Jornalista americano, do site The Intercept, diz que “enquanto a corrupção assombra Temer, caem as máscaras dos movimentos pró-impeachment”, a exemplo do MBL, que organizou os principais atos no Brasil contra a corrupção e pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff; Glenn Greenwald destaca ainda evidências de que líderes de protestos de figurino verde-e-amarelo foram secretamente financiados por partidos da oposição ao governo Dilma.
247 - O jornalista Gleen Greenwald, do site The Intercept, publicou uma matéria sobre a delação premiada de Sérgio Machado que aponta que, “enquanto a corrupção assombra Temer, caem as máscaras dos movimentos pró-impeachment”, a exemplo do MBL, que organizou os principais atos no Brasil contra a corrupção e pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Greenwald destaca ainda que surgiram evidências recentemente de que líderes dos protestos de figurino verde-e-amarelo contra a corrupção foram secretamente pagos e financiados por partidos da oposição. Leia abaixo a íntegra:
Enquanto a corrupção assombra o Temer, caem as máscaras dos movimentos pró-impeachment
O impeachment da presidente do Brasil democraticamente eleita, Dilma Rousseff, foi inicialmente conduzido por grandes protestos de cidadãos que
demandavam seu afastamento. Embora a mídia dominante do país
glorificasse incessantemente (e incitasse) estes protestos de figurino
verde-e-amarelo como um movimento orgânico de cidadania, surgiram,
recentemente, evidências de que os líderes dos protestos foram
secretamente pagos e financiados por partidos da oposição. Ainda assim,
não há dúvidas de que milhões de brasileiros participaram nas marchas
que reivindicavam a saída de Dilma, afirmando que eram motivados pela
indignação com a presidente e com a corrupção de seu partido.
Mas desde o início, havia inúmeras razões para duvidar
desta história e perceber que estes manifestantes, na verdade, não eram
(em sua maioria) opositores da corrupção, mas simplesmente dedicados a
retirar do poder o partido de centro-esquerda que ganhou quatro eleições
consecutivas. Comoreportado pelos meios de mídia internacionais, pesquisas mostraram que
os manifestantes não eram representativos da sociedade brasileira mas,
ao invés disso, eram desproporcionalmente brancos e ricos: em outras
palavras, as mesmas pessoas que sempre odiaram e votaram contra o PT.
Como dito peloThe Guardian,
sobre o maior protesto no Rio: “a multidão era predominantemente
branca, de classe média e predisposta a apoiar a oposição”. Certamente,
muitos dos antigos apoiadores do PT se viraram contra Dilma – com boas razões –
e o próprio PT tem estado, de fato, cheio de corrupção. Mas os
protestos eram majoritariamente compostos pelos mesmos grupos que sempre
se opuseram ao PT.
É esse o motivo pelo qual uma foto – de uma família rica e
branca num protesto anti-Dilma seguida por sua babá de fim de semana
negra, vestida com o uniforme branco que muitos ricos no Brasil fazem
seus empregados usarem – se tornou viral: porque ela captura o que foram estes protestos.
E enquanto esses manifestantes corretamente denunciavam os escândalos
de corrupção no interior do PT – e há muitos deles – ignoravam
amplamente os políticos de direita que se afogavam em escândalos muitos
piores que as acusações contra Dilma.
Claramente, essas marchas não eram contra a corrupção, mas
contra a democracia: conduzidas por pessoas cujas visões políticas são
minoritárias e cujos políticos preferidos perdem quando as eleições
determinam quem comanda o Brasil. E, como pretendido, o novo governo
tenta agora impor uma agenda de austeridade e privatização que
jamais seria ratificado se a população tivesse sua voz ouvida (a
própria Dilma impôs medidas de austeridade depois de sua reeleição em
2014, após ter concorrido contra eles).
Depois das enormes notícias de ontem sobre o Brasil, as
evidências de que estes protestos foram uma farsa são agora
irrefutáveis. Um executivo do petróleo e ex-senador do partido
conservador de oposição, o PSDB, Sérgio Machado, declarou em seu acordo
de delação premiada que Michel Temer – presidente interino do Brasil que
conspirou para remover Dilma – exigiu R$1,5 milhões em propinas para
a campanha do candidato de seu partido à prefeitura de São Paulo (Temer
nega a informação). Isso vem se somar a vários outros escândalos de
corrupção nos quais Temer está envolvido, bem como sua inelegibilidade se candidatar a qualquer cargo (incluindo o que por ora ocupa) por 8 anos, imposta pelo TRE por conta de violações da lei sobre os gastos de campanha.
E tudo isso independentemente de como dois dos novos ministros de Temerforam forçados a renunciar depois
que gravações revelaram que eles estavam conspirando para barrar a
investigação na qual eram alvos, incluindo o que era seu ministro
anticorrupção e outro – Romero Jucá, um de seus aliados mais próximos em
Brasília – que agora foi acusado por Machado de receber milhões em subornos.
Em suma, a pessoa cujas elites brasileiras – em nome da “anticorrupção”
– instalaram para substituir a presidente democraticamente eleita está
sufocando entre diversos e esmagadores escândalos de corrupção.
Mas os efeitos da notícia bombástica de ontem foram muito
além de Temer, envolvendo inúmeros outros políticos que estiveram
liderando a luta pelo impeachment contra Dilma. Talvez o mais
significante seja Aécio Neves, o candidato de centro-direita do PSDB
derrotado por Dilma em 2014 e quem, como Senador, é um dos líderes entre
os defensores do impeachment. Machado alegou que Aécio – que também já havia estado envolvido em escândalos de corrupção – recebeu e controlou R$ 1 milhão em
doações ilegais de campanha. Descrever Aécio como figura central para a
visão política dos manifestantes é subestimar sua importância. Por
cerca de um ano, eles popularizaram a frase “Não é minha culpa: eu votei
no Aécio”; chegaram a fazer camisetas e adesivos que orgulhosamente
proclamavam isso:
Evidências de corrupção generalizada entre a classe
política brasileira – não só no PT mas muito além dele – continuam a
surgir, agora envolvendo aqueles que antidemocraticamente tomaram o
poder em nome do combate a ela. Mas desde o impeachment de Dilma, o
movimento de protestos desapareceu. Por alguma razão, o pessoal do “Vem
Pra Rua” não está mais nas ruas exigindo o impeachment de Temer, ou a
remoção de Aécio, ou a prisão de Jucá. Porque será? Para onde eles
foram?
Podemos procurar, em vão, em seu website e sua página no Facebook por
qualquer denúncia, ou ainda organização de protestos, voltados para a
profunda e generalizada corrupção do governo “interino” ou qualquer dos
inúmeros políticos que não sejam da esquerda. Eles ainda estão
promovendo o que esperam que seja uma marcha massiva no dia 31 de julho,
mas que é focada no impeachment de Dilma, e não no de Temer ou de
qualquer líder da oposição cuja profunda corrupção já tenha sido
provada. Sua suposta indignação com a corrupção parece começar – e
terminar – com a Dilma e o PT.
Neste sentido, esse movimento é de fato representativo do
próprio impeachment: usou a corrupção como pretexto para os fins
antidemocráticos que logrou atingir. Para além de outras questões,
qualquer processo que resulte no empoderamento de alguém como Michel
Temer, Romero Jucá e Aécio Neves tem muitos objetivos: a luta contra a
corrupção nunca foi um deles.
* * * * *
No mês passado, o primeiro brasileiro ganhador do Prêmio Pulitzer, o fotojornalista Mauricio Lima, denunciou o impeachment como um “golpe”com a TV Globo em seu centro. Ontem à noite, como convidado no show de Chelsea Handler no Netflix, o ator popular Wagner Moura denunciou isso em termos similares, dizendo que a cobertura da mídia nacional foi“extremamente limitada” porque “pertence a cinco famílias”.
Atualização: Logo depois da publicação deste artigo, foi anunciado que
o presidente interino Temer acaba de perder seu terceiro ministro para a
corrupção menos de dois meses depois da tomada do poder: dessa vez, seu
ministro do turismo Henrique Eduardo Alves, acusado na delação premiada
de Machado de receber R$ 1,5 milhão em propinas de 2008 a 2014. Quando
se toma o poder antidemocraticamente usando a “corrupção” como pretexto,
em geral é uma má ideia encher sua equipe de criminosos (e ter o
próprio novo presidente envolvido em múltiplos escândalos de corrupção).
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