Presidente mantém agenda transparente, ativa e cada vez mais de contato direto com a população; Dilma Rousseff ultrapassa especuladores da economia e redatores desnorteados da mídia tradicional mantendo política de pleno emprego, juros baixos e inflação dentro da meta; por que há quem queira limitar os movimentos da presidente, tentando encilhá-lha?; explica o empresário Benjamin Steinbruch, um dos mairores do País: “Pode ser a manifestação de quem torce contra o País”; você concorda ?
Marco Damiani _247 – O verbo encilhar, no Dicionário Houaiss, tem sua primeira definição apresentada pela seguinte frase: “Apertar (o cavalo) com cilhas”. Cilhas são as cintas largas de couro que prendem a sela na barriga do animal. Em política, aprendeu-se no Brasil a se usar esse verbo, infelizmente, a cada vez que forças aparentes e ocultas tentam frear, limitar e controlar os livres movimentos de um presidente da República. Já houve entre nós um período chamado de crise do encilhamento, ensinado até hoje nos bancos escolares. Na passagem da Monarquia para a República, em resumo, especuladores e rentistas se aproveitaram de um momento de caos econômico para ampliarem suas exigências de mais benefícios ao governo, conseguindo até mesmo que medidas econômicas fossem baixadas sem a necessidade do aval dos primeiros mandatários republicanos. Os presidentes, naquela quadra, simplesmente não podiam fazer tudo o que desejavam. Estavam encilhados pelas circunstâncias.
A presidente Dilma Rousseff claramente está sendo alvo de uma tentativa de encilhamento político e econômico – mas ela, que sabe história, escolheu sua própria maneira de refutar essas iniciativas. Cada vez mais, como fez na segunda-feira 22 ao entregar centenas de equipamentos municipais a prefeitos, de veículos escolares a retroescavadeiras, ou praticou em semanas anteriores, ao visitar produtores rurais da região Sul e inaugurar, no Nordeste, obras contra a seca. Dilma vai reforçando para os adversários que a agenda é dela - e não deles.
Eleita para exercer o cargo de presidente, ela o tem feito com respeito a todas as demais instituições democráticas, além da que ela própria chefia, a Presidência da República. De modo transparente, Dilma se movimenta livremente, marca seus próprios compromissos, fala o que deseja e faz o que acha melhor para o País. Mas isso que deveria ser visto como algo absolutamente natural, na verdade está deixando muita gente poderosa cada vez mais irritada.
Com os mais altos índices de popularidade já registrados por qualquer presidente à esta altura do mandato, à frente de uma política econômica que tem garantindo nos 30 meses de sua gestão um regime, na prática, de pleno emprego, observando a inflação dentro das metas estabelecidas pelo Banco Central e pilotando a mais espetacular baixa nas taxas de juros já vista na economia brasileira, Dilma não está se deixando enganar pelos especuladores (1) que, a toda oportunidade, pedem juros mais altos; pelos economistas a serviço do sistema especulativo (2), que já chegam a defender até mesmo o desemprego para controlar a inflação (Ilan Goldfajn e Alexandre Schuwartzman); e pela mídia tradicional (3), que agora até dá para exigir que a Dilma deixe de “palavrório” (revista Época, da família Marinho), insinua dificuldades de cognição (jornal O Estado de S. Paulo, dos Mesquita) e desdenha do modelo adotado para controlar a inflação, buscando pintar de permanente um episódio nitidamente sazonal (revista Veja, dos Civita) – a elevação de preço do tomate, cujo quilo, em razão de queda momentânea na produção, subiu para até R$ 10 nas feiras livres e, agora, já voltou ao leito normal de R$ 2,50.
Feirantes paulistanos com seus bordões engraçados e simpatia à toda prova constróem, de improviso, frase bem melhores e mais certeiras ao gosto do público do que as que se lêem nas peças editoriais de Época, do Estadão e de Veja. Os redatores dessas mídias tradicionais jogaram todo o seu, digamos, talento contra eleição de Dilma como sucessora de Lula – e perderam feio. Agora, com maior irritação e pensatas cada vez mais rasteiras, trabalham para tumultuar uma fase decisiva do mandato dela. Eles estão, outra vez, na contramão da história. A insistência no oposicionismo de encomenda ao não ter conexão com a realidade, está fazendo a circulação de seus veículos minguar. As pessoas estão abandonando seus hábitos, tanta a barra pesada, como se dizia nos anos 1960, que vai ocorrendo.
Hoje, em artigo no jornal Folha de S. Paulo – um veículo que, sem abrir mão de suas posições fortes, vai conseguindo se sobressair na maré vazante da mídia tradicional em termos editoriais e de resultados comerciais --, o empresário Benjamin Steinbruch resume em título e olho, em artigo na página B8 da publicação dos Frias, o que pensa um sujeito que está à frente de uma indústria de base, a do aço, absolutamente sensível aos movimentos da economia. Se as coisas estivessem correndo tão mau quanto se lê na mídia, Steinbruch não escreveria o seguinte: “Xó, mau humor – o mau humor, no caso da economia, pode ser a manifestação de quem torce contra o país”. Ele tocou no ponto certo. Com tanta pressão negativa do lado de fora, elementos econômicos como a expectativa de inflação e juros, podem, sim, ser influenciados. No caso, para disparar. Mas nem isso está acontecendo. Um dos maiores criadores de cavalos de corrida do Brasil, Steinbruch sabe exatamente o que significar encilhar. Mas ele está entre os que não querem ver a presidente da República na posição de encilhada.
BARÃO DO AÇO SUGERE QUE MÍDIA
TORCE CONTRA O PAÍS
Na coluna “Xô, mau humor”, o empresário Benjamin Steinbruch, da CSN, condena o terrorismo midiático em torno dos preços. “A inflação está sendo pintada com cores do velho dragão, um exagero, visto que está em nível próximo da média anual dos últimos 14 anos, de 6,4%”, afirma
247 – O mau humor, no caso da economia, pode ser a manifestação de quem torce contra o País. Quem diz é o empresário Benjamin Steinbruch, da CSN, num recado direto a meios de comunicação, que, de tempos para cá, têm-se dedicado a uma espécie de terrorismo econômico.
FOLHA DE SP - 23/04
O mau humor, no caso da economia, pode ser a manifestação de quem torce contra o país
Li há dias uma frase do filósofo austríaco Ludwig Josef Johann Wittgenstein (1889-1951) que diz o seguinte: "O humor não é um estado de espírito, mas uma visão de vida". E pensei imediatamente em comportamentos verificados hoje na economia brasileira.
Dissemina-se indisfarçável mau humor com a economia. A inflação está sendo pintada com cores do velho dragão, um exagero, visto que está em nível próximo da média anual dos últimos 14 anos, de 6,4%.
A rabugice do mercado leva a uma avaliação a meu ver exageradamente pessimista do valor dos ativos de algumas empresas brasileiras de capital aberto. Não pretendo citar exemplos, mas o leitor sabe que algumas companhias perderam de 50% a 80% de seu valor de mercado. Será que elas valiam tanto antes? Será que valem tão pouco agora? Como sempre, provavelmente a virtude está no meio.
Claro que a inflação é um inimigo a ser combatido com vigor e persistência --já aprendemos essa lição nos anos hiperinflacionários da década de 1980. Mas não é disso que se trata. Trata-se, hoje, de um problema de humor que leva até economistas de renome a proclamar os riscos de uma inflação de tomate, que não passa de um desarranjo momentâneo na produção dessa fruta.
Cá entre nós, é óbvio que o mercado financeiro vive uma crise de abstinência de juros. Os agentes desse mercado estavam acostumados com altas doses de juro real (acima da inflação), agora reduzidas. Como nos casos das drogas, a abstinência provoca modificações "orgânicas" que levam o dependente a buscar argumentos que justifiquem a volta à situação anterior.
Na semana passada, o Banco Central deu certo alívio a essa crise de abstinência ao elevar os juros em 0,25 ponto percentual, para 7,5% ao ano. Essa pequena mudança não terá impacto na economia, mas, quem sabe, poderá ter efeito psicológico para atenuar a tensão do mercado.
Não há como negar que os dois últimos anos foram difíceis, principalmente para empresas que produzem. Os preços internacionais de exportação caíram, o crescimento econômico tem sido baixo aqui e lá fora, o custo da mão de obra disparou e pioraram as margens e os resultados das empresas. A indústria se contraiu e há, sem dúvida, um processo de desindustrialização no país.
Neste ano, a balança comercial flerta com o deficit e as importações continuam a inviabilizar a produção interna em vários setores industriais. Além disso, o país ainda não enfrentou o problema da racionalização da estrutura tributária, especialmente do PIS/Cofins e do ICMS.
Tudo isso é verdade, mas é prerrogativa de mal-humorados olhar apenas para o lado negativo das coisas --uma visão de vida, na expressão de Wittgenstein. Não é o meu caso. Prefiro lembrar o que disse Fernando Sabino (1923-2004): "Antes de mais nada, fica estabelecido que ninguém vai tirar meu bom humor".
E isso porque há várias razões para ter atitude positiva em relação ao país. No último ano, além da redução da taxa básica de juros para um nível mais civilizado, houve ajuste cambial que melhorou a competitividade das exportações, redução dos custos da energia, desonerações de folhas de pagamento de dezenas de setores, taxação de algumas importações para estimular a indústria nacional e concessões nas variadas áreas de infraestrutura.
Antes de franzir a testa em atitude rabugenta, é preciso observar que a crise global já dura cinco anos e que o Brasil, a despeito de todos os problemas, jamais foi ameaçado nesse período. O nível de emprego é recorde --o que provoca escassez de mão de obra--, a renda dos brasileiros está em alta e mais bem distribuída e a pobreza extrema vem sendo combatida com sucesso.
Na área externa, o país está muito longe de enfrentar crises cambiais porque tem reservas de US$ 370 bilhões e, além disso, ainda conta com o ingresso de elevados investimentos diretos estrangeiros.
Os psiquiatras chamam de "distímicos" os indivíduos que só enxergam o lado negativo do mundo. O mau humor, portanto, pode ser doença, mas, no caso da economia, também pode ser a manifestação de quem torce contra o país por razões variadas. Minha recomendação é que se fique longe desses mal-humorados, seja na economia, seja em qualquer outra área, pois essa doença é contagiosa. Xô, mau humor!
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