Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

FHC foi o único aliado

O Farol de Alexandria condecora o encarcerado


O Conversa Afiada reproduz discurso de Jilmar Tato, vice-líder do PT na Câmara:

FHC, Fujimori e as extravagâncias da atuação tucana


Jilmar Tatto (*)

Dia 8 de junho último tivemos mais uma demonstração de como é difícil para os tucanos conviverem com os sucessos dos governos Lula/Dilma na esfera internacional. Desta vez, foi o líder do PSDB que comandou  mais uma ação extravagante no plenário da Câmara dos Deputados ao pedir para ser apreciado um requerimento solicitando a aprovação de um “voto de repúdio à presidenta Dilma Rousseff por não receber a Senhora Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz, advogada iraniana de Direitos Humanos”.


Diante deste impetuoso requerimento, alguns pensaram que ele estava apresentando sua candidatura ao cargo de “agendeiro” da presidenta Dilma, mas outros lembraram ao deputado que a ordem natural das coisas é outra: primeiro é preciso ganhar as eleições para presidente da República para em seguida construir-se a agenda diplomática do país.


Curiosamente, aqui no Brasil, uma oposição reiteradamente derrotada se arvora em responsável pela agenda diplomática do país e quer enfiá-la a ferro e fogo na garganta presidencial. Talvez até sem consultar a senhora Shirin Ebadi, cujos respeitáveis interesses certamente não passam por arrombar a porta do gabinete da presidenta, nem pelo atropelo de sua agenda. Isso se depreende de repetidas declarações de Shirin Ebadi de respeito e consideração por Dilma Rousseff e por suas tomadas de posição em matéria de direitos humanos.


Mas não bastasse o requerimento descabelado, para exibir seus profundos conhecimentos sobre diplomacia contemporânea, o líder do PSDB precisava despejar seu balaio de impropérios contra o ex-presidente Lula e suas supostas preferências por ditadores.


Depois dessa sessão de impropérios a palavra me foi concedida para falar, em nome do Partido dos Trabalhadores, contra a proposição estapafúrdia. Além de defender o ex-presidente Lula e de mostrar a impertinência da iniciativa do líder do PSDB, fiz um breve relato sobre as relações íntimas entre FHC e o ditador nipoperuano Alberto Fujimori, já que repentinamente o líder tucano estava dando mostras de inusitado zelo pelos direitos humanos.


Aproveitei o espaço para informar ao líder do PSDB que FHC foi o único presidente de toda a América do Sul que apoiou a tri-reeleição de Alberto Fujimori, antigo candidato a ditador perpétuo do Peru. E mais, que ele condecorou aquela figura sinistra com a Ordem do Cruzeiro Sul, comenda máxima concedida pelo Estado brasileiro a personalidades estrangeiras.


Felizmente o Senado brasileiro já aprovou um Projeto de Decreto Legislativo (PDL), de autoria de Roberto Requião, anulando a concessão da Ordem do Cruzeiro do Sul ao ex-ditador peruano. Na Câmara, este PDL já foi aprovado na Comissão de Relações Exteriores, faltando apenas passar pela Comissão de Constituição e Justiça para ir ao plenário.


Este é um bom momento para concluir a tramitação do projeto,  até como forma de congratulação com o povo peruano que, elegendo Ollanta Humala, como presidente da República, no dia 5 de junho último, impôs uma derrota importante ao chamado fujimorato, que através da candidata Keiko Fujimori, filha do ditador, tentava reintroduzir a máfia comandada por seu pai no governo do Peru.


Como se isso não fosse suficiente, vale acrescentar que no ano 2000, quando ficou claro que o povo do Peru, nas ruas, derrubaria o ditador sanguinário e sua quadrilha, a diplomacia brasileira, sob a direção de FHC, colaborou na tarefa constrangedora de, enquanto Fujimori fugia para o Japão, arrumar um refúgio para o tenebroso Vladimiro Montesinos.


FHC ajudou a pressionar Mireya Moscoso, então presidenta do Panamá, para solicitar que aquela nação centro-americana concedesse asilo a Vladimiro Montesinos, íntimo companheiro de jornada de Alberto Fujimori, chefe de seu serviço de inteligência e coordenador do narcotráfico peruano.


Por último, me coube informar ao Líder do PSDB que o ex-ditador Alberto Fujimori, juntamente com Vladimiro Montesinos, hoje cumprem severas penas numa base naval de Callao e a hipótese de anistia, com a qual sonharam, evaporou-se no domingo, 5 de junho último, quando o povo peruano elegeu Ollanta Humala presidente de República. Aliás, Humala nos honrou escolhendo o Brasil como primeiro pais a ser visitado depois do triunfo popular. Foi recebido pela presidente Dilma Rousseff em Brasília e pelo ex-presidente Lula em São Paulo.


Diga-se a favor do líder do PSDB que, quando tomou conhecimento das informações acima citadas, tartamudeou alguma explicação incompreensível sobre sua percepção a respeito de Fujimori. Chegou até a perguntar ao presidente da sessão se era possível trocar o “repúdio” por algum termo legislativo mais brando. Informado de que isso não era possível, viu sua proposição esdrúxula receber minguados 60 votos.


Mas as extravagâncias da oposição comandada pelo PSDB não se limitam à pauta internacional. No dia da votação do Código Florestal o plenário e as galerias da Câmara puderam testemunhar, estarrecidos, o comportamento condenável de vários deputados da oposição que vaiaram o anúncio do assassinato dos extrativistas Júlio Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, no Pará. Não escapou a ninguém que aquelas vaias equivaliam a um aplauso ao crime. Muito seguramente, não é com a apologia do crime que se consolida uma democracia.


Tudo isto mostra até onde pode chegar uma oposição isenta de base popular, carente de bandeiras, desprovida de um projeto nacional e, por último, mas não o menos importante, ideologicamente derrotada, sobretudo depois do colapso dos dogmas do consenso de Washington.


Esta orfandade múltipla explica um comportamento da oposição cada vez mais chegado ao do “modelito” Simão Bacamarte, criado por mestre Machado de Assis. Atualmente, só lhe resta se guiar por uma pauta impregnada por um moralismo tão suspeito, como falso e seletivo, de uma imprensa monopolista e cada vez mais irrelevante. À falta do lenitivo pseudomoralista da imprensa, só lhe restaria o caminho do manicômio do alienista.


(*) Deputado federal (PT-SP), vice-líder da Bancada do PT na Câmara

terça-feira, 7 de junho de 2011

O PERU SUMIU DA MÍDIA:

A mídia ofuscou completamente a vitória de Ollanta Humala, no Peru, um acontecimento político cuja importancia simbolica extrapola a fronteira regional. Embora apertada, a vitória da centro-esquerda peruana abre uma falha na regressão conservadora em marcha no mundo, sobretudo na Europa, reafirmada com a vitória da direita em Portugal, mas ensaiada também na América Latina, com a ascensão  do neo-pinochetismo de Sebastián Pinera, no Chile. Derrotado nas urnas o conservadorismo tentará esmagar Omala no terceiro turno, através do cerco midiático e da asfixia financeira. Aplicarão contra seu governo o mesmo know-how, ou algo pior, tentado contra Lula no Brasil, Kirchner na Argentina e, mais recentemente, com os golpes contra Evo, na Bolívia. Ontem, a Bolsa de Lima caiu 12%. No Brasil, a mídia reduziu a cobertura das eleições a um "desalento dos mercados" e sombreou o resultado proporcionalmente à consolidação da vantagem de Humala. É só o começo. A integração latinoamericana que se fortaleceu com a manifestação democrático do povo peruano deve agora providenciar os meios para sustentar o novo governo neste início que se configura como uma das transições mais delicadas da política regional.
(Carta Maior; 3º feira, 07/06/ 2011)

domingo, 5 de junho de 2011

BOCA DE URNA: HUMALA VENCE DE VIRADA


O Peru que foi às urnas neste domingo rejeitar a continuidade da política neoliberal personificada em Keiko Fujimori, registrou a maior taxa de crescimento da América Latina no ano passado: 9%. A média de expansão do  seu PIB tem sido elevada, da ordem de 7%; em 2010, o Peru atraiu mais investimentos estrangeiros do que a Argentina. O presidente Alan García, no entanto, deixou o cargo com uma das taxas de popularidade mais baixas das Américas: cerca de 26% -- inferior à de George Bush, por exemplo, que encerrou o mandato em meio  a uma hecatombe financeira e desacreditado pela guerra do Iraque. A explicação para o paradoxo  julgado pelas urnas com a vitoria de Ollanta Humala, segundo a boca de urma,  é o modelo de crescimento adotado pelo país nos últimos anos: o Peru cresceu sem políticas públicas para redistribuir a riqueza em benefício da sociedade, sobretudo de sua vasta maioria pobre constituída de indígenas, que formam 45% da população (brancos são 15%), de onde vieram os votos decisivos  à prevista vitória da candidatura de centro-esquerda. Basicamente exportadora de minérios, a economia peruana beneficiou-se fartamente da valorização dos preços das commodities nos últimos anos. Optou, porém, por um modelo de crescimento de recorte neoliberal extremado feito de  desregulação  máxima e direitos sociais mínimos. A riqueza gerada nessa engrenagem não circulou na sociedade,  concentrando-se numa órbita restrita de beneficiados que gostariam de ver Keiko na sucessão de García. A ausência de carga fiscal sancionou e acentuou  as polarizações daí decorrentes. A receita do Estado peruano é de 15% do PIB, inferior até mesmo à média latinoamericana e caribenha que já é desprezível e oscila em torno de 18% do PIB, contra 39,8% da União Europeia,  onde a rede de contrapesos sociais já está consolidada. O governo Alan García poupou as mineradoras  peruanas de uma taxação correspondente aos lucros fabulosos acumulados no atual ciclo de alta  das matérias-primas. O mercado naturalmente cuidou de seus próprios interesses e o Estado não reuniu fundos para investir em educação, saúde, habitação e segurança alimentar. A renda per capita depois do fastígio neoliberal é de US$ 5.196, bem inferior a de outros países da região, como é o caso  do Uruguai (US$ 12.130), do Chile (US$ 11.587), Brasil (US$ 10.470) e México (US$ 9.243). Mas a verdade é pior que isso. Não há estrutura de direitos trabalhistas: 2/3 da mão de obra peruana trabalha na informalidade; a população rural vegeta; uma professora ganha cerca de  R$ 200,00 por mês. É esse modelo de crescimento que ao gerar riqueza amplifica a desigualdade --  e racha a sociedade em termos econômicos e políticos--  que foi rejeitado hoje nas urnas. O simbolismo do veredito  popular extrapola as fronteiras peruanas e fortalece a integração soberanba de governos progressistas da América LAtina sob a âncora do Brasil.

(Carta Maior; 2º feira, 06/06/ 2011)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Eleição no Peru: O temor de Washington

Peru’s Election Could Change Hemispheric Relations, and Washington is Worried
por Mark Weisbrot, no jornal britânico Guardian
Em alguns dias, no 5 de junho, vai acontecer uma eleição que terá influência significativa no Hemisfério Ocidental. Neste momento está muito equilibrado para prever. A maior parte das autoridades de Washington tem se mantida relativamente quieta, mas não há dúvida de que o governo Obama tem muito em jogo no resultado da eleição.
A eleição é no Peru, onde o populista de esquerda e ex-oficial militar Ollanta Humala vai enfrentar Keiko Fujimori, a filha do ex-governante autoritário Alberto Fujimori, que foi presidente de 1990 a 2000. Alberto Fujimori está na cadeia, servindo uma sentença de 25 anos por múltiplos assassinatos políticos, sequestros e corrupção. Keiko deixou claro que ela o representa e a seu governo, e está cercada por assessores dele e ex-autoridades do governo Fujimori.
Fujimori foi condenado por ter “responsabilidade criminal” pelos assassinatos e sequestros. Mas o governo dele foi responsável por assassinatos e abusos dos Direitos Humanos mais amplos, inclusive a esterilização forçada de dezenas de milhares de mulheres, a maioria indígenas.
Entre os dois candidatos, quem você pensa que Washington prefere? Se você escolheu Keiko Fujimori, chutou certo. Conversei na segunda-feira à noite, em Lima, com Gustavo Gorriti, um premiado jornalista investigativo peruano, cujo sequestro foi um dos casos que levaram à condenação de Fujimori. “A Embaixada dos Estados Unidos se opõe fortemente à candidatura de Humala”, ele disse. O professor de governança de Harvard Steven Levitsky, que escreve extensivamente sobre o Peru e atualmente é professor-visitante na Pontifícia Universidade Católica do Peru (PUCP), chegou à mesma conclusão: “É claro que a Embaixada dos Estados Unidos aqui vê a Keiko como a opção menos ruim”, ele me disse desde Lima, na terça-feira.
Os oponentes de Humala argumentam que a democracia no Peru correria risco se ele fosse eleito, citando uma revolta militar que Humala liderou contra o governo autoritário de Fujimori. (Mais tarde ele foi perdoado pelo Congresso peruano). Mas é difícil comparar a história dele com os crimes provados de Alberto Fujimori.
Humala também é acusado de ser um aliado do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Ele se distanciou de Chávez, diferentemente do que fez na campanha presidencial de 2006. Mas tudo isso é apenas um golpe midiático da direita. Chávez tem sido demonizado por toda a mídia do hemisfério, e assim os monopólios direitistas da mídia o usaram como espantalho em numerosas eleições, por anos, com graus variáveis de sucesso. Naturalmente que a Venezuela é irrelevante para a eleição peruana porque quase todos os governos da América do Sul são “aliados de Chávez”. Isso é especialmente verdadeiro sobre o Brasil, Argentina, Bolívia, Equador e Uruguai, por exemplo, todos com relações próximas e colaborativas com a Venezuela.
Como em muitas outras eleições na América Latina, a dominação direitista da mídia é chave para as táticas de assustar o eleitorado. “A maioria das estações de TV e jornais tem trabalhado ativamente por Fujimori nessa eleição”, disse Levitsky.
A ideia de um novo governo Fujimori é assustadora para um número de proeminentes conservadores na política do Peru, que decidiram apoiar Humala. Entre eles está o novelista ganhador do Nobel Mario Vargas Llosa, que odeia a esquerda da América Latina tanto quanto muitos. Humala também recebeu o apoio de Alejandro Toledo, o ex-presidente peruano que disputou o primeiro turno da eleição.
Então, por que Washington prefere [Keiko] Fujimori? A resposta é bem simples: é sobre a diminuição da influência de Washington em seu ex-quintal latinoamericano. Na América do Sul há governos de centro-esquerda na Argentina, Brasil, Venezuela, Equador, Bolívia, Uruguai e Paraguai. Estes governos tem uma posição comum na maioria das questões hemisféricas (e algumas vezes em questões internacionais, como o Oriente Médio) e frequentemente essa posição difere da de Washington.
Por exemplo, quando os militares hondurenhos derrubaram o presidente eleito de centro-esquerda, em 2009, e o governo Obama buscou legitimar o governo golpista através de eleições que outros governos não reconheceriam, foram os poucos aliados direitistas de Washington que primeiro se distanciaram do resto da América do Sul.
Antes de agosto, os únicos governos da América do Sul com os quais Washington podia contar como aliados eram o Chile, o Peru e a Colômbia. Mas a Colômbia sob o presidente Manuel Santos já não é um aliado automático, já que hoje ele tem boas relações de cooperação com a Venezuela. Se Humala vencer, há poucas dúvidas de que vai se juntar à América do Sul na maioria das questões concernentes a Washington. O mesmo não pode ser dito sobre Keiko Fujimori.
E é por isso que Washington se preocupa com esta eleição.
http://www.guardian.co.uk/commentisfree/cifamerica/2011/jun/02/peru-venezuela
Leia, aqui, sobre o “grande valor” que a palavra do Obama tem no Oriente Médio.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

PERU, VOTO A VOTO


 "Matamos menos que nos anos 80″    (frase de Jorge Trelles, porta-voz informal  de Keiko Fujimori, a candidata da direita nas eleições presidenciais do Peru, que acontecem no próximo domingo, dia 5 de junho. O macabro cinismo de Trelles explodiu no colo da frente de direita  como uma soberba  admissão dos massacres registrados no governo do pai de Keiko, Alberto Fujimori --condenado a 25 anos de prisão como autor intelectual de crimes contra a humanidade cometidos em 1990 e 1991  pela grupo Colina, uma espécie de OBAN peruana engajada na repressão ao movimento maoísta Sendero Luminoso. O comentário insolente de Trelles, ao sugerir  que
 atrocidades ainda piores ocorreram antes, trouxe mais tensão ao último debate presidencial deste domingo na tevê peruana. O desempenho dos candidatos  poderá decidir uma eleição que praticamente cindiu o país: Keiko e Humala estão virtualmente empatados, com uma ligeira vantagem para Keiko, que vem sofrendo rápida erosão de apoiadores e aumento da taxa de rejeiçã . Humala em contrapartida voltou a crescer na margem. O desfecho do pleito terá desdobramentos para a integração latino-americana: um Peru nas mãos da direita reforçará a frente conservadora encabeçada pelo México e pela Colômbia que pretende instaurar  uma aliança comercial pró-EUA na região, afrontando o cinturão progressista constituído de governos soberanos sob a âncora do Brasil).

(Carta Maior; 2º feira, 30/05/ 2011)