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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Suspeitos trocam elogios ao celebrar avanço do impeachment, veja a cena; deputado gaúcho que será o primeiro a votar contra Dilma na lista da propina da Lava Jato

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Jovair Arantes (PTB-GO) levanta o braço do aliado, o presidente do Atlético Goianiense, acusado de mandar matar jornalista; Afonso Hamm (PP-RS), da bancada ruralista, deve ser o primeiro a votar pelo impeachment de Dilma Rousseff: ele é acusado de receber propina no esquema investigado pela Lava Jato
Da Redação
O Brasil está a caminho de um momento sui generis: um golpe midiático-parlamentar liderado por gatunos.
A hora é de guerra de nervos. A saída oficial do PP da base do governo Dilma é um duro golpe, mas não irreversível. É possível pescar alguns votos no partido, ou ao menos ausências.
É tarefa da oposição chegar aos 342 votos. Os cálculos conservadores são de que teria chegado aos 300. Do lado governista, falava-se na segunda-feira em 190 votos contra — são necessários 170.
Temer se diz “preparado” para assumir. Tem ao seu lado vantagens que não são desprezíveis:
— Pode oferecer, ainda que sem poder cumprir, “impunidade”. E a perspectiva de impunidade agrada ao baixo clero. O PP é o partido com o maior número de parlamentares sob investigação na Lava Jato. São 31 ao todo.
— Temer tem trabalhando ao lado dele, nos bastidores, o homem que é o maior símbolo da impunidade hoje no Brasil: Eduardo Cunha. Cunha opera com a garantia de que não perderá o mandato. Tem centenas de parlamentares como “devedores”. Basta analisar os documentos da contabilidade paralela da Odebrechet, aqueles que o Jornal Nacional desconheceu por “falta de tempo”: Cunha montou sua bancada em vários partidos com dinheiro da empreiteira. Ainda que formalmente deixe a presidência da Câmara, será homem forte nos bastidores. Trabalhando pela própria impunidade e a dos aliados.
— Temer tem o apoio da Globo, da Fiesp e do mercado. Como notou Mário Magalhães, no áudio em que ensaiou seu discurso de posse, Temer falou em “sacrifícios”, mas nenhuma vez em corrupção. Se assumir, é óbvio que a esquerda e os movimentos sociais serão acusados pela Globo de atentar contra a estabilidade. Será em nome dela que surgirão cobranças para por fim à Lava Jato.
— Foi Cunha quem definiu o rito do impeachment, a seu bel prazer. Marcou a decisão para um domingo, com garantia de transmissão ao vivo pela Globo. Cunha jogou os deputados do Nordeste para o final da votação. Colocou os do Sul em primeiro, para criar a sensação de avalanche. Por isso o sorridente Hamm, da foto acima, será o primeiro a votar contra Dilma em nome de extirpar a corrupção — justamente ele, que é acusado de receber propina no esquema da Petrobras.
Notem o espetáculo que Hamm e Jovair Arantes, o relator do impeachment escolhido pela turma de Cunha, oferecem neste vídeo:
Jovair condenou Dilma em seu relatório, mas não tem tanta certeza quando se trata de seu amigo Maurício Sampaio, o presidente do Atlético Goianiense, que foi preso como mandante do assassinato de um jornalista em Goiás.
“Não é meu papel defender ou acusar ninguém, mas acho sim que ele é inocente”, afirmou Jovair a respeito do homem de quem aparece levantando o braço.
Jovair publicou, no jornal O Popular, um artigo em tratou de seu relatório:
“O impeachment é necessário para que se resgate a credibilidade das instituições, para que a impunidade deixe de ser regra em crimes contra o patrimônio público e para que a ameaça à governabilidade não cause novos e irreparáveis danos à economia, já paralisada. Para que o Brasil conquiste espaço no noticiário internacional não em função dos escândalos de corrupção, mas pela punição imputada a quem os protagonizou.”
No texto está claro que ele defende “punição” para os que protagonizaram os escândalos de corrupção. Ele inclui punição a Afonso Hamm, seu leal colaborador no processo de impeachment, que está no rol dos deputados do PP acusados de levar propina?
Talvez ele queira repetir o que disse sobre Maurício Sampaio:
“Não é meu papel defender ou acusar ninguém, mas acho sim que ele é inocente”.
Já o filho do jornalista Valério Luiz não tem qualquer dúvida de que Maurício Sampaio, o parceiro de Jovair Arantes, mandou matar seu pai. Temos, assim, um microcosmo do golpe:
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O deputado Jovair Arantes, de Goiás, é um dos principais generais do baixo clero, aquele exército de parlamentares de atuação inexpressiva no plenário, mas de apetite pantagruélico por benesses pagas com verbas públicas.
Político experiente, com cinco mandatos de deputado federal no currículo, líder do PTB e presença constante em reuniões no Planalto nas quais é discutida a pauta do Congresso, Jovair se destaca pela luta incansável por cargos e emendas.
Essa obstinação lhe rendeu a simpatia dos colegas e embala os sonhos dele de chegar à presidência da Casa ou ser escolhido ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Apesar de tais sonhos não se terem realizado, Jovair nem de longe é um fracassado. Muito pelo contrário.
Braço direito do presidente do PTB, o mensaleiro Roberto Jefferson, o deputado é responsável pela indicação e avalista da nomeação do chefe da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e do presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
As indicações para cargos são praxe nos regimes presidencialistas em que o governo é apoiado por uma aliança de partidos, como ocorre no Brasil. Fazem parte do jogo — desde que, é claro, não sejam usadas para que políticos e legendas enriqueçam ou se financiem à custa do contribuinte. E é essa justamente a suspeita que pesa sobre Jovair Arantes.
No escândalo que derrubou Wagner Rossi do Ministério da Agricultura, o líder petebista foi apontado como sócio de um consórcio montado em parceria com o PMDB para desviar dinheiro da Conab, estatal com orçamento anual de 6 bilhões de reais chefiada desde o ano passado por Evangevaldo Moreira, seu homem de confiança há mais de uma década.
Jovair também já foi investigado por envolvimento com a chamada máfia dos sanguessugas, que desviava dinheiro destinado à compra de ambulâncias, e, mais recentemente, teve seu nome relacionado às fraudes com dinheiro de emendas do Ministério do Turismo.
Isso sem falar nas denúncias que envolvem os órgãos controlados por seus apadrinhados no governo estadual de Goiás, que costuma apoiar sempre, qualquer que seja o governador. Trata-se, portanto, de um personagem recorrente da crônica político-policial.
Agora, o líder do PTB na Câmara é acusado por um ex-aliado de cobrar propina — descaradamente — para chancelar suas indicações. Quem acusa é Osmar Pires Martins Júnior, ex-secretário de Meio Ambiente de Goiânia e presidente da Agência Goiana de Meio Ambiente até 2006.
Num documento de 24 páginas assinado e entregue formalmente ao Ministério Público em dezembro passado, ele diz que, quando estava de saída da agência ambiental, ouviu uma proposta nada ortodoxa: Jovair, a quem caberia indicar o novo presidente do órgão, pediu 4 milhões de reais para apoiar sua recondução. “O deputado queria R$ 4 milhões para que o infraescrito fosse indicado para continuar na titularidade do órgão público”, escreveu.
Ex-filiado ao PT, rompido com o grupo de Jovair por causa das conveniências políticas locais, Osmar Pires diz que o portador da proposta milionária foi justamente Evangevaldo Moreira — aquele que Jovair empurrou goela abaixo do governo federal e aboletou há um ano na presidência da poderosa Conab, onde permanece apesar da faxina no Ministério da Agricultura.
O autor da acusação, ao que tudo indica, sabe do que está falando: ele próprio é alvo de quinze processos por malfeitos cometidos no serviço público. Por se tratar de uma suspeita de crime envolvendo um deputado federal, detentor de foro privilegiado, o Ministério Público de Goiás vai enviar os papéis para o procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Procurado por VEJA, primeiro Jovair Arantes disse conhecer bem Osmar Pires e teceu elogios ao ex-companheiro: “A gente vive na mesma cidade. Não temos amizade pessoal, de frequentar um a casa do outro, mas o conheço bem. É um quadro muito qualificado, um gestor competente, conhecedor profundo da gestão ambiental e uma pessoa de bem”.
Informado da acusação, de repente ele mudou de tom: “Cada um fala o que quer. Se fez isso, agiu indevidamente e deve responder por isso”.
Evangevaldo negou que tenha sido o portador da proposta. “Nunca conversei isso com esse moço”, disse.
Ao contrário de seu padrinho político, o presidente da Conab tentou desqualificar o denunciante: “Ele foi afastado da agência porque responde a vários processos. Uma pessoa assim não pode ter credibilidade para fazer denúncia contra ninguém”.
Na ocasião do suposto pedido, Evangevaldo, ou Vange para os amigos, era o diretor financeiro da agência, especialmente interessante aos políticos por seu poder de autorizar ou proibir grandes empreendimentos. Ele ocupava o posto por indicação de Jovair, claro.
Aliás, Evangevaldo sempre é o homem escolhido por Jovair para ocupar os cargos relevantes que lhe são disponibilizados. A Conab é o mais vistoso de todos, mas vários outros vieram antes. Como uma chefia do INSS em Goiás, de onde ele saiu debaixo de investigação da Polícia Federal. A partir da quebra de seu sigilo fiscal, os policiais concluíram que pelas contas de Evangevaldo passava mais dinheiro do que sua renda permitia — treze vezes mais.
A investigação concluiu ainda que, depois que virou homem de confiança de Jovair, Vange teve uma estrondosa evolução patrimonial, também considerada incompatível com seus rendimentos. Nada, porém, que fosse suficiente para impedir que ele continuasse ocupando cargos públicos — ou que abalasse sua dobradinha com Jovair, o enrolado.
*****
Registre-se aqui que o repórter Policarpo Jr., da Veja, caiu na escuta da Polícia Federal pedindo ao bicheiro Carlinhos Cachoeira que grampeasse ilegalmente Jovair, com o objetivo de saber detalhes do envolvimento dele com a Conab.
Jovair também é um dos líderes da bancada da bola, aquela que bloqueou investigações contra Ricardo Teixeira e continua trabalhando para proteger os cartolas da CBF.
Este é o homem que celebrou com Afonso Hamm a aprovação do relatório contra Dilma, que prega por escrito que é preciso que o Brasil “conquiste espaço no noticiário internacional não em função dos escândalos de corrupção, mas pela punição imputada a quem os protagonizou”.
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