"Sem-vergonhas! Vocês não nos representam!" Com esses gritos de milhares de manifestantes entrincheirados em barricadas diante do Parlamento catalão, em Barcelona, nesta quarta-feira, tentaram impedir a votação do novo orçamento regional com cortes de 10% nos gastos públicos. Simultaneamente, em Atenas, 25 mil pessoas cercavam o Parlamento grego e o ministério das Finanças aos gritos: "Desistam, Desistam...ladrões! Traidores". Foram os mais violentos confrontos dos últimos meses entre a polícia e manifestantes, deixando um saldo de dezenas de feridos. O governo Papandreou esfarela e busca uma nova coalizão para subsistir. Pressões dos credores por um up grade no arrocho fiscal deflagraram cisões dentro do próprio partido socialista. O espectro do calote iminente assombra os mercados. Sobretudo, porém, avulta a consciência de que a corda esticou até o limite. O ajuste ortodoxo serviu para arrebentar as derradeiras resistências do organismo doente e facilitar o seu escalpo. Não era para resolver. Mas para dilapidar. A percepção de que essa lógica bateu no teto deflagrou a fuga preventiva de capitais de bancos credores da Grécia, bem como de outras nações fragilizadas, Espanha e Portugal à frente. A lógica do Estado mínimo para a população, com atendimento máximo dos rentistas, foi captada pelo senso popular. Ela alimenta o rastilho das revoltas contra instituições e partidos que agem como aplicativos do FMI. Parece 1789, mas é a Europa do século 21.
(Carta Maior; 5º feira,16/06/ 2011)
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