Pessoas que gostariam de ser cachorros
Pensei em não escrever este texto porque aquele que se enquadra em uma das duas situações que descreverei poderia se magoar. Então me dei conta de que eu também poderia começar o texto dizendo que não é porque uma pessoa se encaixa em uma situação que ela não pode se encaixar na outra, que não magoa e até exalta quem nela se encaixa.
Também pensei em não escrever porque não estou certo de que a contraposição de situações que formularei tem um significado real. Contudo, acabei me rendendo ao texto porque a inquietude não amaina – pelo contrário, aumentou até que eu não resistisse mais.
No último domingo – que, no dia em que escrevo, também pode ser chamado de ontem – ocorreram duas grandes manifestações na avenida Paulista. Uma pela manhã e a outra, à tarde.
A primeira foi em prol dos direitos dos animais domésticos e a segunda, em prol dos direitos dos animais humanos – as famílias do bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos. Aqueles homens, mulheres, crianças, velhos e seus animais de estimação foram expulsos de suas casas sob bombas, balas e cacetadas. E depois jogados no meio da lama.
A primeira manifestação (por animais), segundo a Polícia Militar, reuniu 5 mil pessoas e a segunda (por seres humanos), 500 pessoas. Não sei se a comparação é boa, mas é inquietante: a solidariedade a animais tirou dez vezes mais gente de casa em um domingo do que a solidariedade a seres humanos.
Como participei da manifestação da tarde na Paulista e como resido próximo à sua extremidade sul, ao fim do ato público fui caminhando pela avenida pois estava curioso quanto ao que ocorrera durante a manhã. No caminho, fui conversando com donos de bancas de jornal e ambulantes. Perguntei se a manifestação da manhã atraíra os transeuntes.
Fiz essa pergunta porque a manifestação da tarde não atraiu ninguém. Pelo contrário: as pessoas que passavam lançavam olhares desconfiados ou até reprovadores contra quem estava “parando o trânsito”. Por isso, fiquei surpreso com as respostas que recebi dos comerciantes da avenida: a manifestação pelos animais atraíra adesões dos transeuntes.
Coincidência? Claro que pode ser. Mas o que me inquietou foi a idéia assustadora, deprimente, surreal de que pode não ser, pois talvez os animais domésticos sejam mais considerados por alguns entre os seus defensores – e é claro que não por todos – do que aqueles seres humanos despossuídos e esquecidos pela sociedade.
Seja como for, não duvido de que existam muitas pessoas jogadas pelas ruas deste país que prefeririam ser animais de estimação.
Também pensei em não escrever porque não estou certo de que a contraposição de situações que formularei tem um significado real. Contudo, acabei me rendendo ao texto porque a inquietude não amaina – pelo contrário, aumentou até que eu não resistisse mais.
No último domingo – que, no dia em que escrevo, também pode ser chamado de ontem – ocorreram duas grandes manifestações na avenida Paulista. Uma pela manhã e a outra, à tarde.
A primeira foi em prol dos direitos dos animais domésticos e a segunda, em prol dos direitos dos animais humanos – as famílias do bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos. Aqueles homens, mulheres, crianças, velhos e seus animais de estimação foram expulsos de suas casas sob bombas, balas e cacetadas. E depois jogados no meio da lama.
A primeira manifestação (por animais), segundo a Polícia Militar, reuniu 5 mil pessoas e a segunda (por seres humanos), 500 pessoas. Não sei se a comparação é boa, mas é inquietante: a solidariedade a animais tirou dez vezes mais gente de casa em um domingo do que a solidariedade a seres humanos.
Como participei da manifestação da tarde na Paulista e como resido próximo à sua extremidade sul, ao fim do ato público fui caminhando pela avenida pois estava curioso quanto ao que ocorrera durante a manhã. No caminho, fui conversando com donos de bancas de jornal e ambulantes. Perguntei se a manifestação da manhã atraíra os transeuntes.
Fiz essa pergunta porque a manifestação da tarde não atraiu ninguém. Pelo contrário: as pessoas que passavam lançavam olhares desconfiados ou até reprovadores contra quem estava “parando o trânsito”. Por isso, fiquei surpreso com as respostas que recebi dos comerciantes da avenida: a manifestação pelos animais atraíra adesões dos transeuntes.
Coincidência? Claro que pode ser. Mas o que me inquietou foi a idéia assustadora, deprimente, surreal de que pode não ser, pois talvez os animais domésticos sejam mais considerados por alguns entre os seus defensores – e é claro que não por todos – do que aqueles seres humanos despossuídos e esquecidos pela sociedade.
Seja como for, não duvido de que existam muitas pessoas jogadas pelas ruas deste país que prefeririam ser animais de estimação.
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