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domingo, 5 de junho de 2011

BOCA DE URNA: HUMALA VENCE DE VIRADA


O Peru que foi às urnas neste domingo rejeitar a continuidade da política neoliberal personificada em Keiko Fujimori, registrou a maior taxa de crescimento da América Latina no ano passado: 9%. A média de expansão do  seu PIB tem sido elevada, da ordem de 7%; em 2010, o Peru atraiu mais investimentos estrangeiros do que a Argentina. O presidente Alan García, no entanto, deixou o cargo com uma das taxas de popularidade mais baixas das Américas: cerca de 26% -- inferior à de George Bush, por exemplo, que encerrou o mandato em meio  a uma hecatombe financeira e desacreditado pela guerra do Iraque. A explicação para o paradoxo  julgado pelas urnas com a vitoria de Ollanta Humala, segundo a boca de urma,  é o modelo de crescimento adotado pelo país nos últimos anos: o Peru cresceu sem políticas públicas para redistribuir a riqueza em benefício da sociedade, sobretudo de sua vasta maioria pobre constituída de indígenas, que formam 45% da população (brancos são 15%), de onde vieram os votos decisivos  à prevista vitória da candidatura de centro-esquerda. Basicamente exportadora de minérios, a economia peruana beneficiou-se fartamente da valorização dos preços das commodities nos últimos anos. Optou, porém, por um modelo de crescimento de recorte neoliberal extremado feito de  desregulação  máxima e direitos sociais mínimos. A riqueza gerada nessa engrenagem não circulou na sociedade,  concentrando-se numa órbita restrita de beneficiados que gostariam de ver Keiko na sucessão de García. A ausência de carga fiscal sancionou e acentuou  as polarizações daí decorrentes. A receita do Estado peruano é de 15% do PIB, inferior até mesmo à média latinoamericana e caribenha que já é desprezível e oscila em torno de 18% do PIB, contra 39,8% da União Europeia,  onde a rede de contrapesos sociais já está consolidada. O governo Alan García poupou as mineradoras  peruanas de uma taxação correspondente aos lucros fabulosos acumulados no atual ciclo de alta  das matérias-primas. O mercado naturalmente cuidou de seus próprios interesses e o Estado não reuniu fundos para investir em educação, saúde, habitação e segurança alimentar. A renda per capita depois do fastígio neoliberal é de US$ 5.196, bem inferior a de outros países da região, como é o caso  do Uruguai (US$ 12.130), do Chile (US$ 11.587), Brasil (US$ 10.470) e México (US$ 9.243). Mas a verdade é pior que isso. Não há estrutura de direitos trabalhistas: 2/3 da mão de obra peruana trabalha na informalidade; a população rural vegeta; uma professora ganha cerca de  R$ 200,00 por mês. É esse modelo de crescimento que ao gerar riqueza amplifica a desigualdade --  e racha a sociedade em termos econômicos e políticos--  que foi rejeitado hoje nas urnas. O simbolismo do veredito  popular extrapola as fronteiras peruanas e fortalece a integração soberanba de governos progressistas da América LAtina sob a âncora do Brasil.

(Carta Maior; 2º feira, 06/06/ 2011)

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