Vamos simplificar a questão: durante a gestão demo-tucana na prefeitura de São Paulo (2005-2012) surgiu um esquema de corrupção que pode chegar a meio bilhão de reais (!). Servidores públicos da Subsecretaria da Receita nomeados a cargos de confiança pelos ex-prefeitos José Serra e Gilberto Kassab foram presos, acusados de integrar esquema de cobrança de propina.
O esquema funcionou durante a gestão de um grupo político que chegou à prefeitura paulistana em 1º de janeiro de 2005, com o tucano José Serra à frente. Ele governou até 30 de março de 2006, quando se demitiu do cargo para disputar o governo do Estado de São Paulo, deixando o Executivo municipal nas mãos do então vice-prefeito, Gilberto Kassab.
O esquema funcionou dentro da prefeitura em salas contíguas à do prefeito, fosse ele Serra ou Kassab. Este, diz simplesmente que “não sabia” de nada. Quanto a Serra, não diz nada porque, até o momento, o setor da imprensa que tem acesso a ele não lhe perguntou nada (?!).
Até aí, tudo bem. Serra, Kassab, enfim, qualquer chefe do Poder Executivo pode dizer que “não sabia” de um esquema de corrupção surgido em uma administração sob seu comando e, até prova em contrário, tem direito ao benefício da dúvida.
O que espanta, o que chega a chocar é que, além de uma imprensa que tenta se passar por “isenta” aceitar bovinamente a alegação de um dos dois ex-prefeitos sob os quais surgiu o esquema de corrupção de que “não sabia” de nada e de nem ao menos perguntar nada ao outro, acusa os adversários deles pela corrupção que ocorreu enquanto governaram.
E o que é pior: quem acusa a oposição ao governo sob o qual surgiu o esquema de corrupção são ninguém mais, ninguém menos do que envolvidos naquele esquema de corrupção.
A auditora fiscal da prefeitura de São Paulo Paula Sayuri Nagamatique deu declarações à imprensa levantando suspeitas sobre o atual secretário de Governo do prefeito Fernando Haddad, o vereador Antonio Donato. Ela o acusa de estar envolvido no esquema que desviou cerca de de R$ 500 milhões e que ocorreu no setor em que ela trabalhava à época dos crimes.
Quem é Paula Sayuri Nagamatique? Simplesmente a ex-chefe de Gabinete de Mauro Ricardo Costa, que foi secretário municipal de Finanças na gestão do então prefeito José Serra. Costa também é suspeito de integrar o esquema.
Além da acusação de Paula, que atuava na Secretaria da Prefeitura onde foi montado o esquema de corrupção à época em que aquele esquema funcionou, outra mulher faz acusações ao mesmo secretário do prefeito Fernando Haddad. Vanessa Alcântara é mulher de um dos auditores fiscais presos no âmbito das investigações desencadeadas pela atual administração e acusa Donato – sem provas – de ter recebido doação do grupo criminoso para a sua campanha eleitoral, ano passado.
A acusação da mulher de um dos criminosos ao secretário do prefeito Haddad foi divulgada pelo jornal O Estado de São Paulo. Já a Folha de São Paulo, além de comprar a acusação da mulher do servidor corrupto, ainda diz que o prefeito Fernando Haddad “Saiu em defesa do secretário de Governo e atacou as duas mulheres que não são investigadas”.
Uma dessas mulheres que a Folha diz que “não são investigadas” é “companheira” de um dos bandidos presos recentemente; a outra, foi chefe de gabinete de outro suspeito, o ex-secretário de Finanças da gestão de Kassab e Serra. Mauro Ricardo é suspeito porque em 2012 mandou arquivar denúncia de corrupção de fiscais, segundo reportagem do portal R7.
Como se vê, o comando da Prefeitura durante a gestão Serra-Kassab foi alertado para um esquema que só foi desbaratado neste ano pela administração Haddad, que criou a Controladoria Geral do Município, a qual denunciou a roubalheira.
Além das acusações do Estadão e da Folha aos adversários dos dois ex-prefeitos sob os quais surgiu o esquema de corrupção, a Veja acusa o atual secretário municipal de Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto, por sua mulher figurar no contrato social de um estacionamento cujo dono é o auditor fiscal Moacir Fernando Reis, envolvido no esquema de corrupção.
Eis um bom momento para lembrar a famosa teoria do “domínio do fato”, usada para condenar sem provas políticos envolvidos no escândalo do mensalão. Quem detinha o controle da administração paulistana não deveria responder pelo esquema de corrupção desbaratado? Para Estadão, Folha e Veja, não. Quem aparece em suas páginas é a oposição ao governo sob o qual surgiu o esquema.
Pela tese dos dois jornais e da revista, Tatto e Donato, inimigos políticos de Serra e Kassab, forçaram esses dois a nomearem os auditores fiscais que montaram o esquema de corrupção e obrigaram Kassab a arquivar investigação do esquema.
Além disso, o mesmo Ministério Público de SP ao qual pertence o procurador Rodrigo De Grandis – aquele que arquivou o escândalo Alstom “numa gaveta” – afirma que a mulher de um dos corruptos presos e a chefe de gabinete do secretário de Finanças que mandou arquivar investigação que tentaram abrir ano passado “não são investigadas”.
Segundo petistas consultados pelo Blog – e que não quiseram falar publicamente sobre o caso –, porém, seria “questão de tempo” para essas versões caírem por terra. Segundo disseram, membros do Ministério Público paulista estão seguindo o mesmo caminho do procurador De Grandis, de acobertamento de escândalos envolvendo o PSDB. E serão desmascarados.
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