Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 7 de março de 2017

A maior depressão da História do Brasil Maior que o Crash de 29, Collor e a da dívida. Um colosso!

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Amigo navegante, veja que a curva da depressão de 2016 se bifurca em dois cenários.
Num cenário otimista e noutro pessimista.
Mesmo na hipótese cegonhóloga, a recuperação da Economia se daria abaixo da que correu nas outras depressões comparáveis: no crash de 29 da Bolsa de Nova Iorque, no confisco da poupança do Collor e na crise da dívida.
O gráfico é de Pedro Rossi, professor do Instituto de Economia da Unicamp.
Em tempo: a barra da esquerda é um número índice, que toma como referência o ano base, isto é, o ano imediatamente anterior à crise, que tem valor 100. A partir dele, pode-se observar o decréscimo percentual do PIB, em cada crise. A curva em preto, referente à crise atual, revela o maior decréscimo do PIB.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Temer quer desmontar o setor p​ú​blico E perpetuar a depressão econômica


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O Conversa Afiada tem o prazer de republicar texto do respeitado economista José Carlos de Assis, enviado ao Senador Roberto Requião, sobre os sinistros planos do Traíra, ou Trambolho, ou Tinhoso.

(Não deixe de ler também "assim seria o "Governo" Temer")

DOIS PROJETOS QUE LIQUIDAM COM O SETOR PÚBLICO E PERPETUAM A DEPRESSÃO

Encontram-se no Congresso dois projetos - PLs 241 e 257/16 - com o objetivo comum de congelar os orçamentos primários da União, dos Estados e dos Municípios. É difícil imaginar como isso possa ter sido pensado por parte de autoridades eleitas ou de burocratas públicos que respondem, de alguma forma, pelo interesse público e o bem estar da sociedade brasileira. Entretanto, isso não só foi pensado, para espanto geral, como foi materializado na forma de projetos de lei que surpreendentemente estão merecendo a simpatia de parte do Congresso.

É preciso dizer que esse surto de imaginação legislativa tem um precedente, embora indireto. No caso do congelamento do orçamento primário da União, o precedente externo é a atitude recorrente do Partido Republicano norte-americano, sob pressão de sua extrema direita, o Tea Party, de tentar congelar o teto da dívida pública – o que implica indiretamente congelar o próprio orçamento. Contudo, embora a imposição de teto tenha sido tentada várias vezes, nunca passou. O Congresso norte-amercano é conservador, mas não é suicida.

É ilustrativo considerar a luta de interesses em torno do projeto republicano nos Estados Unidos para iluminar o que acontece aqui. Embora o congelamento da dívida afetaria toda a sociedade, na forma de cortes generalizados de serviços públicos da União financiados por déficit, o principal bloco de interesses afetado seriam os titulares da gigantesca dívida pública norte-americana. Uma vez congelado teto da dívida, o Estado simplesmente daria calote em parte da dívida que não pudesse ser financiada por emissão de novos títulos públicos.

É que, diferentemente do Brasil, o orçamento da União nos EUA não criou a figura esdrúxula do orçamento primário, que não considera os custos financeiros da dívida pública, principalmente juros. Se, para limitar a dívida, fosse forçado legalmente a cortar o déficit público, inclusive a parte dos juros, o Governo teria, como observado, de dar o calote na dívida, cortando ao mesmo tempo inúmeras despesas públicas. Quando Wall Street percebeu o risco, forçou os republicanos, seus representantes tradicionais, a voltarem atrás. E o projeto não passou.

No caso desse projeto brasileiro, seus formuladores aproveitaram a figura esdrúxula do orçamento primário para garantir que apenas os serviços públicos sejam afetados pela rigidez do teto, por inacreditáveis 20 anos. É um acinte que isso se faça nas barbas do Senado. Se fizermos um exercício de memória, vamos nos recordar de que a figura do orçamento primário aparece na contabilidade fiscal brasileira na época da primeira renegociação da dívida externa, nos anos 80, em plena crise inflacionária. O orçamento primário era a forma de gerar recursos reais, isto é, a diferença entre receitas e despesas correntes da União, para pagar o serviço da dívida pública, que se tornou, desde então, sagrado, tomando a forma de superávit primário permanente.

Portanto, a proposta de estabelecimento de um congelamento de 20 anos para o orçamento social implica congelar todas as despesas correntes e de investimento da União, excetuando apenas as despesas financeiras com o serviço da dívida pública. Mais uma vez, tudo se faz pelo deus Mamon, o deus-dinheiro, conforme a expressão bíblica tantas vezes ciadas pelo papa Francisco. É como se não houvesse crescimento da população, aposentadoria de trabalhadores, melhor qualificação de serviços de saúde e de educação, investimento público em áreas prioritárias, enfim, como se não apenas o orçamento, mas a própria sociedade ficasse congelada.

Mas ainda não tínhamos despertado do susto representado por esse projeto relativo à dívida pública e a Câmara dos Deputados, trabalhando freneticamente em tempos de golpe, decidiu aprovar o projeto PLC 257/16, neste caso trocando um pífio adiamento por dois anos no pagamento das parcelas das infames dívidas estaduais junto à União por um inacreditável dispositivo legal de congelamento em termos reais dos orçamentos públicos primários dos Estados. É a superposição de duas imposições monstruosas no regime fiscal do país, de cujas nefastas consequência escapam apenas os financistas, devotos do deus Mamon.

É preciso que o Senado introduza um elemento de sanidade em todo esse processo pois do contrário o país vai sucumbir, não só à degradação de seus serviços públicos, mas a uma depressão indefinida. É que, desde Keynes, sabe-se que uma economia em recessão não sai da crise exceto pelo aumento do investimento público. Sim, senhores Senadores e Senadoras, sem aumento de investimento público é literalmente impossível recuperar a demanda, já que o setor privado em depressão não tem como gerar demanda para si mesmo. De fato, só o setor público pode investir, sobretudo em infraestrutura, sem esperar pelo aumento anterior da demanda.

Investindo, de preferência deficitariamente, na infraestrutura e mesmo em gastos correntes, o Estado cria demanda para o setor privado; havendo demanda – e não uma fantasiosa “confiança” – o setor privado investe, cria emprego, cria mais demanda, num círculo virtuoso objetivo, não ideológico, que restitui as condições de crescimento da economia. Entretanto, os dois projetos em pauta destroem as possibilidades de o setor público investir, com isso mobilizando recursos financeiros que estão ociosos na sociedade. É uma crime contra a economia, um crime contra a sociedade. Esses projetos, se transformados em lei, liquidam o setor público e perpetuam a depressão em que nos encontramos.

É importante deixar claro, por outro lado, que o suposto alívio das dívidas estaduais oferecido pelo Governo federal nesse projeto inominável não passa de um truque para garrotear os Estados em várias armadilhas, além do congelamento orçamentário. É importante que os governadores, e os senadores que representam os Estados tenham uma visão republicana desse processo. A dívida dos Estados foi paga na origem, já que o Governo federal apenas intermediou os recursos provindos dos cidadãos para pagar bancos credores, sem negociação. Não faz sentido que a dívida seja paga de novo pelos mesmos cidadãos. Assim, mudar indexadores da dívida, como se persegue judicialmente, não é suficiente. Essas dívidas devem ser dadas como quitadas, e o Governo federal deve ressarcir os Estados daquilo que lhes foi cobrado indevidamente. Nessa hipótese, teríamos um importante influxo de recursos na economia, através dos Estados, convertendo a depressão em crescimento econômico.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Risco-Brasil: inferno com FHC, paraíso com Lula


O day after do conservadorismo: dólar cai ao menor nível em 4 meses; bolsa sobe ao maior nível em 5 meses; ações da Petrobras disparam e receita fiscal bate recorde; um dia depois de a S&P rebaixar a nota do Brasil.

A mesma agência que acha o Brasil inconsistente deu ao banco Lehman Brothers um triplo A em agosto de 2008
 
Um mês depois, o Lehman Brothers quebrou disparando a maior crise do capitalismo desde 1929

Investidor estrangeiro despreza alarido ortodoxo e faz investimentos produtivos de US$ 9,2 bi no país no 1º bimestre.

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  "A coisa mais difícil de ganhar na vida é confiança. Em tudo, não só na economia. O rebaixamento é um sinal de desconfiança. É negativo para o país", disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao participar de um evento, em São Paulo; no entanto, em seu governo a classificação brasileira atingiu o nível "altamente especulativo" e só chegou ao "grau de investimento" com o ex-presidente Lula, onde ainda permanece com Dilma, a despeito do rebaixamento de segunda-feira
26 de Março de 2014 às 09:06
247 - Ao participar de um evento ontem em São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou para comentar o rebaixamento do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poors. "Tem que olhar com jeito isso aí porque as agências não são infalíveis. Mas é óbvio que, no caso do Brasil, existem sinais que levam a prestar atenção. O endividamento público cresceu e existe esse artificialismo no manejo do orçamento. Isso tudo pesa e elas (agências) estão registrando", afirmou. "A coisa mais difícil de ganhar na vida é confiança. Em tudo, não só na economia. Isso (rebaixamento) é um sinal de desconfiança. É negativo para o país", acrescentou.
Na segunda-feira, a nota atribuída ao Brasil pela S&P caiu de BBB para BBB-, mas ainda foi mantida no chamado "grau de investimento", ou seja, dos países ainda confiáveis para atrair investimentos. Prova de que a alteração não causou grande impacto, foi o comportamento do mercado financeiro, onde o dólar registrou forte queda e a Bovespa registrou o sétimo pregão consecutivo de alta.
Diante da fala de FHC, no entanto, cabe um registro histórico. Foi em janeiro de 1999, mês da maxidesvalorização do real, adiada em função da reeleição obtida um ano antes, que o chamado risco-Brasil atingiu seu nível mais baixo. Com nota B-, o Brasil foi classificado pela S&P como "altamente especulativo".
Apenas em 30 de abril de 2008, já no governo Lula, o Brasil atingiu o chamado "grau de investimento", com a nota BBB-. A promoção veio em 17 de janeiro de 2011, com a classificação BBB, e agora, nesta segunda-feira, o Brasil voltou ao nível de 2008. Ou seja: houve um rebaixamento, mas a classificação do risco-Brasil ainda é muito superior à da era FHC.
Confira, abaixo, a evolução da nota do Brasil e entenda aqui o que significam as notas:


sexta-feira, 29 de julho de 2011

Risco de calote dos EUA faz mercados falarem em "cataclismo"



Os Estados Unidos estão a uma semana de serem obrigados a suspender os pagamentos à sua administração pública, aos veteranos de guerra e a credores estrangeiros se o governo Obama e o Partido Republicano não resolverem a queda de braço em torno do limite da dívida pública. Fundo Monetário Internacional e Wall Street falam em "cataclismo" de âmbito mundial se esse cenário se concretizar. A dívida pública norte-americana é de 14,3 trilhões de dólares, equivalente a cerca de 100 por cento do PIB do país.

Existe a convicção de que as duas partes não irão até à ruptura mas reina o nervosismo nos mercados financeiros e respectivos símbolos, desde a diretora geral do FMI a Wall Street, que não hesitam em recorrer à palavra “cataclisma” de âmbito mundial se o cenário se concretizar.

São muitas as divergências entre Obama e os democratas de um lado e os republicanos, que dominam a Câmara dos Representantes, do outro. No entanto, que impede verdadeiramente o acordo é o calendário para integração do limite do déficit no orçamento. A Casa Branca insiste que a alteração deve fazer-se de uma só vez, válida até 2013, portanto já depois das eleições presidenciais do próximo ano. Os republicanos, através do presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner, pretendem que a operação seja a dois tempos: um aumento até fevereiro ou março de 2012 e o outro até 2013.

Obama contesta porque, em seu entender, uma crise do mesmo tipo seria reaberta dentro de nove meses, praticamente já em plena campanha eleitoral; Boehner argumenta que o presidente “quer um cheque em branco”. Analistas políticos norte-americanos consideram que o duelo é uma verdadeira queda de braço com um conteúdo eleitoral em que ambas as partes testam reacções perante as suas próximas linhas econômicas e orçamentárias.

Na sequência de uma mensagem televisiva presidencial pedindo aos cidadãos para que pressionem seus representantes sobre a necessidade de se entenderem, Washington tem estado nas últimas horas sob uma tempestade de chamadas telefônicas e mails, sufocando comunicações, websites de representantes e agitando o Twitter através da campanha “Fuck You Washington”.

A dívida pública norte-americana é de 14,3 trilhões de dólares, equivalente a cerca de 100 por cento do PIB, e, mais do que a definição do limite da dívida, o que divide os dois partidos do sistema de poder norte-americano são os conteúdos das reduções de gastos que devem acompanhar esse aumento. Os republicanos pretendem cortes entre 2,7 e 3 trilhões e os democratas vão até 1 trilhão contando com mais 1,2 trilhões que viriam da retirada de tropas do Afeganistão e do Iraque.

Os números nem sempre dão uma ideia da envergadura dos montantes envolvidos, o que levou um website a defini-la graficamente a partir da acumulação de notas de cem dólares de modo a perfazerem o total da dívida do Estado federal norte-americano. Os resultados podem ser encontrados aqui.

As agências de classificação de risco, que mantêm a dívida norte-americana sob pressão, consideram que sem cortes de despesas de 4 trilhões de dólares não haverá condições para travar a “indisciplina orçamentária”.

A imprensa norte-americana recorda que desde que o aumento da dívida norte-americana se tornou vertiginoso, a partir das administrações Reagan nos anos oitenta, os limites já foram alterados cerca de 40 vezes, o que torna inusitado o prolongamento da resistência republicana em relação ao teto. Alguns órgãos da imprensa europeia lembram também que os alargamentos dos limites das dúvidas públicas são frequentes em Estados da União Europeia, inclusivamente na Alemanha, que em 1949 estabeleceu na sua Constituição um limite para o déficit e logo deixou de cumprir essa norma.


Fotos: Visualização da dívida norte-americana em notas de 100 dólares. Foto Christopher Rasch/Flickr

quarta-feira, 27 de abril de 2011

DILMA REJEITA A PAZ SALAZARISTA DOS CEMITÉRIOS


Expectativa de manutenção dos juros baixos nos EUA, a ser sancionada na  reunião do FED  desta quarta-feira,  provocou desvalorização mundial do dólar ontem, com recordes de baixa no Brasil, Austrália, África do Sul e Noruega. Juro baixo  nos EUA e liquidez ilimitada explicam a perda de competitividade das exportações industriais de países em desenvolvimento --o que é péssimo. Explicam também a voragem dos capitais especulativos que tomam de assalto os derivativos de commodities, elevando os preços dos alimentos  para disseminar fome e inflação em todo o planeta.  O antídoto oferecido pela ortodoxia equivale a apagar incendio com o lança-chamas:  um devastador 'choque de juros' para conter uma alta de preços que  independe em certa medida da demanda interna. Ontem, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Dilma, Mantega e outros  (leia reportagem nesta pág) deram um chega para lá no jogral mercadista sonorizado pela mídia demotucana. A exemplo do salazarismo dominante em Portugal entre 1932 e 1968, o que se pretende é embalsamar o Brasil em um formol de inflação baixa, com desemprego alto e juros explosivos. Em resumo, a velha e nostálgica paz dos cemitérios rentistas.  O funeral foi  descartado de maneira lapidar pela Presidenta da República quando disse: "...sempre  é melhor enfrentar os problemas do crescimento do que os problemas do desemprego, da falta de renda, da falta de investimento e da depressão econômica".
(Carta Maior; 4º feira, 27/04/2011)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Amnésia neoliberal: como o Tigre Celta virou um Haiti financeiro

O país que virou suco

Nos anos 80 e 90, a palavra ‘Irlanda’ era pronunciada com a reverencia reservada aos quitutes finos nos banquetes neoliberais. O ‘ajuste irlandês’, iguaria produzida a partir de uma receita de cortes brutais nos gastos públicos, demissão em massa de funcionalismo e isenções maciças de impostos, era vendido nas praças de alimentação do mundo pobre como o cardápio da hora. A Irlanda era por assim dizer a garota do quarteirão do Consenso de Washington. Ombrear-se a ela era possível, mas exigiria uma aplicação de ferro, explicávamos os ventríloquos nativos que agora demonstram súbita amnésia em relação ao passado desta que é a bola da vez da derrocada européia. Recapitulemos então:

1. em meados dos anos 80, a Irlanda adotou um ‘padrão perene’ de ajuste fiscal, cercado de salvas & vivas da ortodoxia mundial;

2. um serviço à la carte foi providenciado na cozinha irlandesa para atender a freguesia do mercado: a anistia tributária veio junto com cortes de despesas e redução dos investimentos públicos em 1987;

3. 14 mil funcionários públicos foram demitidos ou aderiram a programas de demissão voluntária (isso numa população de 4 milhões de pessoas);

4.o ajuste iniciado em 87 veio para ficar. Até meados dos anos 2000, a Irlanda manteve-se fiel à santíssima trindade neoliberal: controle dos gastos públicos, teto no reajuste dos salários públicos [taxa máxima de 2,5% ao ano entre 1988 e 1990] e incentivos 'amigáveis' aos mercados [leia-se, desonerações e vale-tudo];

5.o arrocho fiscal produziu, naturalmente, uma redução substantiva da dívida interna derrubando a despesa com juros de modo a obter um permanente superávit nominal [outro mantra dos neoliberais];

6. a supremacia dos mercados desregulados cavava, porém, vertedouros subterrâneos que corroíam as bases econômicas do país. O foguetório de superfície permanecia: ‘o Tigre Celta’ crescia a taxas chinesas com macroeconomia de paraíso fiscal [nenhuma empresa pagava imposto acima de 12,5%) Quer coisa melhor que isso? Era o prato da hora. Resquícios dessa receita, agora indigesta, ainda frequentam a agenda do grupo pró-mercados que participa da equipe de transição da presidente-eleita Dilma Rousseff;

7. o desfecho irlandês recomendaria maior prudência na transposição de seus fundamentos aos ares tropicais. Os números indicam que o banquete redundou em um atordoante desarranjo gastrointestinal que transformou o ‘Tigre Celta’ numa espécie de Haiti financeiro. A saber:

a) a economia irlandesa degringola desde a explosão da bolha financeira em 2008: de lá para cá o país acumula uma queda de apreciáveis 11,6% do PIB, taxa que o coloca algumas cabeças à frente do que se poderia chamar de recessão. Depressão talvez seja um termo mais apropriado para a convalescença de sangue, suor e lágrimas que pode durar até 15 anos;

b) a Irlanda quebrou quando os fluxos de capitais deixaram de alimentar a ciranda doméstica ancorada em desonerações atraentes aos fundos especulativos, cuja maior obra foi a bolha a imobiliária, agora em estado terminal.

c) os preços dos imóveis já perderam 50% do valor; a inadimplência grassa junto com o desemprego, a fuga de capitais e o arrocho salarial. Há milhares de imóveis vazios e os bancos estão virtualmente falidos: para salvá-los, o país negocia um empréstimo de 100 bilhões de euros com o FMI, sujeito às condicionalidades conhecidas.

d) O que a frivolidade midiática esquece, porém, é que o ‘Tigre Celta’ quebrou, sobretudo, porque não dispunha mais de políticas públicas, de aparato público e, sobretudo, de ideologia do interesse público para contrastar a derrocada dos mercados especulativos com ações anticíclicas em defesa do emprego e da sociedade.

e) O ajuste irlandês’ cantado em prosa e verso pelos bardos da mídia nativa havia reduzido o país a uma extensão direta dos mercados. Não havia como reagir a seus próprios instintos suicidas. A crise fulminou a Irlanda porque o modelo neoliberal irlandês era a própria essência da crise. Que sirva de alerta aos discípulos da 'agenda das reformas' que participam ativamente da equipe de transição da presidente eleita Dilma Rousseff.

Postado por Saul Leblon às 06:29


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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Crise nos EUA: Como é de perto o colapso do império

Friday, Aug 6, 2010 12:07 ET

What collapsing empire looks like

By Glenn Greenwald, no Salon

No momento em que entramos no nono ano da Guerra do Afeganistão com uma tropa reforçada e continuamos a ocupar o Iraque indefinidamente e alimentamos o Estado de Vigilância sem fim, notícias tem surgido de que a Comissão do Déficit Público está trabalhando num plano para cortar benefícios da Previdência Social, do Medicare [programa de atendimento aos idosos] e até mesmo no congelamento dos salários dos militares. Mas um artigo do New York Times de hoje ilustra vividamente com o que se parece um império em colapso, ao mostrar os tipos de cortes de orçamento que cidades de todo o país tem sido forçadas a fazer. Aqui vão alguns exemplos:

Muitas empresas e negócios congelaram as contratações de funcionários este ano, mas o estado do Havaí foi além — congelou os estudantes. As escolas públicas de todo o estado ficaram fechadas em 17 sextas-feiras do mais recente ano escolar, dando aos estudantes o ano acadêmico mais curto do país.

Muitos sistemas de transporte público reduziram serviços para cortar gastos, mas o condado de Clayton, na Geórgia, um subúrbio de Atlanta, adotou o corte total e acabou com todo o sistema público de ônibus. Os últimos ônibus circularam no dia 31 de março, deixando sem transporte 8.400 usuários por dia.

Mesmo a segurança pública não ficou imune ao facão no orçamento. Em Colorado Springs, a crise vai ser lembrada, literalmente, como a idade da escuridão: a cidade apagou um terço dos 24.512 postes de rua para economizar dinheiro em eletricidade, além de reduzir a força policial e vender os helicópteros da polícia.

Há algumas ótimas fotos acompanhando o artigo, inclusive uma mostrando como fica uma rua do Colorado na escuridão causada pelo corte de energia. Enquanto isso, a pequena porção dos mais ricos — aqueles que causaram nossos problemas — continua a se dar bem. Vamos relembrar o que o ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional escreveu na revista Atlantic sobre o que acontece em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento quando surge uma crise financeira causada pela elite:

“Apertar os oligarcas, no entanto, é poucas vezes a escolha dos governos de países emergentes. Ao contrário: no início da crise, os oligarcas são normalmente os primeiros a conseguir ajuda-extra do governo, como acesso preferencial a moedas estrangeiras ou talvez um corte de impostos ou — aqui vai uma técnica clássica do Kremlin — a assunção pelo governo de obrigações de dívidas privadas. Sob pressão, a generosidade para com os amigos assume formas inovadoras. Enquanto isso, se é preciso apertar alguém, a maior parte dos governos de países emergentes primeiro olha para as pessoas comuns — pelo menos até que os protestos se tornem grandes demais”.

A questão real é se o público estadunidense é muito apático e treinado em submissão para que isso aconteça aqui.

Nota: É também importante considerar um artigo publicado no Wall St. Journal no mês passado — com o subtítulo “De volta à Idade da Pedra”– no qual é descrito como “estradas pavimentadas, emblemas históricos de conquistas dos Estados Unidos, estão sendo desmanteladas em regiões rurais do país e substituídas por estradas de cascalho ou outros pavimentos, já que os condados enfrentam orçamentos apertados e não há verbas estaduais ou federais”. O estado de Utah está considerando seriamente eliminar um ano da escola secundária ou torná-lo opcional. E foi anunciado esta semana que “Camden [Nova Jersey] está se preparando para fechar definitivamente seu sistema de bibliotecas até o final do ano, potencialmente deixando os residentes da cidade entre os poucos dos Estados Unidos sem condições de emprestar um livro de graça.”

Alguém duvida que quando uma sociedade não pode mais pagar por escolas, transporte, estradas asfaltadas, bibliotecas e iluminação pública — ou quando escolhe que não pode pagar por isso em busca de prioridades imperiais ou a manutenção de um Estado de Segurança e Vigilância Nacional — um grande problema surgiu, que as coisas desandaram, que o colapso imperial, por definição, é algo inevitavelmente iminente? De qualquer forma, eu apenas queria deixá-los com alguma luz e pensamentos positivos para o fim-de-semana.