Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A ilha, seu povo, seu sonho


Mauro Santayana

Podemos  discordar do regime político de Cuba, que se mantém sob o domínio de um partido único. Mas é preciso seguir o conselho de Spinoza: não lisonjear, não detestar, mas entender. Entender, ou procurar entender. A história de Cuba — como, de resto, de quase todo o arquipélago do Caribe e da América Latina — tem sido a de saqueio dos bens naturais e do trabalho dos nativos, em benefício dos colonizadores europeus, substituídos depois pelos anglossaxões.
E, nessa crônica, destaca-se a resistência e a luta pela soberania de seu povo não só contra os dominadores estrangeiros mas, também, contra  seus vassalos internos.

A Revolução Cubana foi, em sua origem, o que os marxistas identificam como movimento pequeno burguês. Fidel e seus companheiros, no assalto ao Quartel Moncada — em 1953, já há quase 60 anos — pretendiam apenas derrocar o governo  ditatorial de Fulgencio Batista, que mantinha o país sob cruel regime policial,  torturava os prisioneiros e submetia a imprensa a censura férrea. A corrupção grassava no Estado, dos contínuos aos ministros. O enriquecimento de Batista, de seus familiares e amigos,  era do conhecimento da classe média, que deu apoio à tentativa insurrecional de Fidel, derrotada então, para converter-se em vitoria menos de seis anos depois. Os ricos eram todos associados à exploração, direta ou indireta, da prostituição, disfarçada no turismo, e do trabalho brutal dos trabalhadores na indústria açucareira.Já se tornou  luga-comum lembrar que, sob os governos títeres, Havana se tornara o maior e mais procurado bordel americano. A legislação, feita a propósito, era mais leniente, não só com o lenocínio, e também  com o jogo, e os mais audazes gangsters de Chicago e de Nova York tinham ali os seus negócios e seus retiros de lazer. E mais: as mestiças cubanas, com sua beleza e natural sensualidade, eram a atração irresistível para os entediados homens de negócios dos Estados Unidos.

Foi a arrogância americana, na defesa de suas empresas petrolíferas, que se negaram a aceitar as novas regras, que empurrou o advogado Fidel Castro e seus companheiros, nos dois primeiros anos da vitória do movimento, ao ensaio de socialismo. A partir de então, só restava à Ilha encampar as refinarias e aliar-se à União Soviética.
Os americanos, sob o festejado Kennedy — que o reexame da História não deixa tão honrado assim — insistiram nos erros. A tentativa de invasão de Cuba, pela Baía dos Porcos, com o fiasco conhecido, tornou a Ilha ainda mais dependente de Moscou, que se aproveitou do episódio para livrar-se de uma bateria americana de foguetes com cargas atômicas instalada na Turquia, ao colocar seus mísseis a 100 milhas da Flórida, no território cubano.
A solução do conflito, que chegou a assustar o mundo com uma guerra atômica, foi negociada pelo hábil Mikoyan: Kruschev retirou os mísseis de Cuba, e os Estados Unidos desmantelaram sua bateria turca, ao mesmo tempo em que assumiram o compromisso de não invadir Cuba — mas mantiveram o bloqueio econômico e político contra Havana. Enfim, ganharam Moscou e Washington, com a proteção recíproca de seus espaços soberanos — e Cuba pagou a fatura com o embargo.   
O malogro do socialismo cubano nasceu desse imbróglio de origem. Tal como ocorrera com a Rússia Imperial e com a China, em movimentos contemporâneos, o marxismo serviu como doutrina de empréstimo a uma revolução nacional. O nacionalismo esteve no âmago dos revolucionários cubanos, tal como estivera entre os social-democratas russos, chefiados por Lenin  e os companheiros de Mao.  
Os cubanos iniciaram reformas econômicas recentes,  premidos, entre outras razões, pelo fim do sistema socialista. Ao mesmo tempo tomaram medidas liberalizantes, permitindo as viagens ao exterior de quem cumprir as normas habituais. É assim que visita o país a dissidente Yoani Sánchez (que mantém seu blog na internet de oposição ao governo cubano) e é reverenciada pelos setores de direita. Ocorre que ela não é tão perseguida em Havana como proclama e proclamam seus admiradores. Tanto assim é que, em momento delicado para a Ilha, quando só pessoas de confiança do regime viajavam para o exterior, ela viveu dois anos na Suíça, e voltou tranquilamente para Havana.
É sabido que Yoani Sánchez mantém encontros habituais com o escritório que representa os interesses norte-americanos em Cuba, como revelou o WikeLeaks. Há mais, ela proclama uma audiência que não tem, como assegura o sistema de registro mais confiável, o da Alexa.com (citado por Altamiro Borges em seu site), em que ela se encontra no 99.944º lugar na audiência mundial, enquanto o modesto jornal O Povo, de Fortaleza, se encontra na 14.043ª posição, ou seja dispõe de sete vezes mais  seguidores do que Yoani. Há mais: ela afirma que tem 10 milhões de acessos por mês, o que contraria a lógica de sua posição no ranking citado.  O site de maior tráfego nos Estados Unidos é o do New York Times, com 17 milhões de acessos mensais.

Dispensamos os conselhos da senhora Sánchez. Aqui tratamos, prioritariamente, dos direitos humanos dos brasileiros, que são os de viver em paz, em paz educar-se e em paz trabalhar, e esses são os direitos de todos os povos do mundo. Ela, não sendo cidadã de nosso país, não deve, nem pode, exigir nada de nosso governo ou de nosso povo.  Dispensamos seus avisos mal-educados e prepotentes, e esperamos que  seja festejada pela direita de todos os países que visitará, à custa de seus patrocinadores (como o Instituto Millenium), iludidos pelo seu falso prestígio entre os cubanos.Apesar de tudo isso, deixemos essa senhora defender o seu negócio na internet. É seu direito dizer o que quiser, mas não podemos tolerar que exija do Brasil defender os direitos humanos, tal como ela os vê, em Cuba ou alhures. Um dos princípios históricos do Brasil é o da não interferência nos assuntos internos dos outros países. O problema de Cuba é dos cubanos, que irão resolvê-lo, no dia em que não estiverem mais obrigados a se defender da intervenção dos estrangeiros, que vêm sofrendo desde que os espanhóis, ainda no século 16, ali se instalaram.  Foram substituídos pelos Estados Unidos, depois da guerra vitoriosa de Washington contra o frágil governo da regente Maria Cristina, da Espanha.  Enfim, o generoso povo cubano, tão parecido com o nosso, não teve, ainda, a oportunidade de realizar o seu próprio destino, sem as pressões dos colonizadores e seus sucessores.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Anonymous: “O objetivo de qualquer insurreição é tornar-se irreversível...”


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De: Your Anonymous News

Data: 18/3/2012

Traduzido e enviado pelo pessoal da Vila Vudu

Da “Cruz Negra Anarquista”/American Black Cross Federation (ABCF), em apoio aos prisioneiros políticos e prisioneiros de guerra, nos EUA e em todo o mundo. O grupo trabalha no campo pelo qual a Anistia Internacional não se interessa. A Anistia Internacional se ocupa de prisioneiros de consciência e não defende os acusados de promover atos violentos. A ABCF apoia abertamente os que cometeram atos ilegais com objetivos revolucionários, que os anarquistas consideram legítimos.

“Enquanto houver um operário, estou com ele.
Enquanto houver um criminoso, estou na luta.
E se ainda há um operário preso em alguma prisão,
então não sou livre”.
Eugene Victor “Gene” Debs (1855-1926)

“O objetivo de qualquer insurreição é tornar-se irreversível. A insurreição torna-se irreversível quando derrota ambos: a autoridade e a necessidade da autoridade, a propriedade e o prazer da apropriação, a hegemonia e o desejo de hegemonia. Por isso o processo insurrecional carrega nele ou a forma de sua vitória ou a forma de sua derrota. Destruir jamais bastou para tornar as coisas irreversíveis. Há modos de destruição que infalivelmente provocam a volta do que foi destruído”.

O Comitê Invisível, Your Anon News, 18/3/2012

http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/03/anonymous-o-objetivo-de-qualquer.html

http://goo.gl/vfaZQ /twitter

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Somos Todos Anonymous

Somos Anonymous. Somos legião. Estamos em todos os lugares e em qualquer lugar. Somos gay no Texas, negro nos anos 1950s em Selma, separatista basco na Espanha, curdo no Iraque e na Síria, anarquista na França, palestino em Israel, blogueiro dissidente na China, cigano na Polônia, inuit em Nunavut, ativista hacker na Grã-Bretanha, mulher sozinha num beco às 2h da manhã, agricultor sem terra, ocupante no Parque Zuccotti Park, membro de gangue na favela e no gueto, um carinha sentado sozinho num bar, um manifestante no Egito, um menino-soldado na Somália, um estudante infeliz afogado em dívidas, uma família despejada, e também somos você, claro.

Somos as minorias exploradas, marginalizadas e oprimidas que sentem no coração queimar o fogo da revolta e levantam-se para resistir e mudar o status quo. Somos cada um e todos os excluídos e roubados que acordaram para ver que, sim, cada um tem importância e merece mais da vida. Somos todas as maiorias que têm de calar e ouvir a mensagem da suficiência que nos é impingida no palco global. Somos cada movimento e cada rebelião que canaliza a própria energia para agir. Somos o medo paralisante de que tudo se repita, os pensamentos cimerianos (obscuros, escuros, infelizes, sombrios, nebulosos, frios, soturnos, depressivos, desolados, desconsolados, assustadores, apavorantes, fantasmagóricos [sobretudo no inglês da Escócia], elegíaco, funéreo, deus-nos-livre, lúgubre, miserável, mórbido, plutoniano, sepulcral, solene, sombrio, pálido, tenebrífico, tenebroso, o amaldiçoado rugido que mantém despertos, à noite, insones, os donos do poder. Somos a espada que pende sobre a cabeça dos tiranos – isso é Anonymous.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Leandro Fortes: Oban cabocla nos rincões dos Mendes

  
por Leandro Fortes, no Brasília Eu Vi
Esse fascitóide de quinta categoria se chama Márcio Mendes. É um técnico rural que a família do ministro Gilmar Mendes, do STF, mantém como cão raivoso na emissora de TV do clã para atacar adversários e inimigos políticos. A TV Diamante, retransmissora do SBT, é, acreditem, uma concessão de TV educativa apropriada por uma universidade da família do ministro. Mendes, vcs sabem, é o algoz do fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício de jornalistas. Vejam esse vídeo e vocês vão entender, finalmente, a razão. Esse cretino que apresenta esse programa propõe a criação de um grupo de extermínimo para matar meninos de rua. Pede ajuda de empresários e comerciantes para montar um “sindicato do crime”, uma espécie de Operação Bandeirante cabocla, para “do nada” desaparecer com esses meninos. E preconiza: “Faz um limpa, derrete tudo e faz sabão”.
Repito: trata-se de transmissão em concessionária educativa na TV da família de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Eu denunciei isso, faz dois anos, na CartaCapital, em uma das matérias sobre os repetidos golpes que o clã dos Mendes dá para derrubar o prefeito eleito da cidade de Diamantino, que ousou vencer a família do ministro nas urnas. Vamos ver o que diz o Ministério das Comunicações e a Polícia Federal, a respeito. Seria bom saber qual a posição do SBT, também.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A escolha do PSDB


O horror e a opção preferencial contra os pobres


É o horror. Nada mais precisa ser dito para descrever a operação de despejo de Pinheirinho, em São José dos Campos, e a ação policial contra os usuários de crack no centro da capital, na chamada Cracolândia. Mas existem muitas explicações para a truculência, a desumanidade, a destituição do direito de cidadania aos pobres pelo poder público paulista.

A primeira delas é tão clara que até enrubesce. Nos dois casos, trata-se de espantar o rebotalho urbano de terrenos cobiçados pela especulação imobiliária. O Projeto Nova Luz do prefeito Kassab, que vem a ser a privatização do centro para grandes incorporadoras, vai ser construído sob os escombros da Cracolândia, sem que nenhuma política social tenha sido feita para minorar a miséria ou dar uma opção séria para crianças, adolescentes e adultos que se consomem na droga. 

O terreno desocupado com requintes de crueldade em São José dos Campos, de propriedade da massa falida do ex-mega-investidor Naji Nahas, que já era de fato um bairro, vai ser destinado a um grande investimento, certamente. O presente de Natal atrasado para essas populações pobres libera esses territórios antes que terminem os mandatos dos atuais prefeitos, e o mais longe possível do calendário eleitoral. Rapidamente, a prefeitura de São Paulo está derrubando imóveis; a prefeitura de São José não deve demorar para limpar o terrreno de Pinheirinho das casas - inclusive de alvernaria - das quais os moradores foram expulsos. 

Até outubro, no mínimo devem ter feito uma limpeza na paisagem, o que atenua nas urnas, pelo menos para a classe média, a ação da polícia. A higienização justifica a truculência policial. A "Cidade Limpa" de Kassab, que começou com a proibição de layouts na cidade, termina com a proibição de exposição da pobreza e da miséria humana.

A segunda é de ordem ideológica. Desde a morte de Mário Covas, que ainda conseguia erguer um muro de contenção para o PSDB paulista não guinar completamente à direita, não existe dentro do partido nenhuma resistência ao conservadorismo. Quando Geraldo Alckmin reassumiu o governo do Estado, em janeiro de 2011, muitas análises foram feitas sobre se ele, por força da briga por espaço político com José Serra dentro do partido, iria trazer o seu governo mais para o centro. A referência tomada foi o comando da Segurança Pública, já que em seu mandato anterior a truculência do então secretário, Saulo de Castro Abreu Filho, virou até denúncia contra o governo de São Paulo junto à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos. 

O fato de ter mantido Castro fora da Segurança e se aproximado do governo federal, incorporando alguns programas sociais federais, e uma relação nada íntima com o prefeito da capital, deram a impressão, no primeiro ano de governo, que Alckmin havia sido empurrado para o centro. O que não deixava de ser uma ironia: um político que nunca escondeu seu conservadorismo foi deslocado dessa posição por um adversário interno no partido, José Serra, que, vindo da esquerda, tornou-se a expressão máxima do conservadorismo nacional. 

Isso não deixa de ser uma lição para a história. Superado o embate interno pela derrota incondicional de José Serra, que desde a sua derrota vinha perdendo terreno no partido e foi relegado à geladeira, depois da publicação de "Privataria Tucana", do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, Alckmin volta ao leito. O governador é conservador; o PSDB tornou-se orgânicamente conservador, depois de oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) e oito anos de posição neoudenista. A polícia é truculenta - e organicamente truculenta, já que traz o modelo militar da ditadura e foi mais do que estimulada nos últimos governos a manter a lei, a ordem e esconder a miséria debaixo do tapete. 

O nome de quem faz a gestão da Segurança Pública não interessa: está mais do que claro que passou pelo governador a ordem das invasões na Cracolândia e em Pinheirinho.

Outra análise que deve ser feita é a da banalização da desumanidade. Conforme a sociedade brasileira foi se polarizando politicamente entre PSDB e PT, a questão dos direitos humanos passou a ser tratada como um assunto partidário. O conservadorismo despiu-se de qualquer prurido de defender a ação policial truculenta, de tomar como justiça um Judiciário que, nos recantos do país, tem reiterado um literal apoio à propriedade privada, um total desprezo ao uso social da propriedade e legitimado a ação da polícia contra populações pobres (com nobres exceções, esclareça-se). 

Para os porta-vozes desses setores, a polícia, armada, "reage" com inofensivas balas de borracha à agressão dos moradores que jogam pedras perigosíssimas contra escudos enormes da tropa de choque. No caso de Pinheirinho, a repórter Lúcia Rodrigues, que estava na ocupação, na sexta-feira, foi ela própria alvo de duas balas letais, vindas da pistola de um policial municipal. Ela não foi atingida, mas duvida, pela violência que presenciou, das informações de que tenha saído apenas uma pessoa gravemente ferida daquele cenário de guerra.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Suplicy fala ao blog e critica Alckmin e Polícia Militar


Se você esteve fora do país e está chegando agora, saiba que neste domingo o governo do Estado de São Paulo autorizou que 1.800 policiais militares invadissem o bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos, em helicópteros e até blindados, jogando bombas contra mulheres e crianças, havendo denúncias (não-confirmadas) de até sete mortos e número ainda incerto de feridos, sendo boa parte mulheres (algumas grávidas) e crianças.
Aos poucos, eles foram chegando. Muitos militantes de partidos, parlamentares, movimentos sociais e sindicatos. Foram enchendo a calçada em frente ao Masp enquanto a feira de antiguidades que ocorre aos domingos no vão livre do museu ia sendo desmontada. Como tardasse a liberação do local, os militantes foram invadindo as pistas dos veículos.
Um cálculo conservador autoriza dizer que ao menos 700 pessoas se manifestaram sob intensa chuva em prol dos deserdados do Pinheirinho. Após pelo menos uma hora e tanto de ato em frente ao Masp, a manifestação se deslocou pelas pistas dos veículos por cerca de 500 metros, até o edifício do Tribunal Regional Federal, gritando palavras de ordem.
– Alckmin, seu matador, assassinando o povo trabalhador!
Ninguém deu bola para a chuva forte. Os guarda-chuvas foram brotando como o ânimo da manifestação. As palavras de ordem foram aumentando de volume conforme as centenas de pessoas se animavam. A pista bairro-centro ficou cem por cento interditada por pelo menos duas horas e meia.
O ato se reconcentrou diante do prédio do Tribunal Regional Federal, sempre sob intensa chuva. Foi quando chegou o senador Eduardo Suplicy, discursou e relatou a violação do acordo com o governo do Estado de São Paulo sobre a trégua no Pinheirinho. Após sua fala de cerca de 20 minutos, pedi-lhe uma entrevista e ele aceitou. Conversamos por cerca de 5 minutos.
Perguntei se Geraldo Alckmin agiu corretamente em relação à desocupação do bairro Pinheirinho e se a Polícia Militar vêm cumprindo com o seu papel constitucional de proteger o cidadão e de tratá-lo com respeito e protegê-lo e o senador foi taxativo ao dizer que tanto o governador quanto a PM descumpriram os seus deveres constitucionais.
Fiquei emocionado e surpreso devido à manifestação ter sido convocada na tarde de um domingo via Twitter e Facebook e duas horas depois ter levado tantas pessoas à rua sem ser para pleitearem aumento salarial ou qualquer benefício próprio, e ainda sob intensa chuva. E com parlamentares de vários partidos indo até lá nos apoiar.
Mas o que me estimulou mesmo nesse ato de cidadania foi a presença maciça da juventude. Confiante, serena, determinada a lutar pela democracia e pela justiça social. Percebi que o tempo de pessoas da minha idade já se esvai, mas a juventude não está anestesiada coisa nenhuma. E já ensaia assumir o seu lugar de direito na condução dos destinos do país.
Agradeço ao senador Eduardo Suplicy pela atenção dispensada aos leitores do Blog da Cidadania.









A LÓGICA DO DINHEIRO GROSSO CONTRA O POVO MIÚDO




Qual o sentido em se despejar violentamente cerca de 1.660 famílias pobres, que já estão construindo suas casas, que mal ou bem abrigam-se sob um teto e erguem uma comunidade, para depois cadastrá-las nas intermináveis filas dos programas de habitação social que para atende-las terão que adquirir ou desapropriar glebas, viabilizar projetos, contratar obras até , finalmente, um dia --se é que essa dia chegará--  devolver um chão e alguma esperança de cidadania a essa gente? Mas, sobretudo, qual o sentido dessa enorme volta em falso quando o único beneficiário da ação policial violenta contra a ocupação de 'Pinheirinho', em São José dos Campos (SP), chama-se Naji Nahas? Dono do terreno, com dívidas de R$ 15 milhões junto à prefeitura local, Nahas é um especulador  notório, preso em  julho de 2008 pela Polícia Federal, na operação Satiagraha, junto do não menos notório banqueiro Daniel Dantas, ambos acusados de desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro. Qual o sentido do 'desencontro' entre o manifesto desejo de um acordo favorável aos moradores de 'Pinheirinho', expresso pelo governo federal, e a engrenagem política-judicial repressiva e desastrada do governo paulista? Qual o sentido? O sentido é justamente esse, apenas esse: a supremacia do dinheiro grosso contra o povo miúdo.  

Deputados denunciam manobra de má-fé do governador Alckmin

por Conceição Lemes
Tropa de choque de quase 2 mil homens, caveirão, armamento pesado. Com todo esse aparato, começou neste domingo, às 6h, a desocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos.  Moradores, lideranças e parlamentares  foram totalmente pegos de surpresa.
“O senador Eduardo Suplicy (PT) e o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) estavam dialogando  com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), o prefeito Eduardo Cury (PSDB) e proprietário da área, para achar uma solução negociada”, afirma  o deputado estadual Marco Aurélio Souza (PT). “O próprio dono da área havia concordado em aguardar mais 15 dias. Isso tudo foi minuciosamente relatado por Suplicy numa assembleia realizada ontem, sábado, no Pinheirinho. De modo que todo mundo estava tranqüilo.”
Para Marco Aurélio, Alckmin manobrou os parlamentares para desmobilizar os moradores e, aí, fazer a  reintegração de posse sem resistência. “Covardia com os moradores, para pegá-los desprevenidos”, acusa.  “Quebra de palavra com os parlamentares importantes de São Paulo. ”
O professor Paulo Búfalo, da executiva do  Psol em São Paulo,  está convencido também de que foi uma manobra de má-fé do governador Alckmin. De um lado, negociava, com os parlamentares. De outro, determinava a desapropriação da área, uma ação em  conluio com a Justiça de São Paulo: “Todos os relatos que estamos ouvindo aqui, infelizmente, apontam para isso”.
Outros deputados que estiveram no Pinheirinho, ao longo deste domingo, confirmaram essas informações.
Sobre mortos e feridos os números são desencontrados. Divulgou-se mais cedo sete óbitos. Mas isso não confirmado.
“Mesmo as lideranças estão com dificuldade de obter informação”, diz Búfalo. “A tropa de choque fechou todas as entradas e saídas do acampamento. Ninguém sabe direito o que está acontecendo lá dentro.”
O fato é quem quem chega ao Pinheirinho está sendo recebido com bombas, que estão sobrando até para a imprensa e parlamentares. “Eu guardei de ‘lembrança’ os resíduos da que a PM atirou contra mim”, observa o deputado Marco Aurélio. “Se a amanhã o governador disser que a reintegração de posse do Pinheirinho foi feita de forma pacífica, eu tenho como provar que é mentira.”
Leia também:
Domingo de guerra
A reintegração de posse em São José dos Campos

 
 

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Calmon: tem criminoso de colarinho branco preso ? Eliana Calmon reafirma que há ‘bandidos de toga’


Calmon não recua: sim, há criminosos de toga!

O Conversa Afiada reproduz texto do Globo:SÃO PAULO – A corregedora nacional de Justiça, a ministra Eliana Calmon, reafirmou na noite desta segunda-feira que há, na magistratura brasileira, “bandidos de toga” e que sua declaração polêmica não foi contestada pelos corregedores de Justiça do país, responsáveis por investigar juízes de primeira instância. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, a ministra afirmou ainda que o problema da magistratura não está na primeira instância, mas nos tribunais.

- Os juízes de primeiro grau tem a corregedoria. Mesmo ineficientes, as corregedorias tem alguém que está lá para perguntar, para questionar. E existem muitas corregedorias que funcionam muito bem. Dos membros dos tribunais, nada passa pela corregedoria. Os desembargadores não são investigados pela corregedoria. São os próprios magistrados, que sentam ao lado dele, que vão investigar – criticou a ministra.

Eliana Calmon defendeu a atuação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cuja capacidade de investigar e punir magistrados está sendo questionada pela Associação dos Magistrados do Brasil (AMB) no Supremo Tribunal Federal.

- O CNJ, na medida que também é órgão censor, começa a investigar comportamentos. Isso começa a desgostar a magistratura – disse a ministra.

Para Eliana, os maiores adversários do CNJ são as associações de classe, como a própria AMB:

- Não declaram, mas são contra. A AMB é a que tem maior resistência – disse ela, que concluiu: – De um modo geral, as associações defendem prerrogativas: vamos deixar a magistratura como sempre foi. São dois séculos assim.

Sobre a falta de punição aos magistrados, embora existam centenas de denúncias, a ministra respondeu:

- Vou colocar de outra maneira: o senhor conhece algum colarinho branco preso?

A ministra explicou a circunstância da declaração sobre os “bandidos de toga” e minimizou a gravidade da acusação:

- Eu sei que é uma minoria. A grande maioria da magistratura brasileira é de juiz correto, decente, trabalhador. A ideia que se deu é que eu tinha generalizado. Eu não generalizei. Quando eu falei “bandidos de toga” eu quis dizer que alguns magistrados se valem da toga para cometer deslizes – disse ela, que defendeu sua posição: – Os corregedores reconhecem que aquilo que eu disse é o que existe.

O Conversa Afiada reproduz abaixo a íntegra do Roda Viva desta segunda-feira (14/11) com a ministra Eliana Calmon

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A Espiral da Insensatez


A Espiral da Insensatez
Claudius
por Silvio Caccia Bava
Agora não é mais uma bolha que explode. É uma crise sistêmica e planetária do modelo de capitalismo financeirizado que domina o mundo. Ninguém escapa dela.
Tal como grandes animais predadores, as grandes corporações financeiras internacionais estão devastando o tecido social europeu, criando uma zona de crescente instabilidade política e colocando em risco a economia global, mas também estão criando espaços para sua contestação.
Desde meados dos anos 1980 essas grandes corporações financeiras internacionais se fortalecem. Hoje elas controlam os governos e os organismos multilaterais, como o FMI, o Banco Mundial e o Banco Central Europeu. Isso ficou claro na crise de 2007/2008, quando um grupo dos mais importantes executivos, reunido com o FMI, impôs aos governos nacionais que se endividassem para salvar os grandes bancos privados. E os governos se endividaram muito além de sua capacidade.
Esse endividamento golpeou o governo da Irlanda, da Grécia, de Portugal, da Espanha e da Itália, e coloca sob ameaça mesmo a França e a Inglaterra. E para salvar esses países do default(calote) da dívida pública, novos pacotes de volumosos empréstimos foram mobilizados, com uma importante participação das grandes corporações financeiras internacionais, que viram nessas operações, com taxas de juros recordes, a possibilidade de grandes ganhos.
A crise, no entanto, recrudesce. A receita amarga das brutais políticas nacionais de ajuste, isto é, os cortes no orçamento público, nos salários, nas aposentadorias e nas políticas sociais não são suficientes para que esses governos paguem o que devem. E assim vai se desenhando uma espiral descendente cujo horizonte é mais recessão.
Quando esses grandes bancos privados perceberam o novo risco de defaulte viram o valor de suas ações despencar, mobilizaram outra vez os governos e a União Europeia, para garantir não só processos de recapitalização, mas também seus investimentos em bônus do tesouro de vários países. Numa conjuntura tão delicada, os conflitos de interesses no seio da União Europeia estão impedindo até o momento políticas regionais articuladas de enfrentamento da crise. Esse imobilismo faz que os riscos de desastre cresçam.
O que está em questão é o poder dessas grandes corporações financeiras internacionais. Se elas continuarem governando o mundo, a crise só se aprofundará. Abre-se então um novo campo de debate. Como superar essa crise?
O que era inimaginável poucos anos atrás está sendo discutido como uma das opções: a estatização do sistema financeiro privado − algo que a Índia já fez há mais de dez anos.
Aliás, vale lembrar que tanto a Índia como o Brasil (que tem 48% de seu sistema financeiro nas mãos de bancos públicos), pela importância do sistema financeiro público, puderam tomar medidas coordenadas de políticas anticíclicas e assim reduzir o impacto da crise de 2007/2008 sobre sua economia e sociedade.
Uma alternativa em discussão é a proibição da operação com derivativos: trata-se de impedir o sistema financeiro de especular e operar sem o necessário lastro de riqueza. Mas essa é uma política que necessita de coordenação internacional, e os atuais organismos de regulação internacional estão capturados pelos donos do poder.
Também volta como proposta a auditoria das dívidas públicas, as contraídas pelos governos. Experiências recentes, como a do Equador, resultaram em substancial redução de seu valor.
Os novos movimentos sociais impulsionados pela juventude na Espanha, na Grécia e no Chile vão além. Eles também querem a estatização dos bancos privados, mas trazem outras propostas: o fim das heranças e o salário-base de 30 mil euros anuais para todos, empregados e desempregados. No Chile, os estudantes não estão interessados em negociar com o Congresso; querem um plebiscito para definir que educação não pode ser objeto de lucro. Tem de ser pública, universal, gratuita e de qualidade.
Enquanto essas propostas ainda não ganham corpo, os grandes bancos buscam criar soluções para garantir sua própria sobrevivência. Para eles, trata-se de corrigir falhas do sistema, não de questioná-lo.
As propostas vão desde o patético apelo do bilionário Warren Buffet − de que os ricos precisam pagar mais impostos, com o que as grandes corporações discordam plenamente, e o Tea Party, nos Estados Unidos, está igualmente em radical discordância − até a versão da Taxa Tobin para os ricos, uma taxa sobre as transações financeiras, cujos recursos seriam destinados a um fundo europeu de estabilização para a recapitalização de bancos em dificuldades.
É da natureza do bicho. As grandes corporações não olham para o interesse público; elas têm como objetivo o máximo lucro. E, se os governos não foram capazes de impor essa dimensão de regulação pública à sua atuação, é porque foram capturados por ela. Isso compromete o sistema político e a democracia.
Os governos, com as políticas de ajuste, passaram a estar contra as maiorias. E, se o sistema político está controlado, sem condições de ser a arena pública da disputa e dos conflitos, da negociação, então as tensões ganham as ruas. A crise sistêmica é também a crise do sistema político.
Silvio Caccia Bava é editor de Le Monde Diplomatique Brasil e coordenador geral do Instituto Pólis.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Santayana: não subestimem a Direita.A sombra dos anos 30

    Publicado em 19/08/2011
O Conversa Afiada reproduz texto de Mauro Santayana, extraído do JB:
por Mauro Santayana

O século passado teve como eixo a década de 30. Ela se iniciou com a crise econômica mundial, que estas últimas horas de angústia nos mercados financeiros fazem lembrar, e se fechou com a conseqüência prevista pelos céticos: o início da Segunda Guerra Mundial. Foram os anos do grande confronto entre a esquerda e a direita, com contradições, idas e vindas, ilusões e tragédias, que os livros registram. Em suma, sinistras lições aos homens, que devem ser meditadas, para que o mundo não volte a ser encharcado de sangue.


Muitas são as teorias que tentam explicar aquela amostra do apocalipse. A mais conhecida é a de que, derrotada e humilhada em 1918, a Alemanha buscava a revanche com Hitler. Para isso, seu líder, encarnando o velho orgulho prussiano, obtivera o apoio da Nação a fim de vingar-se de seus inimigos e expandir o  espaço vital, que consideravam necessário à plena realização de seu destino de povo de senhores.


Naqueles anos e meses da República de Weimar, mais do que em outras épocas históricas, as distorções da linguagem serviram para confundir e desorientar os homens. A esquerda buscava construir, na antiga Rússia, uma sociedade socialista. Hitler começou filiando-se a um pequeno partido de trabalhadores, que ele dominaria e o ampliaria no Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Os comunistas e socialistas alemães menosprezaram aquele grupo de bêbados, que se vestiam militarmente e brandiam slogans primários. A Alemanha não é a Itália, declarou, confiante,  aos que temiam o totalitarismo no país, Ernst Thälmann, o lendário dirigente do Partido Comunista Alemão, depois de ter sido derrotado nas eleições presidenciais de 1932, por Hindemburg, e da ascensão de Hitler à chefia do governo, à frente da coligação de direita, graças ao apoio dos católicos. Em março de 33, poucas semanas depois, Thälmann seria metido no campo de concentração de Buchenwald, onde foi executado em agosto de 1944.


Os democratas e as organizações de esquerda não souberam unir-se, ali, para a resistência – o que reclamava a construção de uma idéia forte de centro político, a fim de impedir, a tempo, a ascensão dos nazistas. Não souberam unir-se ali, nem em outras nações. O caso mais dramático, fora da Alemanha, foi o da Espanha. Como anotou Salvador de Madariaga, de resto um homem rigorosamente de centro, o malogro da República Espanhola foi o malogro do centro político. Ao crescer o radicalismo tanto na direita quanto na esquerda, não houve espaço para a moderação do centro. Mais poderosa – com a ajuda dos fascistas italianos e dos nazistas, e a total adesão da hierarquia da Igreja Católica – a direita esmagou a República, depois de quase três anos de conflito. De nada valeu a pouca ajuda soviética que conseguia chegar ao país – nem a presença simbólica dos corajosos intelectuais que formaram as Brigadas Internacionais.  Madariaga tinha razão: se tivesse havido o entendimento entre os partidos de esquerda, que mal se acomodavam na Frente Popular, e, depois, com as forças de centro, não haveria clima para a insurreição dos generais Sanjurjo, Mola, Queipo de Llano e Francisco Franco. Madariaga foi rigorosamente de centro no eclodir do conflito: como embaixador da República,  não tomou partido na guerra, mas se tornou vigoroso opositor da ditadura franquista, e só voltou à Espanha em 1976, depois da morte do ditador.


Menosprezar a direita tem sido, mais do que  erro de percepção política,  ilusão criminosa. Na mesma Espanha, quando o governo dispunha de informes seguros da conspiração em marcha, o então chefe do governo, Casares Quiroga, recebeu a advertência do serviço secreto republicano com um muxoxo: se eles se levantam, eu vou me deitar. Em 1964 – recordam-se? – as esquerdas, também divididas em nosso país,  percorreram as mesmas sendas da ilusão. Não só é vezo da esquerda subestimar as forças adversárias, mas também assusta-las, com os espantalhos da insurreição. Em seu favor milita realmente a ilusão. As Ligas Camponesas, armadas de fé e de espingardas cartucheiras, cresciam seu ilusório poder, diante da classe média em pânico. O mito de Che Guevara empolgava os jovens, da mesma maneira que a invencibilidade cubana, na Bahia dos Porcos, atiçava os ânimos bélicos de muitos de nós, os que vivemos aquele tempo.


Esse excurso ao passado não é por acaso. Estamos em tempo muito parecido aos anos 30. Nos Estados Unidos, um governo que tenta chegar ao centro, o de Obama, é acossado pelo Tea Party e pelos velhos texanos, que sempre estiveram na linha de frente do obscurantismo. Basta recordar que foi em Dallas que a direita eliminou Kennedy, ainda que o jovem presidente, como a história nos mostra, não fosse exatamente um liberal de esquerda. Do Texas vieram Bush pai e Bush filho, e os republicanos agora ameaçam buscar em Rick Perry, seu atual governador, e raivoso direitista,  o oponente a Obama nas eleições vindouras.


A Europa caminha rapidamente para a direita, e os governantes buscam justificar a repressão policial como necessária, diante das crescentes manifestações populares contra  o desemprego, a redução das pensões, a falta de moradias e de perspectivas para o povo -  também comuns nos anos 30. A Espanha recebeu ontem a visita do papa Bento 16, cuja simpatia pela direita é notória. Os espanhóis foram às ruas, protestar contra os gastos governamentais com a recepção ao pontífice, em momento de gravíssima crise econômica interna. Ainda que o papa se tenha declarado contra a lógica do “lucro acima do direito das pessoas”, seus atos não confirmam a retórica.  A posição do papa, diante das dificuldades da Península, foi bem exposta em visita anterior a Santiago de Compostela, quando Ratzinger expressou  preocupação contra a crescente laicidade dos espanhóis e o seu anticlericalismo, “que lembra os anos 30”, e pediu “nova evangelização” na península. A “evangelização” franquista dos anos 30, apoiada na Opus Dei e no garrote vil, nós já conhecemos. Que outra “evangelização” pretende agora o papa, quando se queixa da liberdade de pensamento na Espanha atual?


A presidente Dilma Roussef atribuiu-se duas missões em seu governo: a de combater a corrupção e a de eliminar a miséria que ainda assola grande parte de nosso povo. E a direita nacional, ainda que com certa dissimulação, começa a articular-se. Isso vai exigir da esquerda, no diálogo  com o centro, grande esforço, para a   criação de força política  de centro, organizada e articulada, firme em sua ação, a fim de dar o suporte da nação, para que possa enfrentar o vendaval internacional – com a crise econômica, o renascimento brutal do racismo na Europa e a reorganização dos nazistas e fascistas.


A Alemanha, contra o otimismo dos comunistas e socialistas,  repetiu, em 30,  com mais tragédias, o fascismo italiano. Por pouco, os integralistas não se apossaram do Brasil, nos anos 30. Sofremos o que sofremos sob a direita nacional, a partir de 1964. Essas lições dos anos 30 nos exigem acurada vigilância e a visão real do processo histórico. A direita está aí, firme, construindo sua vez e sua hora.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Um novo proletariado, feito de trabalhadores precários e de desempregados, que se une à classe média em crise.



Judith Revel

12 /8/2011, Judith Revel e Toni Negri, Uninomade
(dica do Bruno Cava)
Traduzido, do inglês, pelo Coletivo da Vila Vudu


Não era preciso muita imaginação, depois que a análise da atual crise econômica foi trazida de volta às suas causas e efeitos sociais, prever revoltas populares semelhantes a jacqueries[1]. Commonwealth [2], em 2009, já previra. O que não se esperava, ao contrário, é que na Itália a previsão fosse rejeitada no movimento. Seria previsão, como nos disseram, velha. Em vez disso, disseram, “é hora de reconstruir frentes amplas contra a crise e estabelecer, dentro dos movimentos, formas de organização-comunicação-reconhecimento para tratar da representação política”.
Ora, mesmo assim estamos aí, face a face com movimentos que se expressam, eles mesmos, em formas insurrecionais mais ou menos clássicas e estão por toda parte, detonando a velha gramática geopolítica por cujos termos ainda há quem teime em continuar pensando. O que temos, pois, é o seguinte:
Toni Negri

1) Um novo proletariado, feito de trabalhadores precários e de desempregados, que se une à classe média em crise. São sujeitos diversos que se unem na luta, por vias não usuais, exigindo, como nos países do sul mediterrâneo, formas de governo novas, mais democráticas. As ditaduras políticas dos Ben Alis e a ditadura político-econômica das farsas democráticas em que vivemos podem não ser equivalentes – apesar de, durante décadas, as segundas terem acuradamente construído, apoiado e protegido as primeiras –, mas agora a urgência de democracia radical aparece por todos os lados, e marca um comum de lutas que emerge de diferentes pontos, misturando-se e se entretecendo, umas lutas alimentando as exigências das outras
2) As mesmíssimas forças sociais, os que sofrem com as crises em sociedades com relacionamentos de classes hoje já definitivamente controlados por regimes financeiros dentro de economias manufatureiras e/ou cognitivas, movem-se em diferentes territórios (primeiro, movimentos de trabalhadores, estudantes e do precariato em termos mais gerais; agora já complexos movimentos sociais do tipo dos “acampados”) com igual determinação.
3)O ressurgimento de movimentos de pura recusa é atravessado por uma composição societal tão complexa como sempre, estratificada verticalmente (i.e. as classes médias deslizando para o proletariado excluído) e horizontalmente (i.e. em relação a diferentes setores das metrópoles, divididas entre a gentrificação e – como noticia Saskia Sassen – zonas “brasileirizadas”[3], onde as disputas entre gangues já começa a deixar marcas de balas de metralhadoras AK-47 em paredes de áreas nas quais a única – dramática, entrópica – modalidade de luta organizada é o crime organizado).

As atuais revoltas na Inglaterra incluem-se nesse terceiro tipo e são bastante semelhantes às que, há algum tempo, afetaram os banlieues (subúrbios) de Paris: uma mistura de raiva e desespero, fragmentos de auto organização e cristalizações de outros tipos (associações de vizinhos, redes de solidariedade, torcidas de clubes de futebol etc.) expressando agora a insuportabilidade de vidas em ruínas. As ruínas, com certeza desestabilizadoras, que essas revoltas deixam atrás de si não são, afinal, muito diferentes das ruínas de que são feitas as vidas diárias de tantos homens e mulheres: são retalhos e restos de vida, de um modo ou de outro.
Como se pode abrir uma discussão desses complexos fenômenos, do ponto de vista que pensa o comum? O que adiante se lê é apenas registro de uma intenção de abrir um espaço para discutir.
Em primeiro lugar e antes de tudo, parece-nos que temos de deslocar algumas interpretações que a imprensa de massa das classes governantes jogou em campo.
Aquela imprensa diz, para começar, que os movimentos que estamos discutindo têm de ser considerados, de um ponto de vista político, em sua “radical” diversidade. Ora, é óbvio que esses movimentos são politicamente diversos. Mas insistir em que sejam “radicalmente” diversos é, simplesmente, tolice.
Esses movimentos absolutamente não são ditos “radicais” por se oporem a Ben Ali ou outros ditadores, seja qual for, ou porque denunciem a traição política de Zapatero ou Papandreou, ou porque odeiem Cameron ou não aceitem as imposições do Banco Central Europeu. Os movimentos são ditos “radicais”, na imprensa, isso sim, porque todos eles recusam-se a pagar pelas consequências da economia e da crise (Nada poderia haver, de mais errado, que considerar a crise uma catástrofe que acometeu um sistema econômico fundamentalmente sadio; nada mais terrível que a nostalgia da economia capitalista de antes da crise!), o que é o mesmo que dizer que os movimentos são ditos “radicais” porque se opõem ao vasto movimento de riquezas que ocorre hoje em benefício dos poderosos, organizados como estão sob as formas políticas dos regimes ocidentais (democráticos ou ditatoriais, conservadores ou reformistas, pouco muda...).
São revoltas nascidas, no Egito, na Espanha ou na Inglaterra, da recusa à sujeição, à exploração e ao saque que essa economia preparou para a vida de vastas populações em todo o mundo, e, simultaneamente, é recusa às formas políticas mediante as quais a crise dessa expropriação biopolítica vinha sendo gerenciada.
Isso vale também para os regimes chamados “democráticos”. Essa forma de governo só parece preferível pela aparente “civilidade” com que mascara o ataque à dignidade e à humanidade das vidas que esmaga. Mas o ‘ponto de fuga’ da representação política também já está à beira do colapso.
Argumentar que haveria – pelos critérios da democracia ocidental – diferenças radicais entre a representatividade na Tunísia de Ben Ali e na Tottenham ou Brixton de Cameron é, simplesmente, não ver as evidências: a vida foi tão violada e depauperada nos dois casos, que a única via que restou foi a explosão num movimento de revolta. Para nem falar dos mecanismos de repressão, que estão arrastando a Inglaterra de volta aos tempos da acumulação primitiva, às prisões de Moll Flanders e às fábricas de Oliver Twist.
Ao lado dos cartazes com fotos dos jovens rebelados colados nas paredes e postes e exibidos em telões nas cidades inglesas, é preciso colar também fotos em tamanho gigante das carrancas suínas (variante dos PIGS – Portugal, Itália, Grécia e Espanha, economias do sul da Europa devastadas pela crise?) dos banqueiros e chefões das corporações financeiras que converteram comunidades inteiras em “bandidos procurados” e, simultaneamente, viram seus lucros engordarem ainda mais com a crise.
Voltemos aos jornais. Os jornais também dizem que essas revoltas são diferentes, de um ponto de vista ético-político. Haveria revoltas legítimas, como nos países do Maghreb, porque ali a corrupção de ditaduras gerou as condições de miséria. Os protestos de estudantes italianos ou dos “indignados” espanhóis ainda seriam compreensíveis, porque “é ruim ser precário”. Mas as revoltas do proletariado inglês ou francês, essas, seriam “criminosas” porque supostamente definidas por saqueio de propriedade alheia, vandalismo e ódio racial.
Tudo isso é falso, porque essas revoltas – apesar de todas as diferenças que há entre elas, que não negamos – têm uma natureza comum. Não são revoltas “de jovens”, mas revoltas que entendem as condições políticas e sociais que, cada dia mais, vastas camadas da população consideram absolutamente insuportáveis. A degradação do salário social e do trabalho foi além do limite que economistas clássicos e Marx identificaram como o mínimo necessário para a reprodução dos trabalhadores, que chamavam “salário de necessidade”. Os jornalistas, agora, se puderem, que digam que aquelas lutas foram geradas por excessos e desmandos do desejo de consumir!
Já temos aqui uma primeira conclusão. Esses movimentos podem ser definidos como “recomposicionais”. Eles realmente penetram nas populações – sejam de trabalhadores “com carteira assinada” pelo menos até hoje, sejam trabalhadores precários, desempregados ou os que até hoje só encontraram empregos irregulares, improvisações e atividades “não contabilizáveis” – exaltando seus momentos de solidariedade nas suas lutas contra a destituição.
Classes médias em declínio e o proletariado, migrantes e não migrantes, trabalhadores manuais e cognitivos, aposentados, donas de casa e jovens estão unidos na miséria e na luta contra ela. Afinal encontraram condições para uma luta em que se apresentam unidos.
Em segundo lugar, é imediatamente visível (e é o que mais aterroriza os que veem características de consumismo nesses movimentos) que não são movimentos nem caóticos nem niilistas, que não queimam e saqueiam “porque-sim”, que não querem simplesmente reforçar a potência destrutiva de algum tipo de “futuro zero”. 40 anos depois do movimentopunk (que, por sua vez, apesar dos estereótipos, foi apaixonadamente produtivo), as revoltas de hoje não declaram o fim, registrado e internalizado, de todos os futuros: as revoltas de hoje querem construir o futuro.
Eles sabem que a crise que hoje os afeta não se deve ao fato de o proletariado não produzir – seja em condições de emprego e patrão, seja na condição geral de cooperação social por processos transversais de captura de valores – ou de não produzir em quantidade suficiente; eles sabem que o que está acontecendo acontece porque o fruto de sua produtividade lhes está sendo roubado; o que é o mesmo que dizer que sabem que são forçados a pagar por uma crise que não é deles; que já pagaram pela assistência médica, aposentadorias e sistemas de ordem pública... Enquanto a burguesia acumulava para a guerra e para a expropriação, aumentando seus lucros. Mas, sobretudo, eles sabem que não há caminho para sair dessa crise, até que eles mesmos, os revoltosos e rebeldes, assumam o comando dos mecanismos de poder e das relações sociais que regulam aqueles mecanismos.
Mas, dirá alguém, esses movimentos não são políticos. Mesmo que – os críticos acrescentam – expressem posições politicamente corretas (como aconteceu em movimentos no norte da África ou nos “indignados” espanhóis), esses movimentos são preconceituosos ou rebeldes contra a ordem democrática.
Claro, diremos nós: é difícil, senão impossível, encontrar, na ordem política atual, passagens e vias pelas quais possa passar algum projeto que ataque as políticas atuais e supere a crise. Direita e esquerda são, quase sempre, idênticas. Para a direita, o imposto sobre a riqueza deve atingir ganhos de 40-50 mil euros; para a esquerda, de 60-70 mil euros: será essa a diferença? Defender a propriedade privada, ampliar as privatizações e a liberalização são itens das agendas dos dois lados. Os sistemas eleitorais estão hoje reduzidos a pura e simples seleção de delegados dos estratos privilegiados e tal e tal e tal e tal.
As revoltas hoje atacam tudo isso: são ou não são revoltas políticas?
São movimentos, sim, políticos, porque se posicionam em terreno constituinte, não em terreno de ‘reivindicar’. Atacam a propriedade privada porque a reconhecem como a forma do que os oprime; e insistem em constituir e autogerir a solidariedade, o bem-estar social, a educação – numa palavra, o comum, porque esse é, hoje, o horizonte para novas e velhas potências.
Evidentemente não somos estúpidos o suficiente para supor que essas revoltas produzam automaticamente novas formas de governo. O que, contudo, essas revoltas ensinam é que “o uno está cindido em dois”, que a aparente solidez compacta do capitalismo já não passa de velha fantasmagoria, que de modo algum será reunificada, que o capital é sempre esquizofrênico e que a política dos movimentos só pode localizar-se nessa fratura.
Esperamos que os camaradas que acreditavam que as insurreições fossem ferramenta fora de moda da política autonomista consigam refletir sobre o que está acontecendo. Não será por nos consumir à espera de prazos parlamentares e regimentais, mas por inventar instituições constituintes para o comum em revolta, que poderemos compreender juntos o que está por vir.


Notas dos tradutores
[1] Jacqueries ou revolta dos Jacques, foram insurreições camponesas que houve no norte da França, entre 28 de Maio e 9 de Janeiro de 1358, durante a Guerra dos Cem Anos. A designação deriva de Jacques Bonhomme, expressão idiomática francesa, de conotação paternalista, que designava genericamente um camponês e que posteriormente foi usada pejorativamente, equivalendo a "joão-ninguém". A revolta iniciou-se de forma espontânea, reflectindo a sensação de desespero em que viviam as camadas mais pobres da sociedade, depois da Peste Negra, numa altura em que a França se encontrava num vazio de poder e à mercê das companhias livres, bandos de mercenários renegados que vagueavam pelo país”.
[2] Hardt, Michael and Antonio Negri. 2009. Commonwealth. Cambridge, MA: Harvard University Press.
[3] SASSEN, Saskia (1998). Globalization and its Discontents. New York: The New Press.
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