No primeiro domingo de fevereiro, estará em jogo o destino do Brasil nos próximos quatro anos. O homem que ocupará o terceiro posto na linha sucessória da Presidência da República começa a ser definido. Eduardo Cunha, do PMDB (RJ), Júlio Delgado, do PSB (MG), e Arlindo Chinaglia, do PT (SP), disputarão a Presidência da Câmara dos Deputados.
A intensidade da disputa pelo cargo vem surpreendendo o país. Com foco em apenas 513 eleitores, a campanha eleitoral para definir o novo presidente da Câmara vem mobilizando recursos dignos – se é que cabe o termo – de uma eleição para o poder Executivo. Fortunas estão sendo gastas com jatinhos, salões de convenção em hotéis e mimos de toda sorte aos eleitores.
O que mais impressiona é que até o candidato governista vem alardeando “independência” do Planalto. O que antes chegou a ser um ativo, proximidade com o Planalto agora virou demérito.
O favorito para presidir a Casa continua sendo o candidato do PMDB. Desafeto declarado do Planalto, está sendo apoiado (veladamente) pela maioria do PSDB, que, pró-forma, diz apoiar o candidato socialista de Minas. Mas como a eleição do presidente da Câmara deve ir para o segundo turno, Cunha será o beneficiário dos votos tucanos.
Mas o que tem a ver a eleição na Câmara com o processo de sabotagem que está esfacelando a maior empresa brasileira?
Ao longo de 2014, as ações da Petrobrás perderam cerca de 37% do valor em relação a 2013. A empresa perdeu R$ 87,182 bilhões em valor de mercado, caindo de R$ 214,688 bilhões em 2013 para R$ 127,506 bilhões em 2014. E, só em janeiro deste ano, a empresa perdeu mais 20% de seu valor de mercado.
Esse esfacelamento da Petrobrás, porém, não irá matá-la. Apenas irá tornar baratíssima uma empresa que, atualmente, controla uma das maiores reservas de Petróleo do mundo.
O petróleo pode oscilar de valor – no momento, o preço despencou –, mas, por ser um recurso finito, quem controla grandes reservas dessa commoditie sabe que cedo ou tarde irá auferir lucros estratosféricos.
Neste ponto, as lentes deste texto se voltam para a dita “grande imprensa” brasileira, a famigerada “mídia”. Meia dúzia de mega empresários controlam praticamente toda a comunicação de massa no Brasil e estão prestando um serviço inestimável àqueles que salivam diante da possibilidade de privatização da Petrobrás, pois, como deve ser, veem a empresa com os olhos postos no futuro.
A “grande imprensa brasileira” já se beneficiou de privatizações antes. Ao longo da famigerada “privataria tucana”, levada ao cabo no fim do século passado pelo governo Fernando Henrique Cardoso, veículos de comunicação que divulgavam editoriais furiosos em favor das privatizações foram os primeiros a comprar o que estava sendo vendido a preço de banana.
Quem quiser conferir melhor essa divisão do saque ao patrimônio público pode acessar o estudo “INVESTIMENTO E PRIVATIZAÇÃO DAS TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL: DOIS VETORES DA MESMA ESTRATÉGIA”. Esse estudo não contém opiniões, contém fatos – quem comprou o quê durante o processo de privatização do governo FHC.
Entre esses, esteve o jornal O Estado de São Paulo, por exemplo, que, durante a privataria do Sistema Telebrás, comprou parte da cobiçada Área 1, que incluía a região metropolitana de São Paulo.
A Bell South (operadora americana líder absoluta na telefonia celular da América Latina nos anos 1990) participou do consórcio BCP, que adquiriu a área 1 (região metropolitana de São Paulo), pagando um valor de R$ 2,647 bilhões pela concessão – isso mesmo, 2 bilhões e pouco de reais, acredite quem quiser.
O consórcio BCP virou operadora de telefonia com esse mesmo nome. O grupo que comprou o filé da telefonia brasileira a preço de banana foi formado pelo Banco Safra e pela OESP (grupo formado pelo jornal O Estado de São Paulo) e pela Splice (fabricante de telequipamentos sediado no estado de São Paulo).
Talvez por conta de justiça divina, porém, o negócio foi um mico e a difícil situação econômica do Estadão, hoje, deriva da negociata em que se meteu ao vender aos brasileiros que a privataria tucana lhes seria favorável só para que pudesse participar da pilhagem do Sistema Telebrás.
Todos os outros grandes grupos de mídia, de uma forma ou de outra, participaram da pilhagem do patrimônio público brasileiro pelo governo FHC. E, agora, esses mesmos grupos de mídia salivam diante das incomensuráveis reservas do pré-sal, controladas pela… Petrobrás!
Contudo, Dilma Rousseff tem um mandato de quatro anos pela frente – uma eternidade, por certos critérios. Um desses critérios é o prazo de maturação do pré-sal. Daqui a quatro anos, o Brasil estará sob uma chuva de dinheiro oriunda da exportação de Petróleo. Se a empresa continuar sendo patrimônio público, o petróleo financiará educação de boa qualidade para uma geração inteira e mudará o Brasil para sempre.
Porém, com Dilma no cargo não vai rolar. Podem atacar a Petrobrás de tudo quanto for jeito que não vai adiantar. O regime de exploração do pré-sal continuará sendo o de partilha (o Estado contrata empresas privadas para retirar o petróleo do mar e lhes paga comissão) e privatizar a empresa, nem pensar.
A “solução” para que a mídia e uma meia dúzia de expoentes do PSDB possam enriquecer de forma inimaginável com uma eventual privataria também na Petrobrás, é uma só: há que derrubar Dilma Rousseff e estraçalhar politicamente o PT. Aí estará aberto o caminho para o maior saque ao patrimônio público da história do Brasil.
É aí que entra Eduardo Cunha. Desafeto declarado de Dilma e do PT, lobista de empresas de telefonia e tantas outras, metido em transações obscuras, para se viabilizar como candidato à Presidência da Câmara ele teve que chegar ao ponto de, há poucos dias, negar que, vencendo a eleição, irá aceitar pedido de impeachment de Dilma – receber ou não um processo como esse é atribuição do presidente da Câmara.
Por outro lado, o ex-vice-governador de São Paulo Alberto Goldman, ao longo deste janeiro de 2015 declarou, mais de uma vez, que o seu partido está disposto a embarcar na aventura do impeachment da presidente da República.
Como não poderia deixar de ser, ninguém acredita em Cunha quando ele nega que irá patrocinar um processo de impeachment da presidente da República.
O jornal Folha de São Paulo deste sábado (31/01), por exemplo, publicou editorial em que reconhece que o peemedebista, presidente da Câmara, simboliza a instalação do processo contra Dilma.
No mesmo jornal, no mesmo dia, o ex-porta-voz do governo Lula André Singer, filho do economista Paul Singer, concorda com o editorial em sua coluna sabática.
Se o impeachment pode vingar caso Cunha seja eleito? Difícil dizer. Se persistir a atual situação de fragilidade política de Dilma, a dúvida de que essa aventura terá sucesso é pequena. O apoio político do novo governo, no momento, é relativo até em seu próprio partido. E com o juiz Sergio Moro tratando de tentar envolver a presidente e Lula, tudo se complica ainda mais.
Cunha, portanto, é a chave para que Globo, Folha, Veja e Estadão, entre outros menos favorecidos, lucrem fortunas imensuráveis com a privatização da Petrobrás e adquiram um poder quase de Estado em um eventual governo ultraconservador que pode advir da derrubada do atual governo e do esfacelamento do PT.
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