O jornal Folha de São Paulo instiga todo dia seus colunistas amestrados e o seu “noticiário” político contra os governos do PT, talvez mais por raiva de Lula do que por divergir das idéias do partido. Nessa busca por qualquer chance que veja de desmoralizar seus adversários políticos, o jornal não mede os próprios atos e acaba caindo em contradições como a que passo a relatar.
Diante do rumor decorrente da declaração do novo chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general José Elito Carvalho, de que “Não há motivo para vergonha no fato de o país ter desaparecidos políticos”, o colunista Clóvis Rossi, na edição da Folha de quinta-feira, fez uma crítica injusta ao governo nascituro de Dilma Rousseff.
Com tal crítica, o jornal desencadeou o que parece ser uma ofensiva para intrigar a nova administração do país com os sempre imprevisíveis militares de pijama, os quais, em pleno século XXI, ainda se pretendem uma força de ocupação do Brasil, um quarto de século depois de terem largado o osso da República.
A crítica de Rossi foi muito simples:
“Começa muito mal a gestão Dilma Rousseff: deveria ter demitido no ato o general José Elito Carvalho. No mínimo, no mínimo, a presidente deveria ter exigido de seu subordinado que emitisse nota oficial explicando as declarações que deu e que, segundo ele, foram mal interpretadas.
Não cabia interpretação nenhuma. O general produziu a mais indecente declaração que ouvi até hoje em 40 anos (…) Achar que se trata de “fato histórico” é zombar do público.
Quer dizer então que os desaparecidos foram tragados por um tsunami, por um terremoto, um vendaval, “fatos” naturais contra os quais não há mesmo remédios nem culpados?(…)”.
Alguns dirão irrepreensível a conclusão do colunista, não é? Um democrata fica naturalmente inclinado por ela, mas só até a medida em que reflita um pouco sobre quem está acusando Dilma de tibieza com o general por ele ter dito que a ditadura militar foi menos culpada do que suas vítimas a pretendem.
A foto que encima este texto é do ato público que este blog e seus leitores promoveram em 7 de março de 2009 à porta do jornal Folha de São Paulo. Levamos uns quinhentos amigos até lá para mostrar a nossa “alegria” com a tese do veículo de que a ditadura militar oriunda do golpe militar de 1964 teria sido uma “Ditabranda” por ter matado pouca gente e por ter sido decorrente de “uma guerra entre dois lados” etc., etc.
Como se não bastasse, o fundador da Folha, o falecido Octavio Frias de Oliveira, foi um grande entusiasta e colaborador da ditadura a que serviu o general sem vergonha dos crimes que aquele regime cometeu, um militar que agora está encarregado da segurança da presidente Dilma Rousseff em uma época em que grupos extremistas pregam que seja assassinada a tiros.
A crítica que esse e outros colunistas da Folha vêm fazendo à presidente da República é injusta porque seu governo está começando e é possível compreender que, em nome de poder realizar com mais tranqüilidade o projeto para o qual foi eleita, ela tenha optado por apenas cobrar explicações e manifestar seu desagrado.
Não se pode recusar, porém, a crítica de que foi extremamente grave a declaração do subordinado da Comandante-em-chefe das Forças Armadas e de que, por ocupar tal posição, ela deveria tê-lo demitido, pois o regime do qual o general José Elito não tem vergonha foi um regime criminoso, que rasgou a Constituição a seu bel prazer, sem apoio da maiora, e impediu o povo de escolher seu presidente por mais de duas décadas.
Pode haver um caminho para tal crítica, mas deve-se atentar para quem a faz. Como Rossi e seus colegas podem ignorar que trabalham para um jornal que foi entusiasta da Ditabranda? Afinal, pelo mesmo “pragmatismo” de Dilma esses colunistas não “demitem” seu empregador por ter tido – e continuar tendo – opinião análoga à do general sem vergonha dos crimes hediondos da ditadura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
comentários sujeitos a moderação.