BTG Pactual desperta ira e desconfiança na cúpula do partido do governo com seminário em Nova York; às vésperas do leilão de Libra, banco apostou no descrédito em posicionamento repleto de ataques à política econômica; número dois da organização, economista tucano Persio Arida convence banqueiro André Esteves a aumentar a pressão por privatizações, especialmente de bancos públicos; antes, aproximação ao governo serviu para comprar ativos da Petrobras e firmar parceria com a Caixa no banco Panamericano
247 – Um golpe pelas costas. Essa é uma das interpretações que vai sendo feita no circuito que liga a cúpula do PT ao Palácio do Planalto a respeito ao seminário bancado pelo BTG Pactual, em Nova York, no início da semana. Aberto com uma conferência do presidenciável Aécio Neves, do PSDB, o encontrou avançou para críticas duras à condução da política econômica e marcou a desconfiança da instituição no compromisso do governo em respeitar contratos.
Antes, em encontros com investidores em outras partes do mundo, o presidente do BTG, André Esteves, e seu principal sócio, o economista tucano Persio Arida, já haviam insistido no ponto de que o Brasil, na administração da presidente Dilma Rousseff, deixou de ser o chamado parque de diversões para o capital internacional. Agora, porém, o ataque foi considerado inadmissível, em razão do local e do contexto em que ocorreu.
A conferência do senador Aécio Neves foi vista no entorno da presidente Dilma como um fato natural de campanha. Oposicionista de quatro costados, o líder tucano teria cumprido seu papel de se mostrar como a melhor alternativa para as eleições de 2014. O que não se aceitou como normal foi o fato de o BTG ter claramente angulado seu seminário para os ataques ao governo sem que, em contrapartida, fosse dado espaço para uma defesa da política econômica por alguma autoridade de peso do setor público. "Não se esperava tanto desequilíbrio vindo de quem veio", afirmou ao 247 uma fonte do comando petista, referindo-se a Esteves.
A surpresa ocorreu porque, até aqui, o banqueiro-prodígio do BTG vinha se comportando como um grande amigo do poder. Ele se aproximara da Petrobras para comprar ativos da estatal no exterior, interessado em montar a sua própria petroleira. E, numa vitrine de parceria, associou-se à Caixa Econômica Federal para comprar o banco Panamericano, que pertencia ao empresário Silvio Santos.
Acreditava-se, dentro do governo e no alto do partido, que Esteves não chegaria ao ponto de se tornar um dos maiores patrocinadores de ataques à economia, como aconteceu em Nova York.
O seminário do BTG foi feito dias depois de a própria presidente Dilma, também em Nova York, ter afirmado que o Brasil está pronto a receber investimentos internacionais no setor de infraestrutura. O leilão de Libra, o maior campo petrolífero controlado pela Petrobras, ocorrerá no próximo dia 21. É a grande aposta do governo para uma pesada entrada de recursos.
Neste momento decisivo para a sorte do caixa federal, o BTG atuou, na visão de quem está dentro do poder federal, como um adversário desleal. O momento escolhido para dar repercussão a críticas à política econômica e a figura da presidente, que não respeitaria contratos, não poderia ter sido pior.
Dentro do banco, Esteves foi convencido por Arida, integrante da cúpula da economia durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, de aumentar a pressão por privatizações no setor financeiro. A partir desse posicionamento, o BTG tem deixado escapar para o mercado que seu apetite irá se voltar, a depender do resultado das eleições de 2014, para a compra da própria Caixa, de que já é sócio no Pan.
O ex-presidente da Vale, Roger Agnelli, é outro quadro recém-ingresso no BTG que está fazendo a cabeça de Esteves contra seus antigos parceiros no governo. Agnelli vem fustigando como pode as regras em elaboração para a exploração do setor de mineração. Segundo ele, o modelo espantaria investidores.
Ruídos desse porte no programa federal de investimentos privados em infraestrutura é tudo o que o governo não quer ouvir neste momento. Ao contrário. Em razão do histórico de bom relacionamento com a administração pública desde os tempos do governo Lula, quando Esteves afirmou que o País vivia seu melhor momento em 500 anos de história, o que se imaginava é que, em lugar de atacar, o BTG usaria sua estrutura global para atrair investidores, mostrando possibilidades e oportunidades. Agora, dali não se espera mais outra coisa que não seja a continuação desse jogo de afastamento. O que não se sabe ainda é em que nível as apostas de Esteves no fracasso do governo Dilma serão feitas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
comentários sujeitos a moderação.