Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 1 de setembro de 2015

Advogado que quer matar Dilma reitera ameaça em novo vídeo

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Um ex-candidato a deputado pelo PSDB do Distrito Federal chamado Matheus Sathler causou comoção ao dizer em vídeo publicado em seu perfil no Facebook no último dia 25 que Dilma terá “a cabeça arrancada no dia 7 de setembro caso não renuncie, fuja do país ou suicide” e que “Sangue vai rolar”.
Ato contínuo, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), apresentou, na segunda-feira (31), uma série de requerimentos à Polícia Federal, ao Ministério da Justiça, ao Ministério Público Federal e à Ordem dos Advogados (OAB) solicitando investigação das ameaças.
Durante as eleições do ano passado, Sathler causou polêmica. A Comissão Nacional da Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entrou com três representações contra o candidato tucano por defender projeto de criação do kit macho, que visava “ensinar menino a gostar somente de menina”.
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Sathler não foi eleito. Já tinha passado da conta. A pressão social foi tanta que o próprio PSDB o chutou; pediudevolução de seu material de campanha.
Agora, após a reação a um vídeo criminoso em que incita crime contra a vida da presidente da República, o jovem advogado de ultradireita aparece em novo vídeo desdenhando das providências tomadas pelo deputado Paulo Pimenta e das consequências de seu ato, demonstrando acreditar que PF, MPF, Ministério da Justiça, OAB etc. nada poderão contra si.
No novo vídeo, o “advogado” insulta pesadamente o deputado petista que o denunciou e, de forma cômica, afirma que o PT usa a “tática nazista” de “uebs”, provavelmente aludindo a método atribuído ao ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, de repetir mentiras “mil vezes” no intento de que se transformassem em verdade.
Confira a “Resposta ao Dep. Federal PTista” recém divulgada por Sathler em seu perfil no Facebook:
O Blog conseguiu falar com um amigo de Sathler – que pediu para não ter o nome divulgado – e ele afirma que os grupos que se relacionam com o advogado acreditam que se provocarem violência nas ruas os militares serão obrigados a intervir.
A fonte também informa que o grupo de Sathler pretende ir armado às manifestações de 7 de setembro e que contaria com apoio de setores das Forças Amadas que se uniriam à violência. Em seguida, tentariam “prender” a presidente da República.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Intolerância política pode atirar o Brasil no abismo



 :


Nos três principais jornais do País, Globo, Folha e Estado de S. Paulo, a imagem de destaque é a briga entre militantes do PT e um simpatizante do impeachment; tumulto ocorreu no Rio de Janeiro, antes do ato em defesa da Petrobras e do modelo de partilha no pré-sal; no mesmo dia, foi divulgado o vídeo dos insultos ao ex-ministro Guido Mantega, que foi expulso do hospital Albert Einstein; clima de radicalização política, com a criminalização do PT estimulada por meios de comunicação, intoxica o ambiente e cria condições para novas agressões; dia 15 de março, data em que estão agendados protestos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, promete mais violência

247 - Nos três principais jornais do País, Folha de S. Paulo, Globo e Estado de S. Paulo, a cena de destaque é a mesma: o confronto, ocorrido na tarde de ontem, entre militantes do PT e simpatizantes do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O episódio ocorreu no Rio de Janeiro, pouco antes do ato em defesa da Petrobras e do modelo de partilha do pré-sal, em que o ex-presidente Lula afirmou: "Eu quero paz e democracia, mas se eles querem guerra, eu sei lutar também" (saiba mais aqui).

As imagens estampadas nos três jornais prometem acirrar ainda mais os ânimos.

Eis a legenda da Folha: BRUTALIDADE - Em ato da CUT e do PT em defesa da Petrobras perto da Associação Brasileira de Imprensa, no Rio, petista agride homem que pedia o impeachment de Dilma.

Legenda do Estado: Pancadaria no Rio - Em ato de petroleiros no Rio, que teve agressões entre manifestantes, o ex-presidente Lula disse que Dilma Rousseff 'não pode ficar dando trela' sobre as investigações na Petrobras e 'tem de levantar a cabeça'.

Legenda do Globo: Intolerância - Homens com camisa do PT partem para a briga com manifestantes que pedem a saída de Dilma em frente à ABI, no Rio, onde aliados do governo fizeram ato.

A intolerância denunciada pelo Globo tem sido estimulada pela política de criminalização do PT, estimulada pelos meios de comunicação – em especial pelos veículos da família Marinho.

Resultado disso foi a agressão sofrida pelo ministro Guido Mantega, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, de onde foi expulso aos gritos de 'vai pra Cuba' e 'filho da puta' (leia mais aqui).

Aonde isso vai parar, ninguém sabe. Mas as imagens de ontem, estampadas nos jornais de hoje, certamente elevarão a temperatura do dia 15 de março, dia em que estão previstos protestos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.

"É como se vivêssemos numa sociedade completamente polarizada, na Espanha da Guerra Civil", avalia Milton Lahuerta, professor da Unesp, em declaração ao jornal Estado de S. Paulo. "Estamos vivendo um momento de acirramento do debate político, decorrente de um processo eleitoral que terminou mas parece continuar", afirmou Marco Antonio Teixeira, professor da FGV. 

DO GOLPISTA NÚMERO UM

Direto do Quem Tem Medo da Democracia,
um cordel lembrando
Fernando Henrique Tucano
sua vida, e oito terríveis anos

Nascido lá no Rio de Janeiro
Fernando Henrique, o F H C
É um notório político brasileiro
Tucano fundador do P S D B

Fundador, e principal ideólogo
Do Partido chamado anti social
F H C é um poliglota, sociólogo
Cientista político e intelectual

Este professor de Sociologia
Bem antes de inventar o real
Se apaixonou pela ideologia
De quem ama ler “O Capital”

E por caminhar lado a lado
Com os esquerdistas ideais
Preferiu viver auto exilado
Após o golpe dos generais

Enquanto muitos brasileiros
Eram torturados lá no porão
FHC aqui, ou no estrangeiro
Vivia sem sofrer um arranhão

Após o período tenebroso
Tão duro da insana repressão
Ele retorna todo orgulhoso
Com os arroubos de sabichão

Sem estar ainda contaminado
Pela ideologia dos neoliberais
Chegando aqui, ficou do lado
De quem lutava contra generais

Ainda na fase dos repressores
E a ditadura já a esmorecer
FHC vai ser um do fundadores
Do oposicionista P M D B

Contando com voto consciente
De estudante e de trabalhador
Em setenta e oito vira suplente
De Franco Montoro, senador

E com o seu jeito de idealista
Homem progressista de visão
Disputa a prefeitura paulista
Mas perde pra Janio a eleição

Mais tarde, já quase elitizado
Com perfil semi conservador
Encara novamente o eleitorado
E vai ser constituinte senador

Durante trabalho Constituinte
FHC, se não se comprometeu
Foi bem oportunista inteligente
Não cheirou, também não fedeu

Nota cinco, com outros medianos
Da então elite política nacional
Será fundador do PSDB tucano
Sem a deformidade neoliberal

No escandaloso tempo collorido
FHC quis se aproximar do poder
Mas acabou sendo impedido
Pela alta cúpula do seu P S D B

Quando Collor foi Impeachmado
Itamar, sucessor constitucional
Faz F H C ser um dia chamado
Pra assumir pasta ministerial

De Ministro do Exterior, um dia
O sociólogo sai para comandar
A Fazenda, setor da economia
Como o homem forte de Itamar

FHC, no comando da economia
Ao implantar o seu Plano Real
Começa rasgar a sua biografia
De um socialista intelectual

Se seu plano trouxe benefícios
Ao baixar a inflação nacional
Trouxe bem mais malefícios
Por provocar um arrocho total

E Fernando Henrique Cardoso
Ao fazer a conversão do Real
Faz o mínimo ficar vergonhoso
Satisfazendo a classe patronal

Com o apoio das estruturas
Mais conservadoras nacionais
F H C lança a sua candidatura
Vence as eleições presidenciais

Para ter maioria no parlamento
F H C, logo de início se uniu
A que havia de mais nojento
No cenário político do Brasil

Ele tinha tão grande maioria
Como ninguém chegou ter aqui
Que Oposição sequer conseguia
Assinaturas para criar uma CPI

Tristes anos Fernando Henrique
Lembrávamos uma embarcação
Em um naufrágio, indo a pique
Na maré da mais pura recessão

O homem outrora um idealista
Defensor da integridade nacional
Nomeia sociopatas economistas
Fiéis amantes dos ideais globais

Ao abrir o mercado brasileiro
Reduzir alíquota de exportações
Gerou empregos no estrangeiro
Favoreceu potências, nações

Economistas vilões reacionários
Provocaram calamidade total
Além do arrocho dos salários:
Menos investimento no social

A ideia do mercado globalizado
Dos economistas neoliberais
Gerou onda de desempregados
Na quebra de empresas nacionais

Homem que veio lá da comuna
Das batalhas idealistas sociais
Se revelava um QUINTA COLUNA
Com as suas idéias ultra liberais

Presidente cheio dos chamegos
À uma política econômica serviu
Causou avalanche de desemprego
Que nunca se viu antes no Brasil

Homem que traiu a ideologia
Ao impor o neoliberalismo aqui
Vergonhosamente foi um dia
Mendigar no famigerado F M I

Fundo monetário da indecência
Fingindo ser um colaborador
Fez as mais absurdas exigências
Como todo agiota financiador

Assim, o intelectual poliglota
Buscando ajuda internacional
Age como grande impatriota
Um traidor do socialista ideal

Fundo monetário famigerado
Exigiu das antas, os maiorais
A presença mínima do estado
Principalmente nas áreas sociais

Este fundo da insana velhacaria
Impôs aos tucanos irracionais
O que chamamos de privataria
A venda das empresas estatais

Tempo de malditas bandalheiras
Cúmulo das mais altas traições
Venda das empresas brasileiras
À preço de banana nos leilões

Tempo dos traiçoeiros estragos
A Vale caiu nas mãos dos imorais
Que até o Rio Doce ficou amargo
Por venderem reservas minerais

Tempos dos absolutos flagelos
Além do desemprego e recessão
Víamos o batimento do martelo
Com as estatais levadas a leilão

Tempos de malditos retrocessos
A grana arrecadada em LEILÃO
Além do FMI, ia pro congresso
Pra comprar emenda da reeleição

O Brasil lá no fundo do abismo
FHC só tinha uma preocupação
Abusando de todos os cinismos:
Comprar a emenda da reeleição

De todas as traições, o cúmulo
Foi quando o próprio “O Capital”
Viu Marx se revirando no túmulo
Com relação ao Petróleo Nacional

Representante dos oligopólios
FHC trai todos seus antigos idéias:
Quebra o Monopólio do Petróleo
Escancarando e estatal Petrobrás

Matador dos ideais de Karl Marx
Lembrava Calabar, outro traidor
Quando mencionava Petrobrax
Num ato criminoso, sabotador

E Fernando Henrique Cardoso
Pelo que fez com a sua nação
Será lembrado como criminoso
Lesa Pátria, entreguista vendilhão

Traidor da Socialista Ideologia
O professor intelectual F H C
Foi um vendedor da soberania
Brasileira ao chegar no poder

Homem professor na Sorbonne
Ao ter chances de ouro na mão
Também manchou o seu nome
Nada fazendo pela educação

O Homem que teve oportunidade
De por em prática os seus ideais
Não fez sequer uma UNIVERSIDADE
Nem Escolas Técnicas Profissionais

F H C, o mentor da privataria
Provou como traidor da nação
Não basta ser bom de Teoria
Precisa ter ação e boa intenção

O atual crítico do bolsa escola
Vai encobrir enquanto puder
Que enviava grana pra cachola
Dos bancos, com o seu PROER

Hipócrita, em todos os sentidos
Com as piores das intenções
Auxiliava banqueiros falidos
Distribuindo dezenas de bilhões

Homem das levianas atitudes
Junto com Serra, outro traidor
Levou ao fundo do poço a Saúde
Pra ajudar banqueiro sonegador

O grande mentor da privataria
Também sonegador de informação
Conseguiu criar Controladoria
Pra esconder tanta corrupção

Assim, com tantos atos de covardias
De trairão, entreguista, vendilhão
F H C fez com que a sua biografia
Fosse jogada no lixo da podridão

Jetro Fagundes
Farinheiro do Marajó e de Ananin

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O segredo de Marina, por Nilson Lage

martlage
Já publiquei, à revelia, alguns de seus escritos aqui.
Mas, além da qualidade – do pensamento e do texto – é especial ter  um artigo de Nílson Lage redigido especialmente para este Tijolaço por dois motivos, que  fundem razão e emoção.
O primeiro  é a coerência de Lage.  À distância, sempre a acompanhei – ou melhor, acompanhamos, eu e outros muitos, centenas, de seus ex-alunos  na Universidade Federal do Rio de Janeiro, há 37 anos.
A segunda razão é perceber que, também nos indivíduos, se expressa a continuidade do sentimento dos povos em busca de seu destino. E que, assim,  o fio da História  não se tece apenas com fatos, porque os fatos murcham sem luz,  o pensamento e a  ação humana que os empurram a vencer a inércia do status quo.
Possivelmente vou levar uma bronca por este “nariz de cera”, mais ainda porque Lage foi  juvenil no time de craques  que fez a histórica reforma no Diário Carioca, que inaugurou o moderno jornalismo no Brasil  e adotou o lead no lugar da lenga-lenga que escrevo, desobedecendo a tudo o que me ensinou.
Como já as levei, quase 40 anos atrás, vale a pena. Elas, sempre, como as próximas linhas, me fizeram aprender.
Nos próximos, professor, prometo, calo os dedos e entramos direto no assunto.

O segredo de Marina

Nilson Lage*
Desde os governos de Getúlio Vargas, que formataram a vida pública brasileira, as lutas políticas se vêm travando entre postulações ideológicas que conflitam em duas vertentes:
• o nacionalismo (entendido como afirmação do país, território e Estado, não de etnias) oposto ao liberalismo modernizador ou entreguismo (objetivamente, a submissão à esfera de poderdos Estados Unidos);
• a produção de conhecimento próprio da realidade nacional, oposto à importação acrítica da reflexão estrangeira (americana, europeia – dominantemente francesa) fundada em outras experiências nacionais.
A primeira dessas contradições é bem conhecida: opôs Getúlio (e os trabalhadores organizados, a instituição acadêmica da época, parte das forças armadas – essencialmente o exército – , produtores rurais voltados dominantemente para o mercado interno) à UDN (a maior parte da elite jurídica e tecnológica, setores bancários, exportadores e importadores).
Da vitória da corrente entreguista em 1964 – que não durou muito: a lógica do pensamento militar logo geraria o retorno a soluções nacionais em áreas sensíveis, como a informática, a energia nuclear e a indústria de defesa – resultou o aguçamento dos conflitos internos no país e enorme desgaste político das forças armadas, antes (no tenentismo, na FEB) tidas como vanguarda modernizadora.
O instrumento para cooptação dos militares foi a aceitação de um único rótulo para todo pensamento político que não convergisse com os interesses multinacionais – o “comunismo”, então, como, hoje, o “islamismo” ou o “terrorismo.” Ora, os partidos comunistas no Brasil sempre foram essencialmente organizações de classe média, tocadas por militares, principalmente na década de 1930, e por intelectuais (dos melhores do país), no pós-guerra. Tratou-se de ocultar a natureza nacional específica do trabalhismo de Vargas e seu antagonismo histórico às tentativas de organização das classes trabalhadoras pelos comunistas.
O entreguismo triunfou ao destruir o que restava da imprensa que poderia contrariá-lo: a Rádio Nacional, poderosa estrutura de Estado resistente ao engajamento político, foi anulada na década de 1950, e a mídia perdeu, em poucos anos, núcleos de inteligência consolidados ao longo de décadas, em torno de veículos como o Correio da Manhã, oDiário de Notícias ou o Jornal do  Brasil.
O discurso único, propagado por poucas empresas integradas ao setor bancário e coordenadas no plano continental, sobrepôs-se à diversidade da produção cultural antes característica do país, tanto em termos regionais quanto de classes sociais, e manteve aceso o espírito do liberalismo, que teria seus anos de glória nas negociatas da privatização, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.
A reação inevitável sobreveio com a eleição de Lula e seu governo, que recuperou em pouco tempo os ideais de Vargas. Foi um processo sofrido (os governos militares toleravam, até certo o ponto, o PT como alternativa “moderna” ao getulismo e ao comunismo; essa imagem foi ainda dominante na campanha eleitoral de 1979, que contrapôs Lula a Brizola) e incompleto (há núcleos de resistência, aqui e ali), mas dele resultou mudanças sociais importantes e a afirmação da eficácia de soluções econômicas não liberais na linha do pensamento keynesiano.
Diante dos resultados alcançados, resta ao conglomerado neoliberal – ou entreguista –denunciar a corrupção (que é estrutural e, no plano do governo, pode apenas ser combatida) e prenunciar tragédias futuras.
No entanto, há novo espaço a ser ocupado. A invasão cultural que o Brasil sofreu nas últimas décadas trouxe não só avanços nas ciências da natureza, na tecnologia agrícola e na medicina, mas também promoveu transformação radical no pensamento dominante em ciências humanas e sociais, com ampla repercussão no discurso dos meios de comunicação e no comportamento de grupos intermediários nos centros urbanos.
Na Antropologia, na Sociologia e nas ciências econômicas, o que se defendia era a administração e a superação paulatina das contradições; agora, o que se busca é expô-las e aguçá-las.
Na sociedade real, isso deságua em conflitos que tendem a submergir a política. Num país em que a maioria das famílias é multirracial, o realce dado aos conflitos étnicos fere relações consolidadas, com grande custo emocional; quando a tolerância sempre se antecipou à lei, em questões como a homossexualidade, a sexualidade adolescente, o adultério etc., a exposição agressiva desses comportamentos motiva o questionamento de valores e desperta reações muito variadas. Disso tiram proveito as novas religiões pentecostais que se implantaram no Brasil ocupando o vazio deixado pelo recuo institucional de igreja católica sob o reinado de Vojtila e Ratzinger.
É para esse espaço – menos de intolerância, mais de perplexidade – que converge parte do pensamento oposicionista, em sua falta de perspectivas no quadro da política tradicional.
Eis aí o cacife político de Marina Silva.
*Jornalista, professor de Jornalismo aposentado da UFF, UFRJ, UFSC, autor, entre outros, do livro “Ideologia e Técnica da Notícia”, pioneiro nos estudos de Comunicação no Brasil

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A escalada do ódio político no Brasil




“Cinquenta (…) anos atrás [1957], um jovem fotógrafo do Arkansas Democrat (…) foi cobrir o primeiro dia de aula de um grupo de estudantes negros na maior e melhor escola média de Little Rock [Arkansas, EUA]. Esse pedaço de história ficou gravado no negativo de número 15.

Eram apenas nove os jovens negros selecionados pela direção do principal colégio da cidade, o Central High School, para cumprir a ordem judicial de integração racial no país. Segundo David Margolick, autor do recém-publicado Elizabeth and Hazel: Two Women of Little Rock (ainda inédito no Brasil), a peneira foi cautelosa. A busca se concentrou em colegiais que moravam perto da escola, tinham rendimento acadêmico ótimo, eram fortes o bastante para sobreviver à provação, dóceis o bastante para não chamar a atenção e estoicos o suficiente para não revidar a agressões. Como conjunto, também deveria ser esquálido, para minimizar a objeção dos 2 mil estudantes brancos que os afrontariam.

Assim nasceu o grupo que entraria na história dos direitos civis americanos como ‘Os Nove de Little Rock’. Eram todos adolescentes bem-comportados, com sólidos laços familiares, filhos de funcionários públicos e integrantes da ainda incipiente classe média negra sulista. Entre eles, a reservada Elizabeth Eckford, de 15 anos.

Os pais dos nove pioneiros foram instruídos a não acompanharem os filhos naquele 4 de setembro de 1957, pois as autoridades temiam que a presença de negros adultos inflamasse ainda mais os ânimos. Por isso, os escolhidos agruparam-se na casa de uma ativista dos direitos civis e de lá seguiram juntos para o grande teste de suas vidas. Menos Elizabeth, que não recebera o aviso para se encontrar com os demais e partiu sozinha rumo a seu destino.

De longe ela avistou a massa de alunos brancos passando desimpedidos pelo cordão de isolamento montado pela Guarda Nacional do Arkansas. Ao tentar fazer o mesmo, foi barrada por três soldados que ergueram seus rifles. Elizabeth recuou, procurou passar pela barreira de soldados em outro lugar da caminhada e a cena se repetiu. Alguém, de longe, gritou ‘Não a deixem entrar’ e uma pequena multidão começou a se formar às suas costas. Foi quando Elizabeth se lembra de ter começado a tremer. Com a majestosa fachada da escola à sua frente, ela ainda fez uma terceira tentativa de atravessar o bloqueio em outro ponto do cordão de isolamento.

Como pano de fundo, começou a ouvir invectivas de ‘Vamos linchá-la!’, ‘Dá o fora, macaca’, ‘Volta pro teu lugar’, frases proferidas por vozes adultas e jovens. Atordoada, dirigiu-se a uma senhorinha branca – a mãe lhe ensinara que em caso de apuro era melhor procurar ajuda entre idosos. A senhorinha, porém, lhe cuspiu no rosto.

Como não conseguisse chegar à escola, a adolescente então tomou duas decisões: não correr (temeu cair se o fizesse) e andar um quarteirão até o ponto de ônibus mais próximo. Um aglomerado de cidadãos brancos passou a seguir cada passo seu. Imediatamente às suas costas vinha um trio de adolescentes, alunas do colégio. Entre elas, Hazel Bryan: “Vai pra casa, negona! Volta para a África!’.

 Segundo o autor do livro centrado no episódio, foi este o instante em que a câmera de Will Counts captou a imagem que se tornaria histórica [vide foto no alto da página]. Hazel, de quinze anos e meio, não carregava qualquer livro escolar. Apenas uma bolsa e um inexplicável jornal. Ela não planejara nada para aquela manhã. Vestira-se com o esmero que era sua marca – roupas e maquiagem ousadas para uma adolescente daquela época – e arvorou-se de audácia ao ver tantos fotógrafos e soldados da Guarda Nacional. Nada além disso. O resto pode ser debitado à formação que recebera em casa – família de origem rural, ideário fundamentalista cristão, atitude racial aprendida com o pai (…)”

O relato acima foi escrito pela jornalista brasileira Dorrit Harazim, que já trabalhou na Veja, no Jornal do

Brasil e na revista Piauí, que, em sua edição 62, publicou o artigo “Ódio Revisitado”, do qual você acaba de ler um trecho.
Em princípio, pode-se dizer que um artigo sobre ódio “racial” contra negros em um país de maioria branca não nos diz respeito. Contudo, a causa do ódio nunca é o mais importante. O ódio precisa de uma causa, qualquer causa…

Porém, basta que o leitor substitua ódio “racial” por ódio religioso, de classe social, político ou ideológico para ver que o mecanismo é sempre o mesmo. Começa com a formação de turbas incomodadas com portadores de diferença de “raça”, religião, classe social, naturalidade ou nacionalidade, opinião política ou ideologia.

O segundo passo das escaladas de ódio consiste na generalização contra portadores de diferenças como as exemplificadas acima. Todo negro, judeu, cristão, muçulmano, espírita, pobre, rico, nordestino, petista ou comunista passa a ser previamente definido com base em estereótipos.

O terceiro passo começa com a segregação voluntária dessas tribos conflitantes, que se distanciam conforme vão apurando a “razão” para não coexistir com quem não divide crenças, características físicas, estrato social ou posição geográfica.

O quarto passo do crescimento do ódio entre grupos é sua chegada aos meios de comunicação – antes impressos e depois eletrônicos. Provocações surgem entre grupos que controlam os grandes meios e os que não têm mídia – ou que, hoje, têm pequenas mídias graças à internet.

O quarto passo é o transbordamento para o mundo real do ódio virtual que se espalhou pelos meios de comunicação com a ascensão de líderes e figuras-símbolo a encarnar centenas, milhares, muitas vezes milhões ou dezenas de milhões de contrários. Esse ódio passa a se traduzir em trocas públicas de insultos.

O quinto passo começa tímido e, se não for interrompido, pode chegar ao sexto. Insultos e provocações já produzem agressões físicas aqui e ali. Incialmente tidas como fatos isolados, muitas vezes adquirem proporções epidêmicas, como vem ocorrendo há mais de uma década na Venezuela, onde, mais recentemente, dezenas perderam a vida em confrontos entre grupos políticos pró e contra o governo.

Abaixo, um dos exemplos dessa exacerbação do ódio que o Blog colheu no Facebook horas antes de publicar este post.







No Brasil, a escalada do ódio cresce há 500 anos por conta da assimetria de renda em um país consumista ao extremo, no qual, sem dinheiro, o cidadão torna-se um pária, um símbolo de fracasso pessoal premeditado. Mas como tudo que é ruim pode – ou tende a –   piorar, eis que o ódio passa a decorrer da mais perigosa das divisões, a divisão político-religiosa-ideológica, origem majoritária das guerras.

O grande problema do brasileiro, neste momento, é assumirmos, cada um, nosso quinhão de responsabilidade por uma escalada do ódio que, para alguns, em lugar de ameaça representa prova de seu poder de contaminação da sociedade, a ser comemorado.

Outro jornalista brasileiro que deixou a revista Veja é Fred Di Giacomo, que hoje toca um site chamado Gluck Project. Di Giacomo, recentemente, escreveu “A história do Ódio no Brasil”. Trecho do texto ilustra a tese deste post.

‘Achamos que somos um bando de gente pacífica cercados por pessoas violentas’. A frase que bem define o brasileiro e o ódio no qual estamos imersos é do historiador Leandro Karnal. A ideia de que nós, nossas famílias ou nossa cidade são um poço de civilidade em meio a um país bárbaro é comum no Brasil (…)”

Poucos de nós são responsáveis pelo ódio político que tanto cresceu no país, mas boa parte de nossa sociedade é responsável por ter aderido a ele. Vale para o que espalha provocações na internet, vale para o que se deixa contaminar por elas e responde à altura.
Nos ambientes minimamente adequados ao debate político, vá lá que as coisas acabem esquentando. O problema é quando o ódio político ultrapassa qualquer limite aceitável e passa a ser espargido onde é, no mínimo, inaceitável que exista.
Mais de uma dezena de horas antes de compor o texto abaixo, seu autor teve uma experiência pessoal – e assustadora – com o crescimento do ódio político que fatores variados – e mais adiante elencados – produziram no país. O texto a seguir foi publicado por este que escreve em sua página no Facebook.

Nunca vou parar de me surpreender com o potencial desolador da ignorância. Minha mulher participava de uma “comunidade” virtual de mães de meninas com síndrome de Rett (doença de [minha filha] Victoria) e essas mulheres começaram a postar sem parar acusações ao PT de ser responsável pela morte de Eduardo Campos por o partido ter o número 13 e o falecimento ter ocorrido num dia 13.

Minha mulher protestou contra esse absurdo e recebeu de volta uma saraivada de insultos. Mas o que é mais impressionante é que mães de meninas com doença igual à de minha filha começaram a atacar a menina perguntando se ela também “é petista” e dizendo que até imaginam que “tipo de mãe” minha mulher deve ser, sendo “petista”.

A que ponto chegamos? Conseguiram envenenar este país ao impensável. Essas mesmas mulheres xingavam Dilma furiosamente e apelando para insultos que são sempre usados contra mulheres usando a própria condição femina – puta, vaca, vadia, vagabunda, prostituta, sapatão etc., etc., etc.

Ver mães de crianças especiais atacando crianças especiais por política, ver mulheres usando o mais vil recurso do machismo contra mulheres, tudo por causa de política, dá vontade de chutar tudo pro alto e fugir pro outro lado do mundo, bem longe dessa loucura que essa direita assassina, que jogou o país em 20 anos de ditadura, trouxe de volta para a nação

O desabafo (justificável pelo que relata), porém, não deixa de ser uma pitada de combustível na escalada do ódio ao debitar a um grupo ideológico (a direita) o comportamento espantoso de seus personagens. Mesmo sendo verdade, poderia ter feito o desabafo sem aumentar o potencial de conflagração que encerra naturalmente? Reflito que poderia, sim…

Para não acusar a terceiros, o blogueiro acusa a si mesmo na esperança de que cada um faça o mesmo, caso enxergue o crescimento do ódio no país.

Alguns dirão, com propriedade, que a grande imprensa, ao tomar partido político, levou a situação a esse ponto. Não há dúvida de que é culpada por exacerbar o ódio político no Brasil desde o advento da

República, mas não se constrói uma casa sem tijolos. Se a mídia é construtora, quem são os tijolos dessa

escadaria do ódio que estão edificando?

Em outras palavras, a mídia não poderia edificar essa escalada do ódio no Brasil se não tivesse farta matéria-prima. O mais dramático é que há tanta dessa matéria-prima espalhada por aí que não se sabe mais como recolhê-la em quantidade suficiente para que falte aos entusiasmados construtores do ódio. Nesse aspecto, sugestões serão mais do que bem-vindas.

quinta-feira, 28 de março de 2013

REINALDO É O ÚNICO ALIADO QUE RESTOU A FELICIANO


quarta-feira, 13 de março de 2013

13 tuítes polêmicos do pastor e deputado Marco Feliciano




Gabinete a serviço da imagem do pastor


http://f.i.uol.com.br/folha/poder/images/13064488.jpeg 
O deputado Marco Feliciano, o polêmico presidente da Comissão de Direitos Humanos, distribuiu cargos comissionados a seis pessoas que trabalham em seu programa de tevê. Parlamentares pretendem denunciá-lo ao Conselho de Ética
A lista de assessores parlamentares contratados no gabinete do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) que atuam nas ações religiosas do congressista é ainda maior que a revelada pelo Correio no último sábado. A produção do programa que o pastor apresenta aos domingos conta com pelo menos seis pessoas que recebem salário da Câmara. Nele, o deputado faz pregações e lobby para seus projetos. Na última edição, acusou os integrantes da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) contrários à sua escolha como presidente de tentarem esconder irregularidades que supostamente cometeram com recursos do colegiado. O grupo adversário se reúne hoje e deve formalizar uma representação contra Feliciano no Conselho de Ética da Casa.
O programa, veiculado pela TV CNT e que leva o nome do pastor, é gravado pela Wap TV, produtora de Wellington Josoé Faria de Oliveira, contratado pelo deputado como secretário parlamentar. Ele e outras cinco pessoas pagas pela verba de gabinete de Feliciano são listadas nos créditos finais da produção (veja quadro). Nela, o pastor faz entrevistas e orações e explica suas posições de repúdio a homossexuais, por exemplo. Em uma edição exibida em fevereiro, ele revelou os e-mails dos integrantes da CDHM, da qual ainda não fazia parte, e pediu que os fiéis os pressionassem a aprovar o projeto de sua autoria para haver um plebiscito sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
No último domingo, Marco Feliciano aproveitou o espaço na tevê para se defender das acusações de que é alvo — homofobia, racismo e estelionato, com direito a processo no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo ele, há uma “perseguição” gratuita de quem participava do comando da comissão. “Deve haver alguma coisa errada que eles não querem que eu descubra lá. E eu vou descobrir. Será que é medo de que eu saiba como a verba da comissão foi usada?”, ironizou, sem citar o nome do ex-presidente da CDHM Domingos Dutra (PT-MA). O petista rebate o comentário do pastor: “Quanto mais ele abre a boca, mais se enrola. Diferentemente do que ele diz, muitas vezes tive que tirar dinheiro do próprio bolso para pagar gastos da comissão, que são todos ordenados pela própria Câmara. Se ele quiser, pode passar pente-fino e vassoura para checar”.
Faltas
Além das gravações, Feliciano mantém uma agenda cheia de compromissos religiosos e artísticos — é pastor, apresentador, empresário, músico e palestrante —, que não é compatível com suas atividades parlamentares. No ano passado, ele deixou de comparecer a 30 das 91 sessões deliberativas realizadas no plenário da Câmara. Ou seja: a cada três sessões, ele faltou uma. Até o fim de março, ele tem marcadas 15 apresentações em 11 cidades diferentes. Vai passar por estados como Minas Gerais, São Paulo, Sergipe, Bahia, Goiás e até Rondônia. As apresentações são à noite e em dias seguidos. Ao assumir a CDHM, portanto, deverá ter dificuldades para conciliar o deslocamento, os compromissos e a agenda da comissão.
Na edição de sábado, o Correio revelou também que Marco Feliciano usou seu mandato em benefício de suas empresas e das atividades da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, criada por ele. O pastor paga salário da Câmara a um funcionário fantasma, que na verdade trabalha em um escritório de advocacia que recebeu R$ 35 mil da cota parlamentar do deputado desde que ele tomou posse, emprega em seu gabinete e repassa verba funcional a advogados que o defendem em causas particulares e pessoas que fizeram doações em sua campanha eleitoral. Procurado desde a última sexta-feira, o pastor não respondeu aos questionamentos feitos por e-mail, a pedido dele. Ontem, a reportagem tentou novamente contato com o deputado e seu assessor, Wagner Guerra, mas nenhum dos dois retornou as ligações.
Na noite de ontem, o deputado reuniu fiéis e lideranças evangélicas em Ribeirão Preto (SP) para rebater as críticas de que é alvo. Na porta da igreja, grupos contrários à eleição do pastor para o comando da CDHM também realizaram protestos. O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) emitiu uma nota em que repudia a escolha de Feliciano para o cargo, “por suas declarações públicas, verbais e escritas de conteúdo discriminatório, de cunho racista e preconceituoso contra minorias”.
Pedido de anulação
Na última quinta-feira, o deputado Domingos Dutra (PT-MA) abandonou a sessão em que Feliciano seria eleito porque manifestantes haviam sido proibidos de acompanhá-la. Ele e outros integrantes do colegiado vão se reunir hoje pela manhã para decidir se permanecem no grupo e como podem reverter o quadro. O deputado Jean Wyllis (PSol-RJ) adianta que elaborou um mandado de segurança a ser entregue hoje ao Supremo para que a reunião em que o pastor foi eleito seja anulada. “Se isso ocorrer, vamos ganhar tempo para que outro nome seja pensado”, destaca.
O argumento jurídico do mandado, orientado pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Wadih Damous, é o de que a sessão de quinta-feira só poderia ser a portas fechadas diante da deliberação do plenário da Câmara, o que não foi feito. “Todos os encontros de comissões são abertos e as exceções estão determinadas no regimento, nesse caso, houve vício de forma, foi uma sessão ilegal”, avalia o jurista.
Diante das revelações, o líder do PSol, Ivan Valente (SP), afirma que o partido estuda a possibilidade de pedir investigação contra Feliciano no Conselho de Ética ou na Corregedoria da Casa. “A cadeia de erros cometidos por ele e seu partido está crescendo como uma onda gigante e abre brechas para vermos se ele quebrou ou não o decoro parlamentar”, comenta.
Hoje à tarde, a bancada do PSC vai rediscutir a indicação do pastor para a Comissão de Direitos Humanos. “Existem repercussões pelo país que não devem ser desconsideradas pelo partido”, diz o líder da legenda, André Moura (SE), em nota divulgada pela assessoria. (AC)

Duplo expediente
Secretários parlamentares lotados no gabinete de
Marco Feliciano que trabalham no programa do pastor


Nome                                  Função no programa de tevê    Salário que recebe na Câmara

Wagner Guerra da Silva             assessoria direta e imagens    R$ 8.040
Talma de Oliveira Bauer             assessoria política                R$ 4.020
Roberto Figueira Marinho             produção musical                 R$ 3.540
Joelson Heber da Silva Tenório     assessoria religiosa              R$ 3.005
Roseli Alves Octávio                   intercessão                        R$ 3.540
Wellington Josoé                        direção de imagem,             R$ 1.502
Faria de Oliveira                         roteiro e edição
Ação contra críticas de Xuxa
O deputado Marco Feliciano (PSC-SP) disse vai processar a apresentadora Xuxa Meneghel. Na última sexta-feira, Xuxa afirmou em uma rede social que o pastor era “um monstro” e “que não pode ter poder”. “Meu Deus, estava lendo agora sobre esse ‘pastor’…que Deus nos ajude”, comentou a apresentadora. Ontem, também em uma rede social, Feliciano anunciou que entrará com uma ação judicial contra a apresentadora. “E sobre o que disse Xuxa, minha assessoria jurídica prepara o processo. Durmam em paz”, postou o deputado.
No Clipping Planejamento

Marco Feliciano (PSC) volta atrás e diz que não processará Xuxa

terça-feira, 27 de março de 2012

O racismo a serviço do império euroamericano

Mauro Santayanna
Podemos talvez encontrar a origem do racismo, a partir do equívoco bíblico, de que Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Levando a idéia ao pé da letra, nasceu a paranóia da intolerância ao outro. A imagem negra de Deus é a de seus deuses africanos, a imagem judaica de Deus é a de um patriarca hebreu, na figura de Jeová. Os muçulmanos não deram face a Alá, nem veneram qualquer imagem de Maomé, mas isso não os fez mais santos. Desde a morte de Maomé, seus descendentes e discípulos se separaram em seitas quase inconciliáveis, que se combatem, todas elas reclamando o legado espiritual do Profeta. Os muçulmanos, como se sabe, reconhecem Cristo como um dos profetas.
Os protestantes da Reforma também prescindiram de imagens sagradas, o que, sem embargo, não os impediu de exercer intolerância e violência contra os católicos, com sua inquisição – em tudo semelhante à de seus adversários.
Essa idéia que associa as diferenças étnicas e teológicas à filiação divina, tem sido a mais perversa assassina da História. Os povos, ao eleger a face de seu Deus, fazem dele cúmplice e protetor de crimes terríveis, como os de genocídio. O Deus de Israel, ao longo da Bíblia, ajuda seu povo, como Senhor dos Exércitos, a “passar pelo fio da espada” os inimigos, com suas mulheres e seus filhos. Quando Cortés chegou ao México, incitou os seus soldados ao invocar a Deus e a São Tiago, com a arenga célebre: “adelante, soldados, por Dios y San Tiago”.
Quando falta aos racistas um deus particular, eles, em sua paranóia, se convertem em seus próprios deuses. Criam seus mitos, como os alemães, na insânia de se considerarem os mestres e senhores do mundo. Dessa armadilha da loucura só escaparam os primitivos cristãos, mas por pouco tempo, até Constantino. A Igreja, a partir de então, se associou aos interesses dos grandes do mundo, e fez uma leitura oportunista dos Evangelhos.
A partir do movimento europeu de contenção dos invasores muçulmanos e do fanatismo das cruzadas, a cruz, símbolo do sacrifício e da universalidade do homem, se converteu em estandarte da intolerância. Nos tempos modernos, o símbolo se fechou – com a angulação dos braços, no retorno à cruz gamada dos arianos – em sinal definitivo e radical da bestialidade do racismo germânico sob Hitler.
Os fatos dos últimos dias e horas são dramática advertência da intolerância, e devem ser vistos em suas contradições dialéticas. O jovem francês que mata crianças judias e soldados franceses de origem muçulmana, como ele mesmo, é o resultado dessa diabólica cultura do ódio de nosso tempo aos que diferem de nós, na face e nas crenças. É um tropeço da razão considerar todos os muçulmanos terroristas da Al-Qaeda, como classificar todos os judeus como sionistas e todos alemães como nazistas. Ser muçulmano é professar a fé no Islã – e há muçulmanos de direita, de esquerda ou de centro.
Merah, se foi ele mesmo o assassino, matou cidadãos do moderno Estado de Israel, como eram as vítimas da escola de Toulouse, mas também muçulmanos do Norte da África, como ele mesmo. Os fatos são ainda nebulosos, e os franceses de bom senso ainda duvidam das versões oficiais, como constatou Teh Guardian em matéria sobre o assunto.
Em El Cajon, nas proximidades de San Diego, na Califórnia – uma comunidade em que 40% de seus habitantes é constituída de imigrantes do Iraque, uma senhora iraquiana, que morava nos Estados Unidos há 19 anos, foi brutalmente assassinada, com o recado de que, sendo terrorista, depois de morta deveria voltar para o seu país. O marido, também iraquiano, é, por ironia da circunstância, empregado de uma firma que assessora o Pentágono na preparação psicológica dos militares que servem no Oriente Médio. E também nos Estados Unidos, na Flórida, um vigilante de origem hispânica (embora com o sobrenome significativo de Zimmermann, bem germânico) matou, há um mês, um jovem de 17 anos, Travyon Martin, provocando a revolta e os protestos da comunidade negra.
Em Israel, o governo continua espoliando os palestinos de suas terras e casas e instalando novos assentamentos para uso exclusivo dos judeus. O governo de Telavive não reconheceu a admoestação da ONU de que isso viola os direitos humanos essenciais. Os Estados Unidos votaram contra a advertência internacional a Israel. Como se vê os direitos humanos só são lembrados, quando servem para dissimular os reais interesses de Washington e de seus aliados e dar pretexto à agressão a países produtores de petróleo e de outras riquezas, como ocorreu com o Iraque, a Líbia e o Afeganistão.
Os episódios de intolerância se multiplicam em todos os países do mundo – e mesmo entre nós. No Distrito Federal, segundo revelações da polícia, um grupo de neonazistas mantinha célula terrorista há cerca de trinta anos, associada a outros extremistas de todo o país. Na madrugada de 28 de fevereiro deste ano, em Curitiba, vinte jovens neonazistas assassinaram um rapaz de 16 anos, a socos, pontapés e facadas. O principal executor, um estudante de direito, foi escolhido para cumprir ritual de entrada no grupo, como prova de coragem. A coragem de matar um menino desarmado. Também em Curitiba e em Brasília foram presos dois racistas, que usavam a internet para expor as suas idéias fascistas e incitar a violência contra ativistas femininas, homossexuais, negros e nordestinos.
Enquanto não aceitarmos a face morena de Jesus, como a mais próxima da face do Deus – criada para dar transcendência ao mistério da vida – o deus que continuará a dominar a nossa alma será Tanatos, o senhor da morte.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

De olhos opacos no turbilhão do mundo


Mauro Santayana


O engenheiro baiano José Carlos Aleluia enviou carta ao Reitor da Universidade de Coimbra, protestando contra a concessão do título de Doutor Honoris-Causa ao operário Luis Inácio da Silva, que, com o apelido afetivo de Lula, presidiu ao Brasil durante oito anos. Sem mandato, Aleluia mantém contatos com seus eleitores, mediante um site na Internet.


Ele foi um oposicionista inquieto, ocupando, sempre que podia, a tribuna, no ataque ao governo passado, dentro da linha sem rumo e sem prumo do DEM. Aleluia considera uma ofensa às instituições acadêmicas o titulo concedido a Lula, e faz referência elogiosa à mesma homenagem prestada ao professor Miguel Reale. Esqueceu-se, é certo, de outros brasileiros honrados pela vetusta universidade, como Tancredo Neves. Não é preciso conhecer a teoria de Freud para compreender a escolha da memória de Aleluia.


O título universitário é, hoje,  licença profissional corporativa. O senhor Aleluia está diplomado para exercer o ofício de engenheiro. A Universidade o preparou para entender das ciências físicas, e é provável que ele seja  profissional competente, tanto é assim que ministra aulas. O título universitário certifica que o graduado estudou tal ou qual matéria, mas não faz dele um sábio. O conhecimento adquirido na universidade é importante, mas não é tudo. Volto a citar, porque a idéia deve ser repetida, os versos de um escritor mais identificado com a direita do que com a esquerda, T.S. Elliot, nos quais ele mostra a diferença entre ser informado, conhecer e saber: Where is the wisdom we have lost in knowledge? Where is the knowledge we have lost in information?


O título de Doutor Honoris-Causa, sabe bem disso o engenheiro Aleluia, não é  licença profissional, mas o reconhecimento de um saber, construído ao longo do tempo, tenha o agraciado ou não freqüentado a universidade. O papel da Universidade não deveria ser o que vem desempenhando – o de conferir certificados de preparação técnica -, mas o de abrir caminho à busca do saber. O Senador Christovam Buarque, com a autoridade de quem foi reitor da UNB, disse certa vez que a Universidade ideal será aquela que não expeça diplomas. 


Lula, com os seus defeitos, e não são poucos, é um doutor em política. Um chefe de Estado não administra cifras, não faz cálculos estruturais, não prolata sentenças, nem deve escrever seus próprios discursos. Cabe-lhe liderar os povos e conduzir os estados, e isso dele exige muito mais do que qualquer formação escolar:  exige a sabedoria que desconfia do conhecimento, e o conhecimento que se esquiva das informações não confiáveis.


A universidade é uma instituição relativamente nova na História. Ela não foi necessária para que os homens, com Demócrito, intuíssem a física atômica; com Pitágoras e Euclides, riscassem no solo  figuras geométricas e delas abstraíssem os teoremas matemáticos; e muito menos para que Fídias fosse o genial arquiteto e  engenheiro das obras da Acrópole e o escultor que foi. Mais ainda:  as maiores revoluções intelectuais e sociais do mundo não dependeram das universidades, embora nelas se tenham formado grandes pensadores – e sua importância, como centro de reflexões e pesquisas, seja insubstituível. O preconceito de classe contra Lula sela os olhos de Aleluia e os torna opacos.


Solidário o meu autodidatismo com o de Lula, quero lembrar o grande escritor norte-americano Ralph Waldo Emerson: um talento pode formar-se na obscuridade, mas um caráter só se forma no turbilhão do mundo.


É no turbilhão do mundo que se forma o caráter dos grandes homens.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

As prisões da língua e a verdade absolvida



Se um americano comete crimes que, no Paquistão, seriam atribuídos a um "fanático religioso" ou a um islâmico "fundamentalista": por que omitir o conceito a propósito de um jovem branco protestante (ou católico, ou judeu, ou, ou...), que certamente invocará seus princípios "patrióticos" para fazer o que fez?
Elias Canetti escreveu um livro chamado "A língua absolvida" - um dos volumes da sua autobiografia - cujo sentido talvez se preste a algumas reflexões, independentemente do que o escritor pretendia com o título. Somos, de fato, prisioneiros da língua: o jovem americano que alvejou várias pessoas nos Estados Unidos, matando alguns por não aceitar que se discutam as leis sobre a imigração, e sobre a saúde, já está preso e não faltará quem o chame de louco - um adjetivo aceitável, mesmo que os psicólogos ou psiquiatras não afiancem o diagnóstico. Fica a desconfiança, porém, que se não fosse americano e provavelmente cristão, mas árabe, paquistanês ou afegão e, sobretudo, muçulmano - não haveria língua suficientemente absolvida que o livrasse do epíteto de "fanático", bem antes que ocorresse a idéia de que fosse simplesmente um maluco. Não absolvemos a língua - todas elas - das peias dos preconceitos que as informam. Se a língua é a nossa pátria, como dizia Fernando Pessoa, fica por conta do patriotismo a escolha da palavra que nos convém, para não dizermos da Mãe Gentil que ela produz monstros. E que os religiosos só são "fanáticos" quando não professam nossas crenças. Ademais e a propósito, como se sabe, as palavras "louco", "psicopata", e "maluco" são sempre bem-vindas para qualquer lado. 

Trata-se de uma prisão sui generis, essa da língua. Não é por a desconhecerem que os americanos impuseram ao mundo o conceito do "politicamente correto": seria, contudo, próprio da "língua absolvida" que distribuíssemos livremente os juízos pelo que nos induzem certos atos. Se um americano comete crimes que, no Paquistão, seriam atribuídos a um "fanático religioso" ou a um islâmico "fundamentalista": por que omitir o conceito a propósito de um jovem branco protestante ( ou católico, ou judeu, ou, ou...), que certamente invocará seus princípios "patrióticos" para fazer o que fez? Não é bem a "língua absolvida" que nos dará a resposta.

No entanto, vivemos cercados de prisões, principalmente na história, - não a que nos contam os vizinhos, mas a que lemos nos jornais e aprendemos nas universidades. Há exemplos recentes até no grande cinema. O filme "Apocalipse Now", de Francis Copola, hoje um clássico, ostenta a justa fama de ser uma reflexão indômita sobre a Guerra do Vietnã: o filme enfatiza o fanatismo reinante num conflito em que o que mais conta é o desvario generalizado. Mesmo os críticos mais progressistas julgaram-no corajoso, sem meias medidas para o morticínio comum a todas as guerras. 

Mas Francis Copola, no julgamento que fez da guerra, deixou aos espectadores a idéia de uma loucura coletiva. Em nenhum momento o diretor dá aos invasores americanos o peso da responsabilidade que explicaria a sua loucura. Já do outro lado, o dos vietnamitas, a loucura é um dado resolutamente gratuito: eles não seriam malucos por terem o seu país injustamente invadido e a sua população covardemente massacrada. 

Na fita, todos são ensandecidos, o que dilui o juízo sobre as responsabilidades. Ou seja, os americanos enlouqueceram - mas os vietnamitas, quem sabe, não teriam as suas razões de agredidos, por terem também a sua dose de loucura na resposta aos agressores. Mas é assim em quase tudo.

Quando a Inquisição estendeu suas tenazes sobre os hereges, os mouros, os judeus e os "livre-pensadores"pela Europa cristã, parte do mundo emudeceu: que fazer diante de padres dotados de poderes sobre a vida e a morte, inclusive de membros da nobreza? Os assassínios sob as mais torpes torturas, quase 400 anos depois, se contam hoje entre milhares - mas poucos se deram conta das segundas intenções muito bem aceitas pela hierarquia católica: havia riquezas de sobejo a serem seqüestradas. E sempre em nome da fé. Como lembrou o escritor uruguaio Eduardo Galeano, nas perseguições aos espanhóis que viviam na Andaluzia "retomada" pelos cristãos, quase não se contabilizam os pequenos proprietários - mouros ou não - que tiveram suas terras tomadas pelos "Reis Católicos" e seus cruzados, futuros latifundiários que assumiriam as pequenas propriedades, genericamente, dos "infiéis".

Como alerta Galeano, a retomada de Sevilha e Granada, é chamada de "reconquista": depois de quase setecentos anos, eis que os "legítimos herdeiros"(?) das terras invadidas, séculos antes pelos árabes e bérberes, teriam todos os direitos de as retomarem. Os trabalhos de séculos dos pequenos proprietários que as fizeram produtivas e férteis, não lhes valeram para nada perante as armas dos Reis Católicos. Quase não se menciona que na Andaluzia vicejava uma das mais requintadas civilizações, onde muçulmanos, judeus e cristãos viviam em perfeita harmonia, com indiscutível liberdade de culto para todas as religiões. E que foi com a "reconquista" que a Espanha se transformou num dos estados mais intolerantes da história ocidental. No caso, sequer se cogita da "absolvição da língua" para contar a verdade. E assim em tudo mais, inclusive na história contemporânea.

O horror dos horrores seria certamente a possibilidade concreta de que Hitler e suas hordas vencessem a Europa e o resto (entre eles o Brasil, já que também declaramos guerra à Alemanha). Parece não haver dúvida quanto a isso: o morticínio patrocinado pelos nazistas não apenas de judeus, mas de russos ( principalmente desses) além dos ciganos e outras etnias, foram inequívocos atos genocidas. Pouco a contestar. Mas o dirigente inglês da época da Segunda Guerra, Winston Churchill, sem palpos na língua (e ele os tinha muitos, como grande orador que era), prometeu matar quantos alemães pudesse, fossem ou não soldados. Os bombardeios sobre cidades desarmadas, como Leipzig e Dresden, redundaram, assim, em atos puramente vingativos, sem qualquer efeito sobre a guerra em si. O mesmo aconteceria do lado americano. Em quase todos os documentários sobre o desenvolvimento das armas atômicas, os grandes cogumelos coloridos a sobressaírem de Hiroshima e Nagasaki são descritos como "tragédias", e alertam sobre o "terror atômico" -uma lembrança oportuna. 

Parece ser, porém, de uma língua literalmente "condenada" ou "trancada" ou antes, "censurada", a omissão sistemática de que quem governava os Estados Unidos era Harry Truman, um presidente ainda hoje respeitadíssimo em seu país. E que sequer interrompeu seu lauto jantar na noite de 5 de agosto de 1945, quando lhe informaram que Hiroshima não existia mais ( 85 mil mortos nas primeiras horas). É o que também se omite sobre a sua responsabilidade direta na operação seguinte, três dias depois, quando uma segunda bomba atômica foi despejada sobre Nagasaki ( 75 mil mortos quase que instantaneamente). Em ambas as circunstâncias, a palavra genocídio talvez ocorresse a qualquer língua absolvida - mas não é o que se propaga no "National Geographic" ou no "History Channel". Ao que fica sobre o assunto, nos dois mais populares programas de documentários de TV espalhados pelos quatro continentes, os cogumelos atômicos nasceram quase que por "geração espontânea" - uma flor de fogo e de morte que não vingou da ignomínia de alguns celerados, mas, quando muito, das conseqüências "trágicas", de um conflito, o qual - isso também não se diz, - estava no fim: o Japão já tinha se rendido, quando as duas bombas foram usadas.

Elias Canetti era judeu. Em sua trilogia autobiográfica a língua "absolvida" cuida-se de exercer o que é a prerrogativa dos homens de bem: ser isento inclusive com suas próprias pequenas mazelas. Há um episódio de sua infância em que conta, candidamente quase, como um empregado da casa de seus pais - um dos poucos aos quais o escritor reserva a palavra bondade para descrevê-lo - conseguiu arrancar um machado de suas mãos: era com ele que o pequeno Elias pretendia rachar a cabeça de uma priminha com a qual tivera uma briga de criança. Entre suas muitas lembranças, chama a atenção suas desavenças com Alma Mahler, viúva do grande Gustav Mahler. Sem se demorar em adjetivos como "egoísmo", "soberba" ou diagnósticos como "ninfomania", Canetti sugere isso e muito mais ao evocar seus anos em Viena na primeira metade do século XX. São poucos os indícios do livro que conduzem ao clima que favoreceu o nascimento do nazismo, à criminalidade na politica, à leniência com a selvageria assassina do anti-semitismo, mas, sobretudo, do racismo indiscriminado. Ficam em seus livros, no entanto, alguns alertas: ao não criminalizar alguns assassínios cometidos pela ultra-direita austríaca e alemã, entre elas os massacres de operários em greve, os governos dos respectivos países, deixaram à solta muitos marginais que se associariam a Adolf Hitler nas suas aventuras de morte, logo em seguida. 

Escamotear a história, este o grande crime que Elias Canetti parece denunciar mais que tudo. Da sua decepção com o comunista Bertot Brecht, talvez o maior nome da dramaturgia do século XX (um homem a qual não regateia, apesar de tudo, uma admiração quase à reverência), à falta de sensibilidade de certos intelectuais e políticos, o escritor esforça-se em entender o homem. É de uma língua realmente absolvida que fica o melhor de sua experiência. Sobre o Brasil contemporâneo talvez se preocupasse com a desinformação deliberada da grande imprensa. Não lhe pareceria ser de seu repertório - da grande imprensa - justamente a idéia da "língua absolvida" reivindicada pelo grande escritor, mas continuará sendo dela, da grande imprensa, no fim das contas, a aceitação tácita de que o fanatismo religioso só existe no Oriente Médio, entre os muçulmanos. E que o rapaz que matou as pessoas no Arizona é diferente de qualquer coisa que cheire a fanatismo, uma vez que é cristão, americano, branco e sabe-se lá mais o quê.

Poder-se-ia relembrar, sobre o Brasil, o quanto nossa tolerância talvez nos custe, ao não arrolarmos entre os criminosos comuns, os torturadores da Ditadura que ainda ocupam seus escalões não apenas na hierarquia militar. Lembra-se que a palavra terrorismo ainda mobiliza parte da opinião pública que se esquece de quantos políticos tiveram de se exilar, por outrora serem "subversivos". Ou seja, a terminologia de uma língua travada ainda nos domina como nos anos de chumbo. Tomara não termos de pagar qualquer preço por nossa língua ainda não absolvida em nosso próprio País.

Enio Squeff é artista plástico e jornalista.