(Hoje em Dia) - Um dos aspectos mais fascinantes da história, é que, por mais que se
tente escondê-la, matá-la, enterrá-la, ela acaba, como um cadáver recém exumado
que reabrisse as pálpebras para olhar quem o contempla, revelando, implacável e profundamente, seus segredos.
Um dos assuntos menos conhecidos, ao menos para o grande público, da
primeira metade do Século XX, é o envolvimento de importantes nomes da elite e
de grandes empresas norte-americanas com o hitlerismo, e com os crimes nazistas,
incluindo a destruição e o genocídio de milhões de homens, mulheres e crianças,
classificados pelos alemães como “sub-humanos” e “não-arianos”.
Segundo documentos descobertos em 2004, o avô do Presidente Geoge
W. Bush, o senador - e banqueiro - Prescott Bush (1895-1972), não apenas
colaborou com colaboradores do regime nazista, antes e depois da chegada de
Hitler ao poder - até o ano de 1942, quando os ativos da companhia que dirigia
foram tomados pelo governo norte-americano, com base em lei que proibia
negociar com o inimigo - mas também que suas ligações com o magnata
alemão Franz Thyssen, a quem representava nos EUA, foram fundamentais para a
ascensão política e a consolidação da fortuna de sua família.
As ligações de Prescott Bush com Thyssen, e, por extensão, com o regime
nazista, teriam, possivelmente, permanecido ocultas, se os Bush não tivessem
sido processados em milhões de dólares, mais tarde, por danos morais e físicos,
por dois ex-trabalhadores escravos do campo de extermínio de Auchwitz, que em
seu cativeiro trabalharam para empresas alemãs, de alguma forma ligadas ao avô
do ex-presidente dos EUA.
São conhecidas as ligações de Henry Ford, fundador da Ford Motor
Company, com o antisemitismo, a ponto do inventor do Ford T ter sido condecorado
por Hitler.
Mas talvez uma das histórias mais impressionantes do envolvimento de
grandes ícones norte-americanos com o nazismo, seja a da IBM, a emblemática International
Business Machines, que esteve ligada à Alemanha desde o início.
A IBM foi fundada por um filho de alemães, Hermann Holerith, que,
trabalhando para o American Census Bureau, o escritório de estatisticas dos
Estados Unidos, desenvolveu um sistema de cartões perfurados e de
classificadoras mecânicas para o recenseamento populacional norte-americano, no
final do século XIX.
Nascida com o nome de Tabulating Machine Company, a IBM foi fundamental
para a contagem, identificação e classificação, com base em características
familiares e “raciais” da população alemã e da Europa ocupada pelos nazistas.
Para isso, ela desenvolveu, sob medida,
um sistema que permitiu separar e matar, rapidamente cerca de 9 milhões de
vítimas, não apenas judias, mas ciganas, homossexuais, Testemunhas de Jeová,
comunistas, socialistas, etc e etc. Todas identificadas, da prisão à morte, por um número tatuado no antebraço, e por um
cartão perfurado com as informações relativas a cada prisioneiro.
A história, de Hermann Hollerith a
Thomas J. Watson, o homem que levantou, de fato, a IBM, e a transformou em uma
das mais poderosas empresas do século XX, pode ser lida, em português, no livro
“A IBM e o Holocausto”, de Edwin Black, da Editora Campus.
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