São milhares. Dezenas de milhares. Milhões. E não param de
se multiplicar.
São os BIMs, os brasileiros indignados com a mídia.
Agora mesmo: meia tonelada de cocaína é encontrada num
helicóptero de um amigo de Aécio.
O BIM passou o fim de semana mal. Olhou nas bancas para ver
a capa da Veja. Fitness. Nem uma só menção, na capa, ao caso, como se meia
tonelada de cocaína, e no helicóptero de um senador que presidiu o Cruzeiro,
fosse meia tonelada de chocolate belga no trenó do Papai Noel.
Mas meu propósito aqui é descrever um dia na vida do BIM.
Ele acorda e dá uma olhada no Reinaldo Azevedo. Sente raiva
com o que lê. Mais uma vez, se gabando de ter criado “petralha”, como se
tivesse feito a Comédia Humana do Balzac.
Depois passa para o Constantino. Mais um momento de raiva.
Ele conseguiu falar do Lobão no Roda Vida e colocar uma foto no texto em que o
Lobão segura o livro dele, Constantino. “Trapaceiro”, pensa.
Passa os olhos por um novo blogueiro, um cara que compilou
frases de Olavo Carvalho num livro. “É o reaça-engraçado”, pensa. “Se é para
publicar coisas de extrema direita, poderiam dar frases do Mein Kampf direto.”
Tempo de trabalhar.
No carro, BIM põe na CBN. Ouve Merval, Sardenberg e Jabor.
Xinga alto no carro, num desabafo instintivo e gutural. Merval fala sobre o
lulopetismo. Sardenberg anuncia o colapso econômico. Jabor diz que se avizinha
a ditadura bolivariana.
BIM lamenta não ter um Frontal à mão.
No escritório, num momento mais tranquilo, vai no site da
Folha. Quer saber o que Magnoli escreveu. Defendeu a prisão de Genoino.
BIM pensa em Miruna, e se pudesse daria uma bofetada em
Magnoli. “Lacaio”, pensa. Depois vai para Eliane Cantanhede. Mais uma paulada
nos “mensaleiros” e mais um elogio a Joaquim Barbosa. Passa os olhos por Pondé.
A Revolução Francesa não existiu, lê nele.
BIM vai para o Estadão, já que ainda tem alguns minutos
antes da labuta. E então lê Dora Kramer. Joaquim Barbosa é beatificado por ela.
Passa pelos editoriais, e lê um que crucifica Dirceu pelo emprego num hotel.
Só não repete o grito de raiva do carro porque está no
escritório. O Estadão não falou nada sobre a sonegação de 1 bilhão da Globo, e
faz uma cobertura ridícula da meia tonelada de cocaína, e mesmo assim
transforma o emprego de Dirceu num caso nacional.
De volta para casa, BIM mais uma vez ouve a CBN. “Só tem
reaça”, se irrita. Ouve a repetição do comentário de Jabor, e quase bate por
perder momentaneamente a concentração.
Chega em casa e dá uma passada pelo Jornal Nacional, para
ver a que abismo Ali Kamel pôde chegar. Kamel pode muito, lembra BIM: inventou
o atentado da bolinha de papel na campanha de Serra. O caso do helicóptero,
como para a Veja, é tratado como se fosse uma trivialidade.
“Como seria se em vez do filho do Perrella fosse o filho do
Dirceu?”, reflete. Em sua cabeça ele vê as habituais parcerias entre a Veja e o
Jornal Nacional em casos do PT. A Veja dá um dossiê no sábado e, naquela noite
mesmo, o Jornal Nacional repercute com estridência.
“Depois os livros de Kamel recebem louvores da Veja”, pensa
BIM. “Tutti amicci.”
Do Jornal Nacional BIM vai para a Globonews. Encontra lá
Marco Antônio Villa falando de seu novo livro, que trata da década perdida sob
o PT.
“Uma besta”, pensa BIM. “Não acerta uma, mas mesmo assim
está em todas.” BIM lembra de um vídeo em que Villa dizia que Lula seria o
grande perdedor na eleição vencida afinal por Haddad.
No começo das manifestações de junho, escreveu que os
protestos não significavam “nada”.
Da Globonews, BIM passou para o Jô e suas garotas. Enio
Mainardi era o entrevistado. Se perguntou quem era pior, pai ou filho, Enio ou
Diogo.”Imbecil Pai, Imbecil Jr: eles deveriam ter estes dois nomes”, pensou.
Tinha lido que a Globofilmes enfia entrevistados no programa
do Jô, astros de algum novo filme. E no final a Globo cobra deles a tabela
comercial cheia.
“Não é à toa que os Marinhos são os homens mais ricos do
Brasil”, ocorre a BIM.
Terminado o programa, BIM está cansado e indignado. Caramba:
perdeu William Waack no Jornal da Noite. Que terá falado Waack? Só não vai
conferir no site da Globo por exaustão. Mas amanhã checa.
Gasta, na sessão de análise do dia seguinte, boa parte do
tempo para colocar para fora sua indignação.
O terapeuta ouve pacientemente e, no final, diz apenas: “Mas
por que você simplesmente não para de dar audiência para aquela gente toda?”
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