Em tempo (atualizado às 13h45):
Ao voltar do almoço, leio na capa do R7 que, antes mesmo de ser apresentado o requerimento de convocação de que trato no post abaixo, um acordo entre os partidos que formam a CPI do Cachoeira já melou tudo (leia aqui).
A mídia pode investigar, julgar e condenar todo mundo, mas ninguém pode mexer com a intocável mídia nativa. Este é o retrato dos limites da nossa democracia, num país em que o quarto poder quer ser o primeiro e único, e os parlamentares morrem de medo dos jornalistas e de seus patrões. * * *
Esta matéria você não vai encontrar nas primeiras páginas dos jornalões e nem nas capas das revistonas, é claro, mas um fato inédito na nossa história política recente pode surgir na tarde desta terça-feira, em Brasília, quando a CPI do Cachoeira se reúne para decidir sobre a convocação do dono da Editora Abril, Roberto Civita, e de Policarpo Jr., redator-chefe da revista Veja.
Chegou a hora da verdade. É a primeira vez em que se terá a oportunidade de investigar a fundo os longos braços da sociedade secreta que se formou, desde 2004, entre a organização criminosa do "empresário de jogos" Carlinhos Cachoeira, que está preso desde fevereiro, o senador cassado Demóstenes Torres e a maior revista semanal do País.
Baseado num relatório com mais de cem interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal nas operações Vegas e Monte Carlo, que mostram as relações muito especiais do jornalista da Editora Abril com o esquema de Cachoeira, o deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) vai finalmente romper a barreira do silêncio imposta pela grande imprensa ao apresentar um requerimento de convocação de Civita e Policarpo Jr.
Até aqui, apenas os telejornais da Rede Record e reportagens da revista Carta Capital trataram do assunto, enquanto o restante da mídia só queria falar de mensalão e acabar logo com a CPI.
Em reportagem assinada por Leandro Fortes, a parceria Veja—Cachoeira é assim resumida na Carta desta semana:
"(...) Cachoeira fornecia fotos, vídeos, grampos e informações privilegiadas do mundo político e empresarial ao jornalista. O bicheiro usava, sem nenhum escrúpulo, a relação íntima que mantinha com Policarpo Jr. para planejar notícias contra inimigos. Em contrapartida, a revista protegia políticos ligados a ele e deixava, simplesmente, de publicar denúncias que poderiam prejudicar os interesses da quadrilha."
Tudo é amplamente documentado no relatório de mais de cem páginas que será apresentado pelo parlamentar, com base nas informações enviadas à CPI pela Polícia Federal.
Mais do que uma simples relação profissional entre repórter e fonte, como a direção da Veja alegou desde o início da história, as gravações da PF revelam um trabalho conjunto para servir, de um lado, aos negócios ilegais de Cachoeira e, de outro, aos interesses políticos da revista, que queria derrubar o governo do PT e, derrotada nas urnas, em 2006 e 2010, dedica-se atualmente a desgastar a imagem do ex-presidente Lula.
Em várias ocasiões, o "jornalismo investigativo" da revista, como revelam os diálogos gravados pela PF, foi baseado em material produzido por dois arapongas de Cachoeira, Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, e Jairo Martins (também presos na operação Monte Carlo e já soltos), em parceria com Policarpo Jr., como na recente reportagem sobre encontros mantidos pelo ex-ministro José Dirceu com membros do governo num hotel em Brasília.
Ricardo Kotscho
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