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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Antonio Lassance: A “etiqueta” de Lula vem aí

07 Janeiro 2012
Lula e sua etiqueta
por Antonio Lassance, em seu blog
Lula anunciou que sua primeira viagem, depois do tratamento contra o câncer, será ao Rio de Janeiro.
Quer visitar a Rocinha e o Morro do Alemão.
A fonte da informação é o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e foi divulgada pelo jornalista Ancelmo Gois (O Globo, 6/1/2012).
Se isso vier mesmo a ocorrer, irá simbolizar duas coisas: que o ex-presidente está de volta à ativa, firme e forte, e que começou a entrar de cabeça na campanha municipal de 2012.
Desnecessário lembrar que o Rio de Janeiro é uma capital importante e vitrine de várias realizações do Governo Federal na Era Lula, como as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), as UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento de Saúde) e as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que mudaram a paisagem de vários dos morros.
Outra consequência da presença de Lula no cenário das eleições municipais de 2012 será, muito provavelmente, o reaparecimento daquela discussão incongruente sobre “transferência de voto”. Incongruente porque, primeiro, ninguém transfere seu voto pra ninguém. A não ser em caso de fraude, quando o voto de um candidato é tranferido para outro, mas não é disso que se trata. Deixando de lado a fraude, não se poderia falar em transferência nem mesmo na Primeira República, no auge do sistema coronelista, quando o voto era baseado em uma política de compromisso, conforme nos ensina o clássico de Victor Nunes Leal, “Coronelismo, enxada e voto”.
De outra parte, os que rechaçam (corretamente) a tal “transferência” costumam cair no extremo inverso, negando o poder de convencimento e a utilização do prestígio político como tática para tornar um candidato mais conhecido e aceitável. Negam o que de fato existe e que é muito comum. Trata-se de uma espécie de compartilhamento de atributos entre um político muito conhecido e bem visto e alguém ainda pouco conhecido.
A ideia se casa melhor com a noção que alguns renomados cientistas políticos no passado utilizavam: a ideia de “etiqueta”. O raciocínio já foi muito usado com relação aos partidos. Quando os partidos são fortes e bem definidos, se transformam em uma espécie de etiqueta. A analogia tem sido menos usada justamente pela suposição de que há um enfraquecimento dos partidos como referencial básico de distinção política.
Sejam os partidos fortes ou não, com ou sem identidades bem conformadas, o fato é que o eleitor ainda procura por etiquetas. Quando o eleitor não conhece um candidato plenamente, o que ele faz? Olha em suas costas e verifica sua procedência. Que roupa ele veste? Que marcas ele carrega? Tais “marcas” ajudam a realizar escolhas mais sintonizadas com a preferência do eleitor.
Um candidato que trouxer o nome de Lula em suas costas terá certa etiqueta associada a seu nome. Quando Lula estiver ao seu lado, em campanha, ele estará emprestando seus atributos à figura desse ou daquele candidato. Principalmente os candidatos novatos, por serem desconhecidos ou mal conhecidos do eleitor em geral,  precisarão muito disso, e Lula poderá ser seu principal “out-door”.
Daí não se pode inferir que basta ter uma marca forte (como a marca Lula) para um candidato ser eleito. Inversamente, também não se pode esquecer que, principalmente em disputas acirradas, decididas muitas vezes com margem estreita de votos, um apoio desses pode fazer toda a diferença.
Ou seja, ao se evitar a ideia de transferência de votos, não se pode cair em outro erro, por exemplo, o de negligenciar o peso que Lula terá nas eleições para prefeito neste ano de 2012. Alguns analistas cometeram esse erro, em 2010, quando apostaram que o então presidente não conseguiria alavancar a candidatura Dilma. Perderam a aposta. Têm agora a chande de pensar duas vezes no assunto antes de proferirem seus prognósticos.
*Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e cientista político. As opiniões expressas neste artigo não refletem opiniões do Instituto.
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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Amnésia neoliberal: como o Tigre Celta virou um Haiti financeiro

O país que virou suco

Nos anos 80 e 90, a palavra ‘Irlanda’ era pronunciada com a reverencia reservada aos quitutes finos nos banquetes neoliberais. O ‘ajuste irlandês’, iguaria produzida a partir de uma receita de cortes brutais nos gastos públicos, demissão em massa de funcionalismo e isenções maciças de impostos, era vendido nas praças de alimentação do mundo pobre como o cardápio da hora. A Irlanda era por assim dizer a garota do quarteirão do Consenso de Washington. Ombrear-se a ela era possível, mas exigiria uma aplicação de ferro, explicávamos os ventríloquos nativos que agora demonstram súbita amnésia em relação ao passado desta que é a bola da vez da derrocada européia. Recapitulemos então:

1. em meados dos anos 80, a Irlanda adotou um ‘padrão perene’ de ajuste fiscal, cercado de salvas & vivas da ortodoxia mundial;

2. um serviço à la carte foi providenciado na cozinha irlandesa para atender a freguesia do mercado: a anistia tributária veio junto com cortes de despesas e redução dos investimentos públicos em 1987;

3. 14 mil funcionários públicos foram demitidos ou aderiram a programas de demissão voluntária (isso numa população de 4 milhões de pessoas);

4.o ajuste iniciado em 87 veio para ficar. Até meados dos anos 2000, a Irlanda manteve-se fiel à santíssima trindade neoliberal: controle dos gastos públicos, teto no reajuste dos salários públicos [taxa máxima de 2,5% ao ano entre 1988 e 1990] e incentivos 'amigáveis' aos mercados [leia-se, desonerações e vale-tudo];

5.o arrocho fiscal produziu, naturalmente, uma redução substantiva da dívida interna derrubando a despesa com juros de modo a obter um permanente superávit nominal [outro mantra dos neoliberais];

6. a supremacia dos mercados desregulados cavava, porém, vertedouros subterrâneos que corroíam as bases econômicas do país. O foguetório de superfície permanecia: ‘o Tigre Celta’ crescia a taxas chinesas com macroeconomia de paraíso fiscal [nenhuma empresa pagava imposto acima de 12,5%) Quer coisa melhor que isso? Era o prato da hora. Resquícios dessa receita, agora indigesta, ainda frequentam a agenda do grupo pró-mercados que participa da equipe de transição da presidente-eleita Dilma Rousseff;

7. o desfecho irlandês recomendaria maior prudência na transposição de seus fundamentos aos ares tropicais. Os números indicam que o banquete redundou em um atordoante desarranjo gastrointestinal que transformou o ‘Tigre Celta’ numa espécie de Haiti financeiro. A saber:

a) a economia irlandesa degringola desde a explosão da bolha financeira em 2008: de lá para cá o país acumula uma queda de apreciáveis 11,6% do PIB, taxa que o coloca algumas cabeças à frente do que se poderia chamar de recessão. Depressão talvez seja um termo mais apropriado para a convalescença de sangue, suor e lágrimas que pode durar até 15 anos;

b) a Irlanda quebrou quando os fluxos de capitais deixaram de alimentar a ciranda doméstica ancorada em desonerações atraentes aos fundos especulativos, cuja maior obra foi a bolha a imobiliária, agora em estado terminal.

c) os preços dos imóveis já perderam 50% do valor; a inadimplência grassa junto com o desemprego, a fuga de capitais e o arrocho salarial. Há milhares de imóveis vazios e os bancos estão virtualmente falidos: para salvá-los, o país negocia um empréstimo de 100 bilhões de euros com o FMI, sujeito às condicionalidades conhecidas.

d) O que a frivolidade midiática esquece, porém, é que o ‘Tigre Celta’ quebrou, sobretudo, porque não dispunha mais de políticas públicas, de aparato público e, sobretudo, de ideologia do interesse público para contrastar a derrocada dos mercados especulativos com ações anticíclicas em defesa do emprego e da sociedade.

e) O ajuste irlandês’ cantado em prosa e verso pelos bardos da mídia nativa havia reduzido o país a uma extensão direta dos mercados. Não havia como reagir a seus próprios instintos suicidas. A crise fulminou a Irlanda porque o modelo neoliberal irlandês era a própria essência da crise. Que sirva de alerta aos discípulos da 'agenda das reformas' que participam ativamente da equipe de transição da presidente eleita Dilma Rousseff.

Postado por Saul Leblon às 06:29


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