Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

'Brasil é exemplo e tem governo progressista bem visto'



Líder estudantil chilena participa em Brasília de marcha brasileira por mais dinheiro na educação. Ameaçada de morte em seu país, ela diz se sentir mais segura no Brasil do que no Chile. “Há união de lutas de todo povo latino-americano", diz Camila Vallejo à Carta Maior, antes de voltar a seu país para encontrar o presidente Sebastian Piñera.

BRASÍLIA – A estudante de geografia Camilla Vallejo desembarcou no Brasil, vinda do Chile, na madrugada de terça (30/08) para quarta-feira (31/08), deixando para trás, mesmo que só por poucas horas, ameaças de morte que nem seus olhos verdes e o ar angelical foram capazes de desestimular.

Principal líder de manifestações que, nos últimos dias, levaram centenas de milhares de estudantes às ruas de Santiago, a presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECh) anda tranquila pela Esplanada dos Ministérios. Exceto pelo calor e o sol inclemente, dos quais tenta se proteger com um boné vermelho do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

Na manhã de quarta, ela participa de – e ajuda a atrair atenção para - uma mobilização de jovens brasileiros que exige mais verba à educação. “Me sinto muito mais segura aqui do que no Chile, não há repressão policial”, diz Camila à Carta Maior, em frente ao Congresso Nacional, onde um carro de som anima, com palavras de ordem e músicas, milhares de estudantes brasileiros.

“Há uma união das lutas de todo povo latino-americano. Há uma causa comum e demandas muitas vezes parecidas, principalmente no tema econômico”, afirma Camila, ao explicar a presença no ato, uma espécie de retribuição à ida a Santiago, dias atrás, de seu equivalente brasileiro, Daniel Iliescu, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).

“O que você acha do Brasil e do governo brasileiro?”, pergunta a reportagem, em espanhol precário.

“O Brasil é um bom exemplo para o Chile, tem um governo progressista muito bem visto”.

“E da presidenta Dilma?”

“Sou militante comunista e conheço o passado militante dela, vejo ela com simpatia.”

“Qual o saldo das manifestações no Chile até agora?”

“Logramos despertar a consciência política, o assunto passou a ser discutido dentro das casas, como não se fazia há décadas.”

Horas depois, com mais calma, Camila dará um depoimento mais completo, em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Presidida por uma ex-líder estudantil, Manuela Dávila (PCdoB-RS), a comissão realiza a audência em solidariedade aos chilenos.

“A legislação chilena regulamenta o direito de manifestação pacífica nas ruas, sem necessidade de autorização prévia, e mesmo assim a polícia, completamente militarizada, tem combatido os estudantes e trabalhadores com violência, usando gás lacrimogêneo, que, no nosso país, é considerado arma de guerra”, conta Camila.

“Já são quatro vítimas fatais desde o início dos protestos e pelo menos 500 pessoas presas de forma ilegal. Temos relatos também que indicam a prática de tortura, inclusive com choque elétrico e abuso sexual de menores.”

A criminalização dos movimentos sociais, tratados como os causadores da violência que assola o país, também incomoda a militante. “Todo o movimento organizado chileno sofre com a violência psicológica provocada pelo discurso político do governo, que nos acusa de sermos culpados pelas mortes e ferimentos dos nossos próprios companheiros”, relata.

Para Camila, a rápida adesão do Chile ao neoliberalismo, na ditadura Pinochet (1973-1990), liquidou com o sistema de proteção social do país e colocou em risco o acesso dos cidadãos a direitos considerados fundamentais nas sociedades democráticas. “Hoje, no Chile, a educação é tratada como um bem de consumo qualquer, e não como um direito social”, diz.

“A situação dos estudantes brasileiros é melhor do que a dos chilenos porque eles conseguiram uma interlocução real com a sociedade e com o governo. E, com isso, obtiveram conquistas, mesmo que pequenas. No Chile, só agora conseguimos construir uma pauta conjunta com a sociedade. Nosso modelo educacional está falido, obsoleto e isso incomoda a maioria das famílias chilenas. Só uma parcela muito pequena da população tem acesso à educação gratuita”, afirma a estudante de geografia.

Segundo ela, das cerca de 3,5 milhões de matrículas na educação básica, metade está atrelada ao sistema de subvenção estatal, por meio de créditos educacionais. “Só as famílias muito pobres têm direito à educação pública. A classe média, que é a maioria, recebe bolsas do governo.  Com isso, o governo investe o pouco dinheiro que destina à área no setor privado. E há, aí, um claro conflito de interesses, porque muitos políticos são também os proprietários do sistema privado de educação”, esclarece.

A estudante afirma que a situação é ainda pior nos demais níveis. No ensino médio, as instituições privadas abarcam metade dos alunos. No superior, o índice chega a 80%. “Apenas 20% dos estudantes universitários estão nas instituições públicas, mas mesmo assim têm que pagar pelo ensino. Não existe mais educação superior gratuita no Chile. E os custos são altíssimos. Um curso em uma instituição pública chega a custar US$ 5 mil por mês”, afirma Camila.

Para garantir que uma pequena parte das famílias de classe média e baixa tenha acesso à educação, o governo oferece subvenção, por meio de um complicado sistema de crédito, que os alunos têm que pagar posteriormente. Os juros são altos e inviabilizam a quitação para recém-formados que disputam a tapas uma vaga no mercado de trabalho do país: estudantes das universidades públicas pagam 2% de juros ao ano e, das particulares, 5,8%. “Com esse sistema, os alunos pagam de três a quatro vezes o preço do curso”

Para ela, o problema principal, entretanto, é a concepção de educação que prevalece no atual governo. “As instituições públicas têm que se autofinanciar e, para isso, não apenas cobram mensalidades, como entram no jogo de oferecer o ensino que o mercado quer. Não há uma formação humanística, crítica, que estimule a prática democrática, mas apenas uma formação tecnicista, mercadológica. Por isso, necessitamos de reformas profundas, e não apenas de mais recursos para a área”.

Na noite de quarta (31/08), Camila encerra a visita ao Brasil. Tem de voltar logo ao Chile, para um encontro com o presidente Sebastian Piñera.

*Matéria alterada para correção de informação. Em função do atraso na reunião da UNE com a presidenta, Camila não participou do encontro, por estar em audiência pública na Câmara.


Fotos: Uma das principais líderes do movimento estudantil chileno,Camila Vallejo, participa da Marcha dos Estudantes, organizada pela União Nacional dos Estudantes (UNE), em Brasília (Foto: Wilson Dias - ABr)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Chile tem maior protesto desde Pinochet. Jovem é morto pela polícia



Manuel Gutiérrez, um adolescente de 16 anos, morreu na madrugada desta sexta-feira, atingido por um tiro, durante confrontos entre manifestantes e a polícia no segundo dia da greve geral convocada pela maior central sindical chilena contra as políticas neoliberais do governo de Sebastian Piñera. Mais de 600 mil chilenos saíram às ruas na maior manifestação de massa do Chile desde a ditadura de Pinochet.

Mais de 600 mil chilenos e dezenas de organizações sociais se mobilizaram pelas ruas durante os dois dias de greve nacional, organizados pela Central Unitária de Trabalhadores (CUT), na maior manifestação de massa deste país desde os tempos em que Augusto Pinochet governava o Chile pela força. Com isso, ficou demonstrada a forte convicção do movimento social de seguir adiante para reformar o sistema deixado pelo neoliberalismo da ditadura.

O segundo dia de greve, na quinta-feira, iniciou com uma concentração de quatro marchas que confluíram no centro de Santiago. Ali se reuniram cerca de 400 mil pessoas que armaram um verdadeiro carnaval repleto de cartazes e faixas contra as políticas privatizantes em educação, saúde e fundos sociais. Além disso, exigiram mudanças no mundo do trabalho em defesa dos direitos dos trabalhadores. Foram milhares de bandeiras e faixas com slogans contra o governo e insígnias de colégios, universidades e organizações de trabalhadores. Segundo o presidente da CUT, Arturo Martínez, a paralisação e a mobilização popular envolveram 90 cidades do país.

“Saudamos as centenas de milhares de chilenos e chilenas que se mobilizaram em todo país e manifestaram sua vontade e esperança de construir um Chile distinto. Estamos muito contentes. Temos a esperança de que o governo, após essa mobilização, consiga refletir e abrir conversações com o objetivo de buscar uma saída para a atual situação”, disse Martínez.

Junto a ele, estava o rosto mais visível do movimento, Camila Vallejo, presidenta da Confederação de Estudantes do Chile, e Lorena Pizarro, presidenta da Agrupação de Familiares de Presos Desaparecidos, além de outros dirigentes sociais e sindicais, que expressaram as diferentes forças sociais presentes na mobilização.

Movimento social
Os dirigentes informaram que o movimento social se organizará de forma permanente para exigir mudanças econômicas como uma reforma tributária que institua mais impostos para as grandes empresas e os consórcios transnacionais, a destinação de mais recursos para a educação e para uma saúde digna. Também defenderam a incorporação do plebiscito como forma de consulta à cidadania e o avanço do processo rumo a uma nova Constituição política.

“Vimos a alegria de trabalhadores, estudantes, jovens, avôs e avós, vimos a esperança de construir um Chile mais justo”, disse Vallejo. “Nossa demanda por uma melhor educação é uma demanda social, de nossas famílias e nossos pais que são trabalhadores”, acrescentou a dirigente.

Enquanto isso, as pessoas seguiam manifestando-se nos edifícios gritando palavras de apoio aos manifestantes e sacudindo bandeiras. “E vai cair a educação de Pinochet”, “governar é educar” ou “um povo educado não é explorado”, eram algumas das frases que se liam nos cartazes e faixas dos manifestantes.

Em meio à marcha, o sociólogo e estudantes de pós-graduação da Universidade do Chile, Rodrigo Morales, disse à Carta Maior que “os que não têm acesso à educação superior de qualidade sempre têm trabalhos precários e mal remunerados. Portanto, o movimento estudantil e o movimento trabalhador são dois espaços contíguos que fortalecem as demandas”.

Passado o meio dia, a marcha continuava em ordem, No entanto, cerca de 300 jovens com o rosto encoberto levantaram barricadas e enfrentaram os carabineiros (a polícia chilena). “Não justifico o que fazem, mas não têm oportunidades nem outra maneira de reclamar. É preciso prestar atenção neles também”, disse Carmen, uma mulher com um lenço no rosto, que chorava por causa do gás lacrimogêneo.

A jornada continuou com o duro enfrentamento entre os encapuzados e a polícia. Houve saques, queimas de bandeiras chilenas, danos a propriedades privadas e inclusive a tentativa de colocar fogo na porta de uma igreja. Finalmente, os policiais conseguiram dispersar os manifestantes, mas permaneceram as sequelas, principalmente o cheiro do gás lacrimogêneo.

Ao cair à noite, o subsecretário do Interior, Rodrigo Ubilla, disse que 26 policiais ficaram feridos - cinco dos quais teriam recebido impacto de balas – e 210 pessoas foram detidas por motivos diversos. O porta-voz do governo, Andrés Chadwick, pediu “uma noite de paz”, após os disparos, barricadas e foguetes dos dias anteriores.

Contudo, estes atos de violência isolados, não afetam o tema principal. O mal estar da grande maioria dos chilenos que estão cansados. Mal estar que sai às ruas e seguirá manifestando-se enquanto o governo não escute o clamor popular. Enquanto esse texto era finalizado, as panelas de protesto outra vez começavam a soar. E mais forte ainda na periferia. Ali onde a pobreza segue dizendo “presente”.

Tradução: Katarina Peixoto

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Secretária de Piñera ameaça de morte líder estudantil


Acabo de ler no Vermelho (e confirmei a notícia em sites chilenos) que uma alta executiva do Ministério da Cultura do governo de Sebastian Piñera, postou em seu Twitter a seguinte mensagem: "Se mata a la perra y se acaba la leva". Mata-se a cadela e acabou-se a confusão. Tatiana Acuña Selles (é o nome da moça) citou ninguém menos que Pinochet. Trata-se de uma famosa frase do ditador em referência a Salvador Allende.  No caso de Acuña, ela a usou para se referir à Camila Vallejo, uma das líderes estudantis responsáveis pelas recentes manifestações em prol de uma melhor política para a educação pública. Devemos ter em mente esse tipo de declaração para nos lembrarmos bem o que significa ter um governo de direita. Ao conservadorismo latino-americano (no resto do mundo também, mas fiquemos por aqui), com sua recusa ao diálogo, com seu preconceito profundo contra o próprio diálogo, não resta outra saída que não a brutalização do adversário.

Se um ministro de Hugo Chávez falasse algo do gênero, provavelmente diversos jornais do Brasil e de outros países estampariam uma chamada na primeira página: "funcionário chavista ameaça de morte líder estudantil".

O mínimo que devemos fazer é rechaçar veementemente esse tipo de ameaça fascista à atmosfera de liberdade democrática que vivemos hoje na América Latina. O simbolismo por trás dessa declaração gera timidez e opressão ideológica, além de fomentar a violência. Como diria o Casoy, isso é um absurdo!