À esquerda, Dilma sorrindo durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no dia 27.02.2013, no qual ela defendeu enfaticamente os programas sociais. À direita, a foto de Gustavo Miranda que O Globo escolheu para ilustrar o evento. Mais à direita (montagem dos Jornalistas Livres), os retoques que a IstoÉ deu para “simular” explosão nervosa da presidenta da República
Então do que se trata “de distribuição de renda e inclusão social”? Bom, se trata de nós termos de eliminar a miséria extrema. A gente elimina com renda, de forma imediata e, depois, tem dois caminhos. Esses dois caminhos são inexoráveis. Um, para os adultos, é trabalho, emprego, trabalho, emprego, formação profissional, que nós precisamos para aumentar a produtividade do trabalho. Mas também precisamos para garantir a estabilidade dessa superação da extrema miséria. O outro caminho, que é o das crianças e dos jovens, é educação. Nosso país precisa de educação.
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Nós, pesquisadores e professores universitários brasileiros, dirigimo-nos à comunidade acadêmica internacional para denunciar um grave processo de ruptura da legalidade atualmente em curso no Brasil.
Depois de um longo histórico de golpes e de uma violenta ditadura militar, o país tem vivido, até hoje, seu mais longo período de estabilidade democrática – sob a égide da Constituição de 1988, que consagrou um extenso rol de direitos individuais e sociais.
Apesar de importantes avanços sociais nos últimos anos, o Brasil permanece um país profundamente desigual, com um sistema político marcado por um elevado nível de clientelismo e de corrupção. A influência de grandes empresas nas eleições, por meio do financiamento privado de campanhas, provocou sucessivos escândalos de corrupção que vêm atingindo toda a classe política.
O combate à corrupção tornou-se um clamor nacional. Órgãos de controle do Estado têm respondido a esta exigência e, nos últimos anos, as ações anticorrupção se intensificaram, atingindo a elite política e grandes empresas.
No entanto, há uma instrumentalização política desse discurso para desestabilização de um governo democraticamente eleito, de modo a aprofundar a grave crise econômica e política atravessada pelo país.
Um dos epicentros que instrumentaliza e desestabiliza o governo vem de setores de um poder que deveria zelar pela integridade politica e legal do país.
A chamada “Operação Lava Jato”, dirigida pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro, que há dois anos centraliza as principais investigações contra a corrupção, tem sido maculada pelo uso constante e injustificado de medidas que a legislação brasileira estabelece como excepcionais, tais como a prisão preventiva de acusados e a condução coercitiva de testemunhas. As prisões arbitrárias são abertamente justificadas como forma de pressionar os acusados e deles obter delações contra supostos cúmplices.
Há um vazamento permanente e seletivo de informações dos processos para os meios de comunicação. Existem indícios de que operações policiais são combinadas com veículos de imprensa, a fim de ampliar a exposição de seus alvos. Até a Presidenta da República foi alvo de escuta telefônica ilegal.
Trechos das escutas telefônicas, tanto legais quanto ilegais, foram apresentados à mídia para divulgação pública, ainda que tratassem apenas de assuntos pessoais sem qualquer relevância para a investigação, com o intuito exclusivo de constranger determinadas personalidades políticas.
As denúncias que emergem contra líderes dos partidos de oposição têm sido em grande medida desprezadas nas investigações e silenciadas nos veículos hegemônicos de mídia. Por outro lado, embora não pese qualquer denúncia contra a Presidenta Dilma Rousseff, a “Operação Lava Jato” tem sido usada para respaldar a tentativa de impeachment em curso na Câmara dos Deputados – que é conduzida pelo deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados e oposicionista, acusado de corrupção e investigado pelo Conselho de Ética dessa mesma casa legislativa.
Quando a forma de proceder das autoridades públicas esbarra nos direitos fundamentais dos cidadãos, atropelando regras liberais básicas de presunção de inocência, isonomia jurídica, devido processo legal, direito ao contraditório e à ampla defesa, é preciso ter cautela. A tentação de fins nobres é forte o suficiente para justificar atropelos procedimentais e aí é que reside um enorme perigo.
O juiz Sérgio Moro já não possui a isenção e a imparcialidade necessárias para continuar responsável pelas investigações em curso. O combate à corrupção precisa ser feito dentro dos estritos limites da legalidade, com respeito aos direitos fundamentais dos acusados.
O risco da ruptura da legalidade, por uma associação entre setores do Poder Judiciário e de meios de comunicação historicamente alinhados com a oligarquia política brasileira, em particular a Rede Globo de Televisão – apoiadora e principal veículo de sustentação da ditadura militar (1964-1985) –, pode comprometer a democracia brasileira, levando a uma situação de polarização e de embates sem precedentes.
Por isso gostaríamos de pedir a solidariedade e o apoio da comunidade acadêmica internacional, em defesa da legalidade e das instituições democráticas no Brasil.
Escritor faz a pergunta ao diretor-geral de jornalismo da TV Globo, autor do livro "Não somos racistas", diante das agressões preconceituosas feitas à jornalista Maria Júlia Coutinho, que trabalha na mesma emissora; 'Maju', como é conhecida, foi alvo de xingamentos como "macaca" em um post do Jornal Nacional no Facebook; solidariedade à 'garota do tempo' do JN levou a hashtag #SomosTodosMajuCoutinho a liderar os assuntos do Twitter mundial nesta sexta-feira; "Isso é o que despertam os que movem ódios! Basta de racismo!", publicou a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), ex-ministra dos Direitos Humanos.
247 – A enxurrada de ofensas racistas feitas entre esta quinta e sexta-feira contra a jornalista Maria Júlia Coutinho, da TV Globo, contraria a tese do diretor-geral de jornalismo da mesma emissora, Ali Kamel, que escreveu o livro "Não somos racistas".
"Macaca", "preta imunda", "rolo de fumo", "vai fazer essas previsões na senzala" e "o tempo está preto hoje" foram apenas alguns dos comentários absurdos e maldosos que puderam ser registrados no Facebook, muitos já apagados. O alvo de todos eles era a 'garota do tempo' do JN.
O escritor e jornalista Fernando Morais questionou Kamel, pela rede social, depois da polêmica. "O autor do livro abaixo é o jornalista ali kamel, diretor-geral de jornalismo da tv globo, onde trabalha a também jornalista maria julia, que vem sendo vítima de agressões racistas... na página do jornal nacional na internet. afinal, somos ou não somos racistas, ali kamel?".
Lançado em 2006, no auge da discussão sobre cotas raciais em universidades públicas brasileiras, o livro defende a tese de que não somos racistas, mas que se colocássemos em prática o sistema de cotas, poderíamos nos tornar. O texto foi bastante criticado principalmente por não usar informações de pesquisas e análises, mas apenas uma visão pessoal.
A relação do episódio com o livro não veio só de Morais. Vários internautas lembraram da publicação ao escrever mensagem em solidariedade à jornalista. "Cadê o chefão global da Maju, Ali Kamel, pra relançar o livro 'Não Somos Racistas'?", perguntou @dukechargista. "Aliás... o @realwbonner bem que podia entrevistar o Ali Kamel, seu chefe, e perguntar ao vivo: somos ou não um país, racista?!", postou @edugoldenberg.
"Será q o Ali Kamel vai aderir à campanha #SomosTodosMajuCoutinho? Alguém avisa a ele para tirar o livro 'Não somos racistas' de circulação", provocou @Esquerdosa. A conta do PT na Câmara no Twitter publicou: "Diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, escreveu livro 'Não somos racistas'. Ataque à jornalista do JN o desmente".
O movimento de apoio a 'Maju', como é conhecida, foi intenso. Primeiro do próprio Jornal Nacional, que divulgou um vídeo com uma mensagem de William Bonner, Renata Vasconcelos e a equipe do programa, também de outros jornalistas, como da revista Época, e incontáveis internautas que não se cansam de chamá-la de "talentosa" e "linda", em retribuição aos xingamentos.
"Isso é o que despertam os que movem ódios! Basta de racismo! E racismo é crime! ela nos orgulha pq é competente, profissional, mulher e é negra! Basta de racismo!", escreveu a deputada Maria do Rosário (PT-RS), ex-ministra dos Direitos Humanos.
Ontem, logo após a entrevista da Presidenta Dilma Rousseff, postei
aqui minha sugestão que o tão desejado corte nas despesas públicas
comece pela mídia.
Hoje, tenho a ótima companhia de Paulo Nogueira, do Diário do Centro
do Mundo que aprofunda e quantifica o que chama de “Bolsa Imprensa” que
os governos brasileiros sempre concederam ao baronato de uma mídia
decadente – em qualidade e controle da comunicação – neste país.
Ninguém está sugerindo que se pare de veicular publicidade nos veículos privados, ou que para isso eles apoiem o governo.
Mas há medidas de austeridade a tomar.
É muito “bonito” criticar o gasto de R$ 1 bilhão em obras públicas e receber R$ 1 bilhão (só no 1° turno, R$ 839 milhões),
sem esforço algum, pela veiculação do horário eleitoral em suas
concessões públicas de rádio e televisão, sem que para isso gaste um
ceitil ou deixe de faturar outros, porque não me consta – e duvido e
faço pouco – que suas tabelas de preço baseadas em grade de programação
tivessem sido canceladas. Ou alguém viu a novela sem comerciais, já que o
seu horário normal do pago pelos cofres públicos.
Gastar menos e gastar melhor.
Porque não faz sentido que a televisão – leia-se:a Globo – tenha a
mesma parcela nas verbas se não tem, faz muito tempo, a mesma
participação na comunicação.
Idem o da escolha de perfis de público, que é parte de uma “mídia técnica” e não um fator estranho a ela.
Ou será que um anúncio da Petrobras, publicado num blog de política e economia, será menos eficiente do que um anúncio na Contigo?
Dinheiro de publicidade é gasto público, tanto quanto qualquer outro. Deve seguir o princípio da economicidade, da eficiência.
Fazer o que se pretende – informar ou promover empresas públicas, comportamentos e atitudes – com o menor gasto possível.
“O PT busca golpear as receitas publicitárias dos veículos de
informação – o que poderia redundar, no futuro, no controle de conteúdo
pelo governo.”
Está na Veja, e raras vezes ficou tão clara a dependência financeira e
mental que as grandes corporações jornalísticas têm do dinheiro público
expresso em publicidade federal.
Havia, naquela frase, uma alusão à decisão do governo de deixar de
veicular propaganda estatal na Veja, em consequência da capa criminosa
que a revista publicou às vésperas das eleições.
Era o mínimo que se poderia fazer diante da tentativa de golpe branco da Abril contra a democracia.
Mas a revista fala em “golpear as receitas publicitárias” da mídia corporativa.
A primeira pergunta é: as empresas consideram direito adquirido o
‘Bolsa Imprensa’, o torrencial dinheiro público que há muitos anos as
enriquece – e a seus donos – na forma de anúncios governamentais?
Outras perguntas decorrem desta primeira.
Que capitalismo é este defendido pelas empresas jornalísticas em que existe tamanha dependência do Estado e do dinheiro público?
Elas não se batem pelo Estado mínimo? Ou querem, como sempre tiveram, um Estado-babá?
Os manuais básicos de administração ensinam que você nunca deve depender de uma única coisa para a sobrevivência de seu negócio.
E no entanto as grandes empresas de comunicação simplesmente
quebrariam, ou virariam uma fração do que são, se o governo federal
deixasse de anunciar nelas.
Tamanha dependência explica o pânico que as assalta a cada eleição
presidencial, e também ajuda a entender as manobras que fazem para
eleger um candidato amigo.
Essa festa com o dinheiro público tem que acabar, e famílias como os
Marinhos e os Civitas têm que enfrentar um choque de capitalismo:
aprender a andar sem as muletas do dinheiro público.
Ou, caso não tenham competência para sobreviver num universo sem
favorecimentos, que quebrem. O mercado as substituirá por empresas mais
competitivas.
Não são apenas anúncios: são financiamentos a juros maternais em
bancos públicos, são compras de lotes de assinaturas de jornais e
revistas, são aquisições enormes de livros da Abril, da Globo etc.
Numa entrevista a quatro jornais, ontem, Dilma disse que o novo
governo vai olhar com “lupa” as despesas, para equilibrar as contas e
manter sob controle a inflação.
Não é necessária uma lupa para examinar as despesas com publicidade.
Entre 2003 e 2012, elas quase dobraram, segundo dados do Secom. De
cerca de 1 bilhão de reais, foram para as imediações de 2 bilhões ao
ano.
Apenas a Globo – com audiência em franca queda por causa da internet – recebeu 600 milhões de reais em 2012.
Um orçamento base zero, como os livros de gestão recomendam, evitaria
a inércia dos aumentos anuais do governo com esse tipo de despesa.
Murdoch, em seu império mundial de mídia, tem dependência zero de publicidade de governos.
Banco estatal nenhum financia seus empreendimentos, e por isso ele
quase quebrou na década de 1990 quando não conseguiu honrar os
empréstimos para ingressar na área de tevê por satélite.
Foi obrigado a se juntar a um rival em tevê por satélite. Só agora
Murdoch teve os meios para tentar comprar a outra parte, mas o governo
inglês negou por conta do escândalo do News of the World.
Ele se bate pelo capitalismo, e pratica o capitalismo.
As empresas jornalísticas brasileiras pregam o capitalismo, mas gostam mesmo é de cartório.
E julgam, pelo que escreveu a Veja, que até o final dos tempos estão aptas a receber o Bolsa Imprensa.
Do viomundo. por Roberto Vasques* e Felippe Ramos**
Às 14h desse 14 de outubro, os fatos pareciam não deixar dúvida: o jornal Valor Econômico havia aderido à campanha de Aécio. Ou não? Vamos aos fatos.
Com direito a manchete em sua página de internet e retuitada ao
instante, a matéria “Rumores eleitorais tornam a rondar mercados;
Bovespa e dólar sobem”, do jornal Valor Econômico (cujos donos,
cabe lembrar, são Grupo Folha e Organizações Globo, com cotas iguais de
50%) anunciava um “rumor” que teria impactado no ânimo dos “mercados” e
justificaria a subida repentina do dólar e da Bovespa no final da manhã
desta quarta-feira: Aécio apareceria 8 pontos na frente de Dilma na
pesquisa do Datafolha (cujo único dona é o Grupo Folha) com resultado
previsto para ser anunciado na quinta-feira, 15 de outubro.
Qual seria o espanto? O fato da pesquisa ter sido contratada em parceria justamente pela Folha da Manhã e a Rede Globo?
Não, a endogamia total entre Folha e Globo não é o problema em questão. Muito menos o fato de Globo e Folha,
contra todas as evidências (ai está o manchetômetro da UERJ), não
assumirem suas predileções políticas – embora nesse caso nos pareceria
mais honesto e republicano se seguissem o modelo de grande parte dos
órgãos de imprensa internacional e assumissem em editorial sua posição
política, uma vez que ela existe e é mais ou menos clara.
O leitor já cansado desta prosa nos perguntaria ansioso? Afinal, qual o incômodo?
Ora, uma rápida busca no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
esclarece a questão: segundo o Tribunal, a referida pesquisa do
Datafolha (protocolo no TSE número BR-01098/2014), encomendada por Folha
e Globo, tem prevista a realização das entrevistas e tratamento dos
dados para os dias 14 e 15 de outubro, com a publicação dos resultados,
como de costume, no Jornal Nacional, na noite do próprio dia 15.
Ora, como foi possível “vazar” para os “mercados”, na hora do almoço
do dia 14, uma pesquisa ainda a ser realizada ao longo dos dias 14 e 15?
É difícil imaginar que tivesse havido tempo hábil para o Datafolha
realizar as previstas 9260 entrevistas (ao menos parte relevante delas)
ao longo de uma manhã, processar os dados, chegar a algum resultado
parcial e que os mesmos supostamente tivessem sido “soprados” aos
mercadeiros de plantão.
Ou será que estamos tão por fora da dinâmica do trabalho de pesquisa
que o Datafolha já no final da manhã do primeiro dia (em cerca de 4h)
tem boa parte de sua amostra realizada e tratada e passível de ser alvo
de um vazamento?
Ainda que o diretor do Datafolha afirmasse que tecnicamente é
possível chegar a essas conclusões em uma manhã, seria o caso de ganhar
tanto destaque (manchete e twitter) justamente em um órgão de imprensa, o
Valor Econômico, pertencente a Globo e Folha?
Não estaria mal se o Datafolha e Valor Econômico se
pronunciassem a respeito. A matéria do Valor foi assinada por 4
jornalistas. Eles queriam compartilhar a fama do “furo”? Ou a intenção
foi proteger-se, em coletivo, ao anunciar algo tão escandaloso?
Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas divulgada nesta semana - mas não na grande mídia - revela que a imprensa perde sua credibilidade a cada dia; segundo a mostra, nada menos que 71% dos brasileiros desconfiam das emissoras de TV, enquanto 62% não confiam na imprensa escrita do País; dados que constam do 7º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública comprovam que os leitores e os telespectadores brasileiros não aceitam mais ser enganados pelos grandes veículos de comunicação
247 – "A imprensa muitas vezes age como se fosse um partido político, só não tem coragem de dizer que é". A declaração foi do ex-presidente Lula no dia 16 de outubro, durante um evento em Buenos Aires, na Argentina. E diz muita coisa. Ao defender os seus interesses, e não o dos brasileiros, a grande imprensa provoca desconfiança de seus leitores, telespectadores, ouvintes. E a credibilidade vai se perdendo a cada dia.
Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas, e divulgada na última quarta-feira – claro, não na própria mídia – revela que 71% dos brasileiros não confiam nas emissoras de televisão do País. A desconfiança em relação à imprensa escrita é de 62%. Os dados, que constam do 7º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e que também aborda outras instituições, como a polícia, mostra simplesmente que os brasileiros não aceitam mais serem enganados pelos grandes grupos de comunicação.
Leia abaixo reportagem do jornal Brasil de Fato sobre a pesquisa:
71% dos brasileiros não confiam nas TVs e 62% nos jornais Os dados foram produzidos a partir da pesquisa índice de Confiança na Justiça Brasileira (ICJBrasil), da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, e fazem parte do Anuário
07/11/2013
Da Agência FEM-CUT/SP
Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas divulgada na quarta-feira (5), mostrou que a imprensa está perdendo, a cada dia, a credibilidade. Componente do 7º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a pesquisa mostrou que é alta a desconfiança em relação aos meios de comunicação: TVs não têm a confiança de 71%, percentual maior que a polícia (70,1%) e a imprensa escrita (62%).
No primeiro semestre de 2013, a instituição da qual a população mais desconfiava eram os partidos políticos (95,1% dos brasileiros desconfiam), seguida do Congresso Nacional (81,5%). Com índice melhor que as polícias, aparecem a Igreja Católica (50,3% desconfiam) e as Forças Armadas (34,6%). Os dados foram produzidos a partir da pesquisa índice de Confiança na Justiça Brasileira (ICJBrasil), da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, e fazem parte do Anuário. Foram coletados junto a 3.300 brasileiros de oito estados brasileiros por semestre.
O Anuário selecionou, da pesquisa, essas cinco instituições. O índice de desconfiança de todas elas aumentou na comparação do primeiro semestre de 2012 para o mesmo período desse ano. No caso dos partidos políticos, o índice de desconfiança ficou em 1,2 ponto percentual. O do Congresso cresceu 2,6 pontos percentuais, o da Igreja Católica subiu 7,8 pontos percentuais e o das Forças Armadas, 9,9 pontos percentuais.
Desconfiança nas polícias
O professor da FGV Rafael Alcadipani afirma, em artigo no Anuário, que alguns fatores que contribuem para a desconfiança nas polícias são a baixa taxa de resolução dos crimes, a burocracia no atendimento ao cidadão e a imagem de violência que está associada às polícias, principalmente à Polícia Militar. "Vale lembrar que os constantes confrontos entre PMs e manifestantes que aconteceram neste ano terminaram por reforçar ainda mais a imagem de uma polícia truculenta" afirma Alcadipani.
Segundo a FGV-SP, Pernambuco é o estado em que as pessoas que procuraram a ajuda das polícias se mostraram mais insatisfeitas com o trabalho das corporações. Só 27% dos cidadãos que solicitaram apoio da PM no segundo trimestre de 2013 se disseram satisfeitas ou muito satisfeitas. O percentual foi de 25% para a Polícia Civil.
A Bahia é o estado em que houve maior índice de satisfação com a PM (54%) e com a Polícia Civil (50%). O Rio de Janeiro foi o estado com segundo melhor índice de satisfação da população com a Polícia Civil (43% ficaram satisfeitos). Já em relação à PM, o índice de satisfação ficou em 45%, o mesmo que no Amazonas. Estes dois estados só ficaram atrás da Bahia.
O Viomundo antecipa, com exclusividade, coluna que será publicada nas próximas horas pelo jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte:
Amaury Ribeiro JR e Rodrigo Lopes
A Globopar, empresa ligada à TV Globo, está com parte de suas contas bancárias e bens bloqueados, devido a um dívida ativa de R$ 178 milhões com o Tesouro Nacional. De acordo com documentos conseguidos pelo Hoje em Dia na Justiça Federal do Rio de Janeiro, a dívida inscrita no cadastro de inadimplentes federais foi originada por várias sonegações de impostos federais.
Por solicitação da Procuradoria da Fazenda Nacional do Rio de Janeiro, as contas bancárias da Infoglobo e a da empresa Globo LTDA também chegaram a ser bloqueadas. Mas os irmãos Marinho – Roberto Irineu, José Roberto e João Roberto – conseguiram autorização da Justiça para liberar o bens dessas duas últimas empresas no mês passado, na 26ª Vara da Justiça Federal do Rio de Janeiro.
Inadimplente
A dívida da Globopar, no entanto, já está inscrita no cadastro de inadimplentes do Tesouro Nacional, em fase de execução. Na semana passada, a Globo conseguiu adiar a entrega de seu patrimônio ao tesouro até que o processo transite em julgado.
O Hoje em Dia também teve acesso ao processo que apurou o sumiço do inquérito de sonegação da Organizações Globo na compra dos direitos da transmissão da Copa de 2002.
Receita Federal
Um documento enviado pela Receita à Justiça em 2010 comprova, ao contrário do que a emissora divulgou, que a dívida de R$ 600 milhões nunca foi paga. A papelada comprova ainda que o Ministério Público Federal ao ser avisado sobre operações de lavagem de dinheiro entre a Globo e a Fifa nas Ilhas Virgens Britânicas prevaricou muito.
Omissão
Ao invés de solicitar investigação à Polícia Federal, preferiu emitir um parecer que atesta não ter ocorrido nenhum ato ilícito nas transações nas Ilhas Virgens. Um inquérito criminal contra os irmãos Marinho chegou a ser instaurado, mas também sumiu das dependências da Receita Federal.
Não bastasse toda essa confusão, a Globopar continua sonegando. E como nunca. Nos últimos dois anos, a empresa foi notificada 776 vezes pela Receita Federal por sonegação fiscal.
Equipamentos
A maior parte dessas autuações envolve a apreensão de equipamentos, sem o recolhimento de impostos, no aeroporto do Galeão, no Rio De Janeiro. Para um bom entendedor a Globopar é uma empresa contumaz na prática do descaminho.
Verba publicitária
O ministério da Comunicação do governo Dilma Rousseff e os demais governantes desatentos liberaram verba para empresa inadimplente com a União, o que constitui-se ato de improbidade administrativa. A liberação pode ser comprovada no site do Ministério da Fazenda.
O ex-presidente Lula está farto da mídia tradicional – e cada vez mais engajado em sua disposição de liderar um movimento político pela democratização dos meios de comunicação. Na semana passada, ele recebeu jovens representantes de entidades como a UNE, a CUT, o MST e a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transexuais) para uma reunião no Instituto Lula. Ali, ao lado do governador da Bahia, Jacques Wagner, soltou o verbo.
- A imprensa me tratou bem perto do que está fazendo com a Dilma, com esses ataques 24 horas por dia, iniciou ele.
- Os jornais tentaram atrair a Dilma, diferenciá-la do meu governo, mas não deu certo. Quando ela demarcou o campo de classe, passou a ser vista como adversária e atacada.
No encontro convocado exatamente para incentivar a entrada de entidades dos movimentos sociais na ação política pela democratização da mídia, Lula deu sua ordem unida aos cerca de 20 militantes políticos presentes.
- Vamos ter que fazer a democratização da comunicação. Os partidos, os movimentos sociais e a sociedade têm que se envolver para fazer".
O ex-presidente ouviu a avaliação e propostas de jovens de organizações políticas, entidades estudantis, centrais sindicais, movimentos sociais e coletivos culturais como o Levante Popular da Juventude e o Fora do Eixo sobre o atual momento político.
"O que vem depois da negação da política é pior" - Lula disse estar preocupado com o futuro da democracia no Brasil, especialmente com a "negação da política", que abre a possibilidade de retrocessos.
- O que vem depois da negação política é sempre pior", afirmou o ex-presidente. Para ele, a reforma política é fundamental para enfrentar os limites do atual sistema.
Depois de ouvir os jovens, Lula disse que "as mobilizações mostram que muito ainda deve ser feito no Brasil". Ele destacou que os grandes meios de comunicação tiveram um papel fundamental para amplificar as mobilizações de junho e incutir pautas conservadores, tendo como ponto de partida "o massacre que a imprensa fez nos últimos 10 anos contra o PT, contra o governo e contra a política".
Depois, na ótica de Lula, a mídia teria recuado, quando avaliou que os protestos estavam saindo do controle. Ele acrescentou que a Rede Globo teve "uma derrota política" quando suas equipes de reportagem tiveram que deixar de usar o logotipo da emissora para evitar a reação dos manifestantes.
Bem humorado e disposto, o ex-presidente reclamou dos boatos sobre seu estado de saúde que circulam nas redes sociais e as referências à sua família. "Está um escárnio o tanto de mentiras", afirmou.
Ao saber de boatos de que seu filho seria sócio do Grupo Friboi, Lula disse que ligou para o presidente da empresa, Wesley Batista, para pedir que soltassem uma nota para esclarecer que "os bois são seus". A gargalhada foi geral, mas os resultados da reunião, bastante sérios.
Dúvida se espalha; manifestações são extrato de jovens em processo de politização, grito reprimido da classe média ou protesto de todas as classes sociais, segmentos econômicos e faixas geopolíticas?; greve geral ensaiada para esse dia 1º de julho não pegou; regime de desemprego a 5,5% resiste; prisão de cerca de cem arruaceiros amainou violência nos protestos; mas as ruas continuam a falar alto; elas produzem mesmo a melhor pauta para as instituições?
1 DE JULHO DE 2013 ÀS 17:07
247 – Com um pouco de má vontade, mas com dados absolutamente reais, é possível dizer, sem medo de errar, que em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife, Salvador e Belo Horizonte manifestações com, respectivamente, 1,3 milhão, 700 mil, 500 mil, 380 mil, 300 mil e 270 mil pessoas equivalem, numericamente, o mesmo que uma figura institucional: o deputado federal. No caso, o mais votado em cada uma dessas capitais nas eleições de 2010.
Em São Paulo, Tirica obteve 1,35 milhão de votos, pelo PR. No Rio, Anthony Garotinho conseguiu 694 mil votos, também pelo PR. Em Porto Alegre, Manuela D'Àvila, do PC do B, foi contemplada com 482 mil votos. Ana Arraes (PSB) foi sufragada por 387 mil votos recifenses. Em Salvador, ACM Neto (DEM) teve 328 mil votos. E o tucano Rodrigo de Castro se elegeu com 274 mil votos em Belo Horizonte.
Hipoteticamente, cada um desses deputados poderia obter números iguais aos registrados nos protestos e marchas se convocasse uma assembleia para discutir o que desejasse – e viesse a ser atendido apenas pelos que votaram nele. Funcionaria como empresa que convoca todos os acionistas para uma deliberação.
O exercício de comparação é positivo para se observar com olhar crítico – e, neste sentido, corajoso – os eventos de massa dos últimos quinze dias. Depois de um primeiro momento de surpresa e conflitos, dos quais resultaram cerca de uma centena de prisões em todo País, apontando para um número pequeno de vândalos, em relação ao todo dos manifestantes, pode-se ter chegado rapidamente a um momento de rearrumação – e inovação.
GREVE GERAL FRACASSOU - Como iniciativa geral, a conclamação, pela via da internet, de uma greve geral nesta segunda-feira 1, fracassou redondamente. Ou, porque não deu certo, o que houve foi apenas um rumor?
Depois de um pequeno protesto em frente ao Maracanã, no domingo 30, horas antes da partida final da Copa das Confederações, quando outra vez um pequeno grupo de arruaceiros entrou em choque com a Polícia Militar, sem o registros de feridos ou presos, o que ocorreu na segunda-feira 1 foi um protesto de caminhoneiros. Na carona da suspensão do aumento nos pedágios de São Paulo, determinada pelo governador Geraldo Alckmin, integrantes da categoria fecharam com seus caminhões as rodovias Anchieta, Raposo Tavares e Castelo Branco, pedindo para serem recebidos pelo titular do Palácio dos Bandeirantes. Em troca, suspenderiam as barreiras.
Sobre os próximos passos, passou a se tornar difícil, nos últimos dias, entre a população das grandes cidades, distinguir informação real de boataria. Não se sabe bem ao certo quando haverá, efetivamente, um novo grande protesto ou o movimento que, anunciado, não passa da expressão da vontade de um e outro, sem dimensão para convocar multidões.
Após a série de suspensões de reajustes de ônibus em praticamente todas as capitais do País, o Movimento Passe Livre, organização que logrou arregimentar as primeiras multidões contra o valor das tarifas e a qualidade dos serviços, decidiu suspender o movimento. Em seguida, porém, suas lideranças resolveram manter a mobilização, mas desde então, sobre a questão dos transportes coletivos, apenas uma manifestação no Rio, na semana passada, logrou sucesso de público.
DECISÕES NO FOGARÉU - Em torno da Copa das Confederações, encerrada com a vitória da Seleção Brasileira no domingo 30, os violentos protestos dos primeiros jogos arrefeceram, sem distúrbios no sábado, dia do jogo semifinal em Salvador. No Rio, um fiasco, com as mais de 70 mil pessoas que pagaram ingresso para ver a final tendo cantado o Hino Nacional não apenas antes do início da partida, mas, ao menos uma vez, durante o jogo. O time venceu, é certo, e as autoridades não compareceram. Mas também é certo que não houve, quanto mais cenas de quebra-quebras em protesto.
O saudável resultado das manifestações ocorridas até aqui, com as espetaculares vitórias políticas representadas na redução tarifária e nas decisões tomadas pelo Congresso, como a derrubada da PEC 37 e a destinação dos royalties do Pré-Sal para os setores da Educação e da Saúde, pode ter aplacado o ímpeto das massas.
A questão real, mais que o tamanho das próximas manifestações, é dar a elas, ou não, legitimidade para pautarem as instituições. O que parece ser, nas imagens da tevê, um país nas ruas, também sugere outro país, muito maior, dentro de casa. É a dicotomia entre a minoria ruidosa e a maioria silenciosa que chegou para oxigenar a política brasileira. Refletir sobre os dois lados dessa mesma moeda soa como bem mais adequado do que aliar-se à corrente e, ao sabor dos acontecimentos imediatos, tomar decisões em meio ao fogaréu.
Ao fim da noite de quinta-feira, recebo uma ligação surpreendente tanto pelo autor quanto pelo que disse. E quem disse – e o que disse – importa menos do que aquilo que a chamada me fez concluir: não dá mais para ficar só analisando e comentando o quadro político. Quem luta há uma década para ajudar a sustentar um projeto político-administrativo que melhorou tanto o Brasil não tem o direito de ficar só reclamando do golpe que busca interrompê-lo.
Este Blog se converteu em uma trincheira dos que discordam de uma Onda que engolfou o país e que tem produzido muito mais calor do que luz, se não apenas calor. E o signatário desta página, assim como outros poucos, aceitou, de bom grado, pagar o preço que as catarses impõem a quem se recusa a integrá-las. Tudo em prol do país.
Seria muito fácil todos os que divergimos cedermos, integrarmo-nos à Onda que pretende “mudar o Brasil” marchando pelas ruas “pacificamente” no começo e selvagemente ao fim sob o argumento de que os selvagens são “um pequeno grupo”, o qual, porém, pequeno ou não, é tolerado em praticamente todas essas manifestações, nas quais o desfecho violento já se tornou previsível, sendo poucas aquelas manifestações em que não irrompe.
Em um momento de catarse, com as massas hipnotizadas gritando slogans e exigindo qualquer coisa, e com hordas de soldados da Onda tratando de reprimir toda e qualquer discordância, valendo-se, para tanto, da difamação, do deboche e de insultos, a tentação de se omitir, de calar, de se acovardar, de renegar as próprias crenças é quase irresistível.
Eis porque, ao longo de dezenas de conversas que tive neste fatídico mês de junho, descobri que muitos dos que compartilham a opinião de que essas manifestações são orquestradas e têm fins políticos preferiram subir no muro ou, no limite, adotarem uma causa na qual não acreditam.
Dúzias e mais dúzias de analistas políticos e de cientistas sociais vêm tentando entender um processo que convulsiona o Brasil e que já cobra verdadeiras profissões de fé das pessoas, que têm que exaltar tal processo sob pena de serem excomungadas e banidas, tratadas como portadoras do que o fascismo sempre considera uma doença contagiosa: a discordância.
Na última noite, após aquela conversa telefônica dolorosa e indignante, fui dormir impressionado com uma teoria acadêmica que, posta em prática, incendiou um país continental, pôs as instituições de joelho, paralisou a economia e impôs a ela prejuízos imensos que logo serão conhecidos e, de quebra, matou e feriu pessoas, dividiu compatriotas, enfim, funcionou como uma Onda gigantesca, uma tsunami que varre tudo em seu caminho.
A Onda social é uma teoria acadêmica inspirada em fatos reais e que até virou filme. Die Welle (A Onda) é uma obra alemã. Foi filmada em 2008. O diretor Dennis Gansel inspirou-se no livro homônimo do escritor americano Todd Strasser sobre um experimento social conhecido como “Terceira Onda”. O filme foi um sucesso de bilheteria na Alemanha. Mais de 2 milhões de pessoas o assistiram.
O enredo é eloquente. Em uma escola secundária alemã, um professor tenta provar que o fenômeno nazista poderia se repetir – e o nazismo, como se sabe, começou com um movimento de massas que também pretendeu “mudar” a Alemanha e que, num primeiro momento, conseguiu erguê-la de uma situação social adversa, mas que degringolou para um dos maiores horrores que a humanidade conheceu.
Os alunos da escola do filme não acreditam que uma ditadura poderia ressurgir na Alemanha moderna, então o personagem Rainer Wenger, o professor daquela turma, propõe a ela realizarem um experimento que, em sua concepção, mostraria o quão fácil é manipular as massas.
O professor organiza o grupo de alunos em uma marcha que, executada com perfeita sincronia rítmica, faz com que todos se sintam parte de uma única entidade. Porém, uma aluna se mostra relutante. Reclama de que o experimento atenta contra a individualidade e questiona o objetivo, “a causa” e, por isso, é hostilizada pelos demais e tem que mudar de classe.
O grupo cria um símbolo, que é espalhado na forma de adesivos ou pichações por toda a cidade, uma analogia para o vandalismo em curso hoje no Brasil. No filme, um aluno chega a escalar o prédio da prefeitura para pichar um logo gigante na fachada. Além disso, o grupo faz reuniões em que só membros do movimento podem entrar.
Dali em diante, hostilizar os não-iniciados se torna uma prática incontrolável que, aos poucos, vai descambando para a violência física como a que se viu na manifestação do último dia 20 na avenida Paulista, quando grupos que não obedeceram aos ditames dos manifestantes de não usarem roupas vermelhas foram agredidos violentamente.
A Onda acaba interferindo até na relação do professor experimentalista com sua esposa, professora na mesma escola que ele. Ela percebe que o experimento foi longe demais. Inebriado com o sucesso daquele experimento, porém, o professor acusa a mulher de estar com inveja de seu sucesso e o casal acaba se separando.
Alunos que não se integraram à Onda vão deixando seus membros cada vez mais irritados ao pregarem que é preciso fazê-la parar. No caso desse filme, não havia camisas vermelhas proibidas, como aqui no Brasil, mas camisas brancas que se tornaram o uniforme obrigatório dos membros do movimento, e que os distinguiam dos não-iniciados.
No fim, o que importa é que os que se distinguem da massa catártica por ostentar ou não um símbolo acabam sendo hostilizados por ela. E, como na vida real (na manifestação supracitada), quem ostenta ou deixa de ostentar símbolos e, assim, destaca-se da massa, passa a ser agredido violentamente, seja com palavras ou com golpes.
Abaixo, para quem quiser assistir, a íntegra de Die Welle (A Onda), legendada. O filme tem uma hora e quarenta e dois minutos de duração. Sugiro que quem não assistiu, não perca. Mas, antes, peço que o leitor termine este texto, pois aqui se fará uma exortação a quem discorda e teme o processo convulsivo em que o país mergulhou
Proponho, a partir daqui, que façamos um exercício de “especulação”. Inventemos, pois, uma situação hipotética. Digamos que um “cacique” de um partido de extrema esquerda e outro de centro-direita como Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, e José Serra, do PSDB, unam-se contra um inimigo comum. Dois líderes políticos de visões absolutamente antagônicas, mas que simpatizam entre si, inclusive ideologicamente (?!).
O “exemplo” é bastante verossímil quando se sabe que um político que foi fundador do PT e candidato do PSOL à Presidência em 2010, como o ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, disse, no fim do ano passado, preferir José Serra (PSDB) a Fernando Haddad (PT) na corrida à Prefeitura de São Paulo.
Da união imaginária desses caciques, suponhamos que surgisse um plano. Apesar de Serra ser visto hoje como um ex-esquerdista que se tornou ultraconservador a ponto de se aliar a cristãos fundamentalistas em 2010 para tentar derrotar Dilma Rousseff, o tucano se une a um dito “socialista” como Plínio, que demonstrou que sua ideologia e a do tucano, inexplicavelmente, são compatíveis a ponto de um apoiar o outro.
O partido de Plínio, como se sabe, tem uma enorme ascendência sobre grupos da USP. Como em A Onda, essa influência sobre estudantes pode permitir a elaboração de um experimento social que acaba sendo posto em prática.
Por que estudantes? Porque é na escola que existe o terreno mais fértil para fomentar Ondas, pois, ao contrário de sindicatos e movimentos sociais, a escola reúne as pessoas diariamente, impondo a elas convivência cotidiana. Some-se a isso a influência de professores como o de A Onda, capazes de mobilizar os que tutelam intelectualmente – e, às vezes, muito mais a fundo.
Os próprios estudantes não se dão conta de uma armação política. Deixam-se emprenhar pelos ouvidos e passam a acreditar na “causa”. Estão, pois, de boa-fé. E é nesse espírito que o movimento deles cresce, ganha as ruas e leva consigo um grupo disposto a fazer a parte “suja” do trabalho, que é tornar as manifestações insuportáveis, com atos de vandalismo e violência, buscando a reação de uma polícia famosa pelo seu despreparo e por seu caráter violento.
A violência policial contra meninos e meninas desperta a solidariedade de toda uma nação, que, indignada, produz hordas de cidadãos sem qualquer consciência política, mas que decidem também ir às ruas embriagados pela beleza inerente a um movimento idealista da juventude.
Como em A Onda, muitos querem sentir-se parte de um movimento vitorioso. A covardia da classe política e o oportunismo de impérios de comunicação conservadores produzem a fórmula perfeita para criar no país um clima de Queda da Bastilha, com o “poder” sendo “tomado pelo povo”. Finalmente chegou a hora de “o povo” tomar o poder, pensam as massas.
Como no filme alemão, porém, “as massas” saem de controle. Já nem sabem o que querem. Querem estar nas ruas, intimidando os políticos, mostrando que quem manda são elas. Mas que “povo” é esse? A maioria? Como aferir isso com todos intimidados por ter se tornado politicamente incorreto divergir?
O pequeno experimento social fictício do filme A Onda se transformou numa catarse verdadeira. E gigantesca. Um país que vinha melhorando, de repente se tornou imprevisível. A economia que resistia à maior crise econômica internacional da história da humanidade já caminha para mergulhar em uma hecatombe.
Investidores se recolhem, a economia é paralisada e a incerteza se torna absoluta. Os efeitos das manifestações sobre a economia em breve serão sentidos. E dificilmente serão revertidos, pois os agentes econômicos mergulharam em um turbilhão de desconfiança.
O que fazer? Nós, cidadãos comuns, pouco podemos fazer além de nos organizar em grupos que, por certo, serão pequenos. Mas centros de inteligência e de discussão terão que ser montados. Haverá que atrair pessoas que discordam para se unirem, porque quanto mais sozinhas estiverem mais terão medo de assumir seus pontos de vista.
Este Blog foi o nascedouro de uma das primeiras tentativas de organizar uma reação ao avanço de impérios de comunicação que ora se beneficiam da catarse que se abateu sobre o país. Em 2007, a partir daqui foi fundado o Movimento dos Sem Mídia, que, para quem não conhece, pode ter sua história contada pelo Google.
O MSM promoveu a primeira manifestação contra um império de comunicação do pós redemocratização, em 15 de setembro de 2007, diante do jornal Folha de São Paulo. Dali em diante, além de outras manifestações – algumas reunindo centenas de pessoas – a ONG representou contra impérios de comunicação no Ministério Público sob responsabilidade exclusiva deste que escreve, que cedeu seu nome para desafiar esses grupos empresariais que tanto mal já fizeram ao país, sendo o maior de todos atirá-lo em duas décadas de ditadura militar.
Bem, é no MSM que proponho nos entrincheirarmos. Em um momento como este, porém, sei que não serão muitos os que acorrerão, mas, sejamos quantos sejamos, se formos mais de um já seremos muitos. Sejam 5, 10, 20 ou quantos mais que queiram se reunir para discutir estratégias de reação, já seremos muitos mais do que um só, isolado em sua divergência.
Se você não quer ficar assistindo passivamente o golpe ser dado – do que decorrerá a volta da direita ao poder, com tudo que se sabe que isso encerrará de prejuízo para uma nação que vinha promovendo justiça social como nunca antes na história, com a desigualdade caindo em ritmo inédito –, convido-o a deixar aqui seu comentário de adesão à ideia.
No comentário, peço que informe seu Estado e Cidade. O e-mail você tem que colocar para postar o comentário e, como sabe, não será divulgado. Através desse e-mail vou manter contato. Organizarei um novo diretório de e-mails e vou organizar uma reunião em auditório que já consegui de graça, no qual discutiremos estratégias para fazer a iniciativa crescer.
O signatário desta página tem ideias, os que aderirem poderão trazer outras. Contudo, a discussão não pode ser aberta na internet. A ligação telefônica à qual me referi me induziu a essa crença. A partir daqui o que se fará é mobilização para encontro presencial em ambiente fechado para que se possa planejar de forma reservada os cursos de ação, pois a situação no país fugiu à normalidade.
Neste momento, minha confiança está abalada. Não sei mais distinguir um comportamento do outro. Se você se sente assim e não sabe o que fazer, aguardo seu comentário de concordância. Neste primeiro momento, busco pessoas de São Paulo e adjacências para nos reunirmos. Mas quem for de outros Estados também pode ajudar.
A você que já é filiado ao Movimento dos Sem Mídia, chegou a hora de atuar. Aguardo seu comentário para incluí-lo no novo mailing que será formado, pois vivemos uma nova conjuntura na qual as ideias sofreram mutações incessantes. Assim, é preciso ver quem continua acreditando nas causas que sempre foram abraçadas neste espaço.
Por estar constituído como Organização Não Governamental e por já dispor de alguma estrutura física para reunião e discussão, o Movimento dos Sem Mídia pode ser o instrumento para que quem diverge do que está acontecendo pelo menos possa se agarrar a uma boia salva-vidas. O resgate, porém, já é outra história. Todavia, sem afundar pelo menos pode-se buscar uma fórmula de reagir.
O futuro do país conta com você, ou melhor, com nós. Que tal fazer alguma coisa, então? Agora é com você. Ou com nós.
Marcelo Coelho afirma que, além dos poderes tradicionais, a mídia também está sob ataque e diz ainda que o Brasil retrocede a um jornalismo da Idade da Pedra; "Se o pensador mais ousado da Globo se chama Arnaldo Jabor, talvez seja momento de uma autocrítica", afirma em sua coluna
247 -A mídia também está sob ataque e tem responsabilidade na crise de credibilidade que enfrenta. A tese é do colunista Marcelo Coelho, da Folha, que criticou Arnaldo Jabor, da Globo. Leia abaixo:
A vez da mídia
Se o pensador mais ousado da Globo se chama Arnaldo Jabor, talvez seja momento de uma autocrítica
Partidos, Congresso, sindicatos, governantes --não há instituição democrática que não esteja sob o foco de críticas. Falta falar de outra instituição, a imprensa. Ou "a mídia", como prefere dizer quem já se põe no campo de ataque.
Acho que há três pontos a destacar. Em primeiro lugar, a ideia de que as redes sociais, como o Facebook, aposentaram a mídia tradicional. De um ponto vista, faz sentido. De outro, não.
Claro que, graças ao Facebook, foi possível avaliar, por exemplo, se valeria ou não a pena participar da manifestação de segunda-feira passada, dia 17 de junho. Quanto mais adeptos no mundo virtual, mais se sente que o momento de passar à vida real já chegou.
Não é tão claro o raciocínio de que, com as redes, elimina-se a função dos jornais e das empresas de comunicação. Muito do que se compartilha no Facebook, em termos de notícia e opinião política, tem origem nos órgãos jornalísticos organizados, sejam impressos, audiovisuais ou da própria internet.
Passo com isso ao segundo ponto. Quem está protestando contra o pastor Feliciano, a PEC 37, Renan Calheiros, os gastos da Copa, e outros mil problemas, teve sua indignação despertada pelas notícias dos jornais e da TV.
São as reportagens de sempre, com sua rotina de sempre, que acumularam essa insatisfação contra o sistema político. E, se a mídia noticiou os casos de vandalismo, também foram indispensáveis para mostrar os abusos policiais.
A imprensa sai então glorificada dessas movimentações? Com toda evidência, não. Houve ataques contra emissoras de TV e contra repórteres respeitabilíssimos, como Caco Barcellos. Há mais.
Acredito que, graças à conquista de um poder de autoexpressão possibilitado pela internet, as pessoas que se manifestam nas ruas e nas redes se sentem mal representadas na mídia tradicional.
Em parte, a "crise de representação" que se verifica no caso de partidos e Congresso se reflete nas relações entre imprensa e cidadãos.
Existe a sensação, claro, de uma desigualdade de poder de fogo: grandes empresas de comunicação podem mais do que sites e blogs isolados.
Há também um abismo geracional. Incluo-me entre os que envelheceram. E olhe que à minha volta, nos chamados formadores de opinião, nos analistas, comentaristas, sociólogos, filósofos, urbanistas, técnicos e economistas que, sempre os mesmos, são os entrevistados nessa época, a maioria está na ativa desde que eu era criança...
Quando o pensador mais ousado e "irreverente" da Globo se chama Arnaldo Jabor, talvez seja o momento de uma autocrítica.
A alienação, o distanciamento entre a imprensa e os manifestantes se dá em outros níveis também. Ao voltarem-se contra governantes, as passeatas denunciam o contraste entre o mundo oficial, movido a discursos eleitorais, planilhas técnicas e blá-blá-blá de marqueteiros, e uma realidade cotidiana da qual todos se esquecem assim que assumem o poder.
É injusto dizer que um jornal como a Folha se esquece de apontar falhas na saúde, nos transportes e na educação. Ao contrário, isso é noticiado todo dia, com investigação e detalhe.
Mas, assim como os políticos só parecem acordar para o interesse público às vésperas da eleição, também os jornais concentram-se excessivamente, a meu ver, no calendário eleitoral. Não há dia --mesmo nestas últimas semanas-- em que não saiam notícias sobre as movimentações de Aécio e Eduardo Campos, ao lado dos clássicos prognósticos de que Dilma vai se reeleger se a economia não piorar muito.
A rotina desse tipo de cobertura mata os jornais, e interessa a pouquíssimas pessoas. As próprias reportagens sobre corrupção e mazelas administrativas me parecem difíceis, chatíssimas de ler.
Há a obrigação de revelar dados, estatísticas etc., sem o que estaríamos retrocedendo a um jornalismo da Idade da Pedra. Ao mesmo tempo, acho que isso trouxe um risco de rotinização e tecnicalismo que afasta o leitor --e não adianta "emburrecer" a linguagem para trazê-lo de volta.
Chamo "emburrecer" o processo que leva à elaboração de boxes, por exemplo, dizendo "entenda o que é o mensalão", "entenda o que é reforma política" ou coisa parecida. "Entenda, é sua última chance".... Mas os manifestantes destes dias parecem estar entendendo mais do que se pensa.
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PS. Atribuí a Fernando Henrique, na coluna anterior, a frase de que "política é a arte do possível". A frase é de Bismarck (1815-1898). FHC criticou a ideia, dizendo que na verdade "a política é a arte de tornar possível o necessário, o desejável".