“O documento resultou de muita reflexão, e sua matéria-prima foi a nossa experiência cotidiana de quase nove décadas. Levou em conta os nossos acertos, para que sejam reiterados, mas também os nossos erros, para que seja possível evitá-los”
O trecho em epígrafe foi extraído da declaração de “princípios editoriais” que o Jornal Nacional levou ao ar em sua edição do último sábado (6 de agosto). Essa iniciativa das Organizações Globo espalhou perplexidade entre amplos setores da sociedade. Contém padrões de conduta jornalística do império da família Marinho nos quais ninguém acredita. Ninguém. Nem os que dizem acreditar.
Muito já foi dito e escrito sobre essa aparentemente surpreendente iniciativa imperial. As pessoas se indignaram. Como pode o grupo empresarial de comunicação que não faz outra coisa além de manipular seu conteúdo jornalístico e enfiar ataques a inimigos políticos em novelas e programas humorísticos, dizer-se isento? É um acinte, dizem, escrevem e vociferam com a indignação dos justos.Sim, é um acinte. E, como todo acinte, como toda a afronta, é proposital, pois a declaração de princípios da Globo se constitui em legítima bofetada no rosto daqueles que, por ora, foram “derrotados”, já que o Império midiático contra-atacou com a sua “Estrela da Morte” sorridente e colorida, essa esfera de hipocrisia que nos invade as casas dia após dia, noite após noite, há décadas e mais décadas.
O império contra-ataca. Ano passado, pensou-se que fora derrotado, que se chegaria ao início da nova década com uma comunicação democratizada. Para tanto, este blogueiro e milhares de cidadãos pelo país a fora se envolveram em conferências, encontros, palestras infindáveis discutindo a “democratização da comunicação”. Tudo à toa. O Império anulou os rebeldes.
Os projetos de lei para vetar o que é vetado em qualquer nação democrática, a concentração abusiva e antidemocrática da propriedade de meios de comunicação, entre outras propostas absolutamente razoáveis e difundidas em todo mundo, foram enterrados pelo mesmo governo que só conseguiu se eleger à revelia da “isenção” com que a Globo, agora, esbofeteia a sociedade.
Vejamos, então:
De lá para cá, constatou-se o poder de fogo do Império. Autoridades dos três poderes da República se perfilaram nos rega-bofes da corte midiática, com suas mulheres de cabelos de boneca e seus homens gorduchos, empanturrados de dolce far niente. Caem ministros, criam-se crises, manipulam-se políticas públicas e até direitos dos cidadãos.
Reputações são dizimadas, agricultores sem-terra – com suas mulheres, crianças e velhos – são transformados em criminosos e abatidos a tiros, corruptos e corruptores amigos são acobertados, padrões de beleza inatingíveis transtornam mulheres de carne e osso, a cor da pele e as feições da maioria esmagadora dos brasileiros são sonegadas na propaganda…
Foi para o lixo tudo o que se discutiu e se propôs sobre democratização da comunicação nos últimos anos, inclusive na Conferência Nacional de Comunicação da qual este blogueiro participou como delegado por São Paulo. Um evento que, aliás, custou dinheiro público. E do qual as propostas serão solenemente ignoradas.
Será que esqueci alguma coisa?
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