07 Janeiro 2012
Lula e sua etiqueta
por Antonio Lassance, em seu blog
Lula anunciou que sua primeira viagem, depois do tratamento contra o câncer, será ao Rio de Janeiro.
Quer visitar a Rocinha e o Morro do Alemão.
A fonte da informação é o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e foi divulgada pelo jornalista Ancelmo Gois (O Globo, 6/1/2012).
Se isso vier mesmo a ocorrer, irá simbolizar duas coisas: que o ex-presidente está de volta à ativa, firme e forte, e que começou a entrar de cabeça na campanha municipal de 2012.
Desnecessário lembrar que o Rio de Janeiro é uma capital importante e vitrine de várias realizações do Governo Federal na Era Lula, como as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), as UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento de Saúde) e as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que mudaram a paisagem de vários dos morros.
Outra consequência da presença de Lula no cenário das eleições municipais de 2012 será, muito provavelmente, o reaparecimento daquela discussão incongruente sobre “transferência de voto”. Incongruente porque, primeiro, ninguém transfere seu voto pra ninguém. A não ser em caso de fraude, quando o voto de um candidato é tranferido para outro, mas não é disso que se trata. Deixando de lado a fraude, não se poderia falar em transferência nem mesmo na Primeira República, no auge do sistema coronelista, quando o voto era baseado em uma política de compromisso, conforme nos ensina o clássico de Victor Nunes Leal, “Coronelismo, enxada e voto”.
De outra parte, os que rechaçam (corretamente) a tal “transferência” costumam cair no extremo inverso, negando o poder de convencimento e a utilização do prestígio político como tática para tornar um candidato mais conhecido e aceitável. Negam o que de fato existe e que é muito comum. Trata-se de uma espécie de compartilhamento de atributos entre um político muito conhecido e bem visto e alguém ainda pouco conhecido.
A ideia se casa melhor com a noção que alguns renomados cientistas políticos no passado utilizavam: a ideia de “etiqueta”. O raciocínio já foi muito usado com relação aos partidos. Quando os partidos são fortes e bem definidos, se transformam em uma espécie de etiqueta. A analogia tem sido menos usada justamente pela suposição de que há um enfraquecimento dos partidos como referencial básico de distinção política.
Sejam os partidos fortes ou não, com ou sem identidades bem conformadas, o fato é que o eleitor ainda procura por etiquetas. Quando o eleitor não conhece um candidato plenamente, o que ele faz? Olha em suas costas e verifica sua procedência. Que roupa ele veste? Que marcas ele carrega? Tais “marcas” ajudam a realizar escolhas mais sintonizadas com a preferência do eleitor.
Um candidato que trouxer o nome de Lula em suas costas terá certa etiqueta associada a seu nome. Quando Lula estiver ao seu lado, em campanha, ele estará emprestando seus atributos à figura desse ou daquele candidato. Principalmente os candidatos novatos, por serem desconhecidos ou mal conhecidos do eleitor em geral, precisarão muito disso, e Lula poderá ser seu principal “out-door”.
Daí não se pode inferir que basta ter uma marca forte (como a marca Lula) para um candidato ser eleito. Inversamente, também não se pode esquecer que, principalmente em disputas acirradas, decididas muitas vezes com margem estreita de votos, um apoio desses pode fazer toda a diferença.
Ou seja, ao se evitar a ideia de transferência de votos, não se pode cair em outro erro, por exemplo, o de negligenciar o peso que Lula terá nas eleições para prefeito neste ano de 2012. Alguns analistas cometeram esse erro, em 2010, quando apostaram que o então presidente não conseguiria alavancar a candidatura Dilma. Perderam a aposta. Têm agora a chande de pensar duas vezes no assunto antes de proferirem seus prognósticos.
*Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e cientista político. As opiniões expressas neste artigo não refletem opiniões do Instituto.
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por Antonio Lassance, em seu blog
Lula anunciou que sua primeira viagem, depois do tratamento contra o câncer, será ao Rio de Janeiro.
Quer visitar a Rocinha e o Morro do Alemão.
A fonte da informação é o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e foi divulgada pelo jornalista Ancelmo Gois (O Globo, 6/1/2012).
Se isso vier mesmo a ocorrer, irá simbolizar duas coisas: que o ex-presidente está de volta à ativa, firme e forte, e que começou a entrar de cabeça na campanha municipal de 2012.
Desnecessário lembrar que o Rio de Janeiro é uma capital importante e vitrine de várias realizações do Governo Federal na Era Lula, como as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), as UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento de Saúde) e as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que mudaram a paisagem de vários dos morros.
Outra consequência da presença de Lula no cenário das eleições municipais de 2012 será, muito provavelmente, o reaparecimento daquela discussão incongruente sobre “transferência de voto”. Incongruente porque, primeiro, ninguém transfere seu voto pra ninguém. A não ser em caso de fraude, quando o voto de um candidato é tranferido para outro, mas não é disso que se trata. Deixando de lado a fraude, não se poderia falar em transferência nem mesmo na Primeira República, no auge do sistema coronelista, quando o voto era baseado em uma política de compromisso, conforme nos ensina o clássico de Victor Nunes Leal, “Coronelismo, enxada e voto”.
De outra parte, os que rechaçam (corretamente) a tal “transferência” costumam cair no extremo inverso, negando o poder de convencimento e a utilização do prestígio político como tática para tornar um candidato mais conhecido e aceitável. Negam o que de fato existe e que é muito comum. Trata-se de uma espécie de compartilhamento de atributos entre um político muito conhecido e bem visto e alguém ainda pouco conhecido.
A ideia se casa melhor com a noção que alguns renomados cientistas políticos no passado utilizavam: a ideia de “etiqueta”. O raciocínio já foi muito usado com relação aos partidos. Quando os partidos são fortes e bem definidos, se transformam em uma espécie de etiqueta. A analogia tem sido menos usada justamente pela suposição de que há um enfraquecimento dos partidos como referencial básico de distinção política.
Sejam os partidos fortes ou não, com ou sem identidades bem conformadas, o fato é que o eleitor ainda procura por etiquetas. Quando o eleitor não conhece um candidato plenamente, o que ele faz? Olha em suas costas e verifica sua procedência. Que roupa ele veste? Que marcas ele carrega? Tais “marcas” ajudam a realizar escolhas mais sintonizadas com a preferência do eleitor.
Um candidato que trouxer o nome de Lula em suas costas terá certa etiqueta associada a seu nome. Quando Lula estiver ao seu lado, em campanha, ele estará emprestando seus atributos à figura desse ou daquele candidato. Principalmente os candidatos novatos, por serem desconhecidos ou mal conhecidos do eleitor em geral, precisarão muito disso, e Lula poderá ser seu principal “out-door”.
Daí não se pode inferir que basta ter uma marca forte (como a marca Lula) para um candidato ser eleito. Inversamente, também não se pode esquecer que, principalmente em disputas acirradas, decididas muitas vezes com margem estreita de votos, um apoio desses pode fazer toda a diferença.
Ou seja, ao se evitar a ideia de transferência de votos, não se pode cair em outro erro, por exemplo, o de negligenciar o peso que Lula terá nas eleições para prefeito neste ano de 2012. Alguns analistas cometeram esse erro, em 2010, quando apostaram que o então presidente não conseguiria alavancar a candidatura Dilma. Perderam a aposta. Têm agora a chande de pensar duas vezes no assunto antes de proferirem seus prognósticos.
*Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e cientista político. As opiniões expressas neste artigo não refletem opiniões do Instituto.
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