Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Delfim sobre Lula e os “neolibelês”

O escritório de Delfim Netto é como a sala de autopsia do Instituto Médico Legal do Neolibelê.

“Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros.

E, ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade.

- A empregada doméstica botou a filha na faculdade de Medicina. Eles querem que a filha da empregada doméstica volte para trás com uma política monetária feroz, de juros ainda mais altos… , começa o Delfim.

“Eles” é o pessoal do Neolibelê.

Conto que, neste ansioso blog, se assegura que a Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro do pensamento Neolibelê.

Delfim cai na gargalhada.

- O Lula diz assim. Não me interessa se você foi concebido numa suíte do Waldorf Astoria ou num barraco da favela. Os dois são iguais, têm que ter oportunidades iguais para enfrentar esse capitalismo … (impublicável) que você inventou, Delfim.

- Você vê. Eles achavam que tinham feito tudo direitinho no Chile. Seguiram o manual. Aí o pessoal foi pra rua exigir escola pública.

- Eles (“eles” é a corrente de pensamento que se ilumina com a Urubóloga) se reuniram lá no Instituto do Fernando (Henrique). E a única ideia que tiveram foi cobrar mensalidade na universidade pública.

- “Eles” não entenderam nada. Tem 400 universidades privadas no interior de São Paulo.

- É o que o senhor chama de “processo civilizatório” …, interrompo.

- E você pensa que o Lula tem um assessor, um economista ao lado dele soprando essas coisas ? Ele chega pro cara de Moçambique e diz assim: Você pode plantar cana e não planta. E aí importa carro americano que consome gasolina que vocês não têm. Por que você não aprende a plantar cana e importa carro do Brasil movido a cana ?

- E o que o Lula quer ?, pergunto.

- Isso que ele faz hoje. Exatamente isso. Você sabe qual é o cachê das palestras dele ?

- Deve ser o dobro do cachê da Miriam e do Fernando Henrique, juntos, respondo.

- Mais, meu filho. Mais.

Pano rápido.


Paulo Henrique Amorim

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Secretária de Piñera ameaça de morte líder estudantil


Acabo de ler no Vermelho (e confirmei a notícia em sites chilenos) que uma alta executiva do Ministério da Cultura do governo de Sebastian Piñera, postou em seu Twitter a seguinte mensagem: "Se mata a la perra y se acaba la leva". Mata-se a cadela e acabou-se a confusão. Tatiana Acuña Selles (é o nome da moça) citou ninguém menos que Pinochet. Trata-se de uma famosa frase do ditador em referência a Salvador Allende.  No caso de Acuña, ela a usou para se referir à Camila Vallejo, uma das líderes estudantis responsáveis pelas recentes manifestações em prol de uma melhor política para a educação pública. Devemos ter em mente esse tipo de declaração para nos lembrarmos bem o que significa ter um governo de direita. Ao conservadorismo latino-americano (no resto do mundo também, mas fiquemos por aqui), com sua recusa ao diálogo, com seu preconceito profundo contra o próprio diálogo, não resta outra saída que não a brutalização do adversário.

Se um ministro de Hugo Chávez falasse algo do gênero, provavelmente diversos jornais do Brasil e de outros países estampariam uma chamada na primeira página: "funcionário chavista ameaça de morte líder estudantil".

O mínimo que devemos fazer é rechaçar veementemente esse tipo de ameaça fascista à atmosfera de liberdade democrática que vivemos hoje na América Latina. O simbolismo por trás dessa declaração gera timidez e opressão ideológica, além de fomentar a violência. Como diria o Casoy, isso é um absurdo!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

TRÊS DIAS QUE ABALARAM O MUNDO

** Presidente Dilma Rousseff e direção da CUT reunem-se no próximo dia 17 para discutir agendas de interesse mútuo diante da crise mundial** reservas brasileiras atingem US$ 350 bilhões** ministros da Fazenda dos países da Unasul reunem-se nesta sexta-feira em Buenos Aires para apressar medidas de integração que protejam a economia sulamericana da longa crise internacional.
Domingo, 6 de agosto, Tel Aviv: 350 mil israelenses protestam nas ruas do país por melhores condições de vida. Segunda- feira, 7 de agosto, Londres: distúrbios sociais iniciados nos subúrbios pobres transformam-se em explosão viral  que envolve milhares de jovens em diferentes pontos do país. Terça-feira, 8 de agosto, Santiago: 150 mil estudantes vão às ruas em defesa de uma reforma educacional  que universalize o ensino público, gratuito, de qualidade.  O que interliga esses levantes quase sincronizados em lugares tão díspares, antecedidos de rebeliões massivas que irromperam como que abruptamente das areias dos países árabes e da modorra social em outras partes do mundo? A mera coincidência do calendário?  Certamente não. A resposta  mais próxima talvez tenha que ser buscada na percepção difusa mas crescente, enraivecida em alguns casos, consciente em outros, da brutal desigualdade herdada  do ciclo de supremacia das finanças desreguladas -- o ciclo dos bancos, o dos endinheirados, das corporações invisíveis e ubíquas ao mesmo tempo.  Sejam quais forem as denominações sedimentadas no discernimento popular elas guardam aderência consistente com a abrangência intolerável de uma espiral do privilégio que consolidou duas humanidades socialmente  imiscíveis nas últimas décadas. Em quase todos os países, e na maioria das grandes cidades, de um lado, derrama-se a riqueza num grau de ostentação jamais registrado na história; de outro, o bem-estar social e sua contrapartida em subjetividade, dissolvem-se em sucessivas ondas de saque, desregulamentação e delinqüência institucional  contra o patrimônio público, os direitos e valores que  enlaçam a convivência compartilhada. No  crepúsculo turbulento do ciclo, a ganância em fuga  ameaça agora  esfarelar os últimos centímetros de chão firme de vidas  expostas às intempéries de toda sorte. E a tal ponto encurraladas por dentro e por fora em sua precariedade estrutural que só lhes resta uma fresta: as ruas. 
(Carta Maior; 6º feira, 12/08/ 2011)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

120 mil pessoas dizem não à educação de Pinochet - Piñera



A bandeira de luta – que se mescla com as dos trabalhadores do setor de mineração do cobre, dos desempregados, dos ecologistas, dos sufocados pelo sistema creditício, entre outros milhares de anônimos cansados dos abusos – é o fim da lógica de mercado no setor, além da volta da gratuidade da educação pública para os setores de menor renda da população. Cerca de 200 mil pessoas saíram tranquilamente às ruas do país para protestar contra um governo de direita que já não os representa. O artigo é de Christian Palma, direto de Santiago de Chile.

Mais de 120 mil pessoas participaram da última marcha convocada pelo movimento estudantil – já foram sete desde que começaram as ocupações e greves em colégios e universidades – que exige uma reforma estrutural no modelo educacional vigente no Chile há mais de 30 anos. A bandeira de luta – que se mescla com as dos trabalhadores do setor de mineração do cobre, dos desempregados, dos ecologistas, dos sufocados pelo sistema creditício, entre outros milhares de anônimos cansados dos abusos – é o fim da lógica de mercado no setor, além da volta da gratuidade da educação pública para os setores de menor renda da população. Cerca de 200 mil pessoas saíram tranquilamente às ruas do país para protestar contra um governo de direita que já não os representa.

A nova mobilização demonstrou a ampliação do apoio aos estudantes e o suporte que sustenta um movimento que já dura dois meses e que se fortaleceu com o apoio de 80% da sociedade às reivindicações estudantis, segundo as pesquisas.

E os números se concretizaram nas ruas. Na manifestação desta terça-feira, participaram também alunos de colégios privados do setor mais acomodado de Santiago, diversos professores, apoderados, trabalhadores públicos e representantes de sindicatos empresariais que aumentaram sua solidariedade com os estudantes, após a feroz repressão do governo de Sebastian Piñera na semana passada. Foram detidos mais de 600 jovens, devido à estratégia das autoridades de não autorizar a marcha para aumentar a raiva e criminalizar o movimento social.

O dia ensolarado de ontem ajudou a criatividade dos estudantes. Jovens disfarçados como o ex-presidente Salvador Allende, simbolizavam o que era o Chile antes do golpe militar de 1973: uma sociedade menos opulenta no consumo de bens e serviços, mas com um sistema educacional grátis para todos. “E vai cair, a educação de Pinochet”, escutava-se em meio à fila interminável de manifestantes”. Algumas quadras além, um avô mostrava com orgulho um cartaz que dizia: “marcho para que meus netos tenham educação gratuita como eu tive”.

O eixo das reivindicações do movimento estudantil é justamente uma demanda estrutural que foi bloqueada por décadas, desde o governo militar, passando pelos governos da Concertação. Por isso, nos desfiles de cada marcha, encontram-se grandes bonecos que são réplicas dos últimos quatro presidentes desde que, em 1990, o Chile retornou à democracia, representando as reformas cosméticas feitas na educação, aprofundando a participação do setor privado em um bem social.

Esse é também um dos motivos pelos quais a paciência dos cidadãos e estudantes está se esgotando: os bancos são os grandes protagonistas na histórica do lucro na educação, porque com o papel subsidiário do Estado, imposto por Pinochet, o setor financeiro privado pode administrar os recursos fiscais aplicados em uniformes para os jovens, mas com a cobrança adicional de juros mensais superiores inclusive aos cobrados sobre créditos imobiliários. Juan, um jovem formado em Direito, afirmava com outro cartaz: “estudei 5 anos e terei que pagar 20”.

Outras jovens universitárias, carregando uma bandeira chilena, reclamavam a mesma coisa: “É a mesma coisa que se eu tivesse comprado uma casa”, dizia uma delas.

Atualmente, mais de 100 mil estudantes encontram-se em situação de inadimplência, com uma dívida média de 2.700.000 milhões de pesos chilenos (mais de US$ 5.000). Em um país em que mais de um milhão de pessoas recebe por mês salários mínimos de US$ 377, é perfeitamente possível entender como os mais pobres ficam fora da universidade, enquanto que as classes medidas ficam empobrecidas por décadas.

O desenvolvimento das chamadas universidades-empresa é a cereja do bolo, uma vez que funcionam por meio de direções privadas que não asseguram a adequada informação de qualidade e transparência. Nelas, a gestão da educação obedece à lógica do baixo custo em salários de professores e material acadêmico, e altas receitas das mensalidades, usufruindo dos subsídios de educação fornecidos pelo Estado.

Uma estória a parte neste processo de aperta/afrouxa entre a sociedade civil e o governo de direita é a resposta mínima do presidente Piñera às demandas estudantis. Até o momento, foram feitos tíbios anúncios de maiores recursos (US$ 4 bilhões), sem detalhar, porém, como e a forma de financiamento.

Mostrando o figurino da ortodoxia neoliberal da atual administração, os ministros do setor econômico descartaram uma eventual reforma tributária para aumentar os impostos das empresas, o que significou jogar gasolina no fogo dos estudantes.

A jornada desta terça foi marcada por outro elemento que fez lembrar os piores momentos perpetrados pela ditadura de Pinochet: os supostos “infiltrados” da polícia chilena nas mobilizações.

Segundo as lideranças estudantis, em cada marcha há policiais à paisana nas ruas para incendiar os ânimos e agitar as marchas. Essa suspeita se fortaleceu em Valparaíso, cidade-porto onde se localiza o Congresso Nacional. Durante a marcha, um grupo de manifestantes identificou, denunciou e perseguiu um possível policial infiltrado, que escapou, escondendo-se no Congresso. As autoridades do governo garantiram que investigarão este fato a fundo.

Todos esses temas de fundo cruzam cada marcha dos estudantes chilenos, temperadas agora pelos chamados “panelaços” em apoio às mudanças estruturais na educação realizados por milhões de chilenos há uma semana em todas as cidades do país, tal como se fazia nos protestos contra a ditadura de Pinochet nos anos 80. As únicas pessoas que não ouviram essas demandas trabalham no Palácio de La Moneda, onde o presidente Piñera ainda não se pronunciou.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

O CHILE SE REENCONTRA NAS RUAS

**bolsas européias voltam a cair mesmo com o sinal do BC norte-americano de comprimir os juros por mais dois anos** mercados não acreditam mais na sua própria capacidade de superar a recessão** falta um plano Marshall para a zona do euro e um New Deal para os EUA asfixiados pelo neoliberalismo fiscal do Tea Party.
Mobilização da juventude do Chile por reforma drástica no sistema educacional herdado de Pinochet --a favor da universalização do ensino público totalmente gratuito e de qualidade, põe em xeque a supremacia da lógica de mercado instaurada no país desde o golpe sangrento de 1973.A educação é o ponto de convergência desse reencontro dos chilenos com o debate sobre o seu presente e o seu futuro. Diz respeito não apenas ao destino das novas gerações. Mas à sociedade na qual se deseja viver e aos valores compartilhados sobre os quais ela deve se sustentar. O sistema educacional chileno trazido do pinochetismo diz que o presente e o futuro são mercadorias que devem gerar lucro. Não há exceção à bíblia neoliberal implantada avant la lettre pelos tanques e caças, em 1973: a sorte e o destino da sociedade devem ser modelados pela inexcedível capacidade dos mercados de alocar fatores ao menor custo, com maior eficiência. A democracia é um adereço num mundo autorregulável. A escola é uma peça da engrenagem. A universidade e todo aparato educacional – seus currículos e critérios de acesso-- prestam-se ao propósito de adestrar corações e mentes para a demanda mercantil . Não há pertinência em debater um projeto de país. Tampouco espaço para uma universidade que reflita, pesquise e opine sobre a democracia e o desenvolvimento. No Chile não há universidade pública porque não há soberania democrática sobre o interesse público. As famílias pagam pela mercadoria educacional, assim como foram instadas a privatizar a sorte da velhice e demais instâncias da vida social. Não por acaso, o desinteresse pela vida política só fazia crescer no país. Dos 12,2 milhões de chilenos maiores de 18 anos, só 7,2 milhões votaram no pleito de janeiro de 2010 que elegeu o bilionário direitista Sebástian Pinera. A participação de chilenos com menos de 30 anos de idade no escrutínio foi de apenas 9,2%, contra 35% em 1988. A plataforma dos estudantes vocaliza um sentimento crescente de que a captura da esfera pública pelo lucro privado não serve mais aos chilenos. Desde a semana passada, em bairros de classe média de Santiago, como Nunoa, as noites são de panelaços em apoio aos estudantes. Os mineiros do cobre estão em greve pela participação na renda de um negócio milionário que destina 10% do lucro ao Exército. Há poucos dias, o trânsito de Santiago foi interrompido por um movimento espontâneo de passageiros cansados dos atrasos em um sistema de transportes desregulado. A paradoxal vitória de um Presidente egresso do pinochetismo há pouco mais de 18 meses –saudado pela mídia reacionário brasileira como sintoma de guinada na América Latina, que hoje conta com apenas 26% de apoio na opinião pública-- apenas confirma a percepção de uma ruptura em marcha. Se há tão pouco tempo a sociedade chilena não encontrava alternativa melhor para governa-la hoje esse vácuo foi superado : o Chile se reencontrou nas ruas. Nelas sedimenta um novo rosto e um novo ciclo na sua rica história política. Toda América Latina ganha com isso.
(Carta Maior; 4º feira, 10/08/ 2011)

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O que os estudantes chilenos tem a dizer aos estudantes brasileiros? Porque nossa mídia(?) não dá o devido destaque? A quem não interessa?





O que está em jogo no Chile interessa também à sociedade brasileira e aos estudantes reunidos agora no 52º Congresso da UNE. A juventude chilena exige que o interesse público volte a ordenar as prioridades e a destinação dos recursos disponíveis na economia em benefício de toda a sociedade. A educação é o ponto de partida e o de chegada pelos seus desdobramentos econômicos, políticos e sociais.

A educação transformou-se na porta de entrada de um acerto de contas da sociedade chilena com décadas de ditadura e renúncia do interesse público em favor do lucro privado. A lógica que o regime militar introduziu em todas as esferas da vida social, segundo a qual o mercado estrutura, administra e financia a produção e os serviços de forma mais ágil e eficiente que o Estado não foi afrontada, de fato, em muitos aspectos, pelos governos que ocuparam o La Moneda após a redemocratização.

À frente do que fariam Tatcher e Reagan anos depois, o regime militar chileno extrapolou a lógica mercadista para todos os setores da vida social. Na educação, encarada quase como um reduto de segurança nacional, agiram com redobrado afinco. Uma das últimas leis promulgadas em 1990 pelo regime que derrubou Salvador Allende tratava da consolidação desse experimento que mudou a face da escola e d a juventude. Ainda no governo Bachelet, os estudantes começaram timidamente a contestar o fio condutor silencioso dessa interligação entre o passado e o presente.

Assumiram o incomodo papel do futuro a reclamar seu espaço na calcificada rotina chilena. De início foram negligenciados –‘’os pinguins”. Meses de mobilizações, conflitos e enfrentamentos depuraram a visão das coisas e sedimentaram para a opinião pública, e para eles mesmos, o que está em jogo.

O que está em jogo no Chile interessa também à sociedade brasileira e aos estudantes reunidos agora no 52º Congresso da UNE. A juventude chilena exige que o interesse público volte a ordenar as prioridades e a destinação dos recursos disponíveis na economia em benefício de toda a sociedade. A educação é o ponto de partida e o de chegada pelos seus desdobramentos econômicos, políticos e sociais.

No Chile praticamente não existe universidade pública. No ensino fundamental e no básico predomina um agressivo processo de privatização mascarado em livre escolha. Mais de 50% das matrículas se concentram em escolas particulares que recebem subsídio federal e cobram mensalidades. O sistema foi fatiado e entregue à ordenação pelas forças de mercado. A título de promover a qualidade, incentivou-se a concorrência entre escolas públicas e privadas no âmbito municipal. Sem apoio oficial ao sistema público, as privadas avançaram e hoje representam 42% da rede local.

Currículos são decididos de forma fracionada e à margem do debate democrático: se o projeto de país passou a ser comandado pelos mercados, por que seria diferente com o conteúdo da educação? Os estudante chilenos querem uma mudança substantiva nesse modelo. E começam pelo principal: orçamento público para custear todo o sistema educativo, ou seja, restituir ao Estado a formação das novas gerações, sem concessões ao lucro privado e aos interesses particularistas leigos ou religiosos.

Os esudantes chilenos querem refundar a escola republicana no país para refundar a própria democracia esclerosada pela lavagem da mais sanguinária ditadura da história latinoamericana. Moços e moças lutam nas ruas para trazer 1789 ao Chile de 2011. Para isso é preciso por fim do fracionamento de mercado dos currículos; fim aos subsídios à indústria privada de ensino.

É difícil não ver pontos de interligação entre o sistema contestado pela juventude chilena e certos aspectos da agenda educacional brasileira. Dois elos avultam imediatamente: a) a expansão do subsídio público às empresas privadas de ensino superior –de qualidade discutível-- através do Prouni; b)e o orçamento público insuficiente destinado ao sistema educacional. O Brasil investe atualmente 5% do PIB em educação. Gasta quase 7% do PIB pagando juros aos rentistas da dívida interna. Mais de 45% da população brasileira encontra-se atualmente em idade escolar e tem que se acomodar aos estreitos limites desse orçamento.

De outro lado, o grosso dos juros da dívida pública beneficia, segundo cálculos do IPEA, apenas 20 mil plutocracias. A previsão oficial é de que somente em uma década se possa chegar a 7% do PIB em recursos para a escola pública brasileira.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Alunos cotistas: médicos tão bons quanto os outros


Não posso encerrar o dia sem deixar de registrar a ótima matéria do Estadão sobre o desempenho da primeira turma de Medicina a se formar na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – a UERJ – sob o regime de admissão por cotas.
Ao contrário do que alardeiam os que defendem posições discriminatórias, sociais ou raciais, não houve  diferença de rendimento entre alunos não-cotistas e cotistas.
Dos 43 cotistas admitidos – selecionados em faixas por origem na escola pública, etnia, deficiência e baixa renda – apenas quatro não concluíram o curso, mesmo número registrado entre os não-cotistas.
Dos 35 cotistas ouvidos pelo jornal, 25 passaram nas provas para residência, onde não há cotas ou qualquerhandicap. E outros nove não a fizeram ainda, por não terem escolhido a especialidade a seguir ou precisarem ir trabalhar imediatamente, para ganhar mais que a bolsa de R$ 2.200 dos residentes. Entre 44 não-cotistas ouvidos,  oito não estão aprovados para a residência.
Parabéns a todos os novos médicos, cotistas e não cotistas. Que vocês, que são a prova viva de que, com oportunidades, todos podem chegar lá, pratiquem a Medicina com a dedicação e o espírito de solidariedade social que marca esta experiência.
Este post é uma singela homenagem ao Ali Kamel, o mais notável adversário das cotas, autor de um classico da moderna antropologia brasileira, “Não somos racistas”.
A propósito, leia a entrevista com o Secretário de Justiça da Bahia sobre o efeito da obra de Kamel na propagação do preconceito no Brasil.
 PHC.