* a mesma mídia que engasga de gula ao saborear a posição do Brasil no ranking mundial de desigualdade (o país só perde para a África do Sul no G-20) omite modestamente a sua contribuição para o feito** apenas duas participações mais recentes --a demonização do reajuste de 14% para o salário mínimo e a cruzada contra a taxação das finanças em benefício da saúde pública-- mostram que ela tem créditos a receber. Não são pequenos, nem noviços. E, sobretudo na última década, tem se acumulado em rota de colisão com esforços em contrário do governo.
O filme iraniano 'A separação', do diretor Asghar Farhadi, venceu o Globo de Ouro e é sério candidato ao Oscar. Também assinado por Farhadi, o roteiro disseca as contradições afloradas a partir de um caso de divórcio --sim, tem divórcio no Irã-- que expõe desencontros e colisões entre Estado, justiça,classes, poder religioso ubíquo e uma sociedade de nível intelectual e científico sabidamente diferenciado. O cinema extraído desse ambiente caleidoscópico reflete um braço de ferro existencial e político de tensão contemporânea e universal. Farhadi não é uma estrela solitária a esmiuçar essa nebulosa que inclui também olhares como os de Abbas Kiarostami e de seu antigo assistente, Jafar Panahi, detido recentemente pelo regime. A arte que eles produzem não tem nada de subserviente, embora roteiros e recursos percorram a via crucis das aprovações estatais, o que sugere a existência de vida inteligente e ecumênica ao lado de obscurantismo e opressão. Tampouco engrossa a servidão ética e estética que assalta o grosso da cinematografia contemporânea em nome da audiência. O mais interessante é que o saldo não fica nada a dever em termos de receptividade. 'A separação' foi visto por um milhão de pessoas no exterior . E teve público de 3 milhões no Irã, coincidentemente, o mesmo número que marcou o 'recorde' de Ibope do Big Brother Brasil, após o polemico caso do 'estupro-esquenta-audiência' . A partir dele fomos apresentados ao rico repertório conceitua do sr. 'Boninho', o aiatolá que comanda o espetáculo. Sobre privacidade diz ele: 'Não temos câmeras debaixo dos edredons'.Ainda.
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