Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Dilma e Obama, Brasil e EUA.

dilmob

O discurso de Barack Obama, mesmo com a inegável simpatia pessoal que ele desperta e apesar da inevitável auto-suficiência que marca os posicionamentos dos EUA diante do mundo,  passou-me uma estranha sensação: a de ver o chefe da maior potência militar do planeta dar explicações na ONU e considerar tanto a repercussão externa de suas palavras, quanto o público que realmente lhe importa: os próprios americanos.

Se não houve concessões práticas, as verbais foram muitas, inclusive a de não demonizar as opiniões divergentes. Sinal de que o drible diplomático que levou da Rússia, na questão síria, o abalou – até porque os russos é que lhe abriram a saída política que, internamente, precisava para retroceder da decisão de atacar que tão pouco apoio interno tivera nos EUA.
Mas, por isso e por precisar de algo para tirar o foco das acusações duras que sofreria pela espionagem, precisou lançar uma carta nova à mesa, e esta carta foi o aceno de diálogo com o Irã.
Obama está naquela incômoda posição de, no meio do caminho, não agradar ninguém. Internamente, segue passando a imagem de fraco e esquerdista. Externamente, a de belicista e invasor da privacidade e da soberania alheias.
E Dilma?
A brasileira falou também para os dois públicos.
Para o interno, falou claramente da violação de nossa soberania e da privacidade de nossas comunicações, inclusive fazendo menção aos interesses empresariais  envolvidos nisso. Sem concessões, sem “sapatinhos”, sem tolerância com razões de guerra ao terrorismo que amenizassem a gravidade dos atos americanos.
Também marcou pontos ao tratar, num foro internacional, de problemas internos, como as manifestações de junho, demonstrando que não chefia um governo enfraquecido e questionado, mas está disposta a liderar qualquer processo de reivindicação interno, em lugar de se opor a ele.
Mas o grande recado que passou foi a disposição brasileira de assumir um papel de destaque e questionamento da ordem internacional dentro da própria ONU.
Aliás, mais que isso.
Mostrou que o país está disposto a dialogar e fazer alianças com outras nações, fora do eixo EUA-Europa, desde que elas atendam ao nosso desejo de nos projetarmos, polìtica, econômica e diplomaticamente. Rússia e China entenderam perfeitamente o recado de Dilma e não se surpreendam que países pró-americanos, como Japão e Índia, além dos latinos e africanos, queiram trocar ideias neste campo.
A bússola político-diplomática de um país sempre segue o mesmo Norte dos seus relacionamentos econômicos e vice-versa.
E, neste campo, amor é reciprocidade.
Obama não vai poder dizer que Dilma é “a cara”, mas já sabe que ela não é só de fazer caras.
 Por: Fernando Brito

sexta-feira, 19 de julho de 2013

LULA SOBRE O IRÃ. OBAMA TRAIU ! Sabe qual é a conclusão ? Não pode ter um novo ator ! Eles não deixam !

É verdade que você não acredita no Holocausto ? Se for, é o único !
O presidente Lula fez uma revelação sobre o papel do Brasil na negociação para evitar a crise entre o Irã e os países ricos, por causa do programa nuclear.

Esta é a primeira vez que Lula dá detalhes de como foi traído por Barack Obama e os países ricos.

O relato fez parte de sua participação na série de palestras “2003-2013 – Uma Nova Política Externa – Conferência Nacional”, que se realiza desde segunda-feira na Universidade Federal do ABC (criada pelo Presidente Lula), no campus de São Bernardo.

Segue-se uma reprodução livre do depoimento de Lula:


Lula conta que não conhecia o presidente do Irã, Ahmadinejad.

Encontrou com ele em Nova York e perguntou: você não acredita no Holocausto ?

Se for isso, você é o único que não acredita !

Ahmadinejad respondeu: não foi isso o que eu quis dizer.

O que eu quis dizer é que morreram 70 milhões na Segunda Guerra e fica parecendo que só morreram os judeus.

Então, disse o Lula: a pior coisa num político é não se fazer entender. 

Então vá lá e diga. Mas, reconheça que os judeus não morreram na Guerra ! Foi um genocídio !

Aí, Lula disse a Ahmadinejad que queria para o Irã o mesmo que quer para o Brasil: enriquecer urânio e usar para fins científicos e para a energia nuclear. Fora disso, não tem o meu apoio.

Aí, Lula chegou e perguntou ao Obama: você já conversou com o Ahmadinejad ? Não, ele respondeu.

À Merkel: você já conversou ? Não.

Ao Sarkozy: você já conversou com Ahmadinejad ? Não.

Ao Gordon Brown. Não !

Ao Berlusconi: não !

Como é possível que dois chefes de Estado não possam conversar sobre um problema ?, se perguntou Lula.

Aí, Lula achou era possível tentar um acordo.

E se comprometeu a ir a Teerã para que Ahmadinejad deixasse a Agência Internacional de Energia Atômica (da ONU) ir inspecionar as instalações nucleares iranianas.

Lula cansou de ouvir da Hillary Clinton para não ir – imita a voz fanhosa de Hillary – , porque seria uma ingenuidade.

Lula estava em Moscou, com o presidente Mevdev, e ligaram dos Estados Unidos: você é um ingênuo, não vá lá.

Lula passou dois dias no Irã com o ministro Celso Amorim.

Esteve com o presidente do Congresso, com o grande líder Khamenei e com Ahmadinejad.

Eu disse pra ele: perdi todos os meus amigos.

A minha querida imprensa democrática me bate pra cacete.

Eu não saio daqui sem um compromisso.

Negociamos até meia noite.

Combinamos que no dia seguinte, às 9h da manhã, assinaríamos um acordo.

Aí, o Sarkozy telefonou: o Ahmadinejad não cumpre o que promete. Tem que fazer ele assinar.

Às 9h da manha, o Ahamadinejad pergunta se não dava para ser só de boca.

Sabe o que todo mundo diz de você ?, Lula pergunta. Sabe ? Que você não cumpre o que promete.

Só saio daqui com papel escrito !

Dez dias antes de viajar, o Obama tinha mandado uma carta ao Lula com os pontos que achava inegociáveis na questão nuclear iraniana. O que o Ahmadinejad tinha que topar fazer.

A carta-compromisso que o Ahmadinejad assinou cumpria tudo o que o Obama pediu !

Dias depois, a agência Reuters publicou a carta de Obama e estava tudo lá: na carta que o Ahmadinejad assinou.

Eu achei, disse o Lula, que, quando o Celso Amorim – e Lula elogiou muito o trabalho de Amorim – anunciasse a próxima ida da Agência Internacional de Energia Nuclear a Teerã, e divulgasse a carta,  a crise amainasse.

Mas, não !

Os países ricos aumentaram a pressão sobre Ahmadinejad.

Que aquela carta não valia !

Sabe qual é a minha conclusão ?, perguntou Lula.

Que eles (os ricos) não querem que exista um novo ator !

O Brasil ? Não ! Não se meta ! O Oriente Médio não é coisa pra você !

É coisa nossa !

Ah, é ?

Então, se a ONU foi capaz de criar o Estado de Israel, por que não cria o Estado Palestino ?


(Essa é uma reprodução não literal de um trecho da palestra de Lula, feita por Paulo Henrique Amorim, que a assistiu, ao vivo, no Conversa Afiada)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Kodak escondia reator nuclear e urânio enriquecido em sua sede

Foto: Nuclear Regulatory Commission
Autoridades se disseram "surpresas", já que empresas privadas não deveriam ter acesso a esse tipo de material.
Ainda em meio ao impasse com o programa nuclear do Irã, o governo dos Estados Unidos teve de lidar com uma incômoda "surpresa" nesta semana. Um reator atômico foi descoberto em uma das sedes da empresa de produtos fotográficos Kodak, onde estaria escondido há pelo menos 30 anos. O aparelho, de acordo com a imprensa norte-americana, foi adquirido nos anos 1970 com o objetivo de servir ao estudo de novas técnicas de revelação.
O reator tem o tamanho de um refrigerador popular e ficou guardado em uma área secreta e segurança máxima no subsolo da sede da Kodak até 2007. De acordo com as informações veiculadas, o cientista envolvido declarou que não havia riscos e que na área externa nunca foi registrada radiação em níveis perigosos.
Foi encontrado também, na sede da Kodak, um quilo de urânio enriquecido, material utilizado na construção de bombas atômicas e que tem sido o centro de todas as discussões sobre o programa nuclear iraniano.
O Centro de Não Proliferação de Armas Nucleares disse que a "descoberta" revela algo estranho, pois empresas privadas não deveriam ter acesso a esse tipo de material.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Guerra na agenda. E a ONU, nada?

 

Míssil israelense atinge refugiados palestinos, em 2007. Sendo de Israel, pode?
Inacreditável que a comunidade internacional vá assistir parada às afirmações do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta, veiculadas pelo Washington Post,   de que Israel fará um ataque ao Irã, entre abril e junho deste ano.
Não se trata de ser pró ou contra Israel ou o Irã. Trata-se de uma ofensa inadmissível ao Direito internacional.
A desculpa de que, embora não haja provas, o Irã poderia ter, daqui a alguns anos, armas nucleares, é rota e esfarrapada.
Caso contrário, seria o mesmo que admitir que o Irã atacasse Israel por este país ter programas bélicos nucleares e já possuir a própria bomba.
É legítimo ameaçar – e já fazer – embargo comercial ao Irã e Israel nem ser advertido por seu principal parceiro e protetor?
Benjamin Netanyahu não atacará sem sinal verde dos Estados Unidos.
É preciso, portanto, que a comunidade internacional pressione mais os EUA do que o próprio Israel.
Se não tiver autoridade para prevenir e evitar um ataque que ateará fogo no mundo islâmico, o mundo não tem moral para exigir nada do Irã.
Se vale a lei da selva, vale para todos.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Assassinato seletivo: isso serve para provocar a guerra

O jornalista Caio Blinder defendeu, em um programa de TV, o “assassinato” de cientistas que participam do “programa de enriquecimento de urânio do Estado Terrorista iraniano”. Argumentou que é “preciso matar gente agora” para evitar mais mortes do futuro. Cerca de 1.300 estudantes universitários iranianos pediram para mudar as suas áreas de estudo para o campo das ciências nucleares após o assassinato. Veja só Sr Blinder! Será preciso eliminar esses estudantes também porque um dia eles serão cúmplices do projeto nuclear iraniano! O artigo é de Reginaldo Nasser.







Esta circulando pelos blogs e redes sociais trecho de um programa de TV paga [Manhattan Conection, ver vídeo acima] em que um dos comentaristas, Sr. Caio Blinder, apóia o “assassinato” de cientistas que participam do “programa de enriquecimento de urânio do Estado Terrorista iraniano”. Argumenta que é “preciso matar gente agora” para evitar mais mortes do futuro, além do que, acrescenta, “você intimida outros cientistas”.

O tema já foi intensamente debatido nos EUA, em 2007, quando o professor de direito Glenn Reynolds criticou o presidente Bush por não fazer o suficiente para parar o programa nuclear iraniano (vejam só Bush acusado de ser soft demais!) e, em seguida, defendeu que os EUA deveriam assassinar líderes religiosos e cientistas nucleares iranianos com o objetivo de intimidar o governo do Irã. Portanto, se nos EUA a justificativa para esse tipo de crime não é algo incomum, no Brasil - salvo engano meu- é a primeira vez que aparece publicamente nos meios de comunicação e por isso julgo necessário tecer algumas considerações.

No dia 11 de janeiro de 2012, Ahmadi Roshan, engenheiro químico da usina de enriquecimento de urânio de Natanz, foi assassinado nas ruas de Teerã após explosão de uma bomba em seu carro. É mais um de uma série de acontecimentos similares. Em dezembro de 2011, sete pessoas morreram em uma explosão em Yazd. Em 28 de novembro, uma bomba explodiu nas instalações nucleares em Isfahan. Em 12 de novembro, 17 pessoas foram mortas por uma explosão perto de Teerã.. Em 29 de novembro de 2010, o cientista Shahriari foi morto da mesma forma como Roshan, com uma bomba plantada em seu carro. Em todos os casos as autoridades dos EUA e de Israel negaram veementemente qualquer envolvimento.

Mas qual é o problema? De forma declarada ou encoberta tanto EUA, como Israel, sempre adotaram a tática do assassinato seletivo. Desde 11 de setembro, o governo dos EUA tem realizado operações similares (“assassinatos seletivos”) mesmo fora dos campos de batalha do Afeganistão e do Iraque, como no Iêmen, Paquistão, Somália, Síria e possivelmente em outros lugares, causando a morte de mais de 2 mil supostos terroristas e de incontáveis vitimas civis. A justificativa está fundamentada numa autorização legal, aprovada na Câmara e no Senado, atribuindo ao Presidente o poder para adotar as medidas que julgue necessárias para impedir ou prevenir atos de terrorismo internacional contra os Estados Unidos.

É importante notar que até pouco tempo atrás a justificativa para assassinar civis pressupunha a participação direta desses nas hostilidades. Quando se diz que um assassinato seletivo é "necessário" entende-se que matar era a única maneira de evitar um ataque iminente. Mas no caso dos cientistas é praticamente impossível afirmar que matá-los era necessário para impedir o Irã de lançar um ataque nuclear iminente contra Israel ou qualquer outro país. A não ser que haja uma nova doutrina em formação: “assassinato seletivo preventivo”.

Voltando ao porta-voz brasileiro dos fundamentalistas norte-americanos, o Sr. Blinder, que é uma pessoa bem informada, sabe que além da quantidade e qualidade de urânio ou plutônio, a produção de armas nucleares também requer os meios para levá-las ao seu destino (mísseis e ogivas). Portanto, é um projeto que envolve grande quantidade de cientistas, engenheiros e operadores. Levando à extremidade lógica o argumento dos fundamentalistas, será preciso assassinar mais algumas centenas ou mesmo milhares de pessoas. Claro, com o nobre objetivo de evitar mais mortes! Aliás, 90% das mortes de norte-americanos no mundo ocorrem devido à utilização de armas e munições produzidas no próprio EUA.

Portanto, somos tentados a concluir que os responsáveis pela indústria bélica (armas leves) nos EUA deveriam ser assassinados, pois evitaria a morte de milhares de norte-americanos? A ser levada a sério essa proposta (assassinato de cientistas), não é improvável que os congressos científicos internacionais acabem se convertendo em um verdadeiro festival de tiroteios e bombas. Aliás, o suposto efeito da intimidação, pressuposto dessas ações, está gerando um efeito oposto. Cerca de 1.300 estudantes universitários iranianos pediram para mudar as suas áreas de estudo para o campo das ciências nucleares após o assassinato. Veja só Sr Blinder! Será preciso eliminar esses estudantes também porque um dia eles serão cúmplices do projeto nuclear iraniano!

Dentro da mesma linha de raciocínio o proprietário do Atlanta Jewish Times, Andrew Adler, pediu desculpas na semana passada depois de sugerir que o assassinato do presidente Obama era uma opção que deveria ser considerada pelo governo israelense, conforme relatado pelo Huffington Post. De acordo com Adler, Israel tem apenas três opções disponíveis para se manter seguro: 1. atacar Hezbollah e o Hamas, 2. destruir as instalações nucleares do Irã; 3. assassinar Obama!

Estranhamente o “assassinato seletivo” ocorreu três dias após a afirmação do secretario de Defesa dos EUA de que era improvável que os iranianos estivessem tentando desenvolver uma arma nuclear e no momento em que governo iraniano reiniciava as negociações com o grupo (P5 +1) para autorizar a realização de uma visita de delegados da Agência Internacional de Energia Atômica em seu pais.

Fica claro que o objetivo do assassinato dos cientistas é provocar uma forte reação da linha dura iraniana justificando, dessa forma, os famosos ataques preventivos. De acordo com reportagem na Foreign Policy, que teve acesso a memorandos elaborados pelo governo Bush, a Mossad usa as credenciais da CIA para recrutar membros da organização Jundallah (considerada terrorista pelo governo dos EUA) para lançar ataques contra o Irã. Como notou o analista internacional, Pierre Sprey, vivemos um daqueles raros e perigosos momentos da história, quando o “Big Oil” e os israelenses estão pressionando a Casa Branca na mesma direção. A última vez que isso aconteceu resultou na invasão do Iraque.

(*) Professor de Relações Internacionais da PUC (SP) e do Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP).

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

No Golfo, a China pesa para o ‘lado certo da história’

 
 
18/1/2012, M K Bhadrakumar, Asia Times Onlinehttp://www.atimes.com/atimes/China/NA18Ad02.html
Ignorou as ameaças dos EUA nas sanções contra o Irã; superou, numa passada, a divisão entre sunitas e xiitas no Golfo Persa; não deu à Primavera Árabe mais atenção que a mínima necessária; e, simultaneamente, saudou elegantemente os islâmicos. E, tudo isso, em concerto solo. A diplomacia chinesa nada de braçada no Oriente Médio.

O premiê Wen Jiabao está em visita de seis dias à Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Qatar, em movimento de diplomacia de primeiríssima qualidade. A China é provavelmente a única grande potência, dentre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que se pode declarar parceira firme de Síria e Irã, por um lado; e também de Arábia Saudita e Qatar, pelo outro lado.

A China está conduzindo seu festim político e diplomático sem desperdiçar recursos e sem se comprometer em atos ou retórica espetaculosos.

Prática e político-ideológica

Mesmo assim, a China está incrivelmente ativa na região, expandindo sua presença de modo consistente e orientado, de olhos postos no futuro distante.

No “sombrio pano de fundo político e econômico da paisagem internacional” hoje – com os EUA em declínio e a Europa em crise – a China viu uma janela de oportunidades particularmente convidativa para apresentar-se como parceira ideal para o Oriente Médio na “tarefa comum de contornar o impacto negativo do mal-estar econômico global”, de tal modo que os dois lados “possam extrair todas as vantagens de suas respectivas potencialidades e, juntas, trabalhar objetivamente para o desenvolvimento comum” – nas palavras da agência de notícias Xinhua, falando da “enorme importância” do tour de Wen pela região.

Os fatos falam por si mesmos. A China comprou um combinado de 1,15 milhões de barris/dia de petróleo dos três países de maioria sunita agora incluídos no roteiro de Wen. Nos primeiros 11 meses de 2011, o fornecimento saudita à China permaneceu no patamar de 45,5 milhões de toneladas de cru – aumento de cerca de 13% em relação ao mesmo período de 2010.

O Qatar é o maior fornecedor de gás natural liquefeito para a China e, nos primeiros 11 meses de 2011 embarcou 1,8 milhões de toneladas, aumento de 76%. O comércio com os Emirados Árabes Unidos ultrapassa $36 bilhões e o reino está surgindo como o principal porto de transbordo para as exportações chinesas que viajam para África e Europa.

Os investimentos chineses em países árabes chegam a $15 bilhões e o relacionamento econômico se está diversificando, agora que a China estimula fortemente seus projetos de exportação. Em troca, o Golfo Persa é hoje o principal investidor estrangeiro da economia chinesa.

Mas a China também está comprando muito petróleo do Irã. Cerca de 22% de todo o petróleo que a China importa é petróleo iraniano. O comércio com o Irã chegou a 30 bilhões em 2010 e deve chegar a $50 bilhões em 2015. A China dá conta de 10% das importações iranianas e é o principal parceiro comercial do Irã.

O número-alvo que China e países árabes haviam definido para o comércio entre eles, para 2015, é $200 bilhões. Mas ao final de 2011 as trocas comerciais já chegavam aos $190 bilhões.

Wen testemunhou na Arábia Saudita a assinatura de um contrato entre a China Petrochemical Corporation (Sinopec) e a saudita Aramco, para construírem, até 2014, uma refinaria que custará $8,5 bilhões, com capacidade para refinar 400 mil barris por dia, em Yanbu, no litoral do Mar Vermelho, ações distribuídas na proporção de 35,5%-62,5% respectivamente. E um memorando de entendimento foi assinado entre a gigante petroquímica saudita SABIC e a Sinopec para construir polo petroquímico em Tianjin.

Os dois países assinaram também acordo de cooperação nuclear, durante a visita de Wen. A Arábia Saudita tem planos para construir 16 reatores nucleares até 2030; e a China investe num plano ambicioso de converter-se em exportadora de usinas nucleares.

Mas a China não está confiando só nos estreitos laços que a ligam ao Irã. Semana passada assinaram-se em Pequim várias declarações que reafirmam a importância do relacionamento Sino-Iraniano. Na prática, ignoraram-se todas as ‘exigências’ dos EUA com vistas a diminuir as vendas de petróleo iraniano e todas as ‘sanções’ recentemente ‘impostas’.

Washington retaliou contra Pequim na 5ª-feira, com sanções contra a chinesa Zhuhai Zhenrong Corp, acusada de estar vendendo petróleo refinado ao Irã. A China imediatamente manifestou “forte insatisfação e firme oposição” ao gesto dos americanos e declarou a decisão de manter “cooperação normal com o Irã em energia, economia e comércio”.
Um fator de estabilidade
Evidentemente, o movimento de Washington foi simbólico, feito às pressas e manifesta algum desespero – a empresa Zhuhai Zhenrong ‘punida’ não tem propriedades nos EUA que possam ser ‘congeladas’ – e visou, de fato, a marcar a chegada de Wen em Riad, chamando a atenção para os laços entre Pequim e Teerã, com quem Riad compete por influência na região.

A questão é que os sauditas estariam supostamente trabalhando ‘a mando’ de Washington, para estreitar laços com a China e arrancar Pequim dos braços de Teerã. Até que Riad e Pequim apareceram com agenda própria, na qual se preservou bom espaço para relações dos dois lados com o Irã.

A projetada refinaria Yanbu será construída na província leste da Arábia Saudita dominada pelos xiitas. A Arábia Saudita está muito preocupada com crescentes agitações nas províncias do leste (que teme que Teerã esteja estimulando) e, mesmo assim, a China está investindo num grande negócio conjunto exatamente ali.

O que ninguém deixará de observar é que os sauditas convidaram os chineses para visitá-los, apesar de todos os fortes laços que unem chineses e iranianos. Obviamente, os sauditas já estão tratando os chineses como fator de estabilidade na região.

Pode-se supor, inclusive, que a China venha a desempenhar algum papel na rivalidade sauditas-iranianos, num cenário futuro. Seja como for, durante sua estadia na Arábia Saudita, Wen bateu sempre na estabilidade regional como fator imperativo. Soou como música aos ouvidos sauditas.

Interessante, também, o que se leu num comentário sobre a viagem de Wen ao Golfo Persa, no China Daily, jornal oficial:

Ao contrário dos países ocidentais, que tendem a tentar impor seus próprios valores e seus sistemas políticos ao resto do mundo, a China interage com o mundo árabe sob os princípios da igualdade, respeito mútuo e busca de mútuas vantagens.

Os EUA, na grande maioria das situações, tende a favor de Israel no conflito com os palestinos, o que enfurece muitos, no mundo árabe. Bem diferente disso, a China sempre apoiou as justas demandas dos palestinos nos fóruns mundiais, o que valeu aos chineses o respeito do mundo árabe. Ao longo da história da amizade sino-árabe, que remonta à antiguidade da ancestral Rota da Seda, a China jamais tentou impor qualquer agenda política exclusiva, à custa do Oriente Médio ou de qualquer outro povo.

A posição da China tem sido cada vez mais bem acolhida no mundo árabe e muitos estados árabes optaram por “Olhar Rumo Leste” em busca de cooperação e apoio na negociação das grandes questões regionais e mundiais.
[1]

Um futuro ‘verde’

Wen disse ao rei Abdullah que a China respeita o sistema político da Arábia Saudita, seu modo de desenvolvimento, sua cultura e suas tradições. Em resposta, o rei Abdullah propôs que se instalasse uma comissão de alto nível para acompanhar a cooperação entre os dois países, nos campos político, econômico, cultural e de segurança. O rei Abdullah disse, pensando cada palavra: “O objetivo da política exterior da Arábia Saudita é manter a paz e a estabilidade regional.”

O rei acrescentou: “Arábia Saudita e China gozam de alto nível de confiança mútua e partilham noções similares sobre várias questões. Os sauditas desejam ampliar as consultas e a coordenação com a China.”

Em resumo, o tour de Wen deu grande destaque à noção de que a China considera-se “parceira” no Golfo Persa. E deve-se prestar atenta atenção, também, ao fato de que a China não está em conflito com o Islã político no Oriente Médio. Em comentário no People’s Daily, semana passada, lia-se:

A Primavera Árabe mudou a cor principal da situação política no mundo árabe e formou um esplêndido cenário “verde” que preocupa – e assusta – o ocidente. Mas não há aí nenhum tipo de “atraso” [desenvolvimento regressivo] no curso da modernização e secularização dos árabes. O que aí se vê é uma retração da excessiva secularização de longo prazo e da secularização dos regimes agora derrubados; e o retorno de culturas tradicionais. Essa aspiração parece ser aspiração de vários povos. Evidentemente, o mundo deveria buscar mentalidade mais compreensiva e mais inclusiva, e dar boas vindas a todos os povos. Afinal de contas, é direito dos povos árabes elegerem os governos que desejem eleger.

A inclusão do Qatar no itinerário de Wen é ao mesmo tempo intrigante e reveladora de algumas das sutilezas do pensamento chinês. Sabe-se que o Qatar é fonte principal do gás natural liquefeito que a China consome. Mas o Qatar também teve papel central na mudança de regime na Líbia e, ao que se sabe, está dedicado a derrubar o governo do presidente Bashar al-Assad na Síria.

A China opõe-se à intervenção ocidental na Líbia e na Síria. Mesmo assim, apesar de Rússia e China terem coordenado seus movimentos no Conselho de Segurança da ONU nos casos de Líbia e Síria, nem por isso Pequim vê-se impedida de buscar parceria energética com o Qatar.

É atitude que contrasta fortemente com as relações entre Rússia e Qatar (hoje em frangalhos) – desde que o embaixador russo foi detido e revistado há algumas semanas no aeroporto de Doha, por agentes de segurança, em movimento que parece ter sido ato deliberado de provocação ou ofensa a Moscou. Em resumo, a China está avançando. Conta com posicionar-se do “lado certo da história” no Golfo Persa.

O Qatar teria gostado de outro comentário publicado no People’s Daily no sábado, que zomba levemente da recente visita do porta-aviões russo “Admiral Kuznetsov” ao porto sírio de Tartus.

O comentário deslocou a impressão predominante sobre o apoio russo à Síria e insistiu que, ao contrário, os russos nunca agem movidos por sentimentos de ‘amizade’ com outros países; que os russos sempre agem exclusivamente em nome de seus interesses estratégicos; e que a atual “postura diplomática” dos russos em relação à Síria visaria essencialmente a “alertar todas as forças políticas, para que não agredissem interesses russos.”

O mesmo comentário dizia que o “Admiral Kuznetsov” poderia ter ganho experiência local, no caso de a Rússia precisar evacuar da Síria cidadãos russos, ou caso tenha de “proteger patrimônio russo”. Em resumo, o comentário (publicado na véspera da viagem de Wen) parece ter sido plantado para sugerir que a coordenação entre russos e chineses no caso da Síria é coordenação limitada; e que os dois países, cada um a seu modo, continuam a trabalhar a favor de seus respectivos interesses.

AUDIÊNCIAS, EDREDONS E AIATOLÁS

* a mesma mídia que engasga de gula ao saborear a posição do Brasil no ranking mundial de desigualdade (o país só perde para a África do Sul no G-20) omite modestamente a sua contribuição para o feito** apenas duas participações mais recentes --a demonização do reajuste de 14% para o salário mínimo e a cruzada contra a taxação das finanças em benefício da saúde pública-- mostram que ela tem créditos a receber. Não são pequenos, nem noviços. E,  sobretudo na última década, tem se acumulado em rota de colisão com esforços em contrário do governo. 

 
O filme iraniano 'A separação', do diretor Asghar Farhadi,  venceu o Globo de Ouro e é sério candidato ao Oscar. Também assinado por Farhadi, o roteiro  disseca as contradições afloradas a partir de um caso de divórcio --sim, tem divórcio no Irã-- que expõe desencontros e colisões entre Estado, justiça,classes, poder religioso ubíquo e uma sociedade de nível  intelectual  e científico sabidamente diferenciado.  O cinema extraído desse ambiente caleidoscópico  reflete um  braço de ferro existencial e político de tensão contemporânea e universal.  Farhadi não é uma estrela solitária a esmiuçar  essa nebulosa que inclui também olhares como os de Abbas Kiarostami e de seu antigo assistente, Jafar Panahi, detido recentemente pelo regime. A arte que eles produzem  não tem nada de subserviente, embora roteiros e recursos percorram a via crucis das aprovações estatais, o que sugere  a existência de vida inteligente e ecumênica ao lado de obscurantismo e opressão.  Tampouco engrossa a servidão  ética e estética que assalta o grosso da cinematografia contemporânea em nome da audiência. O mais interessante é que o saldo não fica nada a dever em termos de receptividade.  'A separação' foi visto por um milhão de pessoas no exterior . E  teve público de 3 milhões no Irã, coincidentemente,  o mesmo número que marcou o 'recorde'  de Ibope do Big Brother Brasil, após o polemico caso do 'estupro-esquenta-audiência' . A partir dele fomos apresentados ao rico repertório conceitua do sr. 'Boninho', o aiatolá que comanda o espetáculo. Sobre privacidade diz ele: 'Não temos câmeras debaixo dos edredons'.Ainda.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Caio Blinder defende assassinato

O comentário de Blinder – que pode (ou não pode?) ser enquadrado em apologia ao crime de assassinato – não alcançou grande visibilidade por ter sido feito no obscuro (e abjeto) Manhattan Connection, antro do pensamento ultraconservador que não conseguiria ser mais pró-EUA nem se fosse produzido pela assessoria de imprensa da Casa Branca.
Ainda assim, é gravíssimo. O comentarista da Globo News se referia ao atentado* que vitimou o cientista Mustafa Ahmadi Roshan, de 32 anos, morto após a explosão de uma bomba colocada no seu carro, em ato que feriu outras duas pessoas, em Teerã, a capital iraniana. Roshan é o quinto cientista nuclear iraniano morto em um atentado terrorista nos últimos dois anos.
Para Caio Blinder e Diogo Mainardi, os atos são apenas assassinatos, “terrorismo é outra coisa” (Mainardi), é “o que o Irã faz” (Blinder).
A transcrição literal (vídeo abaixo) do comentário de Blinder, que traduz o pensamento de qualquer diretor da CIA (autorizada pelo governo dos EUA a “neutralizar” pessoas que representem ameaça à segurança do País) não deixa qualquer dúvida sobre a ética seguida pelo jornalista (?!):
“Você às vezes precisa matar gente agora, assassinar, é um assassinato… e não só isso… você também intimida os outros cientistas”.
Para o jornalista da Globo, assassinar alguém é um instrumento objetivo legítimo para garantir um fim subjetivo, a “segurança nacional”. É legítimo também o uso da tortura? O sequestro e a prisão sem julgamento, tudo em nome da garantia da “liberdade” e da “democracia”?
Algum órgão (ABI, Fenaj, ANJ, Abert) vai se manifestar a respeito? Ou a liberdade de expressão inclui a liberdade de justificar e defender crimes e atos terroristas?
Caio Blinder é o mesmo sujeito que chamou a rainha da Jordânia de “piranha”, num “elogio” estendido às primeiras-damas de outros países do Oriente Médio e do norte da África.
Curioso que o jornalista, para afirmar sua tese que acusa o Irã de Estado terrorista, cita o desrespeito às resoluções da ONU acerca do programa nuclear iraniano. Israel, país recordista de resoluções das Nações Unidas violadas (até 2006 eram 66), receberia a mesma pecha? E os EUA, que promoveram mais de uma centena de ataques a outros países desde o final do século XIX, devem ser chamados como?
Que o Irã é uma ditadura e viola os direitos humanos da sua população em larga escala, não tenho a menor dúvida. Desconheço, entretanto, fatos concretos – já que as bravatas de Ahmadinejad não o são – que justifiquem a acusação de terrorismo e ameaça a outros países. O mesmo não se pode dizer dos EUA e de Israel.
E a turma da Globo não hesita nas suas escolhas…
O portal da Globo, o G1, registrou o fato falando apenas em atentado, mas não mencionou “terrorismo” ou “terrorista” ou termo afim. Aula da novilíngua orwelliana. Clique aqui para conferir. Já o Manhattan Connection, veja no vídeo, usou a legenda “Terror e a morte dos cientistas” enquanto mostrava as imagens do pesquisador assassinado. Ato falho.
PS: Observe no vídeo que, no início do seu comentário, Caio Blinder faz piada sobre a morte dos cientistas iranianos, levando seu colega Mainardi a desatar o riso. São estas pessoas que cobram respeito aos direitos humanos por parte do governo iraniano.
Leia mais sobre este assunto, clicando aqui.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

URINANDO SOBRE AS NOSSAS CABEÇAS


Às vezes um ruído cênico sacode a monotonia da violência bélica norte-americana.Risos sobre cadáveres, por exemplo. Soldados urinando sobre corpos sem vida. A barbárie assusta, mas não é um ponto fora da curva institucional. Na nebulosa dissipação do último dia de 2011, o democrata eleito com a promessa de fechar Guantánamo, revalidou, por exemplo, o Ato de Autorização de Defesa Nacional que 'legaliza' a existência do campo de concentração e proíbe o ingresso de seus prisioneiros no território  americano; impede-os assim de recorrer ao direito ao habeas corpus, ao veto a prisão sem evidencia formal de crime e a outros marcos de legalidade que distinguem uma democracia de um estado de exceção. Dias depois, em cinco de janeiro, com a mesma ambígua desenvoltura, Obama anunciaria cortes no orçamento da defesa  compensados, advertiria em seguida, pela ênfase em operações secretas. Leia-se:  atos de sabotagem, guerra cibernética e ataques a alvos específicos 'de efeito imediato'. A julgar pelos assassinatos em série que já mataram quatro cientistas ligados ao programa nuclear iraniano, vetado pelo Império, a nova doutrina tem eficácia comprovada. O alívio aterrador de bexigas militares sobre cadáveres talebãs ampara-se, portanto, em precedente à altura: o jorro contínuo de cinismo institucional despejado pela grande bexiga do norte sobre as nossas cabeças. (LEIA MAIS AQUI)




Primavera Árabe de 2012: mais tempestades do que flores

A relação do Ocidente com o Oriente Médio é antiga e sempre teve como base os interesses da Europa e, mais recentemente, dos EUA. 2012 será de grande complexidade para a região. Salvo melhor juízo, será menos “primavera” e mais “outono”, repleto de tempestades. E serão as forças do Ocidente, principalmente os EUA, que definirão a velocidade da democratização e a reconquista da dignidade do mundo árabe. Mas, apenas se for conveniente ao seu próprio projeto. O artigo é de Mohamed Habib.

Quando o tunisiano Mohamed Bouazizi ateou fogo no próprio corpo num gesto de protesto, acabou, sem querer, acendendo as chamas de revoltas populares em vários países árabes. Uma análise coerente dessas revoltas e suas perspectivas para 2012, deve considerar duas questões : a geopolítica e a econômica. Além disso, as interferências externas, em especial as do Ocidente dominante, que influenciam cada país do mundo árabe.

A relação do Ocidente com o Oriente Médio é antiga e sempre teve como base os interesses da Europa e, mais recentemente, dos Estados Unidos. A fase atual, é resultado dos interesses do Ocidente pós Primeira Guerra Mundial e envolve a localização e os recursos energéticos do mundo árabe. Os EUA, 3º maior produtor de petróleo e 2º maior de gás natural do planeta, não é visto como produtor e sim como grande consumidor, pois precisa do dobro da sua produção para garantir seu padrão de vida. A Europa, por sua vez, depende fortemente do gás e do petróleo árabes, principalmente da Líbia.

Para manter o consumo energético nos países árabes em cerca de 3%, foi crucial a criação de governos tiranos e/ou corruptos, protegidos pelo Ocidente, para governar os povos da região. Os países árabes foram agrupados em duas categorias, os produtores e os não produtores de petróleo e gás natural. Os primeiros propiciaram um padrão sócio-econômico mais confortável ao seu povo, ao passo que os segundos, ofereceram a miséria e a opressão. Ambos tinham em comum o estabelecimento de regimes não democráticos e de não desenvolvimento.

O Egito, um país rico por sua agricultura, turismo, pedágio do Canal de Suez e indústria, conta hoje com mais de 42% de seu povo abaixo da linha da pobreza e uma dívida externa de 32 bilhões de dólares. Com o sucesso dos levantes populares, a mídia britânica revelou que o ditador Mubarak, em 30 anos de poder, acumulou mais de 70 bilhões de dólares em bancos europeus. O Egito é considerado estratégico, pois em 42 anos, tanto Sadat quanto Mubarak, foram importantes interlocutores e representantes dos interesses do Ocidente e de Israel no Oriente Médio. Além disso, o Canal de Suez, que liga o Mediterrâneo com o Mar Vermelho, é de grande importância para as navegações bélicas e comerciais.

A Líbia é fundamental para o abastecimento energético da Europa, o que justifica a intervenção da OTAN e a participação na queda e na morte de Kaddafi. Uma situação equivalente à intervenção dos EUA no Iraque e à morte de Saddam Hussein. O Iêmen, embora um país pobre, possui localização geográfica que permite total controle das navegações marítimas na conexão do Mar Vermelho com o Golfo de Aden e o Oceano Índico. O ditador Abdullah Saleh, que após meses de protestos e muita violência contra seu povo, terminou saindo no final de 2011, não sem antes deixar o seu vice-presidente no comando do estado que continua baixando a repressão. Saleh é um aliado fiel do Ocidente e dos monarcas da Península Arábica.

O que ficou claro nas declarações do o embaixador dos EUA naquele país, que classificiou de “provocações desnecessárias” as manifestações civis contra o regime e os seus assassinatos. A Síria não conta com recursos energéticos no seu território e sua localização geográfica não tem grandes significados geopolíticos. No entanto, Síria e Irã representam as últimas duas bases de aliados do eixo Rússia-China, que representam forças antagônicas aos EUA.

No início dos levantes árabes, EUA e Europa não expressavam suas preocupações e declararam apoio aos ditadores. Com o crescimento dos movimentos e o enfraquecimento dos regimes, o Ocidente passou a apoiar os movimentos, fornecendo armas e proteções aéreas. Um exemplo marcante é o apoio dos EUA à Junta Militar que governa o Egito atualmente. Os EUA não só silenciam diante dos massacres das últimas semanas contra os manifestantes civis, como também fornecem armas para essa opressão. As forças armadas, que assumiram o comando temporariamente após a queda do ditador Mubarak, tentam manobras desesperadas para continuar no poder. Porém, esta é uma situação que a sociedade egípcia não mais aceitará.

Diante deste quadro, 2012 será de grande complexidade para o Oriente Médio. Salvo melhor juízo, será menos “primavera” e muito mais “outono”, repleto de tempestades e destruições. E serão as forças do Ocidente, principalmente os EUA, que definirão a velocidade da democratização e a reconquista da dignidade do mundo árabe. Mas, apenas se for conveniente ao seu próprio projeto.

(*) Mohamed Habib é professor da UNICAMP e Vice-presidente do Instituto de Cultura Árabe (ICArabe)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

ONDE MORA O PERIGO

**quatro soldados americanos riem e urinam em três cadáveres no Afeganistão: o filme postado no YouTube é mais um emblema da barbárie imperial auto-investida em escudo da civilização contra o suposto fanatismo islâmico** produção industrial caiu em novembro, pelo 3ºmês seguido, na zona do euro**PIB da Alemanha recuou 0,25 no 4º trimestre de 2011 reforçando a dinâmica recessiva na UE**vítima de atentado a bomba nesta 4ª feira, Mostafa Ahmadi Roshan é o 4º cientista do programa nuclear iraniano assassinado desde 2010** Teerã atribui ações a serviços secretos de Israel e EUA** em recente anúncio de cortes de gastos militares, Obama adiantou que a nova doutrina de segurança dos EUA vai privilegiar ações 'pontuais' de eficiência imediata, espionagem e guerra cibernética 


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O TAMANHO DA ENCRENCA

* Mais um cientista do programa nuclear iraniano é assassinado num atentado a bomba, em Teerã, nesta 4ª feira**Mostafa Ahmadi Roshan é o 4º cientista do programa iraniano assassinado desde 2010** governo local atribui ações a serviços secretos de Israel e EUA** em recente anúncio de cortes de gastos militares, Obama adiantou que a nova doutrina de segurança dos EUA vai privilegiar ações 'pontuais' de eficiência imediata, espionagem e guerra cibernética**Guantánamo completa 10 anos** Obama engole promessas e  sanciona lei que permite aos EUA manterem 'suspeitos' em cárcere indefinidamente** 60% dos detidos no campo de concentração norte-americano foram presos sem provas** Sábado; 16 hs, rua Helvétia: churrasco da 'Gente Diferenciada' contra a 'Dor e o Sofrimento' na Cracolância, alvo da enésima investida kassabi-tucana de implantação da 'Nova Luz'.

 

O mundo está saindo do buraco ou a crise toma fôlego para mergulhar no porão do abismo? Há números e argumentos para cada gosto. No Brasil, economistas já falam em um ciclo internacional de pelo menos dez anos: é 'A Grande Depressão', arrisca Ioshiaki Nakano. Decifrar a  dominância financeira que gerou a crise e impede a sua superação é o requisito encarado por um grupo de economistas da Unicamp, coordenado por Ricardo Carneiro. Eles se debruçaram sobre o coração do capitalismo nos dias que correm: o mercado de derivativos. O grupo radiografou a singularidade teórica dessa roleta e dimensionou o tamanho da encrenca: US$ 600 trilhões, dez vezes o PIB mundial; 35 vezes a massa de ações negociadas em bolsas. A característica fundamental desse poder é que ele não se funda na propriedade jurídica dos bens, mas se apropria dos direitos sobre o seu desempenho. Sem um antídoto aos fundamentos, pode-se até mitigar etapas da queda. Mas será difícil escapar do buraco negro escavado por anos de perdas e danos (LEIA MAIS AQUI).


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

EUA: NOVA DOUTRINA DE SEGURANÇA REFORÇA ATENTADOS, SABOTAGENS E ROBÔS

A NOVA GUERRA AMERICANA: dezembro de 2011--  queda de avião norte-americano não tripulado (dron) no Irã reforça indícios de que a guerra dos EUA e aliados contra o país já começou;  2ª quinzena de dezembro:explosão de planta de conversão de urânio, em Isfahán **novembro de 2011:explosão de unidade da guarda iraniana causando a morte do general Moqaddam, principal impulsionador do programa nuclear iraniano; julho de 2011: assassinato do físico nuclear Dariouh Rezaie**24 de dezembro de 2010: vírus Stuxnet ataca sistema industrial do projeto nuclear iraniano (60% da ocorrência mundial do Stuxnet concentra-se no Irã, o que evidencia um direcionamento coordenado) ** ainda em dezembro de 2010: assassinado do cientista Majid Shariari em explosão de carro-bomba e atentado contra o físico  Fereydoon Abbasi.Orçamento norte-americano de defesa poderá ter cortes de US$ 500 bi em uma década, mas Barack Obama garante que atuação militar do império continuará eficaz. A nova estratégia de segurança nacional, anunciada nesta 5ª feira pelo democrata, pressupõe redução numérica de tropas, compensada pela expansão de forças especiais, ágeis, secretas, treinadas para ataques pontuais fulminantes, como a operação que resultou no assassinato de Bin Laden. Sobretudo, porém, a "doutrina Obama" apoia-se fortemente em recursos tecnológicos. Inaugura-se  uma nova era de atentados e sabotagens, baseados em cepas renovadas de vírus, ataques no ciberespaço, espionagem, uso de robôs e veículos não tripulados. Obama não disse, mas é forçoso arguir: o arsenal incluiria também a eliminação de 'lideranças indesejáveis' através de operações que destroem sua saúde? O Irã, alvo de sucessivos assassinatos de cientistas ligados ao programa nuclear do país (vide acima), avulta como o laboratório de teste da nova guerra americana.

O PRÉ-SAL E A ESCALADA CONTRA O IRÃ

*A GUERRA CONTRA O IRÃ: dezembro de 2011--  queda de avião norte-americano não tripulado (dron) no Irã reforça indícios de que a guerra dos EUA e aliados contra o país já começou;   2ª quinzena de dezembro:explosão de planta de conversão de urânio, em Isfahán **novembro de 2011:explosão de unidade da guarda iraniana causando a morte do general Moqaddam, principal impulsionador do programa nuclear iraniano; julho de 2011: assassinato do físico nuclear Dariouh Rezaie**24 de dezembro de 2010: vírus Stuxnet ataca sistema industrial do projeto nuclear iraniano (60% da ocorrência mundial do Stuxnet concentra-se no Irã, o que evidencia um direcionamento coordenado) ** ainda em dezembro de 2010: assassinado do cientista Majid Shariari em explosão de carro-bomba e atentado contra o físico  Fereydoon Abbasi.O PRÉ-SAL E A ESCALADA CONTRA O IRÃ

A extrema direita republicana, o claudicante Obama e até o desidratado Sarkozy  se escoram no discurso da guerrra contra o Irã  para  contornar  o desgaste de uma liderança pífia, incapaz de enfrentar o verdadeiro inimigo responsável pelo empobrecimento, o desemprego e a insegurança que afetam seus eleitores. Desta vez, é o programa nuclear iraniano que desempenha o papel exercido pelas  "armas de destruição em massa", em 2003, na invasão do Iraque. O Brasil assiste à espiral bélica de um mirante privilegiado. Embora a mídia tenha dado pouco destaque, a Petrobrás bateu seu recorde de produção em novembro último: 2,1 milhões de barris/dia. A produção crescente do pré-sal atenderá a 40% da demanda do país até o final da década. (LEIA MAIS AQUI)

*A GUERRA CONTRA O IRÃ: dezembro de 2011--  queda de avião norte-americano não tripulado (dron) no Irã reforça indícios de que a guerra dos EUA e aliados contra o país já começou;   2ª quinzena de dezembro:explosão de planta de conversão de urânio, em Isfahán **novembro de 2011:explosão de unidade da guarda iraniana causando a morte do general Moqaddam, principal impulsionador do programa nuclear iraniano; julho de 2011: assassinato do físico nuclear Dariouh Rezaie**24 de dezembro de 2010: vírus Stuxnet ataca sistema industrial do projeto nuclear iraniano (60% da ocorrência mundial do Stuxnet concentra-se no Irã, o que evidencia um direcionamento coordenado) ** ainda em dezembro de 2010: assassinado do cientista Majid Shariari em explosão de carro-bomba e atentado contra o físico  Fereydoon Abbasi.
A extrema direita republicana, o claudicante Obama e até o desidratado Sarkozy  se escoram no discurso da guerrra contra o Irã  para  contornar  o desgaste de uma liderança pífia, incapaz de enfrentar o verdadeiro inimigo responsável pelo empobrecimento, o desemprego e a insegurança que afetam seus eleitores. Desta vez, é o programa nuclear iraniano que desempenha o papel exercido pelas  "armas de destruição em massa", em 2003, na invasão do Iraque. O Brasil assiste à espiral bélica de um mirante privilegiado. Embora a mídia tenha dado pouco destaque, a Petrobrás bateu seu recorde de produção em novembro último: 2,1 milhões de barris/dia. A produção crescente do pré-sal atenderá a 40% da demanda do país até o final da década. (LEIA MAIS AQUI)

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Globalização, ou “o mundo é dos EUA”

As primárias de Iowa podem dar força ao ultradireitista Rick Santorum
Começam hoje as eleições primárias que não escolher o candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos – entre os democratas, a escolha de Obama é óbvia.
E, por mais decepcionante que possam ter sido as atitudes do atual presidente, a alternativa republicana é mil vezes pior.
Hoje, numa expressão crua do que é a economia globalizada, um dos candidatos favoritos, Mitt Roomey, disse que os EUA não ajudariam “nem com um dólar” a Europa a vencer a crise; crise, aliás, que tem suas origens exatamente no sistema bancário americano.
Outro republicano – que pode crescer nas pesquisas com o resultsdo da primeira prévia, hoje, em Iowa – o ultradireitista Rick Santorum começou o ano afirmando que, eleito, bombardearia o Irã.
Decadentes ou não, o fato é que os EUA ainda são o império. E impérios, na decadência, tornam-se pateticamente agressivos.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O complô “Velozes e Furiosos” para ocupar o Irã

 

O governo dos EUA espera que um mundo crédulo acredite que um vendedor falido de carros no Texas seria selecionado, pelo competente braço da inteligência iraniana, que estaria à procura de alguém com cara de gângster de cartel mexicano de drogas, e lhe atribuiria a tarefa de, por US$1,5 milhão, matar o embaixador saudita em Washington – e, na mesma conversa, prometeria ao cartel mexicano acesso seguro a “toneladas de ópio”. O artigo é de Pepe Escobar.

Aquela Meca da contrarrevolução e do ódio à Primavera Árabe – também conhecida como Casa de Saud – mal pôde acreditar na própria sorte. É Natal em outubro – agora que o governo dos EUA entregou-lhe o presente perfeito: na fala excitada do Procurador Geral dos EUA, “Um complô mortal dirigido por facções do governo iraniano para assassinar um embaixador estrangeiro em solo dos EUA, com bombas.”[2]

O príncipe saudita Turki al-Faisal, ex-embaixador em Washington, ex-chefe do serviço secreto saudita, ex-amigão de Osama bin Laden, não perdeu tempo e já disse, em conferência de imprensa em Londres, que “o peso das provas, nesse caso, é imenso e mostram claramente a responsabilidade de funcionários iranianos. É inaceitável. Alguém no Irã terá de pagar o preço”.[3]

Quer dizer, o “Irã” – o país inteiro – já foi mandado para a guilhotina pelo eixo Washington/Riad, embora, para engolir a notícia, do tipo “rabo abana o cachorro”, de uma “Operação Coalizão Vermelha” (não, vocês não podem imaginar!) seja necessária a suspensão completa da sanidade e do senso racional normal.

A Operação Coalizão Vermelha está centrada num Mansour Arabsiar, 56 anos, vendedor de carros em Corpus Christi, Texas, portador de passaportes iraniano e norte-americano, e num co-conspirador, Gholam Shakuri, dito membro da força Qods do Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos [ing. Islamic Revolutionary Guards Corps, IRGC].

O diretor do FBI [United States Federal Bureau of Investigation], Robert Mueller, repetiu que o dito complô teria sido concebido por iranianos; em suas palavras: “parece script de Hollywood”[4]. Pois até essa propaganda de “Velozes e Furiosos” teria ido parar na lata do lixo, em qualquer conferência de imprensa que se desse ao respeito, até em Hollywood.

Mais rápido, muchachos. Matem, matem!

O governo dos EUA espera que um mundo crédulo acredite que um vendedor falido de carros no Texas seria selecionado, pelo competente braço da inteligência iraniana, que estaria à procura de alguém com cara de gângster de cartel mexicano de drogas, e lhe atribuiria a tarefa de, por US$1,5 milhão, matar o embaixador saudita em Washington – e, na mesma conversa, prometeria ao cartel mexicano acesso seguro a “toneladas de ópio”.

O que se sabe com certeza é que, na denúncia oficial [ing. Sealed Amended Complaint] contra Arabsiar e Shakuri, assinada pelo agente especial do FBI Robert Woloszyn, não há absolutamente qualquer referência a qualquer tipo de envolvimento do governo do Irã, de alto nível, ou de qualquer nível[5].

Mas, na narrativa do governo dos EUA, Arabsiar foi tolo o bastante para acreditar no que lhe disse um agente infiltrado da agência antidrogas dos EUA [ing. Drug Enforcement Agency, DEA], que se fazia passar por membro do Zetas, cartel mexicanos de tráfico de drogas. Arabsiar disse a esse agente e seus companheiros que seria sobrinho de um alto funcionário iraniano – e que atuava em nome dos mais altos escalões.

Querem portanto que acreditemos que um general iraniano manda um seu parente rei dos otários, que vende carros no Texas, contratar um cartel de drogas para um complô político – como se a inteligência dos EUA não tivesse como rastrear o pagamento pelo assassinato, até o tal parente, sobretudo depois do caso dos 100 mil dólares enviados para os EUA, ao que se diz, vindos do Irã, para um sujeito já condenado por fraudes com cheques.

Mesmo sem considerar qualquer viés ideológico, qualquer pessoa que conheça o extremo profissionalismo do IRGC e da força Qods logo descartará como absoluto lixo toda essa história – sobretudo se apresentada como parte de uma complexa operação internacional que envolveria o Irã e seu inimigo mortal, os EUA, além do México e da Arábia Saudita. Mas Arabsiar “confessou” tudo – depois de 12 dias de interrogatório ininterrupto (alguém aí pensou em “simulação de afogamento”?).

E há também a questão do alvo escolhido. Segundo o Departamento de Justiça, o complô não visava os EUA. Assim sendo, atacar um embaixador da Casa de Saud – “precioso aliado” – em solo norte-americano só se explica pelo desejo doentio de sangue, típico dos iranianos doidos, suicidários, dedicados a arrastar os EUA a um ataque, nuclear ou de outro tipo.

A ideia de que um cartel mexicano de drogas investiria num complicadíssimo ataque político na capital dos EUA, esperando ganhar sacos de ópio (do Afeganistão “libertado”) também é inverossímil. Mas o quadro muda, se se pensa no que ganhariam os Mujahideen-e-Kalq – organização terrorista fundamentalista dedicada a tentar derrubar a República Islâmica. Ou no que ganharia a al-Qaeda, já espectral e fantasmagórica, se se inventasse uma guerra de três vias, que envolvesse Washington, Teerã e Riad.

Há também a opção israelense, da falsa bandeira. Além de o complô parecer brotado dos sonhos molhados do AIPAC [ing. American Israel Public Affairs Committee] entregue a Holder numa bandeja de prata, nada agradaria mais plenamente ao lobby israelense em Washington e a um sortimento variado de sionistas do que se aliar a causus belli decidido diretamente por Washington, que levasse os EUA a atacar o Irã, seja como for, e sem qualquer envolvimento direto de Israel.

Segundo o mantra oficial, os norte-americanos têm de ser sempre lembrados e relembrados de que o Irã é “ameaça existencial” ao estado judeu. Um atentado contra a vida do embaixador saudita seria perfeito, também, porque explicaria o envolvimento da Casa de Saud, no apoio logístico ao tal ataque ao Irã.

Ainda que se aceite que algum grupo bandido, dentro da força Qods, estaria envolvido numa conexão de tráfico de drogas e pudesse ter algo a ver com o complô, há também a possibilidade de que tudo tivesse sido armado como retaliação-resposta, a recente assassinado predeterminado [ing. targeted assassination] de um dos principais cientistas nucleares iranianos, assassinado no Irã. Mas isso não explica escolher um embaixador saudita, a ser morto em território norte-americano.

Cui bono? A quem o crime beneficia?
Mais uma vez: por que logo agora? O complô já é conhecido, ao que se sabe, há meses. O presidente Barack Obama foi informado em junho. O rei Abdullah foi informado em meados de setembro. Então... por que divulgar agora? O que nos leva de volta aos suspeitos de sempre.

Os neoconservadores. Facções do complexo industrial-militar. A direita, os malditos, imundos, doidos Republicanos e seus operadores na imprensa. O lobby pró-Israel. A Casa de Saud – que agora é pintada como “vítima” dos iranianos “do mal”, quando, de fato, está comandando a mais brutal contrarrevolução, que já destruiu qualquer possibilidade de alguma Primavera Árabe nos países do Golfo, inclusive a invasão e a repressão no Bahrain.

O complô aparece em boa hora, para distrair a atenção, para impedir que a Arábia Saudita seja vista como beneficiária de um multibilionário negócio de venda de armas norte-americanas.Vem em boa hora, também, para ‘limpar’ a imagem do próprio procurador geral. Holder foi envolvido há pouco tempo em outro escândalo monstruoso, quando mentiu sobre a Operação Velozes e Furiosos (não, vocês não podem imaginar!), operação fracassada, de cujo fracasso resultou que nada menos que 1.400 armas norte-americanas de grosso calibre acabaram em mãos de – adivinhem! – cartéis mexicanos do tráfico de drogas. Parece que a franquia “Velozes e Furiosos” é a arma de recreação preferida, em todos os níveis do governo dos EUA.

Washington quer “unir o mundo” contra o Irã (onde “mundo” significa: Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN) e já ameaça denunciar o Irã ao Conselho de Segurança da ONU – outra vez.

Esperemos pois ansiosamente por mais uma resolução R2P (“responsabilidade de proteger”) apresentada e aprovada na correria, que ordene que a OTAN estabeleça mais zonas aéreas de exclusão sobre o telhado de todos os príncipes da Casa de Saud em todo o planeta. Essa resolução bem pode ser interpretada como autorização à OTAN para bombardear o Irã, até a ‘mudança de regime’. Esse, sim, é script verossímil.

NOTAS
[1] Versão resumida desse artigo foi publicada ontem em Al-Jazeera, em http://english.aljazeera.net/indepth/opinion/2011/10/201110121715573693.html e, em português, em http://outroladodanoticia.com.br/inicial/23505-velozes-e-furiosos1-para-ocupar-o-ira-.html [NTs].

[2] Vê-se o anúncio oficial em http://www.youtube.com/watch?v=X0wVQG0EIbc&feature=player_embedded#! E interessante lista de comentários de internautas sobre aquela fala, em http://www.reddit.com/r/conspiracy/comments/l8v4s/world_war_iii_operation_red_coalition_alleged/ [em inglês]. Um dos comentários diz: “Nosso aliado fascista Pinochet, organizou e executou um assassinato real em Washington, D.C., e os EUA nada fizeram contra. Quem não saiba, veja em http://en.wikipedia.org/wiki/Orlando_Letelier” [NTs].

[3] 12/10/2011, matéria da Reuters, de Londres, em http://af.reuters.com/article/energyOilNews/idAFL5E7LC22520111012 (em inglês).

[4] Vê-se e ouve-se o comentário em http://www.youtube.com/watch?v=oqcI5uFyEGk (em inglês).

[5] O texto pode ser lido, na íntegra, em http://www.emptywheel.net/wp-content/uploads/2011/10/111011-Ababsiar-Amended-Complaint.pdf [em inglês].


Fonte:
http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MJ14Ak02.html

Tradução: Coletivo Vila Vudu

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

AS RAZÕES DO MOVIMENTO

O movimento de protesto nos Estados Unidos teve ontem um dia diferente em Nova Iorque: piquetes de centenas de pessoas se manifestaram às portas de cinco dos maiores milionários de Manhattan, começando pela casa de Rupert Murdoch. Outras residências visitadas foram as dos banqueiros John Paulson, Jamie Dimon, David Koch, e Howard Millstein – todos eles envolvidos nos grandes escândalos de Wall Street, e socorridos por Bush. Os lemas foram os mesmos: que tratassem de devolver o que haviam retirado da economia popular.
A polícia limitou-se a conter, com barreiras, os manifestantes. Mas a mesma coisa não ocorreu em Boston. A polícia municipal atuou com extrema violência durante a madrugada de ontem, atacando, com porretes, dezenas de manifestantes e ferindo dois veteranos de guerra, um deles, de 74 anos, ex-combatente no Vietnã. O “Occupy Together” atingiu mais de 1.200 cidades norte-americanas, em preparação para as grandes concentrações nacionais no próximo sábado, dia 15.
Conforme o jornalista americano David Graeber, em incisivo artigo publicado pelo The Guardian, os jovens, e também homens maduros, vão às ruas nos Estados Unidos em busca de empregos, de boa educação, de paz, é certo, mas querem muito mais do que isso. Eles contestam um sistema que deixou de servir aos homens, para servir apenas aos banqueiros e a um capitalismo anacrônico. “Para que serve o capitalismo?”, é uma de suas perguntas. Eles contestam um sistema baseado no consumo supérfluo de uns fundado na negação das necessidades básicas de 99% da população de seu país. Descobriram que o seu futuro, os seus sonhos, o seu destino e a sua vida foram roubados pelo sistema que deixou de ser democrático.
Os neoliberais no mundo inteiro fazem de conta que esses protestos nada significam, e muitos deles continuam sem perceber o que está ocorrendo. Tem sido sempre assim na História. Na noite de 4 de agosto de 1789, quando, a Assembléia revolucionária da França aboliu os privilégios feudais da nobreza, Luis 16, que seria guilhotinado menos de três anos depois, escreveu em seu diário: hoje, nada de novo. Como bem registrou Paul Krugman, em seu artigo no New York Times, os manifestantes não são extremistas: os verdadeiros extremistas são os oligarcas, que não querem que se conheçam as fontes de sua riqueza.
Não percebem os políticos o processo revolucionário em marcha que, de uma forma ou de outra, atingirá todos os países do mundo. Ao globalizar-se, pela imposição do sistema financeiro, a economia, globalizou-se a reação dos povos ao sistema totalitário e criminoso. Seria a hora de um entendimento entre os estadistas do mundo, a fim de chamar os especuladores à razão e colocar o Estado ao serviço da justiça, retornando-o à sua natureza original. Na Europa e nos Estados Unidos o que se vê é o Estado socorrendo os banqueiros fraudulentos, e os ricos insistindo na receita neoliberal clássica, de ajustes fiscais, de redução dos serviços sociais, do arrocho salarial e da demissão sumária de imensos contingentes de trabalhadores, a fim de garantir o lucro dos especuladores.
Nos anos oitenta, os paises emergentes de hoje, entre eles o Brasil, estavam atolados em uma dívida internacional marota, gerada pela necessidade de rolar os bilhões de eurodólares, e não dispunham de recursos. Mme Thatcher disse que o Brasil teria que vender as suas terras e florestas, a fim de pagar o que devia. Hoje, trinta anos depois, a Grécia está vendendo tudo o que pode, até mesmo monumentos históricos, enquanto parcelas de seu povo começam a passar fome.
Quando os africanos morrem de fome e de epidemias, como voltaram a morrer agora, não há problema. Para os brancos, europeus ou americanos, é alguma coisa que não lhes diz respeito. A África não é outro continente: é outro mundo. Mas, neste momento, são brancos, de cabelos louros e olhos azuis, como os manifestantes de Boston – jóia da velha aristocracia da Nova Inglaterra – que vão às ruas e são espancados pela polícia. A revolução, como os próprios manifestantes denominam seu movimento pacífico, está em marcha.
Há é certo, algumas providências na Europa, como a estatização do banco belga Dexie, mas se trata de um paliativo, quando Trichet, o presidente do Banco Central Europeu recomenda injetar mais dinheiro no sistema financeiro privado. Mais astuto, o governo da China reforçou a presença estatal no sistema financeiro, aumentando a sua participação nos bancos de que é acionista majoritário.
E o mundo se move também na política. Abbas - o presidente da Autoridade Nacional Palestina, que luta pelo reconhecimento pela ONU de seu Estado nacional - em hábil iniciativa, esteve anteontem e ontem em Bogotá. Ele fez a viagem a Colômbia, sabendo que dificilmente o apoiariam: o país hospeda bases militares americanas e, ontem mesmo, um comitê do Senado, em Washington, aprovou o Tratado de Livre Comércio entre os dois países. Assim, o presidente Juan Manuel Santos limitou-se a declarações protocolares de apoio à paz no Oriente Médio, o que não impedirá a caminhada da História.

Americano e judeu pensam que o resto do mundo é composto de idiotas




Pois quem acredita nessa história de complô contra o embaixador saudita em Waschington... logo na capital americana?

Será que esses judeus americanos e a Hillary acham que o mundo é composto de idiotas?

Por que o governo iraniano iria escolher o embaixador saudita nos EUA e não em um outro país menos visado?



EUA querem novas sanções ao Irã após suposto complô

Alessandra Corrêa

Da BBC Brasil em Washington

Os Estados Unidos indicaram que pressionarão a comunidade internacional para que sejam impostas novas sanções ao país, após a revelação de um suposto plano iraniano para assassinar o embaixador saudita em Washington.

A secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, pediu que seja enviada "uma mensagem bastante dura" a Teerã e disse que o governo estava preparando novas sanções contra o país.

Leia mais sobre a farsa aqui
via Brasil Mostra Tua Cara

sexta-feira, 10 de junho de 2011

EUA e Israel patrocinam ativista iraniana que desafiou Dilma



Sharin Ebade é porta-voz dos EUA e de Israel


De passagem por Brasília, a ativista iraniana e Nobel da Paz (2003) Shirin Ebadi, de 63 anos, fracassou em seu intento de obrigar a presidente Dilma Rousseff a recebê-la. Irritada, recusou ser recebida no Palácio do Planalto por Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais.




Flavio Rassekh, coordenador da visita de Ebadi no Brasil, afirmou
que a ativista “veio a Brasília para encontrar Dilma Rousseff e se
sentiu muito mal com a recusa”. Só não explicou por que uma estrangeira
deve pautar a agenda da presidnete República, que raramente inclui
reuniões com personalidades que não sejam chefes de Estado e de governo.



Ebadi chegou ao Brasil no meio da semana com declarações desafiadoras ao
governo brasileiro e afirmações nada diplomáticas. “Ela me receberá se
for defensora dos direitos humanos”, declarou, em tom ameaçador — e
inútil — contra Dilma.



Direitista convicta, ex-colaboradora do governo do xá Reza Palhevi, do
Irã, Sharin Ebade, é hoje a principal porta voz dos grupos mais
conservadores com atuação em todo o mundo, apoiados principalmente pelos
governos dos Estados Unidos e Israel. Sua atuação é repudiada por
outros dissidentes iranianos, como o jornalista Ali Mechem Derkay,
residente em Paris e membro de um grupo que não aceita a interferência
dos Estados Unidos nem de Israel nos negócios do Irã



Além de não falar pela comunidade iraniana de oposição, Ebade é
desqualificada para tal ação devido justamente a suas ligações com os
governos imperialistas e por sempre viajar protegida por agentes da CIA e
do Mossad. Sajjad Saharhiz, também jornalista iraniano independente,
muito respeitado nos meios políticos internacionais, escreveu um artigo
especificamente sobre a viagem de Ebade ao Brasil. Não faltam críticas à
ativista.



Sajjad Saharhiz lembra que, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, o Brasil mostrou altivez e soberania ao “apoiar o pacífico
programa nuclear do Irã, baseado nos princípios de justiça e
independência”. Segundo o jornalista, o Brasil também “fez esforços para
tentar resolver a disputa sobre o programa nuclear iraniano de forma
pacífica, o que resultou na Declaração de Teerã”.



O que Sharin Ebade deseja — diz o artigo é “enfraquecer a forte posição
adotada pelo Brasil em relação ao programa nuclear iraniano. Talvez a
missão dada a ela pelos seus senhores ocidentais seja pressionar o Irã
acerca de seu programa nuclear com alegações de violação de direitos
humanos. (...) Utilizando sua fama de ganhadora do prêmio Nobel e
seguindo sua missão especial, ela tentará convencer as autoridades
brasileiras a se distanciarem do Irã”.



Saharhiz lembra que a ativista, “tão leal à sua missão”, chegou a chamar
Lula
de “traidor”, apesar de o ex-presidente “ser extremamente popular e
respeitado pelo povo brasileiro e por tantas outras nações, e embora
suas políticas tenham feito do Brasil um país avançado”. O jornalista
indaga: “Por que uma figura independente e popular como Lula, que fez
grandes esforços para aumentar o desenvolvimento e prosperidade em seu
país e em outros países do Sul, deveria ser atacada por uma pessoa
tendenciosa como Shirin Ebade?”.