Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 26 de abril de 2013

O que Pinochet disse a Alexandre Garcia?



Alexandre Garcia
Prezado jornalista Alexandre Garcia, eu já sabia da sua proximidade com o regime militar brasileiro.
Você foi porta-voz do general João Batista Figueiredo, não se pode esquecer este detalhe do seu extenso currículo profissional.
O telegrama do governo britânico sobre Alexandre Garcia
O telegrama do governo britânico sobre Alexandre Garcia
Lembro-me também da sua participação na cobertura da Guerra das Malvinas, parecia então uma coisa heróica. Soube inclusive que rendeu uma homenagem da rainha da Inglaterra, a sua cobertura pró-ingleses, um feito memorável, sem dúvida.
E soube ainda que o governo inglês também gostou demais das suas reportagens.
Foi o que li em um bilhete (clique Aqui) enviado por um diplomata britânico para o governo britânico. O documento é público e pode ser encontrato nos arquivos online da Fundação Margareth Thatcher, recentemente falecida.
Você foi longe, hein Alexandre?
Neste bilhetinho, além da empolgação dos ingleses com o seu perfil profissional, chamou-me a atenção pra valer o ali mencionado encontro seu com o ditador chileno Augusto Pinochet. Uau! Fiquei curioso pra saber sobre o que vocês conversaram.
Alexandre, você e seu faro jornalístico certamente perguntaram ao ditador sobre os milhares de desaparecidos, os assassinatos, as torturas, o estádio do terror, certo? Não perguntaram?
Claro que perguntou, um súdito postiço da rainha da Inglaterra não perderia essa oportunidade.
Ou perderia?
Conta pra gente, Alexandre, conta, vai.
Luiz Antonio Cintra
No CartaCapital

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

CHILE: GREVE GERAL É TAMBÉM UM ACERTO DE CONTAS COM A FAMÍLIA DO PRESIDENTE PIÑERA


 **Questão fiscal polariza crise economica no mundo** para agradar aos mercados, Zapatero quer inscrever a ortodoxia  fiscal --'déficit zero'-- na Constituição  e racha o PSOE**Sarkozy  eleva o imposto sobre os ricos para conter déficit** Confederação Geral Italiana do Trabalho, a maior do país, convoca greve geral  em 06/09 contra  arrocho fiscal de Berlusconi**aumentam encomendas de bens duráveis nos EUA **  estoques industriais em alta e emprego fabril em desaceleração apontam desaquecimento no Brasil**cabeça de Kadafi vale US$ 1,7 milhão'** persistem combates em Trípoli.

A mobilização dos trabalhadores e estudantes chilenos pretende mudar justamente o panorama deixado pelo irmão mais velho do atual presidente,  Sebástian Piñera.  José Piñera, o primogênito da família, foi o "pai" da legislação atual em matéria trabalhista, mineira e previdenciária que Pinochet aplicou sem consultar a população.Trabalhadores e estudantes foram  os dois atores que mais perderam com a sociedade de mercado instalada pela direita, aprofundada pelos governos da Concertação entre 1990 e 2010 e radicalizada pelo atual governo que insiste em dar enormes subsídios aos bancos privados para créditos universitários (um universitário se forma no Chile com uma dívida média de US$ 45 mil). Milhares de jovens endividados  não conseguem superar esse problema devido aos baixos salários do mercado de trabalho chileno.
O primeiro dia da greve nacional contou com a adesão de 80% dos trabalhadores públicos, segundo informou a Agrupação dos Empregados Fiscais (ANEF). Milhares de chilenos foram afetados pela paralisação, mas apoiaram os protestos, saindo às ruas em solidariedade os trabalhadores (
LEIA a reportagem de Cristian Palma, correspondente de Carta Maior em Santiago, nesta página).

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Secretária de Piñera ameaça de morte líder estudantil


Acabo de ler no Vermelho (e confirmei a notícia em sites chilenos) que uma alta executiva do Ministério da Cultura do governo de Sebastian Piñera, postou em seu Twitter a seguinte mensagem: "Se mata a la perra y se acaba la leva". Mata-se a cadela e acabou-se a confusão. Tatiana Acuña Selles (é o nome da moça) citou ninguém menos que Pinochet. Trata-se de uma famosa frase do ditador em referência a Salvador Allende.  No caso de Acuña, ela a usou para se referir à Camila Vallejo, uma das líderes estudantis responsáveis pelas recentes manifestações em prol de uma melhor política para a educação pública. Devemos ter em mente esse tipo de declaração para nos lembrarmos bem o que significa ter um governo de direita. Ao conservadorismo latino-americano (no resto do mundo também, mas fiquemos por aqui), com sua recusa ao diálogo, com seu preconceito profundo contra o próprio diálogo, não resta outra saída que não a brutalização do adversário.

Se um ministro de Hugo Chávez falasse algo do gênero, provavelmente diversos jornais do Brasil e de outros países estampariam uma chamada na primeira página: "funcionário chavista ameaça de morte líder estudantil".

O mínimo que devemos fazer é rechaçar veementemente esse tipo de ameaça fascista à atmosfera de liberdade democrática que vivemos hoje na América Latina. O simbolismo por trás dessa declaração gera timidez e opressão ideológica, além de fomentar a violência. Como diria o Casoy, isso é um absurdo!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

37 anos do golpe no Chile e o legado de Allende



A direita entrou em pânico. Agustín Edwards (foto), dono do El Mercurio, voou aos Estados Unidos para pedir ao governo do país que interviesse no Chile, a fim de impedir que Allende tomasse posse no La Moneda. Em Washington, encontrou ouvidos receptivos no presidente Richard Nixon e no seu governo. Iniciou-se assim uma onda de atos terroristas por parte de grupos de ultradireita, que recebiam alento, dinheiro e instrução terrorista a partir do exterior.Hoje, como nos anos que precederam o triunfo de Allende, segue vigente a luta pelo que gestou a vitória de 1970. Referimo-nos à unidade de conjunto da esquerda, hoje atomizada. O artigo é de Manuel Cabieses, da revista Punto Final.
Manuel Cabieses - Punto Final
Da revista Punto Final


Faz quarenta anos que, em 4 de setembro de 1970 Salvador Allende venceu as eleições presidenciais, embora tenha de ter ainda esperado pelo Pleno do Congresso. O triunfo de Allende constituiu-se num fato histórico e numa lição política que não devem ser esquecidos. A incansável luta para forjar uma identidade de esquerda orientada para o socialismo tinha, enfim, dado frutos. Nunca uma eleição presidencial no Chile alcançou um caráter tão dramático. Os cidadãos estavam conscientes de que estavam em jogo questões transcendentais no país, as quais determinariam seu futuro. O enfrentamento básico era entre a esquerda e a direita, representadas pelo senador Salvador Allende Gossens e pelo ex-presidente e empresário Jorge Alessandri Rodríguez. Havia um terceiro candidato, Radomiro Tomic Romero, da Democracia Cristã, com um programa que defendia o “socialismo comunitário”, que o aproximava das questões de esquerda.

A direita encurralada buscava fórmulas desesperadas para defender seus interesses. Não descartava nada. Em fins de 1969, um levante no regimento Tacna, encabeçado pelo general Roberto Viaux levou o governo de Frei Montalva à beira do precipício. Grupos de ultradireita levantavam a cabeça. No plano político, a direita postulava a “Nova República”, que esboçava elementos neoliberais e um firme autoritarismo para interditar o caminho da esquerda. Por sua parte, a Unidade Popular, ampla aliança de socialistas e comuninistas, integrava o partido Mapu, e laicos e progressistas que se definiam de esquerda. A candidatura de Salvador Allende emergia com possibilidades de vitória. A esquerda vinha ganhando terreno e um sólido movimento sindical, organizado em torno da Central Única de Trabalhadores, estendia-se ao campo por através de sindicatos agrícolas mobilizados e de grande capacidade de mobilização. O movimento estudantil, majoritariamente de esquerda, era potente e de alcance nacional. O movimento dos sem teto campeava nas principais cidades.

Existia assim uma ampla base social para o movimento político que defendia um programa centrado na nacionalização das riquezas básicas, no aprofundamento da reforma agrária e na constituição de uma área social da economia, conformada pela banca, pelos principais monopólios e empresas estratégicas. Ainda assim se propunha uma nova Constituição e uma institucionalidade de acordo com as transformações que se impulsionavam, uma ampliação da democracia e a vigência real dos direitos e liberdades individuais e coletivos. Era, em síntese, o que se conheceu como “a via pacífica do socialismo”, um projeto inédito na história da humanidade.

Internacionalmente eram os tempos da Guerra Fria; a União Soviética e o socialismo apareciam competindo exitosamente com o imperialismo. Na América Latina – a partir de 1959 com a Revolução Cubana – havia avanços populares que o Estados Unidos olhava com preocupação. Não queria “uma nova Cuba” em seu quintal. Com esse pretexto tinha invadido a República Dominicana para derrocar o governo democrático de Juan Bosch em 1964, respaldado o golpe militar no Brasil, que derrocou o presidente João Goulart. No entanto, o avanço dos povos não cessava. Na Bolívia, depois da morte do comandante Ernesto Che Guevara numa operação dirigida por estadunidenses, produziam-se avanços democráticos com o governo do general Juan José Torres (1970-71), enquanto na Argentina o peronismo impulsionava o retorno de seu líder, e no Peru o general Juan Velasco Alvarado se empenhava nas reformas anti-imperialistas e integradoras da população indígena. No Uruguai a situação era inquietante para a oligarquia.

Para os Estados Unidos, o Chile era uma peça-chave no seu xadrez de dominação regional. Nas eleições de 1964 já tinham apoiado sem disfarces a candidatura de Eduardo Frei Montalva e sua “revolução em liberdade”. Enormes fluxos de dólares financiaram uma campanha impressionante de terror contra Salvador Allende e a esquerda. O presidente Ke Kennedy - que impulsionava a Aliança para o Progresso – imaginava que a Democracia Cristã no Chile poderia se apresentar como alternativa à Revolução Cubana.

A trajetória de Salvador Allende como parlamentar e líder popular era impecável. Tinha sido ministro da Saúde do governo da Frente Popular (1938-41) e como senador foi democrata irredutível, anti-imperialista e partidário do entendimento socialista-comunista da unidade da classe trabalhadora e dos mais amplos setores da sociedade explorados pelo capitalismo. Defensor valente da Revolução Cubana, memoráveis foram suas lutas contra a Lei de Defesa Permanente da Democracia, paradigma de anticomunismo, e sua constante denúncia dos movimentos do imperialismo e da exploração feita pelas as empresas estadunidenses Anaconda e Kennecott do cobre chileno. Allende era um líder respeitado e querido pelo povo, que sabia que não seria traído por ele. Em muitos aspectos era um educador e um organizador notável, de exemplar perseverança na luta pela unidade da esquerda.

No país, a sociedade se convulsionava. Surgiam os “cristãos pelo socialismo”, os estudantes da Universidade Católica tomavam a reitoria para impor profundas reformas e denunciavam as mentiras do El Mercurio; produziu-se a tomada da Central de Santiago pelos sacerdotes, religiosas e laicos que pediam maior compromisso da igreja com o povo. O país esperava grandes mudanças no marco de um novo período histórico repleto de promessas de justiça e igualdade. A campanha eleitoral foi muito dura. A direita se lançou com tudo, reeditando – corrigida e aumentada – a campanha de terror de 1964. intensificou a pressão sobre as forças armadas, nas quais boa parte da oficialidade tinha passado pelas escolas de formação anti-subversivas do Pentágono. O financiamento da CIA voltou à carga por meio da ITT, que controlava o monopólio telefônico. Contudo, as eleições foram tranquilas e, sobretudo, estreitas. Allende obteve algo mais que um milhão de votos, ganhando por 40 000 votos de Alessandrini, e obtendo 36,3% do total de sufrágios. Tomic obteve 27,84%, com mais de oitocentos mil votos. Como boa parte da votação era antidireita, estava claro que a esquerda contava com um apoio muito superior à direita.

Os resultados foram conhecidos na tarde de 4 de stembro e de imediato Tomic reconheceu a vitória de Allende. Nessa mesma noite, depois de momentos de tensão – quando tanques do exército passaram na Alameda – houve uma enorme manifestação frente à Federação dos Estudantes do Chile. Dezenas de milhares de pessoas chegaram das periferias para celebrar a vitória. Parecia que nunca o povo tinha se sentido tão alegre e esperançado. O discurso de Allende foi emotivo e profundo. Recordou as lutas populares, os esforços cotidianos do povo para subsistir e lutar, e assumiu seu triunfo como uma continuidade com a Frente Popular e, antes, com o governo do presidente José Manuel Balmaceda – levado à morte pela oligarquia – e com a luta incansável de Luis Emilio Recabarren, organizador da classe trabalhadora chilena. Os sessenta dias seguintes, até o momento em que o novo presidente devia assumir o comando, foram emocionantes.

A direita entrou em pânico. Agustín Edwards, dono do El Mercurio, voou aos Estados Unidos para pedir ao governo do país que interviesse no Chile, a fim de impedir que Allende tomasse posse no La Moneda. Em Washington, encontrou ouvidos receptivos no presidente Richard Nixon e no seu governo. Iniciou-se assim uma onda de atos terroristas por parte de grupos de ultradireita, que recebiam alento, dinheiro e instrução terrorista a partir do exterior.

Em 3 de novembro de 1970, porém, derrotando as manobras e os atos criminosos, como o assassinato do general René Schneider, comandante em chefe do exército, Salvador Allende assumiu o país. Começou assim o governo mais progressista, liberador e popular da história do Chile. Em meio à oposição férrea e à conspiração da direita, junto com o governo dos Estados Unidos, Allende conseguiu feitos notáveis, como a nacionalização do cobre, o aprofundamento da reforma agrária, as políticas de saúde, educação e habitação, e avanços gigantescos no plano cultural. As forças criadoras do povo se desataram no influxo de um programa socialista e democrático. Os pobres da cidade e do campo alcançaram o protagonismo e a participação que, durante décadas lhes tinham sido negados. No plano internacional o Chile conseguiu um reconhecimento mundial que valorizou o projeto de avançar o socialismo em liberdade. Mas esse propósito nobre viu-se frustrado pela conspiração interna e externa, sem negar os erros da própria Unidade Popular, que culminaram com o golpe militar de 11 de setembro de 1973. O presidente Salvador Allende, fiel a seu juramento, preferiu morrer no La Moneda a trair a confiança do povo.

Hoje, como nos anos que precederam o triunfo de Allende, segue vigente a luta pelo que gestou a vitória de 1970. Referimo-nos à unidade de conjunto da esquerda, hoje atomizada. É esse o passo indispensável para construir sua própria identidade ideológica e programática e, a partir daí, avançar nos acordos políticos e sociais mais amplos. Na América Latina hoje ganham espaço tendências revolucionárias que, com suas diferentes particularidades estão fazendo o caminho que o Chile tentou. De alguma maneira os processos da Venezuela, da Bolívia e do Equador reivindicam a via pacífica do socialismo, que proclara com decidida convicção o democrata e presidente mártir Salvador Allende. Reiniciam-se tempos de revolução que, nas condições contemporâneas fazem voltar os olhos para o caminho que o presidente Allende abriu com sacrifício.

(*) Manuel Cabieses é o diretor do quinzenário da esquerda chilena Punto Final.

Tradução: Katarina Peixoto

sábado, 11 de setembro de 2010

Setembro se chama Allende

Discurso do Presidente Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, dia do golpe de Estado que derrubou o governo da Unidade Popular e implantou a sanguinária ditadura militar comandada pelo general Pinochet:

O Chile vive nestes dias três datas especiais e dois dramas profundamente entrelaçados. Este mês comemora-se o 40° aniversário da histórica vitória de Salvador Allende e da Unidade Popular nas eleições presidenciais. Naquele 4 de setembro de 1970, o povo chileno abriu as portas da história e empreendeu um profundo processo de transformações econômicas, sociais, culturais e políticas. A “via chilena para o socialismo” só foi derrotada pelo golpe de Estado de 11 de setembro de 1973 - que este ano completa 37 anos – protagonizado pelas Forças Armadas, mas estimulado pela direita, pela Democracia Cristã, pela burguesia e por Washington. O artigo é de Mario Amorós.
Essas datas são provavelmente as jornadas mais relevantes dos dois séculos de história republicana, junto com o 18 de setembro de 1810, quando se estabeleceu a primeira Junta Nacional de Governo, que abriu o caminho para o processo de independência finalizado em 1818 e que, depois de uma década convulsionada, culminou entre 1829 e 1833 com a imposição de um férreo estado oligárquico que se manteve até a vitória da Frente Popular, em 1938, da qual Salvador Allende foi um destacado dirigente.

A uma semana da comemoração do bicentenário da independência, 33 trabalhadores permanecem sepultados desde o dia 5 de agosto a 700 metros de profundidade na mina San José, devido às condições de exploração em que executavam sua tarefa, reconhecidas – a posteriori – pelos proprietários da mina e pelo próprio governo de Sebastián Piñera. Além disso, 34 presos políticos mapuches estão em greve de fome desde o dia 12 de julho. Se, contra o movimento operário, o governo aplica o restritivo Código do Trabalho, imposto pela ditadura em 1980, as mobilizações dos mapuches em defesa de seus territórios e de sua demanda de autonomia são brutalmente reprimidas e sancionadas penalmente com o recurso à Lei Antiterrorista que Pinochet aprovou em 1984.

Os estudos mais recentes confirmam que o Chile é um dos países onde a brecha entre ricos e pobres é mais acentuada, aproximando-se aos níveis encontrados, por exemplo, no Haiti, produto de políticas neoliberais cujas diretrizes a Concertação manteve inalteradas durante 20 anos e que, desde 11 de março, são impulsionadas por seu verdadeiro motor, uma direita de novo tipo, filha da contrarrevolução pinochetista e solidamente implantada no mundo popular.

Piñera prepara-se para viver seu primeiro 11 de setembro no Palácio la Moneda e para presidir os múltiplos atos do bicentenário com um insistente e retórico chamado à “unidade nacional”. Enquanto isso, os quatro partidos que integram a Concertação acabam de renovar suas direções para enfrentar o novo ciclo eleitoral que já aparece no horizonte, as eleições municipais de 2012 e as eleições parlamentares e presidenciais de 2013. O Partido Comunista está mergulhado nos debates de seu XXIV Congresso.

Para além da incógnita sobre o próximo candidato presidencial da Concertação (o que dependerá essencialmente da vontade de Michelle Bachelet, que conserva uma enorme aprovação popular), a encruzilhada que esta coalizão e as forças de esquerda deverão enfrentar no médio prazo reside na possibilidade de construir mais do que uma aliança pontual, como a que permitiu eleger em dezembro três deputados comunistas pela primeira vez desde 1973, costurando um acordo político e programático que permita abrir um novo período.

Às vezes são os pequenos gestos ou resultados os que mudam a história. No dia 15 de março de 1964 a inesperada vitória da esquerda em uma votação parcial para eleger um deputado em Curicó levou a direita a não apresentar um candidato próprio e a apoiar o social cristão Eduardo Frei Montalva, que derrotou Allende em setembro daquele ano. Há apenas um mês, na cidade de Penco, na região do Biobío, os dirigentes locais da Concertação e o Partido Comunista assinaram um acordo para unir-se desde o início nas eleições de 2012 com o objetivo de derrotar a direita, que atualmente governa a prefeitura.

O debate sobre suas projeções nacionais já está instalado na agenda política. A direita não tardou em exibir seu anticomunismo mais rude e na Democracia Cristã seguramente persistirão as dúvidas até o último momento. Enquanto isso, o Partido Socialista mostra-se favorável a explorar um pacto, assim como o Partido Comunista, na direção de uma ampla convergência de forças políticas e sociais para conquistar um governo “de novo tipo” que deixe para trás os dogmas neoliberais e possibilite o pleno desenvolvimento democrático do país.

A 37 anos do bombardeio do palácio de La Moneda e do início de uma cruel ditadura, a memória de Salvador Allende e da Unidade Popular iluminam esse caminho. Precisamente, aquela noite inesquecível de 4 de setembro de 1970, quando deixou de ser o “companheiro Allende” para converter-se no “companheiro presidente”, e acabou seu discurso na Alameda de Santiago, diante de milhares de pessoas que festejavam a vitória da UP, com palavras plenas do afeto sincero com o qual sempre se dirigiu aos trabalhadores e que mantém absoluta atualidade: “Esta noite, quando acariciarem seus filhos, quando buscarem o descanso, pensem na manhã dura que teremos pela frente, quando precisaremos colocar mais paixão, mais carinho, para fazer o Chile cada vez maior e tornar cada vez mais justa a vida em nossa pátria”.

(*) Doutor em História e Jornalista. Autor de “Companheiro Presidente. Salvador Allende, uma vida pela democracia e pelo socialismo”. Artigo publicado no jornal “Público”, de Madri.

Tradução: Katarina Peixoto