”, disse Martínez.

A respeito do balanço sobre a jornada de quinta-feira, a totalidade dos dirigentes que convocaram a greve geral nacional coincidiram em classificar a ação do governo como uma das mais violentas e repressivas até agora. “Lamentamos novamente como o governo decidiu enfrentar o movimento. A prefeitura deu-lhes liberdade absoluta para reprimir, para evitar reuniões nos espaços públicos e essas coisas são inaceitáveis, porque violam uma liberdade constitucional, assinalou Camila Vallejo.

Do outro lado, a prefeita de Santiago, Cecília Perez, qualificou os dirigentes do movimento como “responsáveis pelos desmandes”. Nesta linha, Camila Vallejo respondeu que a “Prefeitura não só deu à polícia, conscientemente, absoluta liberdade para reprimir e não permitir que a manifestação avançasse pela Alameda, como também para impedir que as pessoas se reunissem nos espaços públicos”. A dirigente estudantil chamou a todos os chilenos “para apoiar o movimento e para manifestar repúdio a essa repressão”.

Na noite de quinta, na televisão, o ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter, defendeu o Projeto de Lei denominado “antitomas”, firmado pelo presidente Sebastian Piñera no domingo passado, que estabelece sanções para aqueles que tomem de forma violenta edifícios públicos e privados, ou que participem de saques e desordens públicas. “Estamos seguros que representamos a grande maioria dos chilenos e chilenas. Aqueles que saqueiam com força e violência um pequeno armazém, uma escola, um hospital, uma igreja, estão cometendo um delito”, afirmou.

A quinta-feira terminou com números panelaços em protesto contra a nova jornada de repressão que fez lembrar os piores momentos da ditadura de Pinochet. Enquanto isso, outra vez, as barricadas acendiam no meio da noite, dando conta de um movimento que vai mais além da mobilização dos estudantes e que envolve toda uma sociedade que reclama mudanças em modelo que está fazendo água não só no Chile, mas no mundo inteiro.

Tradução: Katarina Peixoto

 
 
 

 
 
 
 
 

 
 
 
 
 

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

'Brasil é exemplo e tem governo progressista bem visto'



Líder estudantil chilena participa em Brasília de marcha brasileira por mais dinheiro na educação. Ameaçada de morte em seu país, ela diz se sentir mais segura no Brasil do que no Chile. “Há união de lutas de todo povo latino-americano", diz Camila Vallejo à Carta Maior, antes de voltar a seu país para encontrar o presidente Sebastian Piñera.

BRASÍLIA – A estudante de geografia Camilla Vallejo desembarcou no Brasil, vinda do Chile, na madrugada de terça (30/08) para quarta-feira (31/08), deixando para trás, mesmo que só por poucas horas, ameaças de morte que nem seus olhos verdes e o ar angelical foram capazes de desestimular.

Principal líder de manifestações que, nos últimos dias, levaram centenas de milhares de estudantes às ruas de Santiago, a presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECh) anda tranquila pela Esplanada dos Ministérios. Exceto pelo calor e o sol inclemente, dos quais tenta se proteger com um boné vermelho do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

Na manhã de quarta, ela participa de – e ajuda a atrair atenção para - uma mobilização de jovens brasileiros que exige mais verba à educação. “Me sinto muito mais segura aqui do que no Chile, não há repressão policial”, diz Camila à Carta Maior, em frente ao Congresso Nacional, onde um carro de som anima, com palavras de ordem e músicas, milhares de estudantes brasileiros.

“Há uma união das lutas de todo povo latino-americano. Há uma causa comum e demandas muitas vezes parecidas, principalmente no tema econômico”, afirma Camila, ao explicar a presença no ato, uma espécie de retribuição à ida a Santiago, dias atrás, de seu equivalente brasileiro, Daniel Iliescu, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).

“O que você acha do Brasil e do governo brasileiro?”, pergunta a reportagem, em espanhol precário.

“O Brasil é um bom exemplo para o Chile, tem um governo progressista muito bem visto”.

“E da presidenta Dilma?”

“Sou militante comunista e conheço o passado militante dela, vejo ela com simpatia.”

“Qual o saldo das manifestações no Chile até agora?”

“Logramos despertar a consciência política, o assunto passou a ser discutido dentro das casas, como não se fazia há décadas.”

Horas depois, com mais calma, Camila dará um depoimento mais completo, em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Presidida por uma ex-líder estudantil, Manuela Dávila (PCdoB-RS), a comissão realiza a audência em solidariedade aos chilenos.

“A legislação chilena regulamenta o direito de manifestação pacífica nas ruas, sem necessidade de autorização prévia, e mesmo assim a polícia, completamente militarizada, tem combatido os estudantes e trabalhadores com violência, usando gás lacrimogêneo, que, no nosso país, é considerado arma de guerra”, conta Camila.

“Já são quatro vítimas fatais desde o início dos protestos e pelo menos 500 pessoas presas de forma ilegal. Temos relatos também que indicam a prática de tortura, inclusive com choque elétrico e abuso sexual de menores.”

A criminalização dos movimentos sociais, tratados como os causadores da violência que assola o país, também incomoda a militante. “Todo o movimento organizado chileno sofre com a violência psicológica provocada pelo discurso político do governo, que nos acusa de sermos culpados pelas mortes e ferimentos dos nossos próprios companheiros”, relata.

Para Camila, a rápida adesão do Chile ao neoliberalismo, na ditadura Pinochet (1973-1990), liquidou com o sistema de proteção social do país e colocou em risco o acesso dos cidadãos a direitos considerados fundamentais nas sociedades democráticas. “Hoje, no Chile, a educação é tratada como um bem de consumo qualquer, e não como um direito social”, diz.

“A situação dos estudantes brasileiros é melhor do que a dos chilenos porque eles conseguiram uma interlocução real com a sociedade e com o governo. E, com isso, obtiveram conquistas, mesmo que pequenas. No Chile, só agora conseguimos construir uma pauta conjunta com a sociedade. Nosso modelo educacional está falido, obsoleto e isso incomoda a maioria das famílias chilenas. Só uma parcela muito pequena da população tem acesso à educação gratuita”, afirma a estudante de geografia.

Segundo ela, das cerca de 3,5 milhões de matrículas na educação básica, metade está atrelada ao sistema de subvenção estatal, por meio de créditos educacionais. “Só as famílias muito pobres têm direito à educação pública. A classe média, que é a maioria, recebe bolsas do governo.  Com isso, o governo investe o pouco dinheiro que destina à área no setor privado. E há, aí, um claro conflito de interesses, porque muitos políticos são também os proprietários do sistema privado de educação”, esclarece.

A estudante afirma que a situação é ainda pior nos demais níveis. No ensino médio, as instituições privadas abarcam metade dos alunos. No superior, o índice chega a 80%. “Apenas 20% dos estudantes universitários estão nas instituições públicas, mas mesmo assim têm que pagar pelo ensino. Não existe mais educação superior gratuita no Chile. E os custos são altíssimos. Um curso em uma instituição pública chega a custar US$ 5 mil por mês”, afirma Camila.

Para garantir que uma pequena parte das famílias de classe média e baixa tenha acesso à educação, o governo oferece subvenção, por meio de um complicado sistema de crédito, que os alunos têm que pagar posteriormente. Os juros são altos e inviabilizam a quitação para recém-formados que disputam a tapas uma vaga no mercado de trabalho do país: estudantes das universidades públicas pagam 2% de juros ao ano e, das particulares, 5,8%. “Com esse sistema, os alunos pagam de três a quatro vezes o preço do curso”

Para ela, o problema principal, entretanto, é a concepção de educação que prevalece no atual governo. “As instituições públicas têm que se autofinanciar e, para isso, não apenas cobram mensalidades, como entram no jogo de oferecer o ensino que o mercado quer. Não há uma formação humanística, crítica, que estimule a prática democrática, mas apenas uma formação tecnicista, mercadológica. Por isso, necessitamos de reformas profundas, e não apenas de mais recursos para a área”.

Na noite de quarta (31/08), Camila encerra a visita ao Brasil. Tem de voltar logo ao Chile, para um encontro com o presidente Sebastian Piñera.

*Matéria alterada para correção de informação. Em função do atraso na reunião da UNE com a presidenta, Camila não participou do encontro, por estar em audiência pública na Câmara.


Fotos: Uma das principais líderes do movimento estudantil chileno,Camila Vallejo, participa da Marcha dos Estudantes, organizada pela União Nacional dos Estudantes (UNE), em Brasília (Foto: Wilson Dias - ABr)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

ESTUDANTES E OPERÁRIOS JUNTOS NO CHILE: 1º GREVE GERAL DESDE A DITADURA PINOCHET

ESTUDANTES E OPERÁRIOS JUNTOS NO CHILE: 1º GREVE GERAL DESDE A DITADURA PINOCHET
Barricadas nas ruas, pneus em chamas e protestos em vários pontos do país marcam a greve geral de 48 horas,  a primeira mobilização desse porte desde a ditadura Pinochet, convocada conjuntamente pela CUT chilena e por estudantes. Embora o presidente Sebástian Piñera assegure que nada parou, fontes de seu próprio governo estimam em US$ 400 milhões os prejuízos com a greve. Mineiros do cobre, o maior contingente operário do mundo nesse segmento, apóiam a greve. Aeroviários do aeroporto internacional de Santiago também se mobilizam em solidariedade. A pressão popular por reformas --educacional, econômica e política--  atingiu seu ápice no último fim de semana quando milhares de famílias de classe média marcharam com os estudantes em vários pontos do país em apoio à luta por um sistema de ensino público, gratuito, de qualidade. O Chile tem a maior renda per capita da America Latina, cerca de US$ 14 mil. Mas é uma sociedade fraturada por iníqua desigualdade--a 4º pior da AL--  herdada da política neoliberal avant la lettre implantada em 11 de setembro de 1973 pela ditadura Pinochet. Os 20% mais ricos têm uma renda 14 vezes maior que a média dos 20% mais pobres. A educação é paga; praticamenre não existe universidade pública. O Chile levou a serio o projeto do Estado mínimo com isenções fiscais máximas aos ricos, receita que esfarela em todo o mundo nesta crise. A carga fiscal das empresas é de 17% contra 35% no Brasil. Em vez de serviços públicos, negócios privados. As mobilizações estudantis que contagiaram  a classe media e, agora, os trabalhadores, simbolizam um acerto de contas com esse modelo. O milionário Piñera, 'a direita moderna', é parte dele. Foi   eleito em 2010 com ampla abstenção de uma juventude tida até então como uma das mais apáticas de toda AL. A ala mais dura do seu  governo, com ministros egressos diretamente do pinochetismo defendeu a aplicação da Lei de Segurança Nacional contra os grevistas. Seu temor é que a evolução dos protestos possa desembocar no próximo dia 11 de setembro, aniversário do golpe,em contestação aberta ao governo.


ESTUDANTES E OPERÁRIOS JUNTOS NO CHILE: 1º GREVE GERAL DESDE A DITADURA PINOCHET 
Barricadas nas ruas, pneus em chamas e protestos em vários pontos do país marcam a greve geral de 48 horas,  a primeira mobilização desse porte desde a ditadura Pinochet, convocada conjuntamente pela CUT chilena e por estudantes. Embora o presidente Sebástian Piñera assegure que nada parou, fontes de seu próprio governo estimam em US$ 400 milhões os prejuízos com a greve. Mineiros do cobre, o maior contingente operário do mundo nesse segmento, apóiam a greve. Aeroviários do aeroporto internacional de Santiago também se mobilizam em solidariedade. A pressão popular por reformas --educacional, econômica e política--  atingiu seu ápice no último fim de semana quando milhares de famílias de classe média marcharam com os estudantes em vários pontos do país em apoio à luta por um sistema de ensino público, gratuito, de qualidade. O Chile tem a maior renda per capita da America Latina, cerca de US$ 14 mil. Mas é uma sociedade fraturada por iníqua desigualdade--a 4º pior da AL--  herdada da política neoliberal avant la lettre implantada em 11 de setembro de 1973 pela ditadura Pinochet. Os 20% mais ricos têm uma renda 14 vezes maior que a média dos 20% mais pobres. A educação é paga; praticamenre não existe universidade pública. O Chile levou a serio o projeto do Estado mínimo com isenções fiscais máximas aos ricos, receita que esfarela em todo o mundo nesta crise. A carga fiscal das empresas é de 17% contra 35% no Brasil. Em vez de serviços públicos, negócios privados. As mobilizações estudantis que contagiaram  a classe media e, agora, os trabalhadores, simbolizam um acerto de contas com esse modelo. O milionário Piñera, 'a direita moderna', é parte dele. Foi   eleito em 2010 com ampla abstenção de uma juventude tida até então como uma das mais apáticas de toda AL. A ala mais dura do seu  governo, com ministros egressos diretamente do pinochetismo defendeu a aplicação da Lei de Segurança Nacional contra os grevistas. Seu temor é que a evolução dos protestos possa desembocar no próximo dia 11 de setembro, aniversário do golpe,em contestação aberta ao governo.

**a Confederação Geral Italiana do Trabalho, CGIT , a maior central do país, convoca greve geral para  6 de setembro contra o pacote de arrocho fiscal anunciado por Berlusconi**caem as encomendas à indústria na zona do euro** aumentam os estoques industriais no Brasil**Abdel Jalil, dirigente da CNT, órgão máximo dos rebeldes líbios, oferece anistia 'por qualquer crime cometido' a quem assasinar Kadafi ** persistem combates em Trípoli.
(Carta Maior; 4º feira, 24/08/ 2011

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

120 mil pessoas dizem não à educação de Pinochet - Piñera



A bandeira de luta – que se mescla com as dos trabalhadores do setor de mineração do cobre, dos desempregados, dos ecologistas, dos sufocados pelo sistema creditício, entre outros milhares de anônimos cansados dos abusos – é o fim da lógica de mercado no setor, além da volta da gratuidade da educação pública para os setores de menor renda da população. Cerca de 200 mil pessoas saíram tranquilamente às ruas do país para protestar contra um governo de direita que já não os representa. O artigo é de Christian Palma, direto de Santiago de Chile.

Mais de 120 mil pessoas participaram da última marcha convocada pelo movimento estudantil – já foram sete desde que começaram as ocupações e greves em colégios e universidades – que exige uma reforma estrutural no modelo educacional vigente no Chile há mais de 30 anos. A bandeira de luta – que se mescla com as dos trabalhadores do setor de mineração do cobre, dos desempregados, dos ecologistas, dos sufocados pelo sistema creditício, entre outros milhares de anônimos cansados dos abusos – é o fim da lógica de mercado no setor, além da volta da gratuidade da educação pública para os setores de menor renda da população. Cerca de 200 mil pessoas saíram tranquilamente às ruas do país para protestar contra um governo de direita que já não os representa.

A nova mobilização demonstrou a ampliação do apoio aos estudantes e o suporte que sustenta um movimento que já dura dois meses e que se fortaleceu com o apoio de 80% da sociedade às reivindicações estudantis, segundo as pesquisas.

E os números se concretizaram nas ruas. Na manifestação desta terça-feira, participaram também alunos de colégios privados do setor mais acomodado de Santiago, diversos professores, apoderados, trabalhadores públicos e representantes de sindicatos empresariais que aumentaram sua solidariedade com os estudantes, após a feroz repressão do governo de Sebastian Piñera na semana passada. Foram detidos mais de 600 jovens, devido à estratégia das autoridades de não autorizar a marcha para aumentar a raiva e criminalizar o movimento social.

O dia ensolarado de ontem ajudou a criatividade dos estudantes. Jovens disfarçados como o ex-presidente Salvador Allende, simbolizavam o que era o Chile antes do golpe militar de 1973: uma sociedade menos opulenta no consumo de bens e serviços, mas com um sistema educacional grátis para todos. “E vai cair, a educação de Pinochet”, escutava-se em meio à fila interminável de manifestantes”. Algumas quadras além, um avô mostrava com orgulho um cartaz que dizia: “marcho para que meus netos tenham educação gratuita como eu tive”.

O eixo das reivindicações do movimento estudantil é justamente uma demanda estrutural que foi bloqueada por décadas, desde o governo militar, passando pelos governos da Concertação. Por isso, nos desfiles de cada marcha, encontram-se grandes bonecos que são réplicas dos últimos quatro presidentes desde que, em 1990, o Chile retornou à democracia, representando as reformas cosméticas feitas na educação, aprofundando a participação do setor privado em um bem social.

Esse é também um dos motivos pelos quais a paciência dos cidadãos e estudantes está se esgotando: os bancos são os grandes protagonistas na histórica do lucro na educação, porque com o papel subsidiário do Estado, imposto por Pinochet, o setor financeiro privado pode administrar os recursos fiscais aplicados em uniformes para os jovens, mas com a cobrança adicional de juros mensais superiores inclusive aos cobrados sobre créditos imobiliários. Juan, um jovem formado em Direito, afirmava com outro cartaz: “estudei 5 anos e terei que pagar 20”.

Outras jovens universitárias, carregando uma bandeira chilena, reclamavam a mesma coisa: “É a mesma coisa que se eu tivesse comprado uma casa”, dizia uma delas.

Atualmente, mais de 100 mil estudantes encontram-se em situação de inadimplência, com uma dívida média de 2.700.000 milhões de pesos chilenos (mais de US$ 5.000). Em um país em que mais de um milhão de pessoas recebe por mês salários mínimos de US$ 377, é perfeitamente possível entender como os mais pobres ficam fora da universidade, enquanto que as classes medidas ficam empobrecidas por décadas.

O desenvolvimento das chamadas universidades-empresa é a cereja do bolo, uma vez que funcionam por meio de direções privadas que não asseguram a adequada informação de qualidade e transparência. Nelas, a gestão da educação obedece à lógica do baixo custo em salários de professores e material acadêmico, e altas receitas das mensalidades, usufruindo dos subsídios de educação fornecidos pelo Estado.

Uma estória a parte neste processo de aperta/afrouxa entre a sociedade civil e o governo de direita é a resposta mínima do presidente Piñera às demandas estudantis. Até o momento, foram feitos tíbios anúncios de maiores recursos (US$ 4 bilhões), sem detalhar, porém, como e a forma de financiamento.

Mostrando o figurino da ortodoxia neoliberal da atual administração, os ministros do setor econômico descartaram uma eventual reforma tributária para aumentar os impostos das empresas, o que significou jogar gasolina no fogo dos estudantes.

A jornada desta terça foi marcada por outro elemento que fez lembrar os piores momentos perpetrados pela ditadura de Pinochet: os supostos “infiltrados” da polícia chilena nas mobilizações.

Segundo as lideranças estudantis, em cada marcha há policiais à paisana nas ruas para incendiar os ânimos e agitar as marchas. Essa suspeita se fortaleceu em Valparaíso, cidade-porto onde se localiza o Congresso Nacional. Durante a marcha, um grupo de manifestantes identificou, denunciou e perseguiu um possível policial infiltrado, que escapou, escondendo-se no Congresso. As autoridades do governo garantiram que investigarão este fato a fundo.

Todos esses temas de fundo cruzam cada marcha dos estudantes chilenos, temperadas agora pelos chamados “panelaços” em apoio às mudanças estruturais na educação realizados por milhões de chilenos há uma semana em todas as cidades do país, tal como se fazia nos protestos contra a ditadura de Pinochet nos anos 80. As únicas pessoas que não ouviram essas demandas trabalham no Palácio de La Moneda, onde o presidente Piñera ainda não se pronunciou.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

O CHILE SE REENCONTRA NAS RUAS

**bolsas européias voltam a cair mesmo com o sinal do BC norte-americano de comprimir os juros por mais dois anos** mercados não acreditam mais na sua própria capacidade de superar a recessão** falta um plano Marshall para a zona do euro e um New Deal para os EUA asfixiados pelo neoliberalismo fiscal do Tea Party.
Mobilização da juventude do Chile por reforma drástica no sistema educacional herdado de Pinochet --a favor da universalização do ensino público totalmente gratuito e de qualidade, põe em xeque a supremacia da lógica de mercado instaurada no país desde o golpe sangrento de 1973.A educação é o ponto de convergência desse reencontro dos chilenos com o debate sobre o seu presente e o seu futuro. Diz respeito não apenas ao destino das novas gerações. Mas à sociedade na qual se deseja viver e aos valores compartilhados sobre os quais ela deve se sustentar. O sistema educacional chileno trazido do pinochetismo diz que o presente e o futuro são mercadorias que devem gerar lucro. Não há exceção à bíblia neoliberal implantada avant la lettre pelos tanques e caças, em 1973: a sorte e o destino da sociedade devem ser modelados pela inexcedível capacidade dos mercados de alocar fatores ao menor custo, com maior eficiência. A democracia é um adereço num mundo autorregulável. A escola é uma peça da engrenagem. A universidade e todo aparato educacional – seus currículos e critérios de acesso-- prestam-se ao propósito de adestrar corações e mentes para a demanda mercantil . Não há pertinência em debater um projeto de país. Tampouco espaço para uma universidade que reflita, pesquise e opine sobre a democracia e o desenvolvimento. No Chile não há universidade pública porque não há soberania democrática sobre o interesse público. As famílias pagam pela mercadoria educacional, assim como foram instadas a privatizar a sorte da velhice e demais instâncias da vida social. Não por acaso, o desinteresse pela vida política só fazia crescer no país. Dos 12,2 milhões de chilenos maiores de 18 anos, só 7,2 milhões votaram no pleito de janeiro de 2010 que elegeu o bilionário direitista Sebástian Pinera. A participação de chilenos com menos de 30 anos de idade no escrutínio foi de apenas 9,2%, contra 35% em 1988. A plataforma dos estudantes vocaliza um sentimento crescente de que a captura da esfera pública pelo lucro privado não serve mais aos chilenos. Desde a semana passada, em bairros de classe média de Santiago, como Nunoa, as noites são de panelaços em apoio aos estudantes. Os mineiros do cobre estão em greve pela participação na renda de um negócio milionário que destina 10% do lucro ao Exército. Há poucos dias, o trânsito de Santiago foi interrompido por um movimento espontâneo de passageiros cansados dos atrasos em um sistema de transportes desregulado. A paradoxal vitória de um Presidente egresso do pinochetismo há pouco mais de 18 meses –saudado pela mídia reacionário brasileira como sintoma de guinada na América Latina, que hoje conta com apenas 26% de apoio na opinião pública-- apenas confirma a percepção de uma ruptura em marcha. Se há tão pouco tempo a sociedade chilena não encontrava alternativa melhor para governa-la hoje esse vácuo foi superado : o Chile se reencontrou nas ruas. Nelas sedimenta um novo rosto e um novo ciclo na sua rica história política. Toda América Latina ganha com isso.
(Carta Maior; 4º feira, 10/08/ 2011)

terça-feira, 7 de junho de 2011

O PERU SUMIU DA MÍDIA:

A mídia ofuscou completamente a vitória de Ollanta Humala, no Peru, um acontecimento político cuja importancia simbolica extrapola a fronteira regional. Embora apertada, a vitória da centro-esquerda peruana abre uma falha na regressão conservadora em marcha no mundo, sobretudo na Europa, reafirmada com a vitória da direita em Portugal, mas ensaiada também na América Latina, com a ascensão  do neo-pinochetismo de Sebastián Pinera, no Chile. Derrotado nas urnas o conservadorismo tentará esmagar Omala no terceiro turno, através do cerco midiático e da asfixia financeira. Aplicarão contra seu governo o mesmo know-how, ou algo pior, tentado contra Lula no Brasil, Kirchner na Argentina e, mais recentemente, com os golpes contra Evo, na Bolívia. Ontem, a Bolsa de Lima caiu 12%. No Brasil, a mídia reduziu a cobertura das eleições a um "desalento dos mercados" e sombreou o resultado proporcionalmente à consolidação da vantagem de Humala. É só o começo. A integração latinoamericana que se fortaleceu com a manifestação democrático do povo peruano deve agora providenciar os meios para sustentar o novo governo neste início que se configura como uma das transições mais delicadas da política regional.
(Carta Maior; 3º feira, 07/06/ 2011)

quarta-feira, 23 de março de 2011

O que Obama devia ter feito no Chile


Em 1965, durante uma viagem notável ao Chile, Bobby Kennedy quebrou seu rígido protocolo e se encontrou com mineiros explorados e estudantes universitários hostis. Ele mergulhou nos problemas do país para conhecê-los, para perguntar como chegar a uma solução. E se Obama decidisse seguir o exemplo de Kennedy – seu ídolo, Bobby Kennedy – e mudasse o roteiro para fazer algo sem precedentes como uma visita ao túmulo de Allende? Não seria preciso pedir perdão ou expressar remorso pela intervenção dos EUA nos assuntos internos do Chile, nem por ter sustentado Pinochet durante tanto tempo. Bastaria esse gesto singelo. O artigo é de Ariel Dorfman.

Quando Barack Obama desembarcar no Chile para uma visita de 24 horas, algo crucial faltará em sua agenda. Haverá mariscos suculentos, discursos elogiosos à prosperidade do Chile, acordos bilaterais e encontros com poderosos e celebridades, mas não há planos, sem dúvida, de que o presidente dos Estados Unidos tome contato com o que foi a experiência fundamental da recente história chilena, o trauma que o povo de meu país sofreu durante os quase dezessete anos do regime do general Augusto Pinochet.

E, no entanto, não seria impossível para Obama ter conhecimento de uma pequena amostra do que foi a aflição do Chile. A poucas quadras do Palácio Presidencial de La Moneda, onde será recebido por Sebastian Piñera, 120 pesquisadores se dedicam assiduamente a construir uma lista definitiva das vítimas de Pinochet para que possa ser feita alguma forma de reparação. Esta é a terceira tentativa desde que terminou a ditadura, em 1990, para enfrentar as perdas massivas que ocasionou. Duas comissões estabelecidas oficialmente investigaram uma imensa quantidade de casos de tortura, execuções e prisão política, mas foi ficando claro, na medida em que passavam os anos, que inumeráveis abusos de direitos humanos seguiam sem identificação. E, de fato, a pesquisa recente recebeu 33 mil solicitações adicionais, horrores que ainda não tinham sido registrados.

Ainda que Obama não tenha direito a ler nenhum dos informes confidenciais acerca daqueles casos, alguns minutos roubados de seu estrito calendário para falar com alguns dos homens e mulheres que realizam essas pesquisas, o informariam mais sobre a escondida agonia do Chile do que mil livros e reportagens.

Poderia, por exemplo, conversar com a pesquisadora chamada Tamara. No dia 11 de setembro de 1973, dia em que Salvador Allende foi derrubado, o pai de Tamara, um dos guarda-costas de Allende, foi detido, sem que jamais se soubesse seu paradeiro posterior. Eu trabalhava em La Moneda na época do golpe militar e salvei minha vida em função de uma cadeia de coincidências milagrosas, mas o pai de Tamara não teve tanta sorte, assim como não tiveram vários bons amigos meus, cujos corpos ainda estão sem sepultura.

Ou Obama poderia auscultar os olhos de um advogado que conheço, que foi sequestrado uma tarde e torturado durante semanas antes de ser deixado uma noite em uma rua desconhecida, tão longe de seu lar que imediatamente preso de novo por romper o toque de recolher. Ou Obama poderia conversar com uma antropóloga que teve que ir para o exílio por 14 anos, perdendo seu país, sua profissão, seu idioma, e cujo retorno ao Chile foi tão angustiante como seu desterro original, posto que seus filhos, em virtude da prolongada ausência do país onde nasceram, decidiram permanecer no estrangeiro, o que significa que essa família estará separada para sempre.

Caso o presidente Obama sinta-se mais cômodo conhecendo lugares em vez de seres humanos de carne e osso, poderia familiarizar-se com Villa Grimaldo, uma casa de tormentos onde agora se ergue um centro para a paz, ou reservar dez minutos para visitar o Museu da Memória, onde há exibições que denunciam o terrível passado do Chile.

Uma razão pela qual faz sentido que Obama vislumbre, ainda que através de um vidro obscuro, nossa vasta e devastadora dor, é que os norteamericanos foram, em grande parte, responsáveis por aquela tragédia. Washington ajudou, estimulou e financiou a queda do governo democraticamente eleito de Allende e a trajetória ditatorial de Pinochet. No momento em que a revolta no Egito, como em tantos outros países que se levantam contra o autoritarismo, lembra ao mundo as consequências de sustentar regimes brutais, seria instrutivo para um presidente tão inteligente e humanitário como Obama ver, de perto e pessoalmente, alguns dos homens e mulheres que foram destruídos por essa política.

O Chile também oferece um exemplo do quão difícil é confrontar os crimes contra a humanidade, difícil e necessário. Em meu país aprendemos que se nossa comunidade, nosso povo inteiro, não olha de frente para o passado aterrador e arrasta seu pesar para a luz, se os responsáveis não recebem castigo, corremos o risco de que nossa própria alma se corrompa.

É uma lição que Obama e seus compatriotas deveriam impor a si mesmos. Dois anos depois de sua posse, Guantánamo segue aberta e não há sinal de que vá ocorrer um julgamento das violações dos direitos humanos sob a administração Bush nem tampouco uma insinuação de que será pedido perdão às vítimas. Uma comissão norteamericana que tome como modelo esta que foi criada em Santiago poderia dar um primeiro passo na direção de um ajuste de contas que, como bem sabemos nós os chilenos, não deveria ser adiada de forma indefinida.

Por mais importante que essa experiência fosse para Obama, há outra que seria ainda mais significativa. À noite, ele vai jantar no mesmo Palácio Presidencial onde Salvador Allende morreu muitos anos atrás, em defesa do direito de seu povo escolher seu próprio destino. Allende está enterrado em um cemitério não muito longe de onde a elite do país estará brindando pela amizade eterna entre Chile e os Estados Unidos. Em 1965, durante uma viagem notável ao Chile, Bobby Kennedy quebrou seu escrupuloso protocolo e se encontrou com mineiros explorados e estudantes universitários hostis. Ele mergulhou nos problemas do país para conhecê-los, para perguntar como chegar a uma solução. E se Obama decidisse seguir o exemplo de Kennedy – seu ídolo, Bobby Kennedy – e mudasse o roteiro para fazer algo sem precedentes como uma visita ao túmulo de Allende? Se ele simplesmente parasse neste lugar, ficasse de pé diante dos restos de quem foi, como ele, um presidente eleito por seu povo, e dedicasse um par de minutos solitários?

Não seria imprescindível que pedisse perdão ou expressasse remorso pela intervenção dos Estados Unidos nos assuntos internos do Chile, nem por ter sustentado Pinochet durante tanto tempo. Bastaria esse gesto singelo. Essa homenagem a um presidente que entregou sua vida lutando pela democracia e a justiça social mandaria uma mensagem a América Latina e a todo o planeta que seria mais eloquente que cinquenta discursos retóricos. Seria um sinal de que talvez seja mesmo possível uma nova era das relações entre os Estados Unidos e seus vizinhos, ao sul do rio Bravo, que o passado tão amargo e injusto nunca mais há de voltar, nunca, nunca mais.

(*) Ariel Dorfman é escritor. Seu último livro é “Americanos: Los passos de Murieta”.

Tradução: Katarina Peixoto

domingo, 15 de agosto de 2010

Quem pagou a conta? O mistério da fuga de Serra para os Estados Unidos

Fonte

A biografia de José Serra (PSDB/SP) tem uns buracos difíceis de explicar.

Após a implantação da ditadura no Brasil, ele fugiu para o Chile.

Em 1973, quando houve o golpe de Pinochet no Chile, com apoio da CIA (Agência de Inteligência dos EUA), ele fugiu do Chile justamente para os Estados Unidos, que apoiou o golpe chileno.


O maior criminoso vivo
É preciso entender que nesta época era em pleno governo Nixon, com a política estadunidense de apoio às ditaduras militares, na época de Kissinger. Até John Lennon estava ameaçado de expulsão dos EUA nesta época.

Como Serra conseguiu o green card nos EUA? Como ele se sustentou lá? Como ele conseguiu estudar nas caras Universidades estadunidenses? Ainda mais sem ter o diploma de Bacharel em Economia? E quem pagou essa conta, já que ele diz que o pai não era rico?

É um dos mistérios mais bem guardados da política brasileira.

É bastante improvável que um latino-americano exilado, realmente de esquerda, escolhesse os EUA como destino, nesta época. E se escolhesse, soa estranho encontrar facilidades de permanência, inclusive financeiras.