Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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domingo, 21 de outubro de 2012


DEBATE ABERTO

O referendum islandês e os silêncios da mídia

Os cidadãos da Islândia referendaram, ontem, com cerca de 70% dos votos, o texto básico de sua nova Constituição, redigido por 25 delegados, quase todos homens comuns, escolhidos pelo voto direto da população, incluindo a estatização de seus recursos naturais.




Os cidadãos da Islândia referendaram, ontem, com cerca de 70% dos votos, o texto básico de sua nova Constituição, redigido por 25 delegados, quase todos homens comuns, escolhidos pelo voto direto da população, incluindo a estatização de seus recursos naturais. A Islândia é um desses enigmas da História. Situada em uma área aquecida pela Corrente do Golfo, que serpenteia no Atlântico Norte, a ilha, de 103.000 qm2, só é ocupada em seu litoral. O interior, de montes elevados, com 200 vulcões em atividade, é inteiramente hostil – mas se trata de uma das mais antigas democracias do mundo, com seu parlamento (Althingi) funcionando há mais de mil anos. Mesmo sob a soberania da Noruega e da Dinamarca, até o fim do século 19, os islandeses sempre mantiveram confortável autonomia em seus assuntos internos.

Em 2003, sob a pressão neoliberal, a Islândia privatizou o seu sistema bancário, até então estatal. Como lhes conviesse, os grandes bancos norte-americanos e ingleses, que já operavam no mercado derivativo, na espiral das subprimes, transformaram Reykjavik em um grande centro financeiro internacional e uma das maiores vítimas do neoliberalismo. Com apenas 320.000 habitantes, a ilha se tornou um cômodo paraíso fiscal para os grandes bancos.

Instituições como o Lehman Brothers usavam o crédito internacional do país a fim de atrair investimentos europeus, sobretudo britânicos. Esse dinheiro era aplicado na ciranda financeira, comandada pelos bancos norte-americanos. A quebra do Lehman Brothers expôs a Islândia que assumiu, assim, dívida superior a dez vezes o seu produto interno bruto. O governo foi obrigado a reestatizar os seus três bancos, cujos executivos foram processados e alguns condenados à prisão.

A fim de fazer frente ao imenso débito, o governo decidiu que cada um dos islandeses – de todas as idades - pagaria 130 euros mensais durante 15 anos. O povo exigiu um referendum e, com 93% dos votos, decidiu não pagar dívida que era responsabilidade do sistema financeiro internacional, a partir de Wall Street e da City de Londres.

A dívida externa do país, construída pela irresponsabilidade dos bancos associados às maiores instituições financeiras mundiais, levou a nação à insolvência e os islandeses ao desespero. A crise se tornou política, com a decisão de seu povo de mudar tudo. Uma assembléia popular, reunida espontaneamente, decidiu eleger corpo constituinte de 25 cidadãos, que não tivessem qualquer atividade partidária, a fim de redigir a Carta Constitucional do país. Para candidatar-se ao corpo legislativo bastava a indicação de 30 pessoas. Houve 500 candidatos. Os escolhidos ouviram a população adulta, que se manifestou via internet, com sugestões para o texto. O governo encampou a iniciativa e oficializou a comissão, ao submeter o documento ao referendum realizado ontem.

Ao ser aprovado ontem, por mais de dois terços da população, o texto constitucional deverá ser ratificado pelo Parlamento.

Embora a Islândia seja uma nação pequena, distante da Europa e da América, e com a economia dependente dos mercados externos (exporta peixes, principalmente o bacalhau), seu exemplo pode servir aos outros povos, sufocados pela irracionalidade da ditadura financeira.

Durante estes poucos anos, nos quais os islandeses resistiram contra o acosso dos grandes bancos internacionais, os meios de comunicação internacional fizeram conveniente silêncio sobre o que vem ocorrendo em Reykjavik. É eloqüente sinal de que os islandeses podem estar abrindo caminho a uma pacífica revolução mundial dos povos.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

sábado, 7 de abril de 2012

Os mercados ensinam a austeridade aos jornalistas gregos

Os mercados ensinam a austeridade aos jornalistas gregos
A polícia não permitiu que ninguém se aproximasse do edifício do Parlamento, e agrediu, desferiu pontapés e esmurrou indiscriminadamente manifestantes e jornalistas. Os manifestantes protestavam contra o governo e homenageavam a memória do farmacêutico aposentado Dimitris Christoulas, que se suicidou na quarta-feira, “para não se ver obrigado a revirar lixo para assegurar o seu sustento”. Enquanto isso, governo deve adiar mais uma vez anúncio da data das eleições gerais.
Esquerda.net




O presidente do sindicato dos fotojornalistas gregos, Marios Lolos, foi submetido a uma cirurgia na cabeça devido às feridas sofridas por espancamento da polícia de choque grega. Segundo o sindicato, o jornalista sofreu traumatismo craniano que exigiu a intervenção cirúrgica.

Foi o segundo dia de ataques da polícia a repórteres da imprensa e da TV e a fotojornalistas, segundo relato do site informativo Keep Talking Greece.

A polícia não permitiu que ninguém se aproximasse do edifício do Parlamento, e agrediu, desferiu pontapés e esmurrou indiscriminadamente manifestantes e jornalistas. Os manifestantes protestavam contra o governo e homenageavam a memória do farmacêutico aposentado Dimitris Christoulas, que se suicidou na quarta-feira, “para não se ver obrigado a revirar lixo para assegurar o seu sustento”.

O local do suicídio de Christoulas, que tinha 77 anos, está agora coberto de velas, pequenas bandeiras e cartazes.

A polícia grega anunciou mais tarde que fará uma investigação interna acerca da agressão a Lolos e o comportamento violento para com os jornalistas.

Eleições ameaçadas
O governo não eleito grego prepara-se para adiar mais uma vez a marcação da data das eleições gerais a pretexto de ainda não ter conseguido chegar a acordo com os credores privados que não aceitaram a solução de troca de obrigações estabelecida com a maioria dos detentores privados de dívida grega.

A data deveria ter sido anunciada esta semana mas o porta-voz do governo, Pantelis Kapsis, anunciou quarta-feira que isso só acontecerá provavelmente na próxima semana.

Este cenário torna cada vez mais prováveis as possibilidades de as eleições, previstas vagamente para maio, depois de terem sido anunciadas inicialmente para fevereiro, serem adiadas sucessivamente com base nas alegadas dificuldades para finalizar o processo que permitirá finalmente a chegada a Atenas do segundo resgate nas condições impostas pela troika. Entretanto, o governo não eleito de Papademos vai impondo já o pacote de austeridade associado a esse resgate.

A conversão de 20270 milhões de euros correspondentes às dívidas aos credores que não aceitaram o processo de troca de obrigações, conhecido como « perdão » da dívida, deveria estar concluída em 11 de abril, o que já não acontecerá porque o governo de Atenas afirma que não tem meios para o fazer. A próxima data prevista é a de 20 de abril.

A chegada do segundo resgate já acordado está, porém, dependente também do acordo com os credores que não aceitaram «o perdão». E, segundo o entendimento do governo, a marcação de eleições só poderá acontecer quando esse processo estiver concluído.

A Grécia debate-se agora com três opções: continuar a pagar as dívidas aos credores que não aceitaram o processo, sobrecarregando os encargos que estiveram na base da definição do valor do resgate; entrar em moratória nesse setor, abrindo contenciosos; ou fazer uma nova proposta, o que obrigaria a reconverter todo o acordo com os restantes, gerando uma nova onda de encargos em relação aos cálculos como estão feitos actualmente.

A chegada do segundo resgate já acordado está, porém, dependente também do acordo com os credores que não aceitaram «o perdão». E, segundo o entendimento do governo, a marcação de eleições só poderá acontecer quando esse processo estiver concluído.

Este arrastamento começa a ser interpretado como um mau sinal da Grécia em direção aos restantes países europeus : o de que as consultas populares podem passar a ficar reféns de alegadas negociações ou manifestações de insatisfação dos mercados em relação ao cumprimento dos acordos de dívida. E num momento em que as intenções de voto das várias forças de esquerda gregas que querem rejeitar o memorando da troika, excluindo o PASOK que se converteu ao neoliberalismo, atingem 35 por cento, começa a haver receios de que as eleições continuem de adiamento em adiamento enquanto o governo não eleito vai impondo fatos consumados.

Uma delegação da Esquerda Europeia da qual fez parte o presidente do Die Linke da Alemanha, Gregor Gisy, e o presidente do Partido da Esquerda Europeia, Pierre Laurent, encontrou-se em Atenas com o presidente grego, Carolias Papoulias, a quem afirmou que apesar da opinião dominante nos governos e instituições europeias e da opção única pela política de austeridade existem outras vias, mais democráticas, para combater a crise social e econômica.

Alexis Tsipas, presidente da coligação de esquerda Syriza, afirmou durante a audiência que «a Grécia é um país soberano e que o povo grego tem o direito a definir o seu próprio destino ; e se alguns pensam em adiar as eleições é necessário que assumam as consequências dessa sua opção».

Na mesma audiência, o presidente do Die Linke afirmou que «é preciso ajudar este país», pelo que as próximas eleições poderão «representar uma mudança». «É preciso enviar uma mensagem à Europa», acrescentou, «é preciso mostrar o que queremos verdadeiramente: uma Europa da democracia e da justiça social».

Fotos: www.keeptalkinggreece.com

sexta-feira, 24 de junho de 2011

FMI: MISÉRIA INTELECTUAL DA ORTODOXIA


Um conjunto de documentos recém-publicados por uma auditoria independente ajuda a entender por que o FMI falhou na sua missão de alertar com antecedência para os desequilíbrios que levaram à recente crise mundial. O problema não é apenas que o FMI defendeu políticas inadequadas, como a desregulamentação financeira indiscriminada e a abertura das contas de capitais a qualquer custo, mas principalmente a falta de capacidade para refletir sobre realidades econômicas que fogem do manual. O Escritório de Avaliação Independente (IEO, na sigla e inglês) chegou a essa conclusão depois de analisar 6,5 mil trabalhos de pesquisa econômica publicados pelo FMI nos últimos dez anos, justamente a ante-sala da crise mundial. Pior: 62% dos economistas do Fundo afirmaram que se sentem pressionados a alinhar as conclusões de suas pesquisas econômicas ao pensamento dominante no FMI. Hoje, 60% dos cargos de chefia no FMI são ocupados por profissionais de países anglo-saxões. Nada menos de 63% dos economistas obtiveram doutorado em universidades americanas.  Entre as grandes economias emergentes, 57% consideram que as pesquisas são feitas para reiterar um conjunto pré-definido de prescrições, sem espaço para visões alternativas ( com informações Valor; 24-06) 

(Carta Maior; 6º feira,24/06/ 2011)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

CALOTE GREGO ASSOMBRA MERCADOS.


"Sem-vergonhas! Vocês não nos representam!" Com esses gritos de milhares de manifestantes entrincheirados em barricadas diante do Parlamento catalão, em Barcelona, nesta quarta-feira, tentaram impedir a votação do novo orçamento regional com cortes de 10%  nos gastos públicos.  Simultaneamente, em Atenas,  25 mil pessoas cercavam o Parlamento grego e o ministério das Finanças aos gritos: "Desistam, Desistam...ladrões! Traidores". Foram os mais violentos confrontos dos últimos meses entre a polícia e manifestantes, deixando um saldo de dezenas de feridos. O governo Papandreou esfarela e busca uma nova coalizão para subsistir. Pressões dos credores por um up grade no arrocho fiscal deflagraram cisões dentro do próprio partido socialista. O espectro do calote iminente assombra os mercados.  Sobretudo, porém, avulta a consciência de que a corda esticou até o limite. O ajuste ortodoxo serviu para arrebentar as derradeiras resistências do organismo doente e facilitar o seu escalpo. Não era para resolver. Mas para dilapidar. A percepção  de que essa lógica bateu no teto deflagrou a fuga preventiva de capitais de bancos credores da Grécia, bem como de outras nações  fragilizadas, Espanha e Portugal  à frente.  A lógica do Estado mínimo para a população, com atendimento máximo dos rentistas, foi captada pelo senso popular. Ela alimenta o rastilho das revoltas contra instituições e partidos que agem como  aplicativos do FMI.  Parece 1789, mas é a Europa do século 21.

(Carta Maior; 5º feira,16/06/ 2011)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Ao vivo, na Espanha, a “revolução” da Porta do Sol


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Internacional| 20/05/2011 | Copyleft
Cresce na Espanha a Revolução dos Indignados
O movimento que iniciou no dia 15 de maio, chamado 15-M ou a “revolução espanhola”, cresceu quinta-feira com panelaços que reuniram multidões em dezenas de cidades de todo o país para exigir a mudança de um sistema que consideram injusto. A revolta cresce a cada hora. Começou com uma convocatória nas redes sociais e internet para repudiar a corrupção endêmica do sistema e a falta de oportunidades para os mais jovens. A também chamada Revolução dos Indignados acusa, pela situação atual, o FMI, a OTAN, a União Europeia, as agências de classificação de risco, o Banco Mundial e, no caso da Espanha, os dois grandes partidos: PP e PSOE. O artigo é de Armando G. Tejeda, do La Jornada.
Armando G. Tejeda – La Jornada, na Carta Maior
A Junta Eleitoral Central da Espanha proibiu em todo o país qualquer manifestação desde a zero hora de sábado até às 24 horas de domingo, dia das eleições municipais, em uma clara alusão às mobilizações do movimento cidadão Democracia Real Já que, desde o último domingo, ocorrem em repúdio ao modelo político e econômico vigente e que já se espalharam em escala nacional.
Alfredo Peréz Rubalcaba, ministro do Interior, declarou que o governo só esperava o pronunciamento da junta eleitoral para decidir se ordena à polícia dispersar os manifestantes. Enquanto isso, milhares de cidadãos indignados na Porta do Sol, em Madri, na Praça da Catalunha, em Barcelona, na Praça do Pilar, em Zaragoza, e no Parasol da Encarnação, em Sevilla, entre outras, voltaram a romper o cerco policial e, uma vez mais, repudiaram a política, banqueiros e empresários.
O movimento que iniciou no dia 15 de maio, chamado 15-M ou a “revolução espanhola”, cresceu quinta-feira com panelaços que reuniram multidões em dezenas de cidades de todo o país para exigir a mudança de um sistema que consideram injusto. A revolta cresce a cada hora. Começou com uma convocatória nas redes sociais e internet para repudiar a corrupção endêmica do sistema e a falta de oportunidades para os mais jovens e acabou se estendendo para a comunidade espanhola na Itália, Inglaterra, Estados Unidos e México, entre outros países.
No quinto dia de mobilizações a afluência aumentou sensivelmente, sobretudo em Madri e Barcelona, onde dezenas de milhares entoaram palavras de ordem durante horas. Uma delas advertia: se vocês não nos deixam sonhar, nós não os deixaremos dormir.
Os manifestantes desenvolveram métodos de organização através de comissões por setores – saúde, alimentação, meios de comunicação, etc. -, que decidem cada atividade. Nas assembleias gerais decide-se a estratégia e busca-se uma mensagem política unificada que mostrem as principais razões de descontentamento e protesto. Na quinta-feira, por exemplo, decidiu-se manter a mobilização até o próximo domingo, quando ocorrem as eleições locais, e, o mais importante, confirmar a convocatória para a manifestação deste sábado.
Mais tarde, a Junta Eleitoral Central declarou ilegais as concentrações, ao considerar que elas não se ajustam à lei eleitoral e excedem o direito de manifestação garantido constitucionalmente. De fato, desde o início da semana, todas as mobilizações, concentrações e marchas da “revolução espanhola” foram declaradas ilegais pela Junta Eleitoral de Madri. Em resposta, o número de indignados se multiplicou.
Depois de conhecer a decisão da Junta Eleitoral Central, o movimento cidadão decidiu simplesmente manter o acampamento, ao mesmo tempo em que ecoou um grito unânime: não nos tirarão daqui, vamos ganhar esta revolução. Em seguida, foi lido o manifesto original do movimento em uma dezena de idiomas. O texto aponta a classe política e os meios de comunicação eletrônicos como os grandes aliados dos agentes financeiros, os causadores e grandes beneficiários da crise. Advertem que é preciso um discurso político capaz de reconstruir o tecido social, sistematicamente enfraquecido por anos de mentiras e corrupção. “Nós, cidadãos, perdemos o respeito pelos partidos políticos majoritários, mas isso não equivale a perder nosso sentido crítico. Não tememos a política. Tomar a palavra é política. Buscar alternativas de participação cidadã é política”.
A também chamada Revolução dos Indignados acusa, pela situação atual, o Fundo Monetário Internacional, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a União Europeia, as agências de classificação de risco, o Banco Mundial e, no caso da Espanha, os dois grandes partidos: o direitista Partido Popular (PP) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de centro-esquerda.
A reação da direita
Desde a esquerda, há tentativas de aproximação aos indignados. O líder do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, disse que é preciso escutar e ter sensibilidade porque há razões para a expressão desse descontentamento e dessa crítica. O líder da Esquerda Unida, Cayo Lara, defendeu o fim da submissão e do bipartidarismo, propiciado pela atual lei eleitoral.
Mas o setor duro da direita política e midiática reclamou com insistência a atuação policial para acabar com todas as mobilizações, sobretudo na Porta do Sul, e pediu inclusive ao Ministério do Interior para que adotasse meios violentos para assegurar esse fim. Uma das imagens do dia (quinta-feira) foi a do ex-ministro da Defesa durante o governo de José María Aznar, Federico Trillo, insultando com o dedo um grupo de cidadãos da revolução dos indignados.
As desqualificações mais fortes vieram, porém, dos meios de comunicação conservadores e da televisão pública de Madri, que acusaram o movimento de ser comunista, socialista, antissistema e de ter relação com o ETA. Um dos ideólogos da direita, César Vidal, foi mais além e depois de chamar, depreciativamente os manifestantes de “perroflautas” (tribo urbana também conhecida como ‘pés pretos’, formada por punks, anarquistas, hippies e ‘gente desocupada’), assegurou que estes jovens mantém contato regular com o Batasuna-ETA e que receberam cursos de guerrilha urbana, da Segi (organização de juventude da esquerda basca).
O movimento cidadão tem seu próprio canal de televisão, que transmite sem cessar as imagens da Porta do Sul (www.solttv.tv).
Tradução: Katarina Peixoto

Beto Vasques: O Cairo, agora, é aqui, em Madrid! , OLé !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

do leitor Beto Vasques
O Cairo, agora, é aqui, em Madrid! Caetano, em seu momento, nos alertou que o Haiti é aqui. Estava evidenciado que nosso passivo e cordial convívio com injustiça social e a miséria nos fazia campeões da falta de vergonha na cara e de exploração do próprio povo. Não satisfeitos sujeitamo-nos, anos depois, a legitimar o golpe de estado impetrado contra o governo democrático de Bertrand Aristide, fazendo valer os mais sórdidos interesses geopolíticos e econômicos do império e disponibilizando nossas forças armadas para coordenar a intervenção (ou seria invasão?) em terras haitianas.
Talvez tenhamos sido movidos pela raiva de um Haiti que, mesmo castigado pela trágica trajetória colonial, pelo neocolonialismo ianqui (que faz da ilha uma colônia de férias caribeña para suas elites e, simultaneamente, enclave militar de seus mais nefastos interesses imperiais, pela inaceitável ocupação de seu território por forças da ONU) e pelos dramáticos impactos do terremoto, foi incapaz de nos superar tanto na má distribuição de renda, como no número de total de indivíduos miseráveis. Mas essa é outra história…
O fato é que, se Caetano estivesse agora por Madrid, possivelmente nos diria algo como: O Cairo é aqui! Madrid está tomada! Não pela ocupação de nenhuma “força de paz internacional”, mas por seu próprio povo, indignado. Curiosa a história que faz com que essa Espanha, outrora terra de sultões “expulsos” pela “reconquista”, uma vez mais se aproxime do oriente próximo.
Estariam os ventos soprados pelas revoltas populares por democracia no mundo árabe chegado à península ibérica? Estaria a Espanha “de los Borbones” mais próxima que nunca de seus irmãos mulçumanos, seja pela evidência de seus sistemas políticos falidos, ornados por reis e ditadores de toda sorte, seja pela indignação de seus povos às suas elites políticas?
O que está claro, no entanto, é o basta que vem das ruas. Milhares de madrileños, desde o “15-M” (em referência ao domingo 15 de março), resolveram que havia que se dar um “basta ya”!. Por certo que: “Yo no soy anti-sitema, el sistema es anti-yo”, “Esa crisis no la pagamos”, “Lo llaman democracia y no lo es”, “Sin casa, sin trabajo, sin miedo”, “El PSOE y el PP, la misma mierda es” (PSOE e PP, os dois principais partidos de um sistema desenhado a medida para que não haja espaço para outras expressões políticas) são algumas das consignas principais que se evocam desde a “Puerta del Sol”, marco zero da cidade.
Evidencia-se um claro rechaço da cidadania à forma como o governo (PSOE) e a oposição (PP) pactuaram para que ela pagasse a conta de uma crise financeira internacional. O grito entoado pelos acampados há 5 dias na Puerta del Sol de “esa crisis no la pagamos” traduz a revolta popular baseada na compreensão de que essa “dívida” não é sua e, portanto, não querem e não vão pagá-la.
Está claro para os cidadãos e cidadãs acampadas há dias no Sol que a crise é obra do pacto vil no qual a bancarrota de bancos e empresas desregulados é paga pelo resgate de um governo que, posteriormente, se permite ser acusado pelos próprios bancos, agora intitulados “mercado”, como o verdadeiro responsável pela crise. Assume assim, o governo, sua “gigantesca incapacidade de gerenciar o déficit fiscal gerado por sua irresponsável gastança” e, como cereja do bolo, se permite passar a conta ao povo.
Lembrando Garrincha, parece que dessa vez se esqueceram de combinar o jogo com os russos, ou melhor, até que tentaram tal artimanha através de seus sócios na velha mídia, mas dessa vez parece que a blogosfera e as redes sociais também funcionaram pra valer por aqui. Assim, o amargo cardápio que conta com a diminuição dos salários dos funcionários públicos, com a ampliação de prazos para obter a aposentadoria, flexibilização das leis trabalhistas ao gosto do empresariado, etc gerou uma indigestão social que parece, agora, regurgitar sobre o próprio sistema político.: “Lo llaman democracia y no lo es”, “Que no, que no…que no, nos representan” e “PSOE y PP, la misma mierda es” explicitam a pane de um sistema político decadente.
Fica evidente a crise de representação que pode, inclusive, possibilitar a impugnação democrática das elites políticas que só se preocupam em prestar contas aos poderes econômicos privados e não aos cidadãos e cidadãs. Os partidos deslegitimados, os sindicatos em descrédito (cabe destacar posição a pelega e submissa que Comisiones Obreras e UGT , as duas maiores centrais sindicais espanholas, tiveram nesse processo, pactuando com os “ajustes” no marco laboral), e a monarquia patética e perigosa, herdada do franquismo, são vistos como fiadores dessa bazofia. O basta está dado: “Que se vayan todos!”, resume a voz popular, nos remetendo aos aprendizados do panelaço argentino…
O Cairo, agora, é aqui, em Madrid! Dessa vez não há partidos nem sindicatos organizando e instrumentalizando a manifestação. Não são bem-vindos. Dessa vez, a convocatória é do povo saturado de tamanha canalhice de suas elites. As redes sociais são seus megafones. Um esforço parcial para entender a mobilização leva alguns analistas a apontar a existência de três principais coletivos espontâneos por de trás da indignação geral: i) os desempregados (aqui chamados “parados”, que já se aproximam dos 5 milhões de trabalhadores, algo como 22% da PEA); ii) a juventude precária, que assim que se da conta que a precariedade não é condição momentânea vinculada a sua condição de jovem, mas sim de uma questão estrutural que lhes acompanhará por toda vida (entre os jovens o desemprego ultrapassa ao assombroso índice de 40%.); iii) e as famílias despejadas de seus imóveis, arrastadas a pelo tsunami imobiliário e pela sanha da banca.
Sua articulação se dá a partir da plataforma Democracia Real Ya (http://www.democraciarealya.es/) e, na agenda, a reforma eleitoral como principal reivindicação. Trata-se de uma estratégia pela qual a reforma não seria mais que a ponta de lança dos desejos de câmbios mais profundos no sistema político, uma porta de entrada a um processo que se imagina que possa ir ganhando musculatura “sobre la marcha”. “Sabemos por onde queremos começar (pela reforma eleitoral), não até onde podemos ir” comentam os mais otimistas.
Os acampados pretendem permanecer ocupando a Puerta del Sol até domingo, 22 de maio, quando se celebram as eleições estaduais e municipais. Os poderes instituídos aturdidos fazem de sua torpes o combustível dos indignados. Assim foi com o violento despejo dos acampados na madrugada de segunda para terça-feira, no qual não contavam com os celulares 3G que em real time expunham na rede a violência policial contra os cidadãos. Na quarta foi a vez da Junta Eleitoral atear mais fogo, proibindo que as pessoas se manifestassem. Era o fermento que faltava para que a cada noite mais e mais gente acuda à Praça do Sol.
Nesta quinta-feira à tarde a incansável Junta Eleitoral em decisão renhida decidida por apenas 1 voto, resolveu ilegalizar novamente aos indignados. Diz que a partir de sábado, véspera das eleições, não poderá haver manifestações que inibam o direito a terceiros de votar. O governo diz que terá que utilizar a inteligência (o seria violência?) para fazer cumprir a ordem legal. A oposição de direita (PP – Partido Popular) em claro gesto de medo e desespero manifesta seu apoio à decisão ressaltando que “há de se preservar o direito dos cidadãos”. A eles a pergunta: e os que estão na Praça do Sol, não são cidadãos?
No momento, outras cidades espanholas já começam a realizar convocatórias semelhantes. Os possíveis desdobramentos ainda são imprevisíveis. O exemplo dos indignados vizinhos Islândia e Grécia também inspira os madrileños. À semelhança do mundo árabe, as elites apostam que o cansaço leve a desmobilização popular e que os indignados voltem a suas casas. O povo, por sua vez, se rebela e espera fazer com que o rei e os governantes que sejam “os que se vão”. A diferença fica por conta dos bairros, que não ardem em chamas enquanto a multidão toma a praça. É a velha Europa do respeito à integridade física se acercando às revoltas do século XXI. Mas a sensação permanece: o Cairo, agora, é aqui, em Madrid!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A CAMAREIRA E A TRAGÉDIA

O obscuro episódio protagonizado pelo diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Khan, ilustra não apenas uma possível derrocada pessoal mas a do socialismo francês e, de certa forma, de boa parte da esquerda mundial diante da crise econômica.  Strauss-Khan exerce(ia) o comando da inspetoria financeira do capitalismo. O Fundo Monetário apesar das boas intenções de Keynes em Bretton Woods --e as do próprio Khan, segundo alguns economistas--  é o  órgão encarregado, em última instância, de preservar os interesses dos credores ricos contra Estados e nações pobres. Notabilizou-se pela imposição de ajustes de austeridade devastadora, como ocorre agora no caso das condicionalidades impostas  à Grécia e Portugal para liberação de ajuda. Cálculos do economista Pierre Salama sugerem que na crise da dívida externa, nos anos 80, o FMI impôs aos países pobres e em desenvolvimento um programa de arrocho econômico que resultou em transferências de recursos, na forma de pagamento de juros, de gravidade e volume superiores às compensações de guerra extraídas da Alemanha pelo Tratado de Versalhes, após a derrotada germânica no primeiro conflito mundial. Esse escalpo promovido pelas potencias vitoriosas, que levaria Keynes a renunciar à representação da Inglaterra na mesma de negociações, estaria na origem do  nazismo e da Segunda Guerra. O trágico não é que o dirigente desse instrumento típico da espoliação exercida pelas finanças seja um suposto sedutor de camareiras em hotéis de US$ 3 mil a diária. Mas, sim, que Strauss Khan represente o máximo que o socialismo francês tem a propor para enfrentar o direitista Sarkozy, no escrutínio de 2012. Em outras palavras, a esquerda não tem nada de novo  a dizer aos trabalhadores e à classe média hoje na Europa. Apenas a extrema direita tem um programa a oferecer à sociedade para acudir a sua angústia diante da crise. E ele é mais completo que o do FMI de Strauss-Khan. Ao arrocho sobre as políticas públicas ele acrescenta o ódio contra os estrangeiros, uma xenofobia higienista que, no limite, como já ocorre na Itália, sanciona a restauração de campos de concentração para impedir imigrantes miseráveis de disputar os minguados direitos e empregos que o torniquete ortodoxa subtrai  aos próprios europeus. Entre eles vagas para camareiras em hoteis de luxo, equivalentes ao que emoldurou o suposto assédio de Khan nos EUA. 
(Carta Maior; 4º feira, 18/05/ 2011)