Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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domingo, 13 de agosto de 2017

ONU diz que Venezuela supera Brasil em qualidade de vida

ONU diz que Venezuela supera Brasil em qualidade de vida

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E as polêmicas envolvendo a Venezuela só fazem crescer porque é fácil atirar em um país cercado de inimigos por todos os lados. A questão venezuelana é perfeita para governos atolados em impopularidade como o do Brasil distraírem a população de seus próprios problemas.
A guerra ideológica está espalhada pela América Latina há muito tempo, mas a direita vinha sendo surrada desde o fim do século passado. Eis que nos últimos anos, os efeitos da crise econômica internacional atingiram as economias do Terceiro Mundo após flagelarem o Primeiro Mundo.
Foi a chance para a direita se reerguer na América Latina. Vários países da região passaram a ter regimes conservadores. Na América do Sul, em particular, Argentina, Brasil e Paraguai endireitaram. Os dois últimos através de golpes.
Apesar de o Brasil ter passado às mãos da direita através de um golpe, não se pode ignorar que houve apoio popular a esse golpe, o que não o faz menos golpe, porque a lei não permite que a população derrube governos só por estar insatisfeita.
Enfim, o fato é que a direita usou e continua usando técnicas de mídia muito eficientes para enganar incautos. E incautos não faltam neste país.
Este post é produto de um surto de indignação gerado por um canal do YouTube que construiu um discurso com aparência de sério para contar uma montanha de mentiras sobre a Venezuela.
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É um canal forte. A farsa que montou já conta com mais de 200 mil visualizações. Uma legião de zumbis feitos de trouxas com dados falsos, produzidos pela rede farsante de desinformação montada pela mídia venezuelana, sempre decidida a derrubar o regime eleito pela primeira vez em 1998 e reeleito em 2015.
O espertinho só “linkou” matérias em inglês para dificultar a verificação da veracidade dos dados. Vai dar muito trabalho desmontar tantas farsas. A gente sabe que o dado é falso, mas precisa provar que é falso. Desse modo, o Blog vai desmontar essa farsa pedacinho por pedacinho, para se aprofundar bem.
Comecemos pelo primeiro link postado pelo canal enganador:

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Trata-se de uma matéria do The Guardian (Grã Bretanha). É um texto opinativo que diz que OITENTA E DOIS POR CENTO do povo venezuelano vive na pobreza.

ONU diz que Venezuela supera Brasil em qualidade de vida

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E as polêmicas envolvendo a Venezuela só fazem crescer porque é fácil atirar em um país cercado de inimigos por todos os lados. A questão venezuelana é perfeita para governos atolados em impopularidade como o do Brasil distraírem a população de seus próprios problemas.
A guerra ideológica está espalhada pela América Latina há muito tempo, mas a direita vinha sendo surrada desde o fim do século passado. Eis que nos últimos anos, os efeitos da crise econômica internacional atingiram as economias do Terceiro Mundo após flagelarem o Primeiro Mundo.
Foi a chance para a direita se reerguer na América Latina. Vários países da região passaram a ter regimes conservadores. Na América do Sul, em particular, Argentina, Brasil e Paraguai endireitaram. Os dois últimos através de golpes.
Apesar de o Brasil ter passado às mãos da direita através de um golpe, não se pode ignorar que houve apoio popular a esse golpe, o que não o faz menos golpe, porque a lei não permite que a população derrube governos só por estar insatisfeita.
Enfim, o fato é que a direita usou e continua usando técnicas de mídia muito eficientes para enganar incautos. E incautos não faltam neste país.
Este post é produto de um surto de indignação gerado por um canal do YouTube que construiu um discurso com aparência de sério para contar uma montanha de mentiras sobre a Venezuela.
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É um canal forte. A farsa que montou já conta com mais de 200 mil visualizações. Uma legião de zumbis feitos de trouxas com dados falsos, produzidos pela rede farsante de desinformação montada pela mídia venezuelana, sempre decidida a derrubar o regime eleito pela primeira vez em 1998 e reeleito em 2015.
O espertinho só “linkou” matérias em inglês para dificultar a verificação da veracidade dos dados. Vai dar muito trabalho desmontar tantas farsas. A gente sabe que o dado é falso, mas precisa provar que é falso. Desse modo, o Blog vai desmontar essa farsa pedacinho por pedacinho, para se aprofundar bem.
Comecemos pelo primeiro link postado pelo canal enganador:

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Trata-se de uma matéria do The Guardian (Grã Bretanha). É um texto opinativo que diz que OITENTA E DOIS POR CENTO do povo venezuelano vive na pobreza.
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O autor do texto é um sujeito chamado “Reinaldo Trombetta”. Até 2007, vivia na Venezuela e trabalhava em um dos jornais que fazia – e continua fazendo – oposição cerrada a Hugo Chávez, o El Nacional. Eis que surge uma jornalista norte-americana chamada Eva Golinger afirmando que Trombetta estava sendo pago pelo Departamento de Estado norte-americano para atacar Chávez.
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A notícia foi publicada pelo diário antichavista venezuelano El Universal em 26 de maio de 2007. Segue trecho da matéria.
33 comunicadores de varios medios están en la lista presentada por Gollinger
MARÍA LILIBETH DA CORTE |  DIARIO
sábado 26 de mayo de 2007  12:00 AM
MARÍA LILIBETH DA CORTE
EL UNIVERSAL
La abogada estadounidense, Eva Golinger, advirtió que no pretende “perseguir o atacar ni emprender una campaña de intimidación contra nadie”. Aclaró que s´olo busca “alertar” que los periodistas que participaron en el programa de la Oficina de Asuntos Culturales del Departamento de Estado de EEUU pasan a ser “sus empleados”, según las leyes de esa nación.
“Los objetivos del programa son obtener influencia sobre la línea editorial de los medios venezolanos y aquí, lamentablemente, a lo mejor hay periodistas que han sido manipulados por el Departamento de Estado”, agregó la también autora del libro El Código Chávez, quien informó que la lista de participantes fue “desclasificada” por el Gobierno de EEUU, dos años después de que se los solicitara, bajo la Ley de Acceso a la Información.
[…]
En la rueda de prensa, presentada por el presidente de Telesur, Andrés Izarra, Golinger mencionó a los periodistas María Fernanda Flores y Ana Karina Villalba (Globovisión), Roger Santodomingo (Noticiero Digital), Fausto Masó, Miguel Ángel Rodríguez (RCTV) y Reinaldo Trombetta, quien al momento de realizar el curso trabajaba en El Nacional y actualmente es director de Asuntos Públicos del Instituto de Artes Escénicas y Musicales del Ministerio de la Cultura.
Em 2 de agosto de 2007, o mesmo El Universal reconheceu que Trombetta era mesmo pago pelo governo norte-americano, apesar de dizer  que esses pagamentos não tinham nada que ver com suas críticas ao inimigo estadunidense Hugo Chávez.
Seja como for, no ano seguinte Reinaldo Trombetta deixou a Venezuela e foi viver na Grã Bretanha trabalhando como colunista do The Guardian e alegando que era perseguido pela “ditadura chavista” na Venezuela.
Nada disso prova, porém, que sua afirmação sobre a pobreza na Venezuela seja falsa. Porém, seu artigo, supra reproduzido diz, no título, que “Na Venezuela, 82% do povo vive na pobreza”, mas o assunto só é abordado – superficialmente – no último parágrafo de um texto de 12 parágrafos.
O Blog traduziu o trecho final, no qual o articulista “explica” a enormidade da afirmação sobre os 82% de pobres naquele país.
“(…) Mas e as dezenas de políticos e jornalistas – incluindo o líder da oposição – quem até recentemente elogiou as “conquistas” de Hugo Chávez e agora ficou quieto? Eles sempre pareciam sugerir que tinham o bem-estar do povo venezuelano no coração. Agora que 82% das famílias vivem na pobreza, elas não parecem interessadas em tudo o que está acontecendo na Venezuela. É uma pena, porque suas vozes podem realmente ser úteis, porque o mundo convida Maduro a restaurar a democracia e respeitar os direitos humanos (…)”
A gente não sabe se ri ou chora. Um texto intitulado “Na Venezuela, 82% do povo vive na pobreza” não deveria explicar melhor essa informação? Qual a fonte? Quem disse? Qual é a confiabilidade disso.
Apesar de Trombetta não ter trombeteado a fonte da informação, assim como o canal picareta lá do YouTube, o Blog foi atrás e descobriu de onde saiu essa enormidade.
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A pesquisa Encovi (Encuesta Sobre Condiciones de Vida em Venezuela) fundamentou o artigo de trombeta. Você pode ler o estudo na íntegra no box abaixo
A pesquisa usa uma malandragem clara. Em primeiro lugar, divide as classes sociais na Venezuela de uma forma maluca: pobres, não-pobres e pobres-extremos.
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Ou seja, não tem classe média alta, classe média baixa ou classe rica. Desse modo, se não for rico é pobre (?!).
Mas, afinal, é um estudo. Ou ao menos parece ser. Mas a pesquisa Encovi é confiável? O Blog foi saber de quem se trata. E que cada um julgue como quiser. Afinal, a inconfiabilidade dessa pesquisa não é o golpe de misericórdia que será aplicado nela nesta matéria. É apenas um golpe contundente. O nocaute virá por último.
Esse estudo foi apresentado pela mídia Venezuelana como tendo sido elaborado pelas Universidades Central, Simón Bolívar y Católica Andrés Belo, mas, na verdade, é uma publicação confeccionada sob a direção da Fundação Bengoa, do Observatório Venezuelano de Violência e outras supostas ONGs financiadas (entre outros) pelo governo norte-americano através da Agência dos Estados Unidos Para o Desenvolvimento Internacional (USAID)
A Fundação Bengoa pertence a duas instituições vinculadas à oposição Venezuelana e vinculadas à USAID: a Rede Venezuelana para Organizações de Desenvolvimento social e a Organização Venezuela Sem Limites.

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Se nos aprofundamos um pouco mais descobrimos que a Rede Venezuelana para Organizações Para Desenvolvimento Social (REDSOC) é uma entidade financiada pela Agência dos Estados Unidos Para o Desenvolvimento Internacional (USAID)
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Ou seja, o “estudo” foi feito por gente muito interessada em vender ao mundo essa barbaridade de que 82% dos venezuelanos são pobres. E é incrível como, no Brasil, esse conto do vigário pegou graças a uma mídia  irresponsável ao ponto de divulgar um estudo fake de uma organização sem maior respaldo e sob financiamentos suspeitos.
O malandrinho que postou no YouTube esse “estudo” fake poderia ter usado um veículo brasileiro em lugar do artigo opinativo do tal Trombetta, pois, em fevereiro, o G1 e todos os outros grandes e pequenos sites de direitas “trombetearam” essa farsa sem parar.
grande mídia brasileira difundir fartamente essa farsa dos 82% de pobres na Venezuela só serve para mostrar como há uma conspiração internacional contra a Venezuela, regida pelos Estados Unidos.
Porque o Estudo não faz sentido. Esses números são falsos, são absurdos. Só países miseráveis como Sudão do Sul (IDH 181), Burkina Faso (IDH 185) ou República Centro Africana (IDH 188, o último) teriam tantos pobres.
Aí é que vem o golpe de misericórdia nesse estudo criminoso que andam divulgando. Em março deste ano, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) publicou o Relatório do Desenvolvimento Humano 2016, no qual a Venezuela se mantém como um dos países com um alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no ranking de 188 países.
O IDH mede o progresso de uma nação com base na renda, saúde e educação, e vai de zero a um. Quanto mais pero do um, maior é o índice de desenvolvimento humano do país avaliado.
No relatório deste ano, a Venezuela aparece com uma pontuação de 0,767, no 71º lugar, acima do Brasil, cujo índice é 0,754 e ocupa o 79º lugar no ranking de melhores ou piores países para se viver.
Mais uma vez, o estudo foi encabeçado pela Noruega e o último colocado, como o pior país do mundo para se viver, foi a República Centro Africana, IDH 188.
No box abaixo você pode ler o estudo na íntegra. O site do PNUD só disponibiliza versão em inglês.
A imprensa séria divulga os dados corretos sobre a Venezuela. Veículos como Huffpost ou BBC Brasil divulgaram boas matérias desmontando as  mentiras sobre a Venezuela.

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Quem quiser entender quem é quem no mundo contemporâneo, em termos de qualidade de vida, pode acessar a integra do ranking no IDH clicando aqui
Aí vem a malandragem. Os farsantes afirmam que a pesquisa desconhecida bancada pelos inimigos do governo venezuelano é boa e o Índice de Desenvolvimento da ONU não vale nada porque o presidente Nicolás Maduro teria mandado os órgãos oficiais entregarem dados falsos ao organismo internacional.
Só uma besta quadrada poderia dar crédito a uma pesquisa fake em detrimento do maior estudo do mundo sobre as condições de vida dos países.
O IDH é vital para determinar investimentos estrangeiros, por exemplo. Se fosse tão simples fazer a ONU chancelar dados falsos, todos os países estariam em condições aceitáveis. Quem iria querer integrar os países de baixo desenvolvimento se bastasse uma mentirinha para sair bem na foto?
Porém, a mídia brasileira deu uma publicidade estratosférica a essa farsa dos 82% de pobres na Venezuela e sonegou ao público que dados internacionalmente reconhecidos, como os do IDH, dizem exatamente o oposto que esse estudo fake.
É angustiante ver essas mentiras contaminando inclusive gente decente, que, involuntariamente, junta-se a uma rede de mentiras cujo objetivo é colocar a América Latina de joelhos diante dos Estados Unidos e do grande capital transnacional.
Como sempre, esta página fez a sua parte. Agora é com você, se tiver chegado até aqui. Não deixe de divulgar a verdade dos fatos. E de usar este meio para contestar tantas informações falsas que circulam por aí. Se nos omitirmos, tornamo-nos cúmplices desses criminosos.
*
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domingo, 9 de março de 2014

A prova de que não há censura na Venezuela

Horas antes de começar a escrever este texto-denúncia uma pessoa que me segue no Twitter questionou mensagem que postei naquela rede social dizendo que a maioria dos venezuelanos não tem liberdade de expressão no Brasil devido ao fato de que, por aqui, grandes redes de televisão, grandes jornais, grandes rádios ou mesmo grandes portais de internet literalmente censuram tudo que contradiga a versão da oposição ao governo da Venezuela.
Mas como saber a versão da maioria dos venezuelanos? Eles não têm liberdade de imprensa lá”, disse-me o seguidor no Twitter.
Se quiser saber se isso é ou não verdade, sugiro que leia este texto até o fim. Em sua última parte, provo, de uma vez por todas, que não há censura alguma na Venezuela. Pelo contrário, a imprensa de lá pode mentir livremente. E sem consequência alguma.
Contudo, chega a ser surreal. Estamos em plena era da comunicação interplanetária instantânea através da internet. Em qualquer parte do planeta, basta ter acesso a um mísero celular com conexão com a internet – o que, hoje, é mais comum do que ter um forno de micro-ondas – para que se possa verificar o que se passa em qualquer parte do mundo.
Hoje, pode-se acessar livremente a imprensa até de países sob ditaduras – ou sob supostas ditaduras. Em Cuba, tão acusada de restringir liberdade de imprensa, qualquer um consegue acessar o blog da opositora mais famosa daquele regime, a blogueira Yoany Sánchez, que, diuturnamente, ataca o governo. Ainda assim, teimam em dizer que há censura em Cuba.
Mas, de fato, em Cuba não há grandes jornais de oposição e o acesso à internet ainda é dificultado pela situação econômica do país, o que impede que qualquer cubano tenha acesso à rede, tornando internet um privilégio fora do alcance de muitos. Mas, no que diz respeito à Venezuela, é uma piada dizer que não há liberdade de expressão por lá.
Há uma enormidade de jornais impressos, alguns de grande porte, ou de televisões privadas que fazem oposição ferrenha ao governo de Nicolás Maduro tanto quanto faziam ao do falecido Hugo Chávez. As televisões, as rádios e os sites opositores chegam a convocar manifestantes para se rebelarem contra o governo. Os jornais produzem diatribes diárias em editoriais, artigos, cartas de leitores etc.
No Brasil, porém, a grande mídia – Globo à frente – continua vendendo exclusivamente a opinião e a versão da oposição. Há literal censura a qualquer fato positivo sobre o país vizinho e, mais do que isso, a informações sobre o conflito entre governo e oposição que destoem da versão oposicionista. Não há, pois, noticiário sobre a Venezuela, em nosso país; há propaganda política de uma facção violenta e golpista, que está tentando derrubar o governo.
Nos últimos dias, o noticiário brasileiro tem se concentrado fortemente no número de mortos e feridos durante os protestos da oposição contra o governo. Diz a mídia brasileira que há 20 mortos e centenas de feridos, mas não diz que grande parte desses mortos e feridos é composta por governistas atacados pela oposição, muitas vezes em emboscadas de franco-atiradores, posicionados no alto de prédios durante as manifestações.
Esses métodos que estão sendo usados novamente pela oposição venezuelana para culpar o governo pelas vítimas (fatais e não-fatais) de suas ações de sedição foram imortalizados no documentário Puente Llaguno, que mostra como em 2002, em tentativa anterior de golpe, essa mesma oposição assassinou pessoas e também culpou o governo.
Esse documentário vem sendo difundido há anos por ativistas políticos independentes, mas como, ao mesmo tempo, é um documento avassalador para as farsas midiáticas contra a Venezuela, sofre, por parte dos grandes meios de comunicação, uma das censuras mais violentas de que se tem notícia.
Reproduzo, abaixo, o documentário. E sugiro, a quem quer expor a verdade sobre o conflito no país vizinho, que tente difundir ao máximo esse vídeo. Este texto prossegue em seguida.


Se está retomando o texto sem nunca ter assistido a Puente Llaguno, vale explicar que o documentário prova, sem deixar qualquer dúvida, que, em 2002, a oposição fez o que voltou a fazer neste ano, ou seja, gerar mortos e feridos para acusar o governo.
Essa, aliás, foi a base da tentativa de golpe de 2002, que o documentário Irlandês “A Revolução Não Será Televisionada” também denuncia. Abaixo, reproduzo também esse documentário. E prossigo em seguida.



Parece incrível, mas estão tentando fazer novamente na Venezuela o que fizeram em 2002. Exatamente com os mesmos métodos. Inclusive com as mídias dos países vizinhos (como a do Brasil) impedindo que a versão da maioria do povo venezuelano sobre o que está acontecendo naquele país seja conhecida em seu entorno.
Hoje, porém, há uma diferença. Após a tentativa de golpe de 2002, o falecido Hugo Chávez montou um sólido esquema de preservação das instituições e da vontade da maioria de seu povo. Além de uma rede de comunicação capaz de fazer frente à forte máquina midiática oposicionista, que dispõe de 80% dos meios de comunicação privados na Venezuela, há, naquele país, órgãos de inteligência e um verdadeiro exército popular armado.
Mesmo uma tentativa de invasão da Venezuela pelos EUA enfrentaria uma guerrilha bem armada, um exército contrarrevolucionário que resistiria a essa suposta invasão estrangeira. Além disso, as forças armadas venezuelanas expurgaram dos postos-chave todos os militares com pendores golpistas.
Pela força, portanto, a oposição venezuelana não conseguirá derrubar o governo constitucional.
Todavia, nos países vizinhos a situação é muito grave. Há uma máquina de propaganda dos golpistas funcionando a todo vapor. A mídia brasileira, por exemplo, além de praticar censura contra a versão da maioria dos venezuelanos que apoia o governo conta com a preguiça de seu público, acostumado a comprar as versões prontas que vende.
Qualquer pessoa pode acessar os grandes jornais venezuelanos pela internet e verificar se estão realmente sob censura. Uma mera busca no Google daria acesso ao site “Jornais da Venezuela”, que indica todos os grandes periódicos daquele país, com a íntegra do que publicam. E basta conhecimentos médios de espanhol para ver que esses jornais atuam com total liberdade no país vizinho.
Para navegar pela imprensa venezuelana, portanto, clique aqui
Mas, para facilitar a vida do leitor, traduzi editorial publicado no último dia 8 de março pelo maior jornal venezuelano, o El Nacional. O título do editorial, “El Madurazo”, faz alusão ao “Carazo”, uma explosão social espontânea, de grandes proporções, ocorrida em Caracas em 1989, em repúdio a pacote de medidas econômicas neoliberais imposto pelo governo de Carlos Andrés Pérez.
Leia, abaixo, o editorial do periódico El Nacional
—–
EL Nacional
Caracas, 8 de março de 2014
Ontem, o senhor Maduro condecorou e exaltou postumamente os integrantes da Guarda Nacional Bolivariana que faleceram durante a violenta repressão lançada pelo governo contra os estudantes que tomaram as ruas para protestar contra a bancarrota social e econômica em que se encontra o país, e que afeta os setores mais pobres da sociedade.
O senhor Maduro também condecorou 57 integrantes da Guarda Nacional que, segundo as versões extraoficiais, foram feridos em consequência dos ataques de estudantes e de pessoas residentes da região, gente que saía do metrô rumo ao seu trabalho, idosos que iam comprar alimentos e trabalhadores que seguiam para o trabalho cotidiano.
Tão perigosa aglomeração composta por simples garotos menores de idade, estudantes magricelos e jovenzinhas nada musculosas, além de pessoas do povo famélico, empobrecida e cansada, causou à treinada, disciplinada e militarizada Guarda Nacional nada menos do que 57 feridos. Valha-nos Deus. Estamos tão mal [de policiais]? Por isso o contrabando e o narcotráfico nos ameaçam de morte.
Segundo Maduro, os sargentos foram assassinados pela extrema direita enquanto cumpriam seu dever de defender a paz. Que rapidez a de Nicolás [Maduro] para investigar por sua conta um fato de natureza tão complexa que exige de qualquer equipe de investigação do Cicpc [órgão de inteligência venezuelano] um tempo prudencial e um especial cuidado para montar corretamente as peças do quebra-cabeças policial.
Que pena que Maduro não estava em Dallas quando mataram o presidente Kennedy, porque o FBI e o governo norte-americano teriam poupado tempo e dinheiro.
Já Nicolás [Maduro] cometeu a imprudência e o presumível delito de revelar parte do resumo dos assassinatos ocorridos na esquina de Tracabordo, na Zona de Chacao [bairro de Caracas] – as duas balas são iguais, afirmou –, um ato que está expressamente proibido a qualquer funcionário que tenha acesso ao material.
A procuradora-geral da república se atreverá a chamar a atenção [de Maduro] publicamente?
Enquanto se ocupava de exaltar postumamente os dois sargentos da Guarda Nacional que morreram durante os choques, o senhor maduro fazia vista grossa para os vinte venezuelanos assassinados por comandos policiais e grupos paramilitares que atuam à margem da lei e para os quais os crimes e desmandos não têm lei nem castigo. Esses vinte mortos não são seres humanos, pertencem à escoria de direita fascista e, portanto, é bom que tenham morrido.
Porém, responda, senhor Maduro: o senhor está seguro e em sua consciência não tem dúvida de que esses vinte assassinatos foram cometidos pelo que chama de “direita fascista? E se não for assim? E se o senhor, como todo ser humano, se engana? Não estaria o senhor encobrindo presumivelmente esses crimes?
O que ao senhor incomoda, senhor Maduro, é reconhecer publicamente que os que saíram à rua para protestar estão fartos de passar fome pela permanente escassez de alimentos, por ver morrerem seus familiares porque o senhor foi inepto na importação de medicamentos assim como no cuidado de dotar hospitais de equipamentos, em enfrentar a insegurança descontrolada que enche os necrotérios com centenas de cadáveres, em acabar com o narcotráfico que corrompe os jovens nas favelas, em deixar que as escolas caiam no abandono, em arrasar as terras cultiváveis e converter os camponeses em mendigos urbanos.
O senhor odeia os estudantes e mandou reprimi-los porque os jovens gritavam as demandas do povo contra a pobreza, a escassez, a fome, o inferno e a corrupção. Falavam pelo povo, expunham ao mundo a indigência e o abandono em que o senhor mantém hoje este país que um dia foi próspero e formoso.
—–
O “El Nacional” é o maior jornal venezuelano, algo como a Folha de São Paulo de lá. Faz parte do Grupo de Diários América, que foi citado no sábado (8) pelo Jornal Nacional como fonte das notícias que o telejornal deu sobre a crise venezuelana.
O grupo de mídia ainda é dono de outros jornais de países sul-americanos, como o El Tiempo, da Colômbia, o El Mercúrio, do Chile, e o Lá Nación, da Argentina. Todos jornais de linha conservadora. O La Nación, aliás, faz oposição cerrada a Cristina Kirschner, na Argentina.
O jornal El Nacional mente descaradamente sobre a situação na Venezuela. Dizia as mesmas coisas durante o golpe de 2002. Há provas concretas de que não são apenas “estudantes magricelos” que estão indo às ruas incendiar até a sede do Ministério Público, jogar bombas e atirar em governistas do alto dos prédios.
Mas não é o que importa, neste texto.
O que importa é que o editorial em questão desmente de forma cabal e insofismável a versão mentirosa de que não há liberdade de imprensa na Venezuela. Esse tipo de diatribe contra o governo está nas televisões, nas rádios, nos portais de internet, em toda parte daquele país. E, creia-me, leitor, o ataque do El Nacional é um dos mais suaves que se faz ao governo venezuelano.